quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

30.- DURMA-SE COM UM BRILHO DESSES


Ano 7***www.professorchassot.pro.br***Edição 2373
Há uma recomendação continuada ‘Não leve tablet ou assemelhados para a cama!’ Entre outras desvantagens: tiram o sono, produzem dor de cabeça etc.
Luli Radfahrer, professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos, com a autoridade de quem trabalha com internet desde 1994, no artigo que tece a blogada de hoje é convincente: a luz do tablete reduz o hormônio do sono em 22%.
 O autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", publicou no caderno Tec da Folha de S. Paulo o texto que segue:
Estamos cercados de retângulos brilhantes. Dos pequenos displays nos micro-ondas e rádios às TVs cada vez maiores, passando por videogames, desktops, notebooks, tablets, celulares e smartphones, praticamente não há momento em que se viva distante deles. É só uma questão de tempo, creio, para chegarem ao fundo de piscinas e mares.
Novos fabricantes desenvolvem, a cada ano, versões mais leves, econômicas, resistentes e versáteis dessas telinhas, que a partir deste ano serão até dobráveis. Nos carros, TVs para motoristas já não causam espanto. Dividem sua preciosa atenção com as telas do painel, do GPS, do celular e, de vez em quando, até com o que acontece na rua.
Nossa relação com a luz é tão intensa que parece que vivemos de fotossíntese. Nas hiperluminosas residências modernas, algumas noites ficam mais claras do que os dias.
Pena que o cérebro humano, esse primitivo, não esteja preparado para tanto brilho. Luz, para as mentes consolidadas desde os primeiros hominídeos, vem do céu, do fogo ou de raridades como um vaga-lume ou um metal radiativo. Luz branca, ainda mais rara, só vem de um raio ou do Sol ao meio-dia. LEDs, LCDs, plasmas e outras iridescências causam estranheza a nossos mecanismos de atenção. Como gatos expostos ao flash de uma câmera, ficamos meio paralisados diante eles.
Isso não impede a exposição cotidiana a dezenas de retângulos brilhantes, deixando a mente em estado de constante estímulo. Por instinto, quem passa muito tempo em frente às telas permanece desperto até o momento em que não resta ao corpo outra opção se não desligar os disjuntores e desmaiar, até o sono ser interrompido pelo brilho do despertador. Como quem vive no fuso horário da Califórnia, o impulso de alguns brasileiros tecnológicos é deitar perto das 3h e acordar às 11h. A maioria, que não pode dar-se esse luxo, acaba dormindo pouco.
E mal. Um estudo publicado no periódico técnico "Applied Ergonomics" revela que duas horas de exposição à luz brilhante de um tablet ou equivalente antes de dormir reduzem os níveis de melatonina, o hormônio do sono, em cerca de 22%.
Essa carência provoca, além de noites ruins, o aumento dos riscos de obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares. A falta de sono diminui a produtividade, aumenta o risco de acidentes, prejudica o raciocínio e mata a libido. Por mais que fanfarrões afirmem ser capazes de dormir poucas horas, não há argumentos médicos que defendam essa tese, muito pelo contrário.
Aplicativos para smartphone se propõem a medir a qualidade do sono de seus usuários com base no movimento captado por seus acelerômetros. A intenção é nobre, embora seja fácil prever alguns resultados. Quem checa mensagens ou visita websites antes de dormir pode levar preocupações do trabalho para a cama. Quem joga ou interage com redes sociais tende a ficar mais alerta. Até mesmo quem assiste a um vídeo bobo no telefone fica exposto a uma luminosidade sem precedentes. Mal dormidos, vários acordam no meio da noite e checam suas redes. Não pode fazer bem.
Por mais que aparelhos eletrônicos fascinem, é preciso limitar seu uso antes de ir para a cama. Talvez seja um excelente motivo para retomar o antigo hábito de conversar.

8 comentários:

  1. Mestre querido, excelente artigo.
    Há muitos anos, a Dra. Judith Cortesão, minha saudosa "avó emprestada" e grande amiga do meu pai, disse que os índios não tinham muitos tipos de câncer devido a não terem luz artificial... Achei mirabolante a teoria. Recentemente li em New England que luz artificial diminui níveis de melatonina e aumenta chances de vários cânceres... Esta blogada só vem a corroborar com a teoria da Judith. Lê sobre ela na Wikipedia, vale a pena conhecer esta mulher.
    Abraço muito afetuoso,
    Guy.

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  2. Querido Attico,

    fascinante leitura. Parece-me que a falta de sono ou o sono mal-dormido virá a ser um dos males deste século.

    Abraços,

    PAULO MARCELO

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  3. Vale ressaltar um detalhe que me deixou um pouco espantado. No transcurso da recente tragédia vários jovens postaram mensagens de socorro no facebook. Isso demonstra o quando esta mídia já faz parte do mundo atual. Modificar os hábitos desta garotada (e de muitos adultos) convencendo-os de que precisam abdicar, pelo menos no horário noturno, de sua conexão para dormir é uma missão impossível.

    abraços

    Antonio Jorge

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  4. Caro amigo e mestre Chassot,
    sempre nos reunimos para discutir seu blog, o tema de sábado será sobre o blog de hoje. Muito pertinente, costumamos assar uma costela associado a uma cervejinha e discutir em grupo os post do seu blog,
    Roniere

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  5. Meu querido Colega e ex-aluno Roniere,
    cenário como tu descreves para ler minhas postagens neste blogue é no mínimo original. Espero este ano estar em São Luis Gonzaga.
    A amizade e a admiração do

    attico chassot

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Limerique

    "Gadjets" seja no sul ou na Amazônia
    Bom alvitre que use com parcimônia
    Pois tais aparelhos
    Lhe dou um conselho
    Poderão lhe causar terrível insônia.

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  8. Limerique

    "Gadjet" na cama não é panaceia
    Para interagir com sua plateia
    Porque perder o sono
    E ficar em abandono
    Nunca foi ou será uma boa ideia.

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