quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

12.- EM IRAÍ LEVADO POR MORFEU



Ano 6 ***    Frederico Westphalen   *** Edição 1989
Acerca destas viagens que meu estar na URI tem me ensejado, para que meus ‘diários de bordo’ não sejam monótonos há sempre ineditismos. Ontem, não fui acordado/não acordei (bom exemplo de voz passiva/ voz ativa) em Frederico Westphalen e só fui chamado em Iraí, ponto final do ônibus.
Na minha última vinda para cá o destino final era Foz de Iguaçu. Então, um retorno emergencial seria mais complicado. Ontem, esperei 40 minutos e tomei um pinga-pinga com destino a Uruguaiana. Em um pouco mais de 30 minutos ele fez os 30 quilômetros que percorrera a mais desde Frederico Westphalen e que significou chegar ao hotel duas horas depois do previsto.
Mas esta ida imprevista a Iraí ensejou ao margear por um tempo o Rio da Várzea, com dezenas de tendas com artesanato indígena, na rodovia. Afloraram algumas recordações. Há 50 anos (DEZ1961 ou JAN1962) fiz uma viagem de jeep com o Eng. Agr. Péricles Pinto da Silva, irmão de meu colega do Colégio Jacob Renner, Prof. Pedro. O Péricles estava em atividade profissional da Secretaria da Agricultura. Recordo que fiz, então, um diário de bordo, que depois datilografei com a Remington que comprei com salários de meu primeiro ano de magistério. O relatório (que ainda possuo) tem um mapa com o roteiro de ida e volta (com percursos diferentes) Montenegro/Irai/ Montenegro. Foi, então, que frui, pela primeira vez banhos em águas termais, quando o balneário tinha 25 anos. Foi um passeio memorável com alguém que desde então não tenho notícias.
Como, ontem, de repente — por obra e graça do deus Morfeu: o filho de Hipnos, que cuida de nosso sono — estava em Irai, com este imprevisto teço a blogada de hoje. Isto oferece uma oportunidade a meus leitores de visitar comigo um pouco Iraí, já muito importante no turismo gaúcho. Iraí é um município conhecido como estância hidromineral. Suas águas minerais termais são recomendadas como método terapêutico por médicos e especialistas e atraem visitantes de todo o Brasil e de países vizinhos.
Em meados de 1893, um grupo de partidários da Revolução Federalista, cruzou as terras pertencentes ao então município de Palmeira das Missões, rumo às barrancas do Rio Uruguai. Nos primeiros tempos estes refugiados enfrentaram dificuldades por estarem isolados de qualquer núcleo populacional. Numa das suas incursões em busca de alimento, encontraram um local às margens de um arroio, com várias fontes quentes e frias que brotavam com grande força e cujas águas traziam um cheiro característico, atraindo, devido às suas qualidades, grande quantidade de animais de caça. Inicialmente denominaram o local das fontes de Barreiro do Mel, pois a margens deste arroio era cercada de colmeias. Como em todo alto Uruguai, a região em que se localiza este município foi primitivamente habitada por Índios. Estes denominavam esta região por Irahy que na língua indígena significa: ira=mel e hy=água, tradução literal Águas do Mel. Termo que mais tarde seria adotado como nome do município.
Mais tarde, ao redor daquele local onde havia fontes naturais, no dia 20 de setembro de 1935, foi inaugurado o centro de tratamentos crenoterápicos Balneário Osvaldo Cruz, denominado assim em homenagem ao famoso médico sanitarista brasileiro. Na época o mais moderno da América Latina no ramo de prestação de serviços de crenoterapia, objetivando melhor qualidade dos serviços e o atendimento de um maior fluxo/dia de clientes. Sua edificação em concreto armado e formato cilíndrico, lembrando as antigas arenas romanas, foi estrategicamente planejada para suportar as grandes enchentes verificadas na várzea do Rio do Mel, próximo de onde o prédio do balneário foi construído, mais especificamente sobre a sua fonte principal de água mineral.
Rio Uruguai dista da cidade 2 quilômetros e faz divisa natural com o Estado de Santa Catarina; na região é navegável somente para barcos de pequeno calado; existem espécies de peixes como: Surubi, Dourado, Piaba, Tainha, Cascudo, Jundiá, Lambari e outros. Nas imediações há dois rios que têm como foz o Rio Uruguai: Rio da Várzea e Rio do Mel; foi através deste rio que os desbravadores primitivos chegaram até as fontes termais; dista da cidade de Iraí 200 metros.
Deixo de falar acerca do seminário de Teorias do conhecimento e Educação. Hoje pela manhã e a tarde (assim como amanhã) tenho novas atividades. Dois anúncios: amanhã este blogue dará voz ao Prof. Guy Barcellos em sua terceira crônica estadunidense e no sábado uma importante resenha: O Cemitério de Praga, de Umberto Eco.
Aqui em Frederico Westphalen vejo mais intenso o clamor por chuvas. Sonhamos que venham. 

11 comentários:

  1. Aguardo ansiosamente por sábado. Estou lendo O cemitério de Praga, a pequenos goles é preciso dizer.

    Muita paz, Attico amigo!

    P.S.:Eis aí uma identificação interessante. Se me permite, a partir de hoje irei me referir a ti como Attico amigo, ao invés estimado, prezado, ou outros que as vezes soam com certa distância inevitavelmente!

    ResponderExcluir
  2. Caro Attico,

    para nós, leitores, Morfeu foi bastante providencial, já que nos oportunizou conhecer um pouco mais da geografia e história de parte do Sul do país.
    Creio que os índios da região descendem dos guaranis, não?

    Abraçõs,

    PAULO MARCELO

    ResponderExcluir
  3. Caro Chassot,
    Talvez o "deus das termas" o tenha levado até Iraí para que você nos proporcionasse esse belo texto. Abraços e boa estada por aí, JAIR.

    ResponderExcluir
  4. Caro Chassot,

    parece que os deuses da mitologia grega te aplicaram uma peça; como resultado, fizeste uma blogada, como costumas chamar, com tema do cotidiano: ficou ótima, especialmente porque mostraste que de um limão é sempre possível fazer uma excelente limonada (ou seria melhor caipirinha?).

    Um abraço,

    Garin

    ResponderExcluir
  5. Muito caro amigo Cristiano,
    honra-me o vocativo recebido.
    O fato de estares lendo ’O cemitério de Praga’ valoriza a blogada de sábado.
    Com estima

    attico chassot

    ResponderExcluir
  6. Meu caro Paulo Marcelo,
    que bom que vês positiva a travessura de Morfeu.
    Os indígenas da região são Kaingangues oi Caingangues
    Um abraço da tórrida e seca Frederico Westphalen,
    attico chassot

    ResponderExcluir
  7. Meu caro Jair,
    que bom que o filho de Hipnos tenha se acolherado ao deus das termas nessa travessura que redundou em uma blogada imprevista.
    Com estima

    attico chassot

    ResponderExcluir
  8. Meu caro Garin,
    aos deuses a caipirinha preparada em cuia do artesanato Kaingangue,
    um abraço da seca Frederico Westphalen
    attico chassot

    ResponderExcluir
  9. EDU

    Professor Attico sua referência a seca na região foi lida , além de todo seu conhecimento, está fazendo até chover..

    ResponderExcluir
  10. Meu caro Edu,
    no blogue de hoje — recém cheguei — registro minha admiração por teus fazeres,
    Com estima
    attico chassot

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Professor Attico,
      eram 15hs ontem, quando conseguimos a vaga na CTI em Passo Fundo.Mesmo com ordem judicial, o governo do estado comprando uma vaga, todas CTIs neonatal do estado, particulares ou não, estavam lotadas.
      Um recém nascido foi ao óbito, assim houve a vaga. É o caos ... mas teremos Copa do MUundo, Olimpiadas e....
      Minha admiração por você e obrigado por ter compartilhado seus conhecimentos no Mestrado de Educação
      Edu

      Excluir