quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12.-FREI BETTO: UM ANTICLERICAL!



Ano 7*** PORTO ALEGRE Morada dos Afagos ***Edição 2024
12.12.12 Se o anunciado próximo ‘fim do mundo’ tivesse sido agendado para as primeiras horas desta terça-feira, muitos em Porto Alegre e outras localidades da região sul, estariam ratificando o acerto das previsões. O ribombo dos trovões fez tremer prédios. Talvez, tenham sido apenas cenas do que deve ocorrer no próximo 21.
As consequências maiores foram o ainda continuado desabastecimento de energia elétrica (para mim, afortunadamente durou até a metade da manhã) e a ausência de internet (já a tive recuperada no começo da tarde).
Ontem trouxe aqui considerações acerca de ‘anticlericalismo’. Disse, então, que surpreenderia com  artigo, de renomado escritor brasileiro, que se não soubéssemos que seu autor — Frei Betto — fosse membro da ordem dos dominicanos, diríamos tratar-se de um escritor  anticlerical. Vale conferir e congratularmo-nos com mineiro autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros. O texto retirei de amaivos.com.br ode ele é articulista.
Vinde a eles as criancinhas? As sucessivas denúncias de pedofilia e abuso sexual cometidos por sacerdotes e acobertados por bispos e cardeais envergonham a Igreja Católica e abalam a fé de inúmeros fiéis.
No caso da Irlanda, onde mais de 2 mil crianças entregues aos cuidados de internatos religiosos foram vítimas da prática criminosa de assédio sexual, o papa Bento XVI divulgou documento em que pede perdão em nome da Igreja, repudia como abominável o que ocorreu e exige indenização às vítimas.
Faltou ao pontífice determinar punições da Igreja aos culpados, ainda que tenha consentido em submetê-los às leis civis. O clamor das vítimas e de suas famílias exige que a Santa Sé aja com rigor: suspensão imediata do ministério sacerdotal, afastamento das atividades pastorais e sujeição às leis civis que punem tais práticas hediondas.
A crescente laicização da sociedade europeia reduz drasticamente o número de fiéis católicos e a frequência à igreja. O catolicismo europeu, atrelado a uma espiritualidade moralista e a uma teologia acadêmica, afastado do mundo dos pobres e imbuído de um saudosismo ultramontano que o faz ignorar o Concilio Vaticano II, perde sempre mais o entusiasmo evangélico e a ousadia profética.
Dominado por movimentos fundamentalistas que cultivam a fé em Jesus, mas não a fé de Jesus, o catolicismo europeu cheira a heresia ao incensar a papolatria e encarar o mundo, não mais como “vale de lágrimas”, e sim como refém de um relativismo que corrói as noções de autoridade, pecado e culpa.
Ao olvidar a dimensão social do pecado, como a injustiça, a opressão, o latifúndio improdutivo ou a apologia da desigualdade, o catolicismo liberal centrou sua pregação na obsessão sexual. Como se Deus tivesse incorrido em erro ao tornar a sexualidade prazerosa.
Como o Espírito Santo se vale de vias transversas para renovar a Igreja, tomara que as denúncias de pedofilia eclesiástica sirvam para pôr fim ao celibato obrigatório do clero diocesano, permitir a ordenação sacerdotal de homens e mulheres casados e ultrapassar o princípio doutrinário, ainda vigente, de que, no matrimônio, as relações sexuais são admissíveis apenas quando visam à procriação.
Ora, tivesse Deus de acordo com tal princípio, não teria feito do gênero humano uma exceção na espécie animal e, portanto, destituiria o homem e a mulher da capacidade de amar e expressar o amor através de carícias, e incutiria neles o cio próprio dos períodos procriatórios dos bichos, o que os faz se acasalar.
Jesus foi celibatário, mas é uma falácia deduzir que pretendeu impor sua opção aos apóstolos. Tanto que, segundo o evangelho de Marcos, curou a sogra de Pedro (1, 29-31). Ora, se tinha sogra, Pedro tinha mulher. E ainda foi escolhido como primeiro cabeça da Igreja.
Os evangelhos citam as mulheres que integravam o grupo de discípulos de Jesus: Suzana, Joana etc. (Lucas 8, 1-3). E deixam claro que a primeira pessoa a anunciar Jesus como Deus entre nós foi uma apóstola, a samaritana (João 4, 39).
Nos seminários e casas de formação do clero e de religiosos é preciso avaliar se o que se pretende é formar padres ou cristãos, uma casta sacerdotal ou evangelizadores, pessoas submissas ao figurino romano ou homens e mulheres dotados de profunda espiritualidade evangélica, afeitos à vida de oração e comprometidos com os direitos dos pobres.
No tempo de Jesus, as crianças eram desprezadas por sua ignorância e repudiadas pelos mestres espirituais. Jesus agiu na contramão dos preceitos vigentes ao permitir que as crianças dele se aproximassem e ao citá-las como exemplo de fidelidade a Deus. Porém, deixou claro que seria preferível amarrar uma pedra no pescoço e se atirar na água do que escandalizar uma delas (Marcos 9, 42).
As sequelas psíquicas e espirituais daqueles que confiaram em sacerdotes tarados são indeléveis e de alto custo no tratamento terapêutico prolongado. As vítimas fazem muito bem ao exigir indenização. Resta à Igreja punir os culpados e cuidar para que tais aberrações não se repitam.

8 comentários:

  1. Caro amigo prof. Chassot:
    Belo texto esse do frei Betto, sobre um assunto tão candente e que nos revolta a quase todos. Você tem razão: se não conhecessemos o autor, poder-se-ia considerá-lo um anticlerical.
    Abraços nesta inusualmente quentissima Belém.

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    1. Meu caríssimo José,
      Porto Alegre vive dias de calor belenense.
      Obrigado por teu comentário. Independente da relevância do texto, vejo que coincidimos: parece ser um texto voltairiano tal acidez antigrejeira. Há que admirar-nos com Frei Betto.
      Pena que não tenha tido êxito como conselheiro de Lula.
      Com estima, também por tê-lo como leitor aqui,
      attico chassot

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  2. Por mais que a idéia não nos agrade, o pedófilo é antes de tudo um doente, diferente do criminoso comum que comete um ato infracionário. O pedófilo é um individuo que necessita de tratamento imediato em ambiente recluso e afastado do convívio com a sociedade. Recentemente tivemos na mídia a polêmica sobre um estudante de medicina pedófilo que após cumprir sua pena, uma internação com tratamento, e ser tido como são, pretendeu voltar a sua antiga faculdade de medicina o que foi repudiado por todos inclusive a reitoria.É um preconceito realmente difícil de ser resolvido.

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Mestre Chassot,
    mesmo que leitor de seu blogue, quase diário, há mais de um ano e exigir a leitura do mesmo de meus alunos de Prática de Ensino de Biologia, hoje é a primeira vez que publico algo aqui: Livre pensador e anticlerical se equivalem?
    Obrigado do
    Professor Aguillar

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    1. Estimado colega Aguillar,
      vibro não apenas por seres leitor aqui, mas ~~ e, principalmente~~ por recomendares este blogue a teus alunos de Biologia.
      Tua pergunta é pertinente.
      Farei o blogue de amanhã sobre ela: antecipo uma resposta. Parece-me que se possa dizer que todo anticlerical é um livre-pensador. A recíproca não é verdadeira.
      Lemo-nos amanhã.
      Com estima,

      attico chassot

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Limerique

    Uma igreja que no seu dia-a-dia
    Só se preocupa com a apostasia
    Mas nos claustros esconsos
    Jovens seminaristas sonsos
    São alvos primários da pedofilia

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  6. Olá. Vim procurar uma coisa e achei outra. Prazer imenso. O que procuro é um texto seu sobre Imre Kertész e achei meu banner que não é mais meu, é do mundo, com muito prazer. Feito com carinho "Pedofilia-não". Deixo um abraço. http://futuro-do-livro.blogspot.com
    Alda Inacio

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