quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

07.- ¿HIDRANTE? QUEM JÁ VIU UM?



Ano 7***www.professorchassot.pro.br***Edição 2387

ANO.pro.br***Edição 2378

A blogada de hoje se faz, uma vez mais, com a colaboração de um leitor diário aqui. O jornalista e sociólogo José Carneiro, publicou esta semana na imprensa belenense o texto que enviou também para este blogue. Pela sua oportunidade ele tece a blogada de quinta-feira.
Hidrantes, incêndios e recorrências: A primeira vez que ouvi a palavra “hidrante” aconteceu, paradoxalmente, pela falta desse artefato, usado  exclusivamente para combater incêndio. Pelo menos assim dizem os dicionários: hidrante é uma válvula de saída de água que se conecta a uma mangueira para combater incêndio. Simples é definir, difícil é isso existir. Agora a pergunta, antes da história e da conclusão: você que me lê já viu algum hidrante nas ruas de Belém? Lembra, pelo menos, de uma rua com esse equipamento? Quando eu tinha doze anos de idade, ocorreu um pavoroso incêndio na cidade de Castanhal, um sinistro, no linguajar da imprensa policial. Era um fim de tarde de uma sexta feira do mês de agosto de 1959, quando uma indústria de prensagem de malva, chamada Primor, foi quase totalmente destruída pelo fogo. Era a maior empresa local, sua estrutura ocupava metade de um quarteirão e toda a cidade ficou sobressaltada com as cenas vistas de perto, e também de bem longe. Não houve vítimas fatais, mas os prejuízos atingiram vários pontos de comércios vizinhos, correndo rumores de que algumas mercearias foram saqueadas. Os bombeiros, que no Pará só existiam em Belém, foram chamados mas, em época de estradas ruins, demoraram várias horas para chegar e pouco puderam fazer. O incêndio se alastrara rapidamente, com os depósitos cheios de malva, facilitando a combustão. E as primeiras providências de combate partiram do próprio público, nas proximidades do local. No dia seguinte, assistindo ao rescaldo do fogaréu, eu ouvia  comentários de que a falta de hidrantes teria prejudicado a ação dos bombeiros. Além desse episódio, só vi menção a hidrantes nas revistas em quadrinhos  e, de forma um pouco mais evidente, no cinema. Para mim o hidrante permitiria um acesso rápido à água, que jorraria com intensidade bastante, pelo menos nessas imagens virtuais. Em outros incêndios no Brasil, num passado não muito remoto, uma das evidências repetidas era que, na maioria dos casos, os hidrantes não existiam ou sequer funcionavam, faltando-lhes a pressão indispensável ao forte jorro d’água. Creio que o da Primor foi o maior incêndio já presenciado em Castanhal. E para terminar essa primeira parte, deve-se registrar que, até hoje, não há hidrantes em Castanhal, cidade com mais de 170 mil habitantes, embora já disponha de um quartel do Corpo de Bombeiros.
Vamos à segunda parte dessa história. O incêndio numa boate na cidade de Santa Maria, no RS, que desde domingo (27JAN13) repercute no mundo inteiro, é mais um número de uma estatística fantasmagórica a abalar a sociedade humana, por causa de desídia, de imperícia ou, simplesmente, de irresponsabilidade. Há sempre uma conjugação de fatores nesses casos, nunca uma causa isolada. A televisão, com suas imagens e os comentários especializados, já demonstrou à exaustão o que deveria ter sido feito para evitar a tragédia. Nada há a acrescentar, apenas a lamentar. E aí chego ao final da minha reflexão: e em Belém? Minha filha me lembrou de que há tempos existiu aqui, em plena área central do comércio, uma boate de três andares, dispondo de apenas uma única porta, que servia para entrada e saída. E as que existem atualmente, estão prevenidas para o imprevisível? Inferimos que não, como deduzimos que a tragédia de Santa Maria, ainda que momentaneamente, servirá de exemplos para os órgãos responsáveis pela segurança cumprirem minimamente suas funções. Podemos ter certeza, ao menos esperança, de que isso virá a ocorrer?

7 comentários:

  1. Professor Chassot,
    excelente o texto do jornalista Carneiro, Resta algo que ele deveria esclarecer: Por que era processado volume tão grande de malva?
    Na espera de uma explicação
    L L L

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    1. Caro Loureiro;

      A PRIMOR era uma espécie de entreposto. Ela comprava (as vezes financiava o próprio produtor) a malva de inúmeras fontes e os seus espaços estavam sempre abarrotados, para a sequencia de prensagem. As vezes a malva chegava molhada e a PRIMOR usava a calçada e a própria rua (pouqissimo tráfego, na década de 1950) para a indispensável secagem. Depois da prensagem, os volumes eram transportados, de trem, para Belém e de lá seguiam os seus diversos destinos. Resolvi investigar melhor a história da empresa e fiquei sabendo, pasme, que o incêndio que eu presenciei foi o segundo que a empresa sofreu, em menores proporções.
      Grande abraço do

      José Carneiro

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    2. Meus caros Carneiro e Loureiro.
      Minha pergunta é: para que Castanhal beneficiava este grande volume de malva?
      Seria para indústria farmacêutica, pois a malva é uma planta medicinal com ações muito amplas atuando como diurético, laxante e também expectorante. Lembro de xarope e de bala de malva;
      Para onde Belém a remetia? (¿exterior?) Quem e como a produziam? Hoje ainda há em Castanhal produção e beneficiamento de malva?
      Boas questões para nosso jornalista que ‘ausculta a História’
      attico chassot

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    3. Caros amigos:
      A malva, de melhor qualidade que a juta, era utilizada sobretudo na fabricação de sacos de embalagem. Esse valioso mercado foi ocupado pela INDIA, que produzia juta de melhor qualidade e preço, até hoje. A malva praticamente não existe mais, era cultivada a beira de igarapés, na várzea (assim como a juta) e servia ainda para a produção de corda. Acrescento que em Castanhal a malva não era beneficiada, apensa prensada para ser transportada. Amanhã vou entrevistar um castanhalense cujo pai trabalhou muitos anos na PRIMOR para melhor entender da malva. Fiquei curioso a partir da publicação do meu próprio artigo, vejam só a curiosidade.
      Abs cordiais do
      José Carneiro

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  2. Mestre Chassot,
    o texto do professor Carneiro é muito bom.
    Às causas que ele lista: de desídia, de imperícia ou, simplesmente, de irresponsabilidade há que acrescentar talvez a mais importante:
    a avidez gananciosa dos proprietários que querem arrecadar com a famigerada comanda mais e mais colocando o dobro da capacidade dentro das arapucas.
    Rachel Weissbaun

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  3. Ratificando os comentários anteriores acrescento um detalhe, não são as boates que tem que mudar, não são os alvarás que precisam de rigor, não são as leis que estão mal feitas. É o Brasil que tem que mudar. Enquanto esta camarilha política ai estiver, estaremos entregues a própria sorte. Aqui "tudo funciona" e nada funciona. Vivemos de escândalos e campeonatos. Nas novelas vivenciamos uma realidade com final feliz.
    Panis et circenses.

    abraços

    Antonio Jorge

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  4. Limerique

    No Patropi onde poder é farsante
    A negligência é algo arrepiante
    Se há perigo de fogo
    Você já perdeu o jogo
    Tudo porque não existe hidrante.

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