quarta-feira, 5 de setembro de 2012

05.- UM TRÍDUO KUHNIANO * 2º DIA


05.- UM TRÍDUO KUHNIANO * 2º DIA

Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2226
Vivemos hoje o segundo dia do tríduo kuhniano. Como acepipes à segunda parte do sumarento texto Thomas Kuhn: o homem que mudou a forma pela qual o mundo vê a ciência de John Naughton trago dois limeriques [quem quiser conhecer acerca deste gênero poético, há uma edição especial em 04AGO12: - LIMERIQUE: ¿O QUE É ISSO?] postados pelo escritor Jair Lopes, como comentários ao primeiro dia. Acredito que Kuhn nunca antes teve uma comentário de sua obra em poesias.
Um físico que disse não à anuência
Destruiu paradigmas com paciência
Seu grande trabalho
Mostrou-nos atalhos
Thomas Kuhn remodelou a ciência.

Desde que Thomas Kuhn sozinho
Mostrou-nos um novo caminho
Desvendou o enigma
Criou outro paradigma
A ciência emergiu de seu ninho.

ERRO CENTRAL O que Kuhn descobriu foi o erro central na interpretação whig da História. Pelos padrões da Física atual, Aristóteles parece idiota. E no entanto sabemos que ele não o era. A percepção cintilante de Kuhn surgiu da súbita compreensão de que, se alguém deseja compreender a ciência aristotélica, precisa conhecer a tradição intelectual sob a qual Aristóteles trabalhava. É preciso compreender, por exemplo, que para ele o termo "movimento" queria dizer mudança em geral — não apenas a mudança de posição de um corpo físico, a definição que usamos atualmente. Ou, para usar termos mais genéricos, para compreender o desenvolvimento científico é preciso compreender a estrutura intelectual sob a qual um cientista trabalha. Essa percepção é o propulsor que aciona o grande livro de Kuhn.
Ele continuou lecionando em Harvard até 1956, mas, por não conseguir um posto como professor titular, se transferiu à Universidade da Califórnia em Berkeley, onde escreveu seu livro e conquistou uma cátedra em 1961. No ano seguinte, o livro foi publicado pela University of Chicago Press. A primeira edição tinha 172 páginas, e Kuhn se referia a ela — e em seu estilo característico de acadêmico da velha guarda — como "um simples rascunho". Sem dúvida preferiria ter escrito um tijolo de 800 páginas.
Mas o fato é que a legibilidade e a relativa brevidade de seu "rascunho" foram fatores cruciais para seu sucesso. Ainda que o livro tenha demorado a deslanchar, vendendo apenas 919 cópias em 1962-63, pela metade de 1987 já havia atingido as 650 mil cópias; as vendas até o momento chegam a 1,4 milhão de exemplares. Para um trabalho cerebral desse quilate, são números dignos de Harry Potter.
AVANÇO POR FASES A proposição central de Kuhn é a de que um estudo cuidadoso da história da ciência revela que o desenvolvimento em qualquer campo científico acontece em uma série de fases. A primeira ele definiu como "ciência normal" — o dia-a-dia da ciência, se você preferir. Nessa fase, uma comunidade de pesquisadores que compartilha de uma estrutura intelectual comum — definida como "paradigma" ou "matriz disciplinar" — se envolve na solução de enigmas gerados por discrepâncias (anomalias) entre o que o paradigma prevê e o que a observação ou experimento revela. Na maioria dos casos, as anomalias são resolvidas ou por alterações graduais de paradigma ou pela constatação de erros de observação ou nos experimentos. Como define o filósofo Ian Hacking em seu excelente prefácio para a nova edição de "A Estrutura das Revoluções Científicas", "a ciência normal não busca novidade, mas sim limpar o status quo. Tende a descobrir o que espera descobrir".
O problema é que ao longo de períodos mais longos, anomalias irresolvidas se acumulam e a situação chega a um ponto em que os cientistas se veem forçados a começar a questionar o paradigma. Quando isso acontece, a disciplina entra em um período de crise caracterizado, nas palavras de Kuhn, por "uma proliferação de articulações convincentes, a disposição de tentar qualquer coisa, a expressão de descontentamento explícito, o recurso à filosofia e ao debate, de preferência aos fundamentos". No fim, a crise é resolvida por uma mudança revolucionária de visão do mundo durante a qual o paradigma deficiente é substituído por um novo. É a mudança de paradigma que se tornou clichê de expressão moderno, e, depois que ela acontece, o campo científico retorna uma vez mais à ciência normal, mas com base em uma nova estrutura. E o ciclo recomeça.
Esse sumário bruto do processo revolucionário não faz justiça à complexidade e sutileza do pensamento de Kuhn. Para apreciá-las, é preciso ler o livro. Mas talvez indique por que a obra causou tamanho impacto sobre os filósofos e historiadores que haviam formado a interpretação whig do progresso científico.

2 comentários:

  1. Limerique

    No começo há alguma interpretação
    Depois, vemos profunda interação
    Mas nem tudo resolvido
    Busca-se outro sentido
    Novo paradigma, traz nova revelação.

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  2. Lembro-me de há muitos anos ao ler um livro de antropologia, encontrei a seguinte explicação de como se constroem as teses astronômicas.Me perdoem os entendidos se minha memória me trair. Dizia o autor que os estudiosos do Cosmo partem de um presuposto, como se determindada hipótese fosse verdadeira.A partir daí se iniciam os cálculos. Quando chegam em determinado ponto realmente mensurável, voltam ao ponto inicial já munidos daquela certeza e corrigem aquele dado que deu início aos cálculos. Acredito que seja mais ou menos tambem esta mudança de paradigma aplicada ao raciocínio de Kuhn.

    Abraços

    Antonio Jorge

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