sábado, 10 de dezembro de 2011

10.-O PRÊMIO: uma dica adequada a data

Ano 6 *** PORTO ALEGRE

*** Edição 1955

Ontem às emoções antecipadas aqui: o aniversário do Bernardo e a última aula no Centro Universitário Metodista, do IPA aditou-se outra: a Carolina, no seu oitavo dia de vida fez a sua primeira visita. E esta foi à casa de seu avô materno. A gostosa surpresa se deve ao fato de a Clarissa ter consulta médica próxima à Morada dos Afagos. Assim ela e o Carlos deixaram o carro estacionado em minha garagem e na volta me premiaram com uma visita, também curtida pela Gelsa. Foi algo muito bom.

Chegamos ao sábado para qual cumprimos rituais preparatórios por meio de um tríduo. Acredito que para muitos envolvidos com Historia e Filosofia da Ciência a data de hoje tem ressaibos de dia festivo. Hoje Estocolmo e Oslo se engalanam para a entrega dos prêmios Nobel anunciados na primeira semana de outubro. Reservo-me de não repetir, aqui e agora, as usuais críticas que tenho feito a 'este indicador de medir Ciência'. Aliás, a dica leitura de hoje poderia ser chamada na ratificação destes posicionamentos.

Três cientistas que desvendaram o funcionamento do sistema imunológico vão receber o Prêmio Nobel de Medicina hoje. Os laureados são o luxemburguês Jules Hoffmann, o canadense Ralph Steinman e o estadunidense Bruce Beutler. Como comentamos aqui então, Steimann faleceu às vésperas do anúncio, mas o comitê Nobel manteve o prêmio.

O prêmio Nobel de Física de 2011 será entregue aos estadunidenses Saul Perlmutter e Adam Riess, além do australiano-americano Brian Schmidt, pela descoberta da expansão acelerada do universo.

O Prêmio Nobel de Química do Ano Internacional da Química será recebido pelo israelense Daniel Shechtman, 70 anos, do Instituto de Tecnologia de Israel, em Haifa, pela descoberta dos chamados quase-cristais.

O Prêmio Nobel da Literatura 2011 foi atribuído ao poeta e tradutor sueco Tomas Tranströmer de 80 anos.

O Prêmio Nobel de Economia 2011 será recebido pelos pesquisadores estadunidenses Thomas Sargent e Christopher Sims premiados pela "pesquisa empírica sobre a causa e o efeito na macroeconomia"

Estes cinco prêmios serão entregue em Estocolmo. E como se detalhou na edição de ontem, em 2011 a Paz é feminina: em Oslo serão laureadas as liberianas Ellen Johnson Sirleaf e Gbowee Leymah e a iemenita Karman Tawakkol.

Pois a dica de leitura jamais esteve ‘ao ponto’. Ela é o livro “O prêmio” de Irving Walace. Li este livro há pelo menos 40 anos. Manuseei para escrever esta blogada meu exemplar de 843 páginas do saudoso ‘Circulo do Livro’. Não há data de edição, talvez do final dos anos 1960. Encontrei anúncios em alguns sebos de edições dos anos 1970..

WALLACE, Irving. O Prêmio. Rio de Janeiro: Record. 1975, 7ª edição, 784 p. // peso: 300g / medidas 25 X 17 X 03 cm // ISBN 85-01-00874-5

Irving Wallace (19 de março de 1916—29 de junho de 1990) foi um escritor e roteirista estadunidense, pai do historiador David Wallechinsky e da escritora Amy Wallace. Wallace nasceu em Chicago, Illinois, e cresceu em Kenosha, Wisconsin, onde frequentou a Kenosha Central High School.

Vários dos livros de Wallace foram transformados em filmes. Entre suas obras mais conhecidas estão The Chapman Report (1960), The Prize (1962), The Word (1972) e The Fan Club (1974). Também produziu algumas obras notáveis de não-ficção, incluindo várias edições do The People's Almanac e The Book of Lists. Morreu de câncer pancreático em 1990 e foi sepultado no Hillside Memorial Park Cemetery em Culver City, Califórnia.

Elaboro algo acerca de ‘O Prêmio’ ajudado por alguns ctrlC&ctrlV. Peço por tal a indulgencia dos autores e de meus leitores.

Transformar os bastidores da premiação idealizada por Alfred Bernhard Nobel em um best seller é uma tarefa e tanto mesmo para um autor com mais de cem milhões de exemplares vendidos como Irving Wallace. O luxo e o lixo por detrás das indicações, das escolhas, das motivações. Um labirinto de interesses permeia a já intrincada tarefa de decidir a nomeação dos laureados. O autor explora tanto a intimidade dos escolhidos quanto a estrutura que se ocupa destas escolhas.

O livro com suas mais de 800 páginas promete muitas horas de exploração num universo normalmente distante da mídia, nas entranhas da Fundação Nobel. Uma viagem pela distante Estocolmo que eu tive o privilégio de conhecer no inverno do hemisfério Norte do ano passado, farta em canais, história e nomes exóticos é outra atração do livro. Recordo de então uma visita que fiz à Fundação Nobel perto do Palácio Real.

A apresentação dos personagens inicia no exato momento em que cada um recebe o telegrama

comunicando sua nomeação. Como que flagrados em seus cotidianos em meio a suas glórias e mazelas, cada um é trazido à história numa sequência que envolve o leitor numa trama irresistível.

O livro começa por descrever com minúcia o ambiente familiar e profissional que envolve as personagens laureadas pelo Prêmio naquele ano – que julgamos, por dados fornecidos ao longo do texto, ser os inícios da década de 60 - e só depois a ação se desloca para a capital sueca, Estocolmo, onde essa entrega terá lugar. O original é datado por Wallace em 1962.

Nas primeiras 200 páginas sensivelmente, ficamos a conhecer a vida pessoal e profissional das personagens agraciadas com o Prêmio, as suas qualidades e defeitos, as suas vicissitudes pessoais.

Já em Estocolmo, a intriga adensa-se com alguns incidentes que ocorrem durante as iniciativas do programa da “semana do Nobel”. Ficamos a saber da subjetividade e do relativismo no momento de escolher os laureados em anos anteriores e o autor, ao mesmo tempo que analisa esse aspecto, também reabilita a Instituição Nobel, apontando casos positivos.

Ficamos sabendo que o marido do casal francês (os Marceau) que ganha o Prémio Nobel da Física trai a mulher devido ao tédio que sente pela vida que leva. Ela vingar-se-á em Estocolmo.

O cientista Stratman, de origem alemã, mas que vive nos Estados Unidos ganha o prêmio da Química vive preocupado com a sua frágil saúde e, sobretudo com a sobrinha, que sobreviveu aos horrores do regime nazita.

O Dr. John Garrett e o Dr. Carlo Farelli, italiano, ganham em ex-aequo o prêmio Nobel da Medicina e o Estocolmo será o palco onde o primeiro deles se irá digladiar com os seus problemas psicológicos e com Carlo Farelli, alegando que este lhe roubara a descoberta que haveria de dar o Prêmio aos dois laureados.

O Dr. Craig ganha o Prémio Nobel da Literatura, mas não escreve há 3 anos nada de novo. Isso se deve ao fato de ele viver com o trauma de ter morto a mulher num acidente de automóvel e de se ter entregue desde então à ingestão indiscriminada de álcool. Vive com a irmã da falecida mulher e é com ela que se desloca a Estocolmo para receber o galardão. É lá e na figura de Emily Stratman, a sobrinha de Max Stratman, que ele encontrará o rumo e o significado para a vida.

A narrativa ganha progressivamente interesse, tornando-se cada vez mais vertiginosa à medida que se aproxima do final. Há estratégias narrativas adoptadas que são inteligentes e que contribuem para o adensar da intriga. Em fim, para curtidores de ficção matizadas em realidade aí está uma excelente dica sabática embalada pelas comemorações de hoje em duas capitais escandinavas.

3 comentários:

  1. Caro Chassot,

    esta resenha desperta a curiosidade. Quando acompanhamos, pela imprensa (será que deveríamos mudar - imprensa não é mais apropriado) determinados acontecimentos como esse, não imaginamos o que pode estar acontecendo por trás de todo o glamour dos eventos. A imaginação de Wallace deve ter fundamentos na realidade e por isso se torna mais instigante ainda.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Nos meus tempos de juventude eu costumava ler Irwing Wallace, lembro de "Os sete minutos", por exemplo. Depois que fiquei sabendo que ele não mais escrevia seus livros, perdi o tesão. Noticiou-se que depois que ficou famoso, Wallace mantinha uma equipe de escritores que produziam seus livros depois que ele dava um tema e um roteiro. Assim, ficou caracterizado que a fama e dinheiro deram-lhe condições de construir uma "indústria" de livros a partir de alguma ideia que pudesse ser aproveitada para gerar mais grana. Não querendo colaborar com isso passei a não mais ler seus livros. Abraços, JAIR.

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  3. Meu caro Jair,
    já havia ouvido esta crítica a Irving Wallace e outros ‘mega-produtores’. Convenhamos que hoje nóstemos os robôs do Google que fazem isto para nós como os ‘escravos’ (certamente bem assalariados) faziam para o senhor IW.
    Melhor que estes (escravos ou robôs googleanos) são aqueles espíritos que ditam livros que transformam escritores como Zibia Gaspareto em fazedora de livros aos borbotões.
    Obrigado pela maneiras como adensas criticamente este blogue.
    Com admiração

    attico chassot

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