sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

15.- TUDO NO BOLSO OU NA BOLSA



Ano 7***  www.professorchassot.pro.br***   Edição 2389
Hoje parece natural, que no maior ou menor deslocamento de nossa casa levemos atrelado a nós ‘nossa escrivaninha de trabalho’. Há um tempo não muito distante, um dos rituais ao chegar em casa ‘era ler cartas que haviam chegado’; depois a cada chegada eram ver ‘mensagens eletrônicas acumuladas como não lidas’; hoje, nem mais jornais se amontoam oferecendo ‘novidades atrasadas’.
Ainda, me lembro de tempos que se preparava ‘lâminas’ para o retroprojetor. Hoje há alternativas até para a situação do pen-drive  esquecido, pois a palestra pode estar na ‘nuvem’.
Ruy Castro, na p. A2, da Folha de S. Paulo de 02FEV13, traz este assunto num texto delicioso. Vale curti-lo:
A vida e a morte no bolso: Nunca antes na história da humanidade isso aconteceu. Mas, hoje, uma pessoa pode sair à rua levando no bolso, juntamente com carteira, chaves e chicletes, toda a biblioteca que ela tem em casa. Ou a Biblioteca Nacional. O que fará na rua com essa quantidade de livros resta em aberto. Mas é incrível imaginar que, com um celular, um cidadão pode se sentar num banco de praia e folhear, digamos, a Bíblia de Gutenberg, o romance "Alzira, a Morta Virgem" e a caudalosa poesia de Sousândrade numa só sentada.
Se quiser, pode flanar levando também sua discoteca inteira, desde a série de disquinhos que ouvia em criança, incluindo "A História da Baratinha", até sua coleção completa de Thelonious Monk ou a íntegra da obra de Mahler. Cabe tudo num aparelho que vai no bolsinho caça-níqueis, plugado a um fone de ouvido.
E não sei se o fulano terá como levar o Louvre, o Prado e o Guggenheim no bolso — porque, por enquanto, aqueles milhares de quadros cheios de cores ainda devem ser uma carga muito pesada para um celular. Mas talvez isso nem seja necessário — com o dito, você pode baixar Velázquez, Seurat, Norman Rockwell e quem mais estiver dando sopa na "nuvem". A qual, parece, não tem limite.
Mas nem tudo é tão bonito. A engenhoca que permite ler, ouvir ou apreciar as maravilhas criadas pelo homem é a mesma que torna possível a alguém andar pela cidade com o arquivo da CIA ou do Mossad no bolso interno do paletó --com informações que, à pressão de uma tecla, podem derrubar presidentes, desarticular sistemas de defesa ou levar países à guerra. Ou transportar as combinações capazes de acionar um ataque químico ou uma bomba atômica, decidindo o destino de bilhões.
E só porque, um dia, alguém quis telefonar da rua para a namorada e não havia um orelhão à mão.

5 comentários:

  1. Limerique

    Desde muito o saber era disperso
    Encontrá-lo um trabalho perverso
    Mas a eletrônica disse não
    Concentrou-o na nossa mão
    No meu bolso eu tenho Universo.

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  2. Querido mestre...
    E assim parecemos marionetes robotizadas a nos mover de forma alienada, subjugada.
    Uns caras esquisitos sem voz, sem nome, acoplados a uma maquininha que nos domina a vontade, o desejo, o querer.
    Não mais humanos, em sua essência.
    Andando plugados, individualizados, embora conectados sequer nos damos conta de que andando lado a lado ainda não podemos ser.
    É preciso olhar o/a outro/a, ouvi-lo/a, percebê-lo/a, senti-lo/a para compreender que somente com ele/a podemos de fato ser-no-mundo
    e vivermos uma existência autêntica.
    Lembro de Heidegger, o "cara" que disse que em sua essência o ser-no-mundo é cura/cuidado.
    Que possamos aprender a sê-lo, uns aos outros, num novo despertar da humaneidade que em nós habita.
    Ser humano é uma escolha, mas um dever, se quisermos um mundo de cura/cuidado.
    Não há como ser "mais humano" e nem mesmo pode haver meramente "lado humano". Ou somos humanos ou não.
    Depende de nos compreendermos como tal e de assumirmos isso em sua total radicalidade.
    Todavia, tudo tem um lugar certo na existência. E um tempo certo também.
    Muito agradecida pelo compartilhamento em seu blog, com votos de uma agradável sexta-feira.
    Grande e carinhoso abraço: Lia, a Ilíria que ainda lê

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  3. Lembro-me de ter lido alguns anos atrás, que em determinada época todo o conhecimento da humanidade caberia em livros no espaço de uma pequena sala, daí ser possível a existência dos sábios detentores de quase todo o conhecimento então existente. O conhecimento cresceu, tomou dimensões astronômicas e hoje em dia, pelo menos físicamente, como bem disse Ruy Castro cabe no bolso. Mas, como bem lembrou a amiga Ilíria, estamos nos tornando seres impessoais. Nossos sentimentos e vontades estão a um clique. Cada vez mais interagimos com a máquina, e quando há o confronto eventual humano a humano muitas vezes a intolerância é a atitude preponderante. O "bug" saiu da máquina e instalou-se em nossas cabeças. Tomara (tomara?) que as máquinas não tenham errado no cálculo do 2012da14, pois se o mesmo arrebentar nossos satélites ficaremos um bom tempo de "castigo" sem nossos brinquedinhos high tech.

    abraços

    Antonio Jorge

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  4. Meu caro Antonio Jorge!
    está é pelo menos a terceira vez que referes aqui, com oportunidade o asteroide 2012 DA 14 — um objeto que esta tarde passará próximo à Terra com um diâmetro estimado de 45 metros e uma massa estimada de 130 000 toneladas .
    Os cálculos mostram que hoje,15 de fevereiro de 2013, a distância mínima entre o asteroide e do centro da Terra será 0,000228 UA (34.100 km , 21,200 km ), e 0,0001851 UA (27,700 km) da superfície Terra. A abordagem de 2012 DA 14 é um recorde para os objetos conhecidos deste tamanho.
    Bem dizes vale torcer para que não colida com ‘nossos’ satélites e derrube ‘nossos’ arquivos.
    Muito oportuno teu alerta. Obrigado

    attico chassot

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  5. Limerique

    Deste planeta toda sabedoria
    Que foi tão espalhada um dia
    Agora está à mão
    Do sábio ao burrão
    A pouco era apenas utopia.

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