quarta-feira, 7 de setembro de 2011

07.- Acerca de ‘dias da Independência’

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1861

Mesmo que o título da chamada possa dar sugestão do tom da blogada, esta não vai falar do dia de hoje, mas de dias como o de hoje. Quando já se viveu mais 70 anos, certamente o ‘verde e amarelo pátrio’ já teve vários matizes.

Uma das evocações mais distantes está num dos trens de carga que deixou Jacuí e chegou a Montenegro na Semana da Pátria de 1947, quando talvez tenha visto pela primeira vez bandeiras do Brasil tremulando. Talvez esteja ai a raiz de meu encantamento por bandeiras ao vento. E não posso negar que gosto de ver a Bandeira do Brasil.

Este trem – que a toda hora aflora em minhas evocações – trazia no útero de um dos vagões ‘uma carga muito especial’. Este não era rigorosamente ‘um trem misto’, formado por vagões de carga e vagões de passageiros. Aquele singular e único trem tinha um vagão de carga mudou toda uma história. Rompeu paradigma. Ele estava prenhe em seu amplo ventre de um casal com quatro filhos e todos os bens móveis do casal, inclusive com o fogão a lenha em uso durante a viagem, com a chaminé emanando fumaça por uma fresta de um dos portões mantidos semi-aberto. Esse trem continua muito presente em mim. Ele é um trem-fantasma que já roda há mais de 60 anos enfumaçando as histórias do primogênito que ensaiava, então, as primeiras letras. De Jacuí, no que se refere a celebração de hoje, lembro apenas, que usávamos fitinhas verde amarela.

Depois vem um período de evocações menos boas do ‘Dia da Independência’: as marchas da semana da pátria. Tinha/tenho um problema de lateralidade. Nunca acertava o passo na marcha. Quando, lá no começo de agosto. (tanto na época do primário como do ginásio) começavam os ensaios para ‘a parada da juventude’ eu sofria. Era repreendido pelos professores e zoado pelos colegas. Era algo muito chato.

A etapa seguinte, quando já era aluno do científico e não havia mais a participação nas marchas, começa outra fase: a contestação a independência. Era o período que rejeitávamos o tutelamento dos Estados Unidos (realmente muito presente) e nos aliávamos aos que pichavam: “Go home, yankees!” A pergunta era: o que temos a celebrar no dia da Independência?

O período seguinte foi de manifesta rejeição as comemorações da ‘Semana da Pátria’ porque era evidente o quanto os presidentes-ditadores, por quase 20 anos, desde 1964 fizeram sua a Pátria e as comemorações eram de exaltação ao regime.

¿E hoje? É um dia feriado... E não muito mais. Acredito que, diferente de outros tempos, temos mais para nos orgulhar. Parece que não somos mais colônia. Somos, enquanto nação, mais independente.

Todavia nada me leva a celebrações. Enquanto pacifista desagrada-me qualquer manifestação ou exibicionismo de poder militar. Não recordo de alguma vez ter ido (ou assistido pela televisão) a algum desfile de semana da pátria. Assim, esta quarta-feira não será mais que um feriado pré-primaveril no meio da única semana que não tenho viagem neste setembro.


Desejo a cada uma e cada um o melhor e mais fruído feriado. Lemo-nos amanhã, depois de celebrada a nacionalidade.

10 comentários:

  1. Caro Chassot,

    as evocações do Dia Sete de Setembro me recordam a época do ginásio em Passo Fundo. Participava da Banda Marcial da escola, com 102 figuras e eu tocava trompete. Certa vez, nos apresentando em frente ao palanque oficial, apenas um colega e eu percebemos a ordem do mor para tocar a "Canção do Expedicionário". Entramos firmes como se fosse um dueto. No segundo acorde, todo o pelotão de metais entrou junto. Além de nós, ninguém mais notou a gafe.

    Um abraço.

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Bela recordação de sua infância e juventude, bem como reflexão importante sobre nosso "independência". O que será essa tal de independência num mundo globalizado? Abraços verde e amarelos sem patriotada, JAIR.

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  3. Mais uma vez emociono-me com o relato da chegada a Montenegro da familia Chassot, mesmo já conhecendo a trajetória do trem misto, desde a revisao crítica de tua obra que aguardo curioso o lançamento. Eu tambem no Colegio Espirito Santo não tinha qualquer afeição pelo Dia da Pátria, onde sempre me apossava um sentimento de rejeição ao tradicional verbo "marchar no sete de setembro". Um bom resto de semana. JB

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  4. bom feriadooooooooooo

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  5. Meu estimado colega Garin,
    parece, quando tocavas trompete na banda marcial – coisa de guerra – não tínhamos a independência de hoje. É bom vivermos agora mais livres.
    Nas datas históricas que sempre nos lembras, temos em 1922, no centenário da independência, a primeira transmissão de rádio no Brasil.
    Um bom saldo de feriado
    Attico chassot

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  6. Jair, muito estimado parceiro de blogares,
    gostei do teu ‘sem patriotada’
    Um bom saldo de feriado
    attico chassot

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  7. Meu caro Jairo,
    senti a tua solidariedade com as dificuldades das marcha. Talvez as rejeitássemos por serem marciais.
    Um bom saldo de feriado.

    attico chassot

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  8. Estimado Marli Carmem,
    obrigado pelo convite e obrigado pelos votos ao feriado

    attico chassot

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  9. Muitos queridos alunas e alunos da Biologia do Centro Universitário Metodista, do IPA,
    na torcida pelo êxito da semana de Biologia.
    Um afago do
    attico chassot

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