quinta-feira, 19 de maio de 2011

19. ¿Cadelas menstruam? ¿E... gatas?


Ano 5

Porto Alegre

Edição 1750

A chamada do frontispício estava programada para ontem. Surge então a obediência camoniana: “Cesse tudo que a musa antiga canta que outro valor mais alto se alevanta!” Os relatos juiz-foranos acerca da edição de um “Diálogos de Aprendentes” havido à tarde envolvendo creca de 30 estudantes dos cursos de Química, Matemática e Física, e oito professores das áreas de Educação em Química, Física, Matemática e Biologia merecia espaço.

Para que não se silencie acerca de alguns feitos que me envolveram na tarde de ontem, vale registrar que foi muito agradável bisar a experiência catalisada pelo Museu da Natureza do Colégio São Mateus da ULBRA em Cachoeirinha. Ter alunos de sexta série de ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio é algo desafiador. Aliás, impressiona-me a garra dos alunos do ensino fundamental. Agradeço particularmente ao professor Guy a fidalguia a gentileza do convite e as oportunidades dos papos nos translados. Antes das aulas dei uma entrevista para o Diário de Cachoeirinha, que circula hoje. http://www.bancadigital.com.br/cg/dcachoeirinha/reader2/

O tema da blogada anunciado na pergunta – cuja resposta é NÃO –, foi suscitado pela blogada do dia 11. Então se comentou a necessidade que tem um grupo de apagar a presença de mulheres em uma publicação informativa. Não como não ter surpresas que no século 21 tal ainda ocorra. Perguntava, então: ¿Como será que esses religiosos se reproduzem? Devo me convencer que certos estavam meus pais que me contavam que cegonhas traziam os nenês. Comentei então Monte Athos: território habitado por monges, só podem entrar homens e animais do sexo masculino. Em tom de blague comentei que a restrição do ingresso de galinhas deveria ser para que elas não se pecasse contra o sexto mandamento. Pecado muito cometido por alguns guris de minha geração, nas primeiras práticas sexuais.

Ocorre que esta blogada recebeu comentários e que sempre me parece que estes não são fruídos por muitos leitores. Permito-me tirá-los da sombra e traze-los a lume (gostei desta metáfora) nesta blogada.

Uma professora universitária escreveu: Essa visão da mulher à qual se refere no blog ainda é muito presente, inclusive em nossa sociedade. Não faz duas semanas que assisti a uma palestra sobre contracepção de um renomado médico, aqui em Juiz de Fora. Qual não foi minha surpresa ao ouvir em tal palestra algumas "pérolas" como: "as mulheres acham que, só porque queimaram sutiãs, podem fazer o que querem" ou "a mulher sai com dois ou três homens em uma semana, engravida, e depois há um 'otário 'que assume" ou ainda essas meninas pobres ficam tendo filho na adolescência, param de estudar e serão, no máximo, uma empregadinha, no futuro". E a que mais me chocou foi quando tal senhor proclamou que a menstruação é um erro da natureza, pois a mulher é o único dentre os mamíferos que menstrua. Ele não apresentou o tema como uma controvérsia médica, mas sim como uma sentença! E o que mais me entristece é que este é um formador de médicos, chefe de residência. Que exemplo está dando aos futuros médicos? Durante a palestra não me contive e fiz esse e outros questionamentos ao doutor, perguntando se ele não percebia que estava sendo machista e preconceituoso. Acredito que não podemos mais ouvir tamanho despropósito, não é mesmo?

O assunto da menstruação deixou-me intrigado, especialmente porque isto que chocou tanto minha colega. Eu também não sabia. Busquei respostas, encontrei vários de relatos acerca de ‘menstruação’ em cadelas. Mas refinando minha pesquisa, mesmo não sendo biólogo, escrevi: Colega querida, impressionante teu relato. Não são machista apenas a comunidade hassídica de judeus ortodoxos ou os monges que guardam tesouros nos monastérios de Monte Athos (que tu não poderás ver ao vivo por seres mulher), mas também os responsáveis pela formação médica em Juiz de Fora. Saiba que o assunto da menstruação me atiçou. As respostas que encontrei são díspares. Parece que se possa afirmar que a menstruação só existe entre as espécies dos grandes primatas. Fora da espécie humana, ela ocorre nas fêmeas de orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos. Todas descendem de um ancestral muito próximo, o que justifica a identidade genética. Atenção: cadelas e vacas não menstruam. O sangramento que surge na região genital desses animais é causado pela ação de hormônios, liberados durante o cio, que acentuam o fluxo sanguíneo no local. Isso pode provocar edemas e até romper pequenas veias. Quem puder colaborar agradeço, ac

Meu pedido de colaboração foi ouvido: Ave Chassot, sobre o que perguntaste: Nem todos os mamíferos têm ciclo menstrual, no qual o endométrio descama. Na verdade apenas humanos e primatas de grande porte (orangotangos, bonobos etc..).Os demais tem ciclo estral, e o endométrio, quando o organismo da fêmea não recebe o feedback do HCG, ao invés de descamar, é reabsorvido. É um processo celular de renovação, mas que não envolve as contrações de parede e a eliminação do revestimento como nos animais que tem ciclo menstrual. Abraços de orangotango, Prof. Guy B. Barcellos, Biólogo, Mestrando em Educação em Ciências e Matemática.

Ainda complemento com algo trazido da Wikipédia: HCG: A gonadotrofina coriônica humana (hCG) é uma glicoproteína hormonal produzida pelas células trofoblásticas sinciciais nos líquidos maternos. No início da gravidez as concentrações de hCG no soro e na urina da mulher aumentam rapidamente, sendo um bom marcador para testes de gravidez. Sete a dez dias após a concepção, a concentração de hCG alcança 25 mUI/mL e aumenta ao pico de 37.000-50.000 mUI/mL entre oito e onze semanas. É o único hormônio exclusivo da gravidez, fazendo com que o teste de gravidez pela análise de hCG tenha acerto de quase 100%. É o único exame que comprova exatamente a gravidez.

Parece que temos bons indicadores de que a resposta à pergunta de abertura seja não. Então, meus votos a cada uma e cada um de uma muito boa quinta-feira e para amanhã anuncio – entre outras considerações – que poderíamos perguntar a nós mesmo como reagiríamos se um comando iraquiano pousasse de surpresa na mansão de George W. Bush, o assassinasse e, em seguida, atirasse seu corpo no Oceano Atlântico. Noam Chomsky, um dos mais prestigiados intelectuais nos dá uma resposta. Para tal, até amanhã.

4 comentários:

  1. Caro Chassot,

    muito interessante a pesquisa que fizeste nessa viagem ao mundo da biologia. Para mim também foi uma surpresa o "não" que descobriste. Entretanto, de forma nenhuma pode se constituir argumento para qualquer pessoa (mesmo para o professor de J. de Fora) consubstanciar argumentos de superioridade de qualquer gênero. A diferença fundamental é que, distintos das demais espécies (pelo menos considero isso como verdade), somos partícipes de uma cultura com base na racionalidade.

    Boa quinta-feira!

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com/

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  2. Meu caro Garin,
    primeiro agradecido por teu comentário madrugador. Para mim e também para biólogos o não à pergunta vestibular se constituiu surpresa. Claro que esse saber não autorizo ao médico-professor juiz-forano a fazer as afirmações que fez. Se há não (muito as mulheres entre os 20 e 40 anos (=nossas mães/avós) ou estava grávidas ou amamentavam, elas passavam meses sem menstruar.
    É bom nesses blogares fazer alfabetização científica.
    Com admiração

    attico chassot

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  3. Ave Chassot,

    é um prazer colaborar com este insigne blogue.
    Obrigado pelo belo curso ministrado em nossa escola. Meus alunos adoraram!

    Grande abraço,
    Guy

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  4. Meu caro colega Guy,
    pela ajuda na elucidação daquela que a interrogação da portada de hoje, obrigado. Acerca do curso, oxalá possamos repeti-lo.
    Com admiração

    attico chassot

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