segunda-feira, 6 de junho de 2011

06. ¿O que é tanatologia?

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1768

Uma blogada de segunda-feira parece que deve ter rescaldo de fim de semana. Os domingos são dias muito férteis para evocações. No posso deixar de dizer que não me faço nostálgico ao ouvir os sinos da colonial igreja da Piedade que enxergo de minha casa, emoldurada por lindas árvores que parecem subir a Dona Leonor ocultando quase totalmente a torre da capela de um dos Campi do Centro Universitário Metodista do IPA onde dou aulas nas segundas e terças feiras.

Lembro-me de um mandamento que em minha infância era de severíssimo cumprimento: ‘Ouvir missa inteira aos domingos e dias de guarda’, Depois passou a valer também cumprir o preceito nas tardes de sábado. Claro que esse mandamento teve discussões do tipo ‘¿o que é inteira? / ¿quando começa a tarde de sábado?

Sem cair na ira dos mais ortodoxos, este mandamento hoje parece que se transmutou, para mim em: ‘Lerás os jornais de domingo, inclusive os suplementos dominicais!’. Devo dizer que cumpro, usualmente, com cuidadosa obediência. O mandamento como a missa também passou ser facilitado. Muitos jornais de domingo já circulam à meia tarde de sábado.

Este blogue neste domingo, contra meu desejo também teve uma circulação antecipada. Na noite de sábado desejei pré-postar a edição relativa ao Dia Mundial do Meio Ambiente. O Blogger estava com muitas dificuldades. Depois de várias tentativas, às 22h30min, ao invés de postagem programada, apareceu como postagem realizada já com data de domingo, como se tivesse sido postada às 00h03min.

Mas a edição de hoje traz uma interrogação na portada. A resposta está aqui:

TANATOLOGIA no Houaiss substantivo feminino

1 teoria ou estudo científico sobre a morte, suas causas e fenômenos a ela relacionados
1.1
Rubrica: psicologia: estudo dos mecanismos psicológicos usada para superar os efeitos da morte na mente humana
2
Rubrica: medicina legal: rotina de realização de autópsias
Etimologia
tanat(o)- [Morte, em grego]+ -logia; f.hist. 1874 thanatologia

Fiz a pergunta da abertura a diferentes grupos. Não tive respostas. Poderia lembrar que em espanhol tanatório, corresponde a nossa ‘capela funerária’ ou câmara mortuária’.

Meus leitores talvez me interroguem o porquê a trazida deste assunto, com o qual temos tantas reservas. Eis a explicação, ou melhor, duas explicações.

A primeira, há dias, um colega me convidou para escrevermos algo acerca da morte. Pareceu-me algo desafiador, especialmente por ser um tema que não tem trânsito entre nós e que buscamos olvidar. Usualmente fotografamos o nascimento e as diferentes etapas da vida, mas não se registra velórios e sepultamentos.

A outra, na tarde de sábados, quando descíamos a Protásio Alves, a Gelsa leu em seu I-Phone, uma noticia que me intrigou no fim de semana e que pode parecer um exemplo poético da morte e por tal é ela que complementa este edição.

Algo singular, acerca desta notícia, que circulou no sábado: domingo a colocação no Google “Julian e Adrian Riester” oferecia milhares de resultados e na manhã de domingo elas estava em pelo menos duas dezenas de blogues brasileiros. Isto é: muitos como ficaram impressionados com a notícia.

Um fato curioso chamou a atenção dos estadunidenses nesta semana. Na quarta-feira, dois irmãos gêmeos, que eram frades franciscanos, morreram de parada cardíaca, na Flórida. Julian e Adrian Riester morreram aos 92 anos e o fato chamou a atenção pela quantidade de coincidências que marcaram a vida dos dois, que viveram a maior parte dos anos juntos.

Nascidos em Buffalo, Nova York, com apenas alguns segundos de diferença em 27 de março de 1919, eles morreram em um intervalo inferior a 12 horas [A notícia não refere se o que morreu em segundo lugar soube da morte do primeiro].

Foto dos gêmeos de 2003 cedida pela Universidade Bonaventure/AP Eles eram frades franciscanos, com votos feitos em 1946. Na maior parte do tempo, eles serviram como sacerdotes, juntos, na St. Bonaventure University, em Olean (Estado de NY) aonde também eram conhecidos por habilidades em comum, como no cuidado com jardins e criações de objetos de madeira.

De acordo com um jornal da terra natal dos irmãos, o único período em que os frades ficaram em diferentes Estados dos EUA foi entre 1946 a 1951, quando se dedicaram a sacristias distintas - um morou em Boston; o outro, em Manhattan.

"Eles tinham uma conexão íntima, em que nenhum dos dois era egoísta", disse seu primo, Micheal Riester, ao jornal local. Assim como viveram e morreram juntos, os irmãos também foram enterrados juntos na cidade de St. Petersburg.

Penso que vale como um exemplo muito poético da morte. Muito breve tanatologia será um assunto nada mórbido. Uma muito boa segunda-feira. Até um próximo encontro.

9 comentários:

  1. Caro Chassot,

    de fato é impressionante, mas não totalmente fora de propósito. A intimidade entre duas pessoas acaba criando algumas similitudes. A gente consegue perceber traços de comportamento muito próximos (explicado hoje pela Psicologia), mas também é possível outras aproximações. Não sou expert, mas creio que a intimidade pode favorecer certas coincidências, como por exemplo, saber o que a outra pessoa está pensando em determinado momento. Entendo, inclusive que essa proximidade de comportamento (e alguns exageram no sentido de que pode se desenvolver similitude física - que não é o caso em pauta por se tratarem de gêmeos)decorre de certos "veios" neurológicos que se desenvolvem durante a vida.

    É um fato admirável e desperta curiosidade quanto ao nível em que esteja hoje a pesquisa neurocietífica e da psicologia.

    Boa segunda-feira!

    Garin

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  2. Olá professor!
    É mesmo interessante a história da morte dos dois frades. E como diz o professor Garin, a psicologia faz a sua tentativa de explicar, no momento em que fala da relação entre irmãos gêmeos. É uma relação praticamente impenetrável e muito curiosa, onde chega a ser um tanto comum balbuciarem as primeiras palavras mais tarde do que outras crianças, por se comunicarem entre si de uma forma particular, onde apenas eles se entendem.
    Mas falando na morte, existe uma autora, se é que interessa saber, chamada Belkiss Romano, que é psicologa do INCOR de SP (se não me engano) que cita em um livro seu os estágios da elaboração da morte pelo doente. É um assunto pesado pq nos remete à nossa própria "falência" e briga diretamente com o nosso narcisismo. Porém interessantíssimo e de suma importância poder ser discutido.
    Um beijo com saudades

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  3. Olá, caríssimo Chassot.

    Impressiona o relato dos dois frades e é por demais interessante o tema da tanatologia. A denominação deriva de Tânatos - o deus da morte que foi aprisionado por Sísifo no submundo, de forma que ninguém pudesse morrer na Terra (posteriormente foi libertado por Ares).
    Em relação à questão de fotografar a morte, existe uma série de filmes de uma série intitulada "As faces da morte", que destacam a passagem ao outro mundo.
    Um marco pessoal, as únicas fotos que ainda restam de meu bisavô por parte da avó paterna são de seu enterro e outra de seu corpo no caixão, já que ele era avesso à fotografia.

    Abraços,

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  4. Meu caro Garin,
    ainda temos muito a aprender.
    Nossa Filosofia e nossa Ciência se deparam com mistérios quase insondáveis.
    Com agradecimentos
    attico chassot

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  5. Thaíssa querida,
    lidar com a morte é paradoxalmente, um aprendizado muito novo. Tu deves te defrontar no consultórios com situações que não são fáceis. Obrigado pelas dicas. Amanhã o assunto volta um pouco, na ajudada prestadas pelas religiões.
    Um afago muito feliz por te ter como leitora aqui,
    attico chassot

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  6. Meu querido Paulo Marcelo,
    realmente a situação de teu avô é um caso inusual. Realmente, a etimologia de tanatologia está bem apropriada.
    Vibro com as adições oportunas que fazes neste blogue.
    Com amizade e admiração
    attico chassot

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  7. Caro Chassot,
    Não é estultice afirmar que o homem faz absolutamente tudo a seu alcance para chegar à imortalidade. Parece que todas as grandes indagações filosóficas, imposições religiosas com suas promessas de vida após a morte e as conquistas científicas se fazem em função apenas de conhecer até onde é possível manter a chama da existência viva. São quatro os caminhos que o homem segue para tornar-se imortal: marcando o Planeta e o curso da história através de construções como projetos arquitetônicos de monta, de obras de arte como composições musicais, livros, peças teatrais, pinturas e esculturas que tornem permanente o êthos do autor; pela observância dos ritos da religião que salvará sua alma para sempre; investindo fortemente na ciência pois acredita que de suas descobertas poderão surgir meios de conservar a matéria do qual é feito; e, de forma quase compulsória, transferindo sua herança genética para a geração seguinte, confiando que a perpetuação da espécie se traduz na sua própria imortalidade. Pelo caminho religioso as pessoas se acham confortadas por crerem que suas almas estarão salvas em algum shangrilá alhures, para onde elas migrarão depois de desencarnarem, se as regras estabelecidas tiverem sido seguidas. O conceito da vida eterna está resumido no pensamento: "Só existe uma única idéia suprema sobre a terra: o conceito da imortalidade da alma humana; todas as outras idéias profundas pelas quais os homens vivem não passam de extensão dela”. Contudo, como a matéria da qual é feito o nosso corpo é perecível, se decompõe, o homem tem esperança que viver para sempre deve ser possível, mas por outros meios.

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  8. Que meios seriam esses? A criogenia parece ser a resposta para os cienticifistas juramentados, os quais acreditam que a ciência, no passo que evolui atualmente, terá todas as respostas para as mortes dentro de alguns anos. Não importa quantos anos, congelam seus corpos a temperaturas de – 190ºC na esperança de serem “ressuscitados” quando a ciência tiver encontrado a cura para as doenças que os matou. A criogenia é isso, uma espécie de aposta na loteria da imortalidade, cujo prêmio seria uma nova vida. E os demais, pessoas normais, aqueles que não acreditam e não apostam na criogenia, o que fazem? A pergunta pode parecer retórica, mas tem fundamento, porque desde que o homem surgiu no Planeta tem a mesma preocupação que o homem atual, o qual se tiver muito dinheiro, pode dispor da opção criogênica. Pois é, segundo Richard Dawkins, os genes, aquelas unidades fundamentais da hereditariedade, contém mensagens pétreas, isto é, que não podem ser apagadas, que estabelecem métodos e meios para se perpetuarem, são os “genes egoístas”. Nossos genes egoístas, numa espécie de “imperativo categórico kantiano”, nos obrigam a transmiti-los e, por tabela, nos perenizarmos através de nossos descendentes. O impulso de ter filhos está relacionado à esperança de imortalidade, ainda que vicária. A reprodução é um dos absolutos da existência humana e, com certeza, de todos os seres vivos. Deixar de reproduzir-se de maneira voluntária é contrariar o imperativo gravado a fogo nos genes, é nadar contra a corrente da imortalidade que move a evolução rumo ao “vir a ser” num futuro muito além do ciclo vital que nos envolve. A evolução é o veículo da vida que viaja através da morte até a imortalidade. Abraços fraternos, JAIR.

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  9. Muito caro Jair,
    li e reli teus dois comentários. Minha resposta, mesmo que considere muito tuas sempre sábias elucubrações, vai em outra direção. Em 2006, em memorável festa familiar, evocamos o centenário de meu pai. O mote foi “Afonso Oscar Chassot (1906-1987): ele existe, porque nós contamos sua história”. A perpetuação de sua memória encanta filhos e netos que o conheceram e bisnetos e outros que se agregaram ao clã familiar.
    Essa é a primeira das imortalidades que descreves. Esta me basta.
    Com agradecimentos por tuas sábias considerações.
    attico chassot

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