sexta-feira, 6 de maio de 2011

06.- Vende-se diplomas!

Porto Alegre * Ano 5 # 1737

A quinta-feira foi marcada por pergunta (im)pertinente: Por que vibramos (não disse: nos consolamos!) pela eliminação de quatro clubes brasileiros da Libertadores, na mesma noite – especialmente porque o outro do Rio Grande do Sul está entre eles – mesmo que um dos eliminados seja aquele de nossos afetos?

Se criticamos os estadunidenses por terem

festejado o assassinato de um inimigo indefeso e sem julgamento, não estamos repetindo a vibração com a derrota?

Em Porto Alegre, como certamente no resto do Estado, houve foguetório

e buzinaço nas duas eliminações. Agradeço conforto a minha ‘maldade’.

Por estes dias, estou escrevendo um texto, destes encomendados aos quais não nos podemos furtar, acerca da Educação, ou melhor, do ensino como mercadoria. O tema é complexo e muito importante, mas certamente não seria o que gostaria de estar escrevendo agora.

Este assunto me envolveu mais intensamente, quando em 2007/2 e 2008/1 fui professor de Politicas de Educação no Brasil em licenciaturas do Centro Universitário Metodista do IPA. Antes disso também fiz uma fala em um encontro de estudantes de jornalismo, por ter acompanhado, à distância, reflexões emanadas da Reunião de Reitores de Universidades Públicas e Ibero-americanas / III Cumbre iberoamericana de rectores de universidades estatales, realizada em abril de 2002 em Porto Alegre.

Já em 1998, em Paris, a comunidade acadêmica internacional e governos de mais de 180 países manifestaram, de maneira clara e insofismável, durante a Conferência Mundial sobre Educação Superior na UNESCO, sua decisão de manter o ensino superior como um direito e como um bem público.

No entanto, ao mesmo tempo, sem fazer alarde, o secretariado da Organização Mundial do Comércio, com o apoio de representantes de alguns dos governos que contraditoriamente aprovaram a Declaração de Paris, manobrava para criar normas que tratassem o ensino superior como uma mercadoria, a ser comercializada e liberalizada, retirando dos Estados nacionais, em termos práticos, o direito de decidir, com soberania, sobre ações que visam a formar cidadãos conscientes e responsáveis. Os procedimentos da OMC, que não pecam pela clareza e dos quais muitos países se sentem excluídos, não são de natureza a facilitar a execução de uma tarefa como esta que me foi solicitada. Agradeço ajudas de meus leitores.

Na elaboração do texto tenho encontrado preciosidades. Trago um anúncio (do qual fiz uma tradução livre), que traz a marca do que pulula neste novo comércio. Não apenas há ofertas para a realização de monografias, dissertação e teses (cobradas pelo número de autores citados ou de páginas exigidas) mas, há venda de diplomas. Chegara a pensar em suprimir o número do telefone que faz a oferta, logo admiti que era desnecessário, pois nenhum de meus prestigiados leitores haveria de cair nesta esparrela.

Uma das ‘pérolas’ está abaixo. A ela de aditam votos de uma muito boa sexta-feira e um convite para amanhã saborearem aqui uma gostosa dica de leitura.

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FONTE: http://osdir.com/ml/python.bio.devel/2003-11/msg00059.html

10 comentários:

  1. Caro Attico,

    a propaganda citada fez-me surpreso, ao remeter-me de imediato ao ano de 2001, quando tomei contato com esta propaganda. Na época, cheguei a citá-la em reuniões estudantis como resultado do mercenato da educação - era o período "áureo" de expansão das faculdades particulares (a meta deveria ser: uma faculdade em cada esquina).
    Hoje, vivemos uma situação diferente, com a expansão dos campi das universidades federais, mas ainda encontramos, e não pouco, muitos mercenários na educação.
    São mercenárias as instituições que se apequenam em busca de seu lucro. Mercenárias são as instituições que divulgam vagas que não possuem, apenas para receber mais verba do governo.
    São mercenários estudantes que buscam trilhar um caminho rápido e indolor em busca do diploma almejado - sem preocupações com estudos ou produções, pois o dinheiro será capaz de supri-los, assim como o dinheiro facilmente pode enterrar a ética e coerência pelas quais deveriam se pautar os estudos - e tudo mais na vida. Atualmente, virou costume roubar (não encontro palavra mais adequada) teses e monografias produzidas no exterior e publicar suas traduções como algo inédito, de autoria do financiador da tradução, pois essa ação tem sua identificação dificultada no 'oráculo' Google e outros sistemas de busca. É a busca objetiva de como burlar o sistema e tomar proveito disso.
    São ainda mercenários os profissionais que se deixam diminuir diante do dinheiro para retocar algo que deveria ser inerente aos estudantes. Que vendem sua ética pelo papel monetário, sem ressentimentos ou vergonha - estampam em jornais ou cartazes sua oferta de forma sutil, mas clara àqueles que a procuram.
    Parte dessa culpa pode ser atribuída a nossa cultura de culto ao diploma, em que um pedaço de papel se torna mais importante que o proprietário ou a proprietária deste. Sem diploma não há qualidade suficiente. Com diploma, a qualidade é inerente (será?). Enquanto não valorizamos o ser humano mais do que o título não poderemos encontrar meios satisfatórios de combater essa corrupção do espírito antropofórmico.

    Abraços,

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  2. Muito querido Paulo Marcelo,
    o madrugador,
    muito oportuno teu comentário. Corroborando com tua informação: Estima-se que entre o final da década de 90 até 2002, a cada semana foram abertas, em média, três instituições particulares de ensino superior no Brasil, a maioria de pequeno porte. Foram oito anos em que um economista foi ministro de Educação.
    Tu referes ao momento como de mecenato em que essas instituições ‘mamaram’ em benesses públicas. Também tu caracteriza a marca de mercenário do ensino então. Há razão para tal. Não tenho dados mais atuais, mas em 2004, no Brasil, o ensino superior movimentava cerca de R$ 20 bilhões e contava com 3,4 milhões de universitários; cerca de 2,4 milhões (dois terços) estavam em instituições privadas de ensino, cuja margem de lucro é estimada em 25%. Estima-se que agora em 2011, o número de universitários chegará a 6 milhões. Há enorme concentração do mercado: menos 'de 5% das instituições de ensino superior particulares agregam quase metade das matrículas do setor privado, enquanto as 50% menores detêm apenas 5% do total de matrículas. As dez maiores universidades particulares têm mais de 440 mil alunos matriculados (18,1% do total), e a somatória de seus faturamentos gira em torno de 21% do total do mercado.
    Adito a tua análise: gasto com propaganda dessas instituições foi estimado em R$ 400 milhões em 2002 (último ano FHC).
    Meu caro Paulo Marcelo, obrigado pela colaboração que trazes a esta blogue,
    com estima
    attico chassot

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  3. Caro chassot,
    Importante essa sua blogada. Mas gostaria de colocar mais lenha na fogueira. Para haver o delito é necessário que haja o agente e o beneficiário, mas, tão importante que ambos, deve existir também a motivação. Esta o estado brasileiro promove. Neste país é mais importante o papel, o diploma, o certificado, que o conhecimento a habilidadde. Quem tiver mais papelório leva o emprego daquele que tiver menos. Quero contar um caso. Numa ocasião me candatei a trabalahr numa empresa de aviação estrangeira. Ao entrar em contato por telefone com o potencial empregador, descrevi minhas habilitações, cursos e conhecimentos, e disse que enviaria o papelório comprobatório em seguida. Fiquei surpreso com a reação do empregador: "Não necessito de papel algum, você DISSE que está habilitado e isso me basta, não há razão para não acreditar em você. ESTÁ EMPREGADO. Se ao iniciar o trabalho não apresentar conhecimento, estará demitido" Não preciso dizer que no Brasil só conseguiria o trabalho se tivesse toda a papelada (em tese, mesmo falsa). Abraços, JAIR.

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  4. Caro Chassot,

    em 1998,num Simpósio de Teologia realizado em Recife, tomei conhecimento da oferta de Cursos de Mestrado, Doutorado e PhD em Teologia pela bagatela de R$200,00. Bastava preencher um protocolo, fazer o pagamento e dizer em que idioma gostaria que o Diploma fosse impresso. Não sei não, mas acho que esse pessoal continua vendendo essas coisas por aí ainda.

    Como disse o Paulo Marcelo, tão corrupto como esse pessoal que vende os diplomas estão os que se servem de qualquer tipo de falcatrua para apresentar um currículo "recheado" de títulos.

    Como diz um certo comentarista de TV (que eu detesto) "é uma vergonha!".

    Um abraço,

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com/

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  5. RITA DE CÁSSIA escreveu de Belo Horizonte:

    Querido Chassot,
    também fiquei tristissima na quarta a noite, pois meu time estava muito bem na competição e eu naturalmente estava animada...Como em Minas só o Cruzeiro tem ido para a Libertadores, há muito tempo, estamos sofrendo com as zoadas dos atleticanos.
    Gostei muito do teu comentario, pela clareza e pertinnencia, realmente a investigação sobre a paixão futebolistica não tem fim...racionalidade não explica, os bons sentimentos não vigoram sem a rivalidade e por ai vai...Já me dou por satisfeita se no dia seguinte a essas grandes tragedias, a gente consegue refletir algo bacana como tu fizeste.

    saudades, beijim, Rita

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  6. Meu caro Jair,
    tua tese esta correta. Somos um país cartorial. Quanto mais papel, melhor. Os selos colados aos documentos em priscas eras foram substituídos por sofisticados selos a laser. Os Conselhos Profissionais são zelosos cuidadores de reserva de mercado.
    Agrada-me o processo da empresa estrangeira que relatas. Sabes que só fiz doutorado depois de já aposentado em uma universidade federal. Não tivesse ‘papel’ não poderia ter feito o que eu fiz desde 1994.
    Obrigado por trazer tua contribuição tão significativa.
    attico chassot

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  7. Meu caro Garin,
    tu que já foste reitor de uma instituição sabes o quanto a Universidade é cartorial. Quanto valem os títulos e os diplomas. Certamente por tal há este tão estupendo mercado que vede de monografias a teses e diplomas sem nada se precisar produzir.
    Dizia em comentário paralelo ao Jair, que só fiz doutorado depois de ser aposentado na UFRGS e meus empregos a partir de 1994 dependeram mais do diploma e muito menos do que aprendi no curso.
    O caso que narras da venda de diploma é emblemático, mas não raro.
    Obrigado por enriqueceres este blogue com teus comentários.

    attico chassot

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  8. Muito querida Rita,
    sabes na noite de quase hecatombe pensei muito em ti. O teu time, de melhor desempenho na Libertadores, jogado com o pior, em casa e podendo perder...
    O importante é que nos exercitemos em nossas reflexões de como (não) sabemos viver rivalidades. Aos torcedores do Galo parece ser natural zoar com vocês, mesmo que a eliminação seja desprestígio para Minas e para o Brasil; Aqui a situação é mais fácil.
    Devo te confessar que ‘fiquei mal’ com ter mais que consolado (honestamente: vibrado) com a eliminação do outro time gaúcho. Concordemos que isto não é bonito. ¿Seria uma atitude esportiva?
    Valeu tua presença aqui.
    Afago com saudades,
    attico chassot

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  9. Caro Chassot,
    E tem mais, meu filho é funcionário da Prefeituta de san Diego na Califórnia onde, na entrevista de admissão, declinou sua formação na Universidade Federal do Paraná, sendo que não lhe exigiram comprovação de seus cursos. No decorrer da trabalho bastou mostrar competência, e nada mais foi necessário.

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  10. Querido Chassot,
    A educação já passa por várias fatalidades, mas esta acredito ser a pior de todas.
    Abraços,

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