quarta-feira, 10 de agosto de 2011

10.- Slow Science: Devagar & sempre

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1833

Não faz muito, retornei de uma noite de terça-feira de uma bi-estreia. A tarde e a noite foram nervosas. Não parecia que ia para a primeira aula com dois grupos num inicio do 102º semestre letivo. Claro que evoquei muito, aquele primeiro em março de 1961. Tive o primeiro encontro com dois grupos de quatro licenciaturas para a disciplina de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa. Das 19h10min às 20h50min, um grupo de 38 alunos dos cursos de Biologia e Educação Física; e das 21h10min às 22h50min, 36 alunos de Música e Pedagogia. Foi, uma vez mais, uma experiência muito rica. Alunas, alunos e eu fizemos expectativas.

Os votos de uma boa quarta-feira vêm embalados por um movimento quase utópico e é muito bom nos albores do terceiro milênio falar em utopias. Movimento 'Slow Science' defende o direito de cientistas fugirem da corrida pelo grande número de publicações e priorizarem qualidade da pesquisa. Vale conhece-lo num texto de Sabine Righetti, que foi publicado na Folha de S. Paulo desta segunda-feira. Já me sinto militante do ‘Slow Science’. Adira também!

Um movimento que começou na Alemanha está ganhando, aos poucos, os corredores

acadêmicos. A causa é nobre: mais tempo para os cientistas fazerem pesquisa.
Quem encabeça a ideia é a organização "Slow Science" (http://slow-science.org), criada por cientistas gabaritados da Alemanha.
Aderir ao movimento significa não se render à produção desenfreada de artigos em revistas especializadas, que conta muitos pontos nos sistemas de avaliação de produção científica.
Hoje, quem publica em revistas científicas muito lidas e mencionadas por outros cientistas consegue mais recursos para pesquisa.
Por isso, os cientistas acabam centrando seu trabalho nos resultados (publicações).
"Somos uma guerrilha de neurocientistas que luta para que o modelo midiático de produção científica seja revisto", disse àFolha o neurocientista Jonas Obleser, do Instituto Max Planck, um dos criadores do "Slow Science". O grupo chegou a criar um manifesto, no final do ano passado, em que proclama: "Somos cientistas, não blogamos, não tuitamos, temos nosso tempo".
"A ciência lenta sempre existiu ao longo de séculos. Agora, precisa de proteção."
O documento está na porta da geladeira do laboratório do médico brasileiro Rachid Karam, que faz pós-doutorado na Universidade da Califórnia em San Diego.
"O manifesto faz sentido. Temos de verificar os dados antes de tirarmos conclusões precipitadas", analisa.
"A 'Slow Science' nos daria tempo para analisar uma hipótese em profundidade e tirar conclusões acertadas."
De acordo com Obleser, o número de cientistas simpatizantes do movimento está crescendo, "especialmente na América Latina".
"Mas não é preciso se filiar formalmente. Basta imprimir o manifesto e montar guarda no seu departamento", diz.
O Slow Science é um braço do já conhecido "Slow Food", que defende uma alimentação mais lenta e saudável, tanto no preparo quanto no consumo dos alimentos.
Na ciência, a ideia é pregar a pesquisa que não se paute só pelo resultado rápido.

CETICISMO "É improvável que o ritmo de fazer pesquisa seja diminuído por meio de um acordo mundial em que cada cientista assume o compromisso de desacelerar seus trabalhos", diz o especialista em cientometria (medição da produtividade científica) Rogério Meneghini.
Ele é coordenador científico do Projeto SciELO, que reúne publicações da América Latina com acesso livre.
Para Meneghini, o "Slow Science" é um movimento "anêmico" num contexto em que a rapidez do fluxo de ideias e informações acelera as descobertas.
"Parece uma reivindicação de um velho movimento com uma roupagem nova. É certamente a sensação de quem está perdendo as pernas para correr", conclui.

8 comentários:

  1. Caro Chassot,

    como tu mesmo colocaste, o tema tem controvérsias. Entretanto, como tu mesmo já conheces, eu sou partidário de uma trajetória mais pensada e reflexiva. No meu entender, uma pesquisa mais devagar, pode ter resultados mais consequentes. A correria sempre é inimiga da perfeição.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Minha opinião é necessariamente de leigo por motivos óbvios. Contudo, como leitor de ciência e afins percebo que há certo "afoitismo" (existe isso?) dos homens de ciência e galgar rápido os degraus que os levam aos cumes catedráticos, e isto eles o fazem à custa de trabalhos acadêmicos nem sempre profundos, nem sempre claros, nem sempre originais e que nem sempre contribuem para melhorar o conhecimento sobre o assunto abordado, ou seja, mera papelada inútil. Mas, também não vamos esperar que espontaneamente eles adiram à ideia e passem a colaborar com a Slow Science, pois isso os tiraria do páreo na hora de disputar verbas para pesquisas e trabalhos por eles julgados importantes. Concordo com Rogério Meneghini, esse movimento deverá morrer de inanição por falta de aderência. Abraços fraternos e leia "Newton" em meu blogue hoje, é ciência também, JAIR.

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  3. Chassot,

    muito me lembra uma antiga brincadeira citada pelo Euzebio. Ele costumava cantar: "Chemical publication" em referencia ao ritmo acelerado de artigos produzidos por pesquisadores - inclusive clones de mesmos artigos com alteracao apenas do solvente. Ha anos lamentamos essa necessidade de publicar-se por publicar-se, sem ao menos uma reflexao do que provoca ou das consequencias desse tipo de acao - e pressao.

    (estou testando um outro sistema operacional e ainda nao consegui adequar a acentuacao)

    Abracos.

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  4. Muito caro colega Garin,
    tu, eu e a maioria dos pesquisadores estamos sob o jugo ‘Publica ou perece’ e mais que isto ‘somos cada vez mais produtores de relatórios.
    Obrigado pela parceria,
    attico chassot

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  5. Estimado Jair,
    a tua percepção da Academia como alienígena é perfeita.
    Reitero meu comentário do texto acerca de Newton: excelente. Recomendo a meus leitores o ‘um blogue que pensa’ http://www.jairclopes.blogspot.com/
    Com admiração

    attico chassot

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  6. Muito caro Parlo Marcelo,
    o sábio Euzebio tem razão: Vivemos há um tempo num ‘engorda Lattes’,
    Com admiração os agradecimentos do

    attico chassot

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  7. Chassot.

    Sou completamente a favor de uma ciência mais lenta, mas reflexiva, mais próxima, discutida. O legal é sentar com o aluno, debater seus resultados, fazendo com que sua prática de campo seja mais completa. Mas os prazos nos massacram. O conceito CAPES nos amedronta. E a gente não faz nada, porque tem um monte de pesquisador que prefere exibir a quantidade no Lattes. Pobre César Lattes, pobre méson-pi...
    Forte abraço goiano.

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  8. Muito querido Marlon,
    a slow Science terminaria com narcisos que a cada manhã recitam: “Lattes, Lates meu!! Poderá haver alguém melhor do que eu!”
    Com admiração e saudade
    attico chassot

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