segunda-feira, 20 de junho de 2011

20.- Lésbicas de Cristo

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1782

A segunda-feira abre uma semana muito especial. Esta tem os quase invisíveis rituais de troca de estação. Esta é marcada pelo solstício (do latim sol + sistere, que não se mexe) de inverno no Hemisfério Sul. Este é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Este ano o solstício de inverno de inverno, ocorrerá amanhã, às 17h16min, quando teremos a única noite em que as horas de sol e de noite se igualam. Na linha do equador a duração dos dias é fixa ao longo das estações do ano com 12 horas de luz e 12 horas de noite.

Também teremos nesta semana um feriado, ou mais corretamente um dia santo, que originará para muitos um feriadão, que incluirá o dia de São João, na sexta-feira. É uma semana marcada (bem como a próxima) por apresentação de trabalhos de pesquisas de meus alunos de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa.

Nas muitas leituras de fim de semana, chamou-me a atenção a matéria “Lésbicas de Cristo” assinada por Laura Capriglione e publicada no Caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo do dia 16 de junho: mais uma igreja evangélica fundada por mulheres homossexuais no centro de São Paulo quer acolher "escorraçados pela intolerância". Vale conhecer a notícia, pelos lances de originalidade, em meio a abundancia com que pululam novas igrejas. Acerca do assunto não me arvoro em trazer comentários.

Lanna Holder, a ex-lésbica, ex-drogada e ex-alcoólotra pregadora evangélica, era a prova cabal do poder curador de Deus na vida dos que nele creem. Pois foi só se converter ao evangelho, e Lanna, então com 20 anos, deixou para trás um pelotão de namoradas suspirantes e as noitadas movidas a cocaína e hectolitros de álcool, consumidos diariamente.

"Centenas de ministérios disputavam "a tapas" a presença da carismática Lanna em seus púlpitos. Em pouco tempo, ela se transformou em uma espécie de "avatar da sorte" para quem quisesse manter sua congregação lotada", escreve um pastor, a respeito da hoje desafeta.

Lanna subia ao altar e contava com voz de contralto como o milagre ocorrera em sua vida "dissoluta". A apoteose era quando apresentava o maridão emocionado e o filho. O templo vinha abaixo.

Dezesseis anos depois da conversão, a campeã da fé, agora com 36 anos, acaba de abrir uma nova igreja evangélica em São Paulo, a Comunidade Cidade de Refúgio, no centro de São Paulo. Surpresa: em vez dos testemunhos de como se curou da "praga gay", Lanna Holder rendeu-se à homossexualidade. Ela tem até uma companheira na empreitada, a pastora e cantora gospel Rosania Rocha, 38 anos.

Em foto da Folha: Pastora Rosania Rocha (à esq.) e a missionária Lanna Holder As duas estão juntas há cinco anos, desde que largaram os maridos e oficializaram seus divórcios. No tempo em que era o troféu da fé, Lanna lidou com o que hoje chama de "culpa extrema". "Eu pregava o que desejava que acontecesse comigo", diz.

Para evitar reincidir, mortificou a carne com jejuns e subidas e descidas de montes, em uma espécie de cooper – para cansar mesmo. Participou de "campanhas de libertação" todas as quartas-feiras, incluindo rituais de quebra de maldição e cura interior. Por fim, submeteu-se a sessões de "regressão ao útero materno", nos moldes preconizados no início do século 20 pelo terapeuta Otto Rank (1884-1939). "Não deu certo", ela diz.

Chamada para pregar em Boston, nos EUA, bastou encontrar os olhos claros da mineira Rosania para todo o "trabalho" naufragar. Rosania também se apaixonou. Elas pediram ajuda aos pastores, oraram muito para evitar. Ficaram quase um ano sem se ver. Mas não deu.

Depois de um acidente de carro que lhe deslocou da bacia o fêmur direito, esmagou-lhe o pulmão, causou trauma cardíaco, fratura em quatro costelas e dilaceração do fígado – hoje, uma grossa cicatriz de 0,6 metro de comprimento cruza todo o tronco de Lanna –, as duas resolveram, enfim, viver juntas.

Sobre os pastores que as acusam de criarem um lugar de culto a Satanás, uma filial de Sodoma e Gomorra, as duas líderes religiosas dizem apenas: "A nossa igreja é de Cristo, não é de lésbicas ou gays. Mas queremos deixar claro que somos um refúgio, acolhemos todos os machucados e feridos, todos os que foram escorraçados pela intolerância". No primeiro dia, a nova igreja juntou 300 pessoas.

Com votos de muito boa segunda-feira, curtida como despedida de outono, adito o convite de nos lermos amanhã. Até então.

12 comentários:

  1. É muito fácil correr para uma igreja e se trancar com medo de enfrentar seja lá o que for. O difícil será encarar uma condenação para o "mentir a si mesmo". Adoro seus textos para fazer o pessoal pensar sobre. Um grande abraço Chassot.

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  2. Caro Chassot,

    a notícia que tu reproduzes apresenta o que acontece muito seguido no seio das igrejas. Há pessoas que até creem que são convertidas, mas que fundamentalmente, como disse a Gabriella, estão se escondendo e mentindo a si mesmas. Conheço a história de um ex-presidiário, convertido no cárcere, que percorreu o mundo 'testemunhando' a sua conversão. Algum tempo depois assassinou sua mãe e se suicidou.
    É muito fácil enganar e se confundir a si mesmo. O desafio é enfrentar o que se é e buscar se entender como pessoa.

    Boa segunda-feira, caro colega!

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com

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  3. Caro Chassot,
    Impactante esse texto sobre conversão e abdicação e, novamente, assunção de status anterior e reconversão. Isso tudo, me parece, é apenas crise existencial, a suposta fé serve como muleta para pessoas que não se ajustam, pessoas que estão em constante briga com suas escolhas. No fundo todos temos crises como essas, a diferença de pessoas "normais" e essas aparentemente excêntricas, é apenas de intensidade, nos "normais" as crises não assumem graus que valham manchetes nos jornais. Abraços e uma boa semana para você, JAIR.

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  4. Chassot, meu caro! A facilidade com que se propoe novas alternativas religiosas é uma coisa estupenda no mundo atual. Quando morei em Brasilia pude ver isso de muito perto. O clã Roriz debelou uma época de facilidades para instalaçao de multiplos templos no DF, que era um absurdo. Em cada quadra das cidades satélites um pastor com alto falante conclamava fiéis. Tive um conflito com igreja na quadra onde morei em Taguatinga, sendo até mesmo ameaçado juntamente com minha família. Depois de um grande esforço, com a ajuda do órgao ambiental, conseguimos remover uma igreja da frente de nosso predio residencial por excesso de decibeis. Havia cultos diarios, as 9hs, as 11hs, as 13h30, as 16hs e as 19hs. De segunda a segunda. No domingo eles descarregavam onibus abarrotados de fiéis vindos de outras cidades satélites e lotavam a igreja. Começavam entao as sessoes de expulsão de demonios e cantar de salmos, com bater de palmas e a voz estridente do pastor no microfone em alto volume. Isso reberverava na quadra toda. Foi um momento em que tivemos, eu e o síndico do nosso prédio, que agir com muita cautela, pois toda a legislação distrital protegia a causa religiosa. A Polícia ao ser chamada para ver a perturbaçao do silencio, se dizia impedida de tomar qualquer medida, por orden=m da propria Secretaria de Segurança. Até de impostos e tributos para abrir o local para louvaçao ao todo-poderoso, as igrejas estavam isentas. Tempos depois, quando encontrava o pastor por acaso no comércio local, tinha o dito cujo praguejando contra mim, tudo em nome do "senhor". Curiosidades do JB.

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  5. Muito boa a escolha do texto professor, já conheci muitas pessoas próximas que tentaram se disvencilhar da drogadição e do alcoolismo pela religião, todos falhos, neste caso em que se nega própria sexualidade é pior ainda pois as crises são mais intensas. Tô começando editar um blog também dê uma visitada e me siga!

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  6. Muito querida Gabriella,
    primeiro celebro o reaparecimento desta mineira que estava há um tempo silente.
    Concordo com a tua tese: as igrejas são lócus de fervores do tipo ‘fogo de palha’.
    Na alegria de ter aqui um afago do
    attico chassot

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  7. Meu caro Garin,
    quando postamos algo sabemos de nossos leitores. Desejava ouvir o comentarista teólogo.
    É horripilante a narrativa que trazes. Há igrejas que apelam para emoções superficiais. Gosto de ouvir estes pastores midiático. É fantástico vê-los manipulando emoções.
    Faço cópia deste comentaria para a Gabriella, uma querida escritora de Governador Valadares, para que conheça o endosso que fazes ao comentário dela.
    Uma boa chuvosa despedida do outono.
    attico chassot

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  8. Meu caro Jair,
    obrigado por seres leitor aqui. Ratificas a falta de densidades destas conversões que podem ser chamadas de ‘fogo de palha’
    Uma boa despedida do outono na bela Floripa
    attico chassot

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  9. Meu caro Jairo,
    fiz há um tempo uma blogada trazendo regras básicas e econômicas de fazer uma igreja.
    Mas teu relato é algo surpreendente. Posso bem imaginar os transtornos que te impuseram e as lutas que tiveram que travar para expulsar os vendilhões do templo.
    Este recorte de tua história desconhecia.
    Com estima

    attico chassot

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  10. Muito estimado Henrique,
    agrada-me quando meus alunos aparecem aqui. Parece que estendemos um pouco nossas aulas.
    Repito o que coloquei em comentários anteriores. Estas conversões de fachada, usualmente são instáveis.
    Visitei teu blogue, Conhecendo o teu ser crítico tenho imensa expectativa por este espaço.
    Com admiração e votos de sucesso do
    attico chassot

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  11. Não posso conceber tal incoerência. Não pode ser possível alguem afirmar que é de Cristo, se viola n mandamentos da nossa Bíblia. Acredito que por estas atrocidades sociais e morais tenha que surgir algo para regulamentar as igrejas e punir ou proibir essas falsas igrejas que não segue nenhuma parte do que Deus nos ensina.

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  12. Meu caro Vitor,
    o problema é definir qual é a igreja verdadeira e.... isso nunca vai acontecer.
    Obrigado por apareceres aqui.
    Falta-me teu endereço.

    attico chassot

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