quarta-feira, 3 de outubro de 2012

3.- NÃO É PAPEL DA CIÊNCIA ELIMINAR DEUS


Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2254
Como anunciei ontem, hoje e também amanhã e sexta-feira, pretende ser central aqui a trazida de alguns excertos da entrevista concedida à Zero Hora pelo físico brasileiro Marcelo Gleiser que está na Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) como conferencista principal do 13º Simpósio Internacional IHU – Igreja, Cultura, Sociedade (A Semântica do Mistério da Igreja no Contexto das Novas Gramáticas da Civilização Tecnocientífica), iniciado ontem em São Leopoldo.
O fracionamento da entrevista decorre de sua extensão. Agora as primeiras três perguntas.
Zero Hora – Quando se discute a relação entre ciência e religião no universo acadêmico, o polo religioso é sempre o mais frágil. Nos últimos 50 anos, porém, a posição da ciência tem sido muito questionada. Como o senhor vê hoje a posição da ciência diante da religião?

Marcelo Gleiser –
 Não existe uma posição da ciência em relação à religião. Existem posições de cientistas em relação à religião, e essas posições são muito diferenciadas. Num extremo, você tem os novos ateístas, como Richard Dawkins, Daniel Dennett e outros, que acham que ser religioso é ser louco ou estar completamente iludido em relação ao real. Eles fazem um ataque bastante agressivo em relação à fé. No outro extremo, você tem cientistas que são perfeitamente religiosos e veem em seu esforço científico uma aproximação com Deus, se forem judeus, cristãos ou muçulmanos, ou com uma espiritualidade que pode ser budista, hinduísta etc. Para eles, quanto mais aprendem sobre o universo e a natureza, mais se aproximam de Deus. Entre essas duas posições extremas, você tem uma porção de outras posições. No meu caso, vejo essa cruzada antirreligiosa que certos cientistas estão fazendo como uma completa perda de tempo, que não vai levar a nada e ignora o papel essencial que a religião tem na sociedade e em nossa cultura. As pessoas sabem muito pouco sobre história, filosofia e menos ainda sobre o espírito humano para entender o quanto a fé é importante na vida das pessoas. É muita presunção de certos cientistas achar que a ciência pode, dentro da posição dela, acabar com o papel da religião na vida das pessoas. Isso é um absurdo, por vários motivos. Entre eles, e é algo que vai ser assunto do meu próximo livro e vou abordar na minha conferência, o fato de que a ciência também tem limitações na sua concepção e no seu funcionamento.
ZH – Quais seriam essas limitações?
Gleiser – Certos cientistas que escrevem para o público, como Stephen Hawking, Bryan Greene e outros, ficam tão empolgados com certas ideias científicas que esquecem de onde elas vêm e quais são seus limites filosóficos e metafísicos. Existe muita distorção sobre o que a ciência pode fazer e já fez quanto à explicação de questões fundamentais, também tocadas pela religião, como a origem do universo, da vida e da mente. Dizer que a ciência entende a origem do universo é uma grande bobagem. A ciência tem teorias que explicam uma porção de coisas maravilhosas sobre o universo, e todos devemos ter muito orgulho delas. Mas a gente ainda não entende a origem do universo, e eu, particularmente, nem sei se a gente conseguiria, dentro do processo científico, entender.
ZH – Os EUA, onde o senhor está radicado, assistem à tentativa de interferência de setores religiosos na pesquisa e no ensino de matérias científicas. Como vê esse fenômeno?
Gleiser – Aqui, essa questão, infelizmente, é muito politizada, e não deveria ser. Principalmente durante o governo George W. Bush, quando a direita religiosa foi ao poder, houve várias medidas que interferiam na liberdade de pesquisa científica. Isso causou indignação na maior parte da comunidade acadêmica, que não aceita interferência religiosa na pesquisa científica. Proibir pesquisa com células-tronco porque estão sendo extraídas de fetos é algo inaceitável. Quando isso acontece, parece que estamos voltando ao início do século 17, quando a Igreja foi atrás de Galileu. Por outro lado, é óbvio que a pesquisa científica sempre tem um aspecto moral que não podemos deixar de lado. Temos de pensar sobre as implicações sociais, culturais e morais da pesquisa científica, e isso é verdade tanto no mundo da engenharia nuclear quanto no da engenharia genética. A questão da clonagem de humanos, que é extremamente complexa, desperta contrariedade na maioria absoluta da comunidade científica. Não existe nenhum uso médico disso. Se você quer ter filhos, há outros procedimentos e você não vai querer ter um filho que tenha o código genético igual ao seu. Dizer que a pesquisa com células-tronco interfere na vida dos fetos é uma besteira porque muitos dos embriões utilizados em clínicas de fertilização in vitro são descartados depois de algum tempo, e junto com esses embriões vão as células-tronco que poderiam ter sido usadas e não o foram. Ninguém está tirando a vida de ninguém. Além disso, hoje em dia há outros modos de obter células-tronco que não recorrem a embriões. Você tem de acoplar sempre a discussão sobre a implicação moral da pesquisa de ponta dentro do quadro político e social, e também como uma questão de ética científica. O cientista não é imune a essas questões éticas, muito pelo contrário – ele e ela devem refletir sobre a implicação ética do que estão fazendo. Por outro lado, o Estado também tem de tomar muito cuidado se for interferir no processo de descoberta e de pesquisa e científica a partir de uma moral que é calcada em religiões antiquadas.

2 comentários:

  1. Já Comte em sua teoria positivista errou em prever o fim da religião com o surgimento do estado moderno. Por ironia, acabou louco e fundando sua própria religião. A insignificância da espécie humana é diametralmente oposta a sua megalomania.

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    A religião não tem que ditar normas
    Quando trata de ciência e suas formas
    Ciência tem feitos seus
    Que não descartam Deus
    Então padres cuidem de suas plataformas.

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