quarta-feira, 24 de agosto de 2011

24.- Dinheiro retorna aos donos



Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1847

As edições de quartas-feiras têm a marca de serem postadas tão logo cheguei das 2 x 2 aulas de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. Hoje tivemos nas duas turmas a discussão do texto “Diálogos de Aprendentes”. Muitos se identificaram, pois o texto narra o diálogo de um professor com uma aluna de licenciatura fazendo estágio como os alunos. Houve excelentes produções textuais.

Nesta quarta-feira, atendo a atencioso convite de meu colega e amigo Prof. Dr. Norberto da Cunha Garin e compareço em duas de suas turmas da disciplina de Ética e discuto de manhã com alunos de Música e à noite de Jornalismo o meu livro A Ciência é masculina? À tarde também tenho atividades no Centro Universitário Metodista, do IPA.

24 de agosto parece ser um dia com memórias aziagas. Não sei de outra data tão ferreteada como esta. Não vou elencar guerras que começaram nesta dada, cidades que foram destruídas.

Mas, a sina vem de longe. Em 79, as cidades de Pompeia e Herculano são destruídas pela erupção do vulcão Vesúvio. Outra lembrança macabra: a noite de São Bartolomeu: matanças, organizadas pela Casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 30 mil e 100 mil protestantes franceses (chamados huguenotes).

A história do Brasil não é imune a data: em 1954, suicida-se, com um tiro no peito de um Colt 32, o Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, originando comoção nacional, com quebra-quebras e arruaça em várias cidades brasileiras.

Em 24 de agosto é comemorado o “Dia de Oxumarê“, data que a igreja católica homenageia “São Bartolomeu“. Oxumaré, a cobra/arco-íris, orixá masculino, símbolo da continuidade e da permanência. Representa a riqueza e a fortuna.

Leio uma notícia que parece ter as bênçãos de Oxumaré: Após tsunami, dinheiro de japoneses encontrado nos escombros retorna a donos. Os moradores das cidades japonesas destruídas pelo terremoto seguido por tsunami de 11 de março passado conseguiram reaver mais de 3,6 bilhões de ienes (cerca de R$ 76 milhões).

O dinheiro foi encontrado nos escombros por equipes de resgate e por cidadãos, segundo o jornal britânico "Guardian". De acordo com a polícia local, dois terços desse valor estavam em 5.700 cofres, todos nas províncias de Fukushima, Iwate e Miyage, as mais afetadas pela tragédia. Destes, 96% já foram identificados e devolvidos aos seus donos.

O restante do valor menos de 1,3 bilhão de ienes (ou cerca de R$ 26 milhões), estava dentro de bolsas e carteiras, na maioria das vezes junto de cartões de crédito. Assim, a polícia conseguiu identificar 85% dos proprietários.

Na cidade de Ishinomaki, província de Miyage, um homem conseguiu recuperar 100 milhões de ienes (R$ 2 milhões); em Kamaishi, província de Iwate, 900 cofres foram entregues à administração pública.

O hábito de guardar dinheiro em casa ou no escritório é forte no Japão, sobretudo na área afetada, onde os pescadores preferem usar dinheiro a cartão. Muitos japoneses desconfiam da solidez de seus bancos. Além disso, há uma resistência de parte da população em usar o dinheiro para consumo, fato que chega a causar problemas econômicos.

O tsunami no Japão deixou mais de 20 mil mortos ou desaparecidos e provocou o vazamento de radioatividade da usina nuclear de Fukushima, uma das mais antigas do país. Mais de 80 mil famílias foram obrigadas a se deslocar por causa do risco de sofrerem os efeitos da radiação.

Parece-me que a trazida deste exemplo de respeito na convivência de humanos – que deveria ser visto como algo natural – que merece destaque na imprensa mundial por não ser comportamento usual, vale ser trazido aqui em um 24 de agosto. Que a quarta-feira seja fruída por cada uma e cada um. Aceno com um texto polêmico/reflexivo para amanhã.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Essa recuperação de um dinheiro que estava extraviado me remete ao comportamento dos brasileiros que se acham "donos" daquilo que, momentaneamente, encontra-se sem um proprietário a vista. É comum vermos saques de caminhões tombados em estradas e até nas ruas de cidades. Como essas expropriações não são, em princípio, feitas por ladrões e marginais, e sim por cidadãos comuns, me parece ser motivo de reflexão porque em outros países é diferente. Aqui, quando um gari encontra dinheiro no lixo e procura o dono para devolvê-lo, vira manchete nacional. Não devia ser uma coisa normal? Você já notou que naquele acidente da Gol em que os bens dos passageiros e tripulantes ficaram espalhados pelo local da queda, nada foi devolvido para os parentes das vítimas. Nem uma simples aliança de casamento, que, se supõe, deva ter resistido a queda. Por que será, eim? Sabe-se que a honestidade é algo que se aprende em casa, então as famílias brasileiras não estão educando seus filhos conforme o adágio, não é mesmo? Abraços e desculpe o desabafo, mas meus pais me ensinaram diferente do que vejo pelas ruas, JAIR.

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  2. Cultura é cultura. Torço para que um dia a nossa também seja caracterizada desta forma!

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  3. Caro Chassot,
    de fato, 24 de agosto é uma data de muitos acontecimentos com repercussão histórica em todo o mundo. Amanhã lembraremos a morte de três grandes nomes ligados à Filosofia. Espero poder comentar a tua postagem do dia 26 de agosto. Há um grande argumento a meu favor: sou apenas um arremedo de filósofo.
    De qualquer maneira, chama a atenção o volume de dinheiro em poder das vítimas do terremoto do Japão. Acho que por aqui o volume seria bem menor. Em parte discordo do Jair: mesmo por aqui, a maioria da população devolveria os pertences - há mais honestos do que corruptos nessa Pátria "mãe gentil!"

    Um abraço,

    Garin

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  4. Estimado Jair,
    há os que creditam a filosofia de vida oriental a devolução de pertences. Há que reconhecer que entre nós houve caso de devoluções de achado. Também são verdadeiros os assaltos a despojos como os que relatas.
    Não posso discordar que aprendemos diferente. Quando piá, cheguei uma vez com propaganda eleitoral que recolhera de algumas casas, Mesmo sendo candidato de quem meu pai era contrário, ele me fez ir de casa em casa devolver.
    Uma muito boa noite,
    attico chassot

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  5. Muito estimado Jhon,
    queiram os desígnios que um dia cheguemos mais perto de algumas utopias
    Com expectativa
    attico chassot

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  6. Meu caro Garin,
    o privilégio que me concedeste hoje pela manha e pela tarde me autorizam comentar mais tardiamente tua análise aqui.
    Temos situações de manifesta honestidade entre nativos daqui.
    Concordo que generalizações dão visões equivocadas,
    Com estima e agradecimentos

    attico chassot

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