sábado, 12 de novembro de 2011

12.- Uma dica de leitura apimentada

Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br

*** Edição 1927

O 11.11.11 passou e há uma conclusão óbvia: às 11h 11 minutos de ontem o mundo não terminou. Isto é bom... pois assim, continuo tendo mais que 111 leitores a cada dia. Ontem este blogue bombou artificialmente. Às 6h entre 6.120.000 resultados 11.11.11 este blogue aparecia na primeira página, (um dos primeiros, excetuado os que referiam o lançamento do filme) e já havia tido 40 visita, quando neste horário nunca passa de 10. Quase ao final da sexta-feira o registro era 441visitas, destas 395 do Brasil e 46 de 14 outros países liderados por Portugal 19 e Estados Unidos 10. Isto é: os valores mais que triplicaram pelo atrativo da data. Claro que sei que estes valores não significam leitura.

Hoje é dia de dica de leitura e vou honrar a tradição. Precedo a sugestão de ‘Teresa, a namorada de Jesus’ com um registro muito especial.

Recebo hoje ao meio-dia a visita de meu grande amigo Prof. Dr. Enrique M. Del Percio, professor de Filosofia Social da Universidade de Buenos Aires. Já conheço o Enrique desde o século passado. Quando a Gelsa e eu vivemos em Madrid, em 2002, durante o pós-doutorado ele nos visitou lá. Hoje a Gelsa que está em um Simpósio de Editores de Revistas Científicas em Gramado, lamenta não poder fruir do privilégio que eu terei. Ele é o autor entre outros livros de La condición social: Consumo, poder y representación en el capitalismo tardío (Buenos Aires: Altamira, 2006) que tenho citado na mostrada dos três significados do prefixo in em indisciplina.

De minha estada na Feira do Livro no último sábado, contei que havia amealhado preciosidades nos caixões de saldos. Uma delas se faz dica de leitura hoje. Uma prova de sua qualidade é que, em meio a uma semana de muitos fazeres, devorei com sofreguidão o livro de Deonísio da Silva.

SILVA, Deonisio da, Teresa a namorada de Jesus. São Paulo: Girafa. 204 p. 205. ISBN: 978-85-89876-76-6

Deonísio da Silva (Siderópolis, 1948) é um escritor e professor universitário brasileiro. Mora no Rio de Janeiro e trabalha na Universidade

Estácio de Sá, onde é pró-reitor de Cultura e Extensão e Coordenador de aulas on-line de Língua Portuguesa. Sempre conciliou sua vida de escritor com a docência universitária e com uma ativa colaboração na imprensa. É doutor em Letras pela USP, com uma tese sobre os livros proibidos no Brasil no período pós-64.

Este livro me sensibilizou muito e mesmo sendo uma hiper-ficção há uma personagem real: Santa Teresa d’Ávila e por tal pus-me a estudar mais sobre esta mulher tão significativa (e controvertida) no século de ouro espanhol.

O controvertido está numa dita relação erótica com seu esposo divino: Jesus. Há uns anos, quando ainda professor da Unisinos, pensei em propor a um evento acadêmico sobre o Padre Balduíno Rambo: “Rambo, uma Teresa d’Ávila do século 20”, pois na leitura de seus diários (um dos volumes foi tirado de circulação horas depois de publicado e eu o possuo: “Em busca da grande síntese – liberdade plena do homem redimido” Volume 3) é muito significativa a relação do religioso com Nossa Senhora. A leitura deste livro aguçou-me a estudar o assunto. Mas isto é lateral a esta edição.

Teresa nasceu em Ávila, Espanha, em 1515. Aos 21 anos, abandonou a casa paterna e entrou para o convento carmelita da Encarnação, em sua cidade natal. Dedicou boa parte da vida à regeneração da Ordem do Carmo. Com a colaboração de seu discípulo São João da Cruz, Teresa fundaria ao todo dezessete conventos de carmelitas descalças, a maioria em Castela e na Andaluzia. Relacionou-se com diversos núcleos de inquietação religiosa de seu tempo, participando inclusive de intrigas da corte do rei Filipe II. Morreu às 9 horas da noite de 4 de outubro de 1582. Foi sepultada no dia seguinte: 15 de outubro (pois justamente aí estão os 10 dias – 5 a 14 de outubro, suprimidos em 1582, quando começa vigorar o calendário gregoriano). Sua festa é em 15 de outubro~~ dia do Professo~~ sendo a padroeira do magistério. Foi canonizada em 1622, apenas quarenta anos após sua morte. Seu corpo é conservado no convento da Anunciação, em Alba de Tormes, província de Salamanca. No dia 27 de setembro de 1970, o Papa Paulo VI conferiu-lhe o título de Doutora da Igreja. É a primeira mulher a receber este título.

Teresa figura na lista das maiores autoridades da língua espanhola, compilada pela Real Academia do país. O Livro da vida, terminado em 1565, ocupa o segundo lugar na lista de clássicos mais lidos na Espanha, atrás somente de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Trata-se de uma autobiografia até o quinquagésimo ano de Teresa, escrita a pedido de seus confessores, e permite perscrutar os meandros de uma espiritualidade marcada pela introspecção contemplativa e pelo apaixonado diálogo com Deus. Teresa havia se tornado célebre em toda a Espanha pelos relatos de suas visões e êxtases místicos. Sua narração, em tom simples e direto, ressalta a intensidade das experiências que marcaram a atormentada trajetória da santa e doutora da Igreja Católica.

Em seu tempo, Teresa enfrentou a desconfiança da hierarquia da Igreja, instilada pela ortodoxia da Inquisição e pelas rivalidades ocasionadas pela fundação da Ordem das Carmelitas Descalças. O Livro da vida permite relacionar a existência terrena de Teresa, marcada pelas provações e pela laboriosa dedicação a sua ordem, à prodigiosa riqueza de sua mística, que constitui uma verdadeira erótica do sagrado. Ao reconstituir seu revolucionário caminho espiritual, Teresa indica os perigos e maravilhas da procura de Deus, compondo um dos mais comoventes marcos literários do cristianismo.

Meus leitores hão de estar se perguntando se a dica de leitura é sobre ‘Santa Teresa d’Ávila ’ ou ‘Teresa, namorada de Jesus’. Resposta: as duas, ou melhor são as mesmas, no bem construído mundo ficcional de Deonísio da Silva.

Eis algo da quarta capa: “Premiado pela Biblioteca Nacional, Teresa, namorada de Jesus, foi também eleito por ensaístas da prestigiosa revista World Literature Today dos EUA, um dos dez melhores romances brasileiros dos últimos vinte anos! O que levou profissionais tão qualificados a dar tamanha distinção a este romance. Certamente foram encantados pelo mesmo tom que tem encantado os leitores brasileiros. Num dos seus melhores momentos como escritor, Deonísio da Silva concilia o rigor da pesquisa histórica, que destacou os grandes temas e problemas do século de ouro, com um estilo quase coloquial, marcado pela argúcia na recordação do fascínio, que as mulheres sintetizadas em Teresa d’Ávila, exercem sobre meninos de um internato, fazendo a narrativa oscilar entre o século 16 na Espanha e o 20 no Brasil”.

Pouco mais se precisaria acrescentar: o romance narra a pré-adolescência de meninos em um seminário católico (quase me permito inferir que se trata de evocações biográficas do autor, pois este talvez tenha feito estudos seminarísticos) e a sedução exercida sobre eles pelas mulheres e pelos prazeres negados pelo celibato. A vida desses jovens é conduzida por padre Divino que, ao morrer lhes proporciona uma deliciosa surpresa. Eles encontram entre os pertences do padre um manuscrito sobre a história de Teresa d’Ávila.

Essa monja espanhola que, isolada no claustro, misturava o místico e o erótico em suas fantasias e devaneios, transforma para sempre a vida desses jovens, que conhecem o desejo, a sexualidade e o fascínio pelo corpo por meio do relato deixado por ela e por suas relações amorosas, com outro santo da Igreja: são João da Cruz, onde Jesus é um dos vértices de um triângulo amoroso.

Uma frustração: o desaparecimento na história da fogosa tia Vina, que imaginava ser uma versão brasileira da monja de Ávila. Mas é bom ficar imaginando. Esta aí uma apimentada dica sabática.

4 comentários:

  1. Caro Chassot,

    também já percebi que a estatística de acesso ao blog está relacionado bem mais com o título que coloco na postagem. De qualquer forma, mereces os cumprimentos por tão elevado índice de acessos.

    Com os votos de um feliz re-encontro com o Prof. Enrique.

    Garin
    http://norberto-garin.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,
    O livro comentado e recomendado está na agenda para ser adquirido já. Abraços e bom fim de semana, JAIR.

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  3. Meu caros Garin e Jair,
    ~~ ainda um comentário da blogada sabatina que ficou a descoberto ~~
    como seria bom se tivéssemos não um índice de acesso, mas sim de leitura o como querem os ideólogos da cientometria ou cienciometria , o índice de impacto daquilo que escrevemos. Vejo pelos comentários ao blogue do Jair que são significativos, se comparado com o meu. .
    Um bom saldo de feriado aos meus dois mais assíduos comentaristas.
    attico chassot

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  4. Chassot, muito prazer!
    Giovanni Ricciardi, que traduz atualmente minha TERESA D´ÁVILA NAMORADA DE JESUS para o italiano, como já fez com AVANTE, SOLDADOS: PARA TRÁS, me escreve para dizer que te lê sempre! E doravante eu também o lerei!
    Grato por suas belas palavras sobre meu romancinho. Quanto à Tia Vina, ela é uma personagem recorrente em meus escritos. Se v. não tiver, envio-lhe o conto em que ela dá entrada em minha ficção, que se chama justamente TIA VINA e está em CONTOS REUNIDOS, que publiquei ano passado pela Leya, com todos os meus dez livros de contos.
    Lanço no primeiro trimestre de 2012 LOTTE & ZWEIG sobre o duplo suicídoo (?) do escritor judeu-austríaco Stefan Zweig e sua mulher Charlotte Elisabeth, depois do Carnaval de 1942, em Petrópolis (RJ).
    Um abraço, muito obrigado por seu apreço por meu livro.
    Deonísio

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