quinta-feira, 8 de setembro de 2011

08.- Globalização numa caixa de surpresas

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1862


A quinta-feira feira chega e ela saberá (permito-me recordar acepção nove do verbo saber, presente no sempre recomendável dicionário Priberam – www.priberam.pt – : Ter sabor ou gosto) a segunda-feira. No feriado que se esvai, na hora da sesta, mais de uma vez, pensei que era sábado e quando se fez noite pensava na minha agenda de segunda-feira. Assim hoje, vez ou outra, será bom dar-nos conta que amanhã, ao entardecer, já será shabath e estaremos vivendo o fim de semana.

Para meu clã familiar será um fim de semana de celebrações. Hoje o meu neto Felipe, filho da Ana Lúcia e do Eduardo completa um ano. Neste sábado vamos a Estrela, para junto com os felizes pais e o Guilherme celebrar o primeiro aniversário do caçula dos seis netos, que em dezembro perderá o título para a Carolina que vem também adoçar o gostoso avonar.

Mas o feriado da independência foi fundamentalmente de gostoso descanso. No jardim a azaleia domina com seu lindo magenta a paisagem e na parreira é lindo ver os primeiros brotos iniciarem a cobertura do esqueleto formado pelos ramos nus retorcidos das videiras. A amoreira já oferece as primícias anunciando uma safra que uma vez mais será abundante. Aliás, foi nos jardins da Morada dos Afagos que vi e ouvi os únicos ruídos do desfile do dia da Independência.

Já recebi, talvez quase dezena de vez uma destas mensagens, que nem sequer o enésimo remetente procura limpar muitos outras destinatários e dar cunho pessoal. A mensagem tem certa criatividade (mesmo que eivada de odiosos preconceitos) ao responder a pergunta: Qual é a mais correta definição de Globalização? A Morte da Princesa Diana. Por quê?

Uma princesa inglesa com um namorado egípcio tem um acidente de carro dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, bêbado de uísque escocês, que era seguido por paparazzi italianos, em motos japonesas. A princesa foi tratada por um médico canadense, que usou medicamentos estadunidenses. E esta mensagem eletrônica é enviada a você por brasileiro, usando tecnologia estadunidense (Bill Gates) e provavelmente, você está lendo isso em um computador genérico que usa chips feitos em Taiwan e um monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura, transportado em caminhões conduzidos por indianos, roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, reempacotados por mexicanos e, finalmente, vendido a você por chineses, através de uma conexão paraguaia.

Como disse criativa a proposta, mas marcada por preconceitos que não endosso, mesmo

tendo transcrito como recebi, apenas trocando, duas vezes, o gentílico americano, por estadunidense. Mas neste sábado tive em mãos uma pequena e artisticamente colorida caixa metálica que é um bom exemplo de um mercado globalizado.

Mesmo não sendo sábado, dia de dica de leitura, vou falar de produto que pelo código do comércio 978 é livro, o que está evidente no ISBN 978-3-8331-8017-0. Esta evidencia, não é aceita pelo Antônio, na sabedoria de seus 4,5 anos, como se verá adiante.

Aqueles que decodificam ISBN depois do 978 identifica obra editada na Alemanha, os outros nove representam, da esquerda para direita: país [por exemplo todos os livros do Brasil começam por 85; França: por 2; Alemanha: 3; Espanha: 84; Portugal: 972 etc. Originalmente o(s) dígito(s) caracterizados como dos países, estavam relacionados com o idioma em que era impressa a obra, tanto 0 e 1 era para língua inglesa; 2, para francesa; 3 alemão); os dígitos seguintes identificam editora dentro do país (que podem ser formados por um, dois, três, quatro ou cinco; quanto maior a editora, ela terá um menor número de algarismos de identificação, pois lhe sobrará maior quantidade de posições para distribuir a sua produção);

Assim a linda caixa, que mesmo estivesse estampado “Histórias de encantar” [na

Alemanha ela circula como Spieluhrbox Minutengeschichten] é uma obra da editora Tanden Verlag GmbH de Potsdam, Alemanha. O texto foi traduzido para português do Brasil, pela Liberal Azul (Equipo de Edicion) de Barcelona, Espanha, com a coordenação da edição brasilera de Anke Hennek. A impressão foi na China. A caixa foi adqurida no Vale dos Sinos de um livreiro de ascendência italiana, que a adquiriu da Paisagem distribuidora de Livros Ltda, de São Paulo. Concordem meus leitores que é uma exemplo de globalização do mercado.

A belíssima e luxuosa caixa mágica de 54 mm 131 mm x 97 mm contém quarenta cartões que se destacam pelos seus aprimorados desenhos e em cujo verso encontramos histórias de encantar. E, como diz em uma face da mesma, em sua companhia, qualquer criança se sentirá feliz à hora de deitar. Tudo isto custa menos de R$ 20,00 (em uma promoção no Brasil e na Alemanha se anuncia por 7,99€) o que convenhamos leva a perguntar-nos como é fatiado este valor entre os produtores de pelo menos quatro países em três continentes.

Pois agora a narrativa da desilusão da feliz avó ao entregar ao Antônio ao abrir a caixa: Isto não é livro. É preciso de uma fita adesiva, para juntar estes cartões para formar um livro. Quer dizer que mesmo alguém da geração Ipad reconhece como livro como um conjunto de folhas de papel, em branco, escritas ou impressas, soltas ou cosidas, em brochura ou encadernadas.

Com esta oportuna constatação meus votos de uma muito boa quinta-feira e o desejo de lermos amanhã, com sabores do advento do fim de semana.

6 comentários:

  1. Ave magister,

    parabéns pelo neto!
    Que as azaléias dos jardins suspensos de Atticodonosor sempre embelezem tua mirada.
    Já dizia Keats: "A thing of beauty is a joy for ever".
    Soltei uma gargalhada cerebral lendo a blague da globalização.

    Folgo em saber teu neto um adicto às lombadas.
    Junte-se ele a nós, aguerridos defensores do papel amarrado ao couro das lombadas.
    Em breve quero marcar um chá aqui em casa, para mostrar-te dois habitantes da minha biblioteca. Dois dicionários, um de português e outro de tupi de 1879. Estado de conservação muito bom.

    Escusas pela verborragia!

    Um abraço primaveril,
    Guÿ (a traça).

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  2. Muito estimado colega Guy,
    realmente a decepção do Antonio com as fichas que ‘não eram livro’ permite que pensemos na permanência deste saboroso artefato cultural.
    Obrigado pelos votos pelo primeiro aniversário do Felipe.
    Aditei a edição depois de tua leitura: Tudo isto custa menos de R$ 20,00 (em uma promoção no Brasil e na Alemanha se anuncia por 7,99€) o que convenhamos leva a perguntar-nos como é fatiado este valor entre os produtores de pelo menos quatro países em três continentes.

    Com admiração
    attico chassot

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  3. Caro Chassot,

    deixando de lado a reconhecida sabedoria em destrinchar códigos vou direto aos sinais da primavera. Tuas colocações me trazem à lembrança a visita que meu pai fazia, quase às escondidas, à lavoura de aipim (por lá falávamos mandioca). Voltava com um punhado, na mão mesmo, de finas raízes que eram cozidas pela minha mãe. Tratava-se dos primeiros frutos da lavoura (as primícias) que eram saboreadas com o significado de festa pois apontavam para uma boa safra adiante.

    Um abraço,

    Garin

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  4. Caro Chassot,
    Para mim o melhor exemplo de globalização é a internet, poie ela nos coloca "on line" em tempo real com quaisquer países do Planeta 24 horas por dia. Abraços, JAIR.

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  5. Meu caro Garin,
    quando ‘precisei’ a palavra primícias pensei no seu denso significado.
    É bom saber na densa significação que teve para ti com evocações que se fizeram encanecidas.
    Agradecimentos do
    attico chassot

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  6. Muito estimado Jair,
    as grandes navegações no início dos tempos modernos e a internet no ocaso do segundo milênio, são ícones da globalização
    Obrigado pela parceria
    attico chassot

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