quarta-feira, 4 de maio de 2011

04.- Resultados do censo redesenha o Brasil

Porto Alegre * Ano 5 # 1733

Segunda-feira, quando inaugurava o maio profissional, fui surpreendido ao deixar a sala de aula no turno da manhã, por um clima muito distinto daquele do início da aula. Meu frágil guarda-chuva não me trouxe a contento para casa. À tarde, nas aulas da Universidade do Adulto Maior alunas, alunos e eu já trajávamos roupas com ressaibo de inverno.

Era o primeiro frio do ano. Mas os meteorologistas caboclos, aqueles que conhecem também as manhas do tempo, sabem que antes do inverno teremos o veranico de maio. As previsões do clima, todavia, deviam nos ensinar a trabalhar mais com a incerteza. Não há como não recordar Ilya Prigogine, de vez em vez, presente em blogadas aqui: “Só tenho uma certeza: as minhas incertezas!”

Neste fim de semana fomos brindados com os primeiros dados oficiais do último recenseamento. Este contar população, que a cada edição censitária se sofistica, era prática que já era corrente nos relatos de evangelhos que narram o nascimento de Jesus, no Império Romano.

O IBGE lançou Sinopse do Censo Demográfico 2010, que contém os primeiros resultados definitivos do XII Recenseamento Geral do Brasil. A publicação oferece uma série de informações, desde o primeiro Censo, realizado em 1872, sobre a evolução demográfica do País, dados populacionais por sexo e grupos de idade, média de moradores em domicílios particulares ocupados e número de domicílios recenseados, segundo a espécie (ocupados, vagos, fechados, uso ocasional, coletivos) e situação urbana e rural.

Conhecemos, assim, um novo retrato do Brasil. Este – com seus 190.755.799 de habitantes emerge dos números do Censo 2010 divulgados ontem pelo IBGE, é menos branco, mais velho, mais feminino e mais alfabetizado. Mas neste Brasil ainda há 16 milhões que vivem na miséria: isto é cerca de 8% dos brasileiros ganham menos de 60 reais por mês. Esta é uma dolorosa realidade.

Pela primeira vez, o percentual de pessoas que se declararam brancas caiu abaixo da metade: 47,7%. Em 2000, eram 53,7%.Mais pessoas passaram a se declarar pretas (7,6%), pardas (43,1%) e amarelas (1,1%).Os indígenas continuam sendo 0,4%.
O IBGE usa exclusivamente o conceito de autodeclaração para atribuir cor e raça, dentro das classificações branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Os termos para designar cor fazem parte da nomenclatura oficial do instituto. Para Sônia Rocha, pesquisadora do IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), é "natural" o crescimento da população parda. O motivo, avalia, é o "avanço da miscigenação".

Mas a expansão de pretos, diz, está ligada ao "orgulho". A vendedora Marineide de Oliveira Santos, 29, confirma isso. Na certidão de nascimento, sua cor é branca.
Mas, ao IBGE, ela se declarou parda. "Dizia no passado que era branca, porque antes havia brincadeiras de mau gosto. Mas hoje em dia, pardo é como negro e tem suas vantagens – como as cotas."

Mulheres: O Censo 2010 revela ainda que, no país, "faltam" quatro homens para cada grupo de 100 mulheres. Na última década, a população "perdeu" um homem: o país passou a ter 96 homens para 100 mulheres – em 2000, eram 97.

Ana Amélia Camarano, demógrafa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que o crescimento mais acelerado da população feminina está ligado ao envelhecimento – já que as mulheres vivem mais. É o caso de Maria Dicélia Campos Matias, 65, do Rio Grande do Norte, que ficou três vezes viúva. Dois de seus maridos morreram de ataques cardíacos. O outro, após um acidente de carro. "Depois disso, convivi com uma pessoa por oito anos. Não deu certo, deixei. Depois convivi com outro por três anos. No momento, estou gostando aí de uma pessoa. Tem que ir em frente."

Casais gays
: O IBGE pesquisou ainda -e pela primeira vez- casais do mesmo sexo. Foram contados 60 mil cônjuges de igual sexo do chefe do domicílio – apenas 0,2% do total. "Esse número está subnotificado e reflete, em parte, o preconceito, mas a tendência é que aumente nos próximos censos à medida que a legislação brasileira avance, como com o reconhecimento dessas uniões pela Previdência e pela Receita", disse Eduardo Pereira Nunes, presidente do IBGE.

Ainda há por trazer outras considerações. Em momento oportuno volto ao assunto: conhecermos a nova cara do Brasil. Por ora, desejos de uma boa quarta-feira e a expectativa de nos lermos amanhã.

14 comentários:

  1. Caro Chassot,

    uma nova fotografia do Brasil, enquanto população, começa a aparecer mais límpida, mais transparente, mais próxima da diversidade e já se começa a ouvir "De um povo heróico o brado retumbante".

    Transparência também começa a aparecer agora, da morte do Bin Laden: estão falando de tortura para descobrir o paradeiro. Novos capítulos poderão aparecer agora, quem sabe ainda mais tenebrosos.

    Quero te desejar uma boa quarta-feira!

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com/

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  2. Caro Attico,

    não há como não recordar o texto de Darcy Ribeiro, intitulado "O povo brasileiro".

    Vergonha ainda é que, nas escolas, nossa história só se inicie com a chegada do invasor-colonizador, como se a anterioridade não importasse.

    Abraços,

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  3. Caro Chassot,
    Contrário a qualquer classificação de pessoas por suas "cores", sejam estas tonalidades de pele, ou simplesmente descendência desta ou daquela "raça", não sei porque o IBGE insiste nessa linha. Como fica a critério do entrevistado nomear sua própria "cor" (insisto nas aspas porque não gosto desse rótulo) então o resultado da pesquisa fica comprometido, só pode afirmar que, tantas pessoas dizeram-se desta ou daquela "cor", e o que isso significa? Rigorosamente NADA! Da próxima vez que perguntarem minha "cor", responderei VERDE! Não abrirei mão dessa prerrogativa, de agora em diante sou VERDE! Abraços e parabéns pela blogada.

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  4. Carlos Augusto Normann comentou seu link.
    Carlos escreveu: "Professor Attico: hoje ao chegar no IPA, estava ouvindo o noticiário, como de hábito. A notícia de que Bin Laden foi morto em frente a suas filhas e filhos foi chocante para mim. Está certo que falamos de uma pessoa que comandou o arremeter de aviões cheios de gente contra prédios igualmente lotados de pessoas, que promoveu e patrocinou toda uma sorte de atos deploráveis. Contudo, no momento em que os mariners americanos eliminam Osama Bin Laden em frente a suas crianças, certamente estão acumulando brasas vivas em suas cabeças...o que será que esse ato repercutirá nelas? Será que não foi plantada uma semente ruim a médio prazo? Fica a pergunta...por piores que tenham sido os atos dele, expor crianças ao seu homicídio... jamais!"

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  5. Meu estimado colega Garin,
    e... neste novo Brasil, sabes que este Rio Grande do Sul que tanto se ufana de ser tão grandioso há mais de 250 mil gaúchos vivendo na miséria. Por outro lado não dá para não dizer que o exercito estadunidense não tenha cometido um massacre, matando um homem indefeso, sem julgamento diante de crianças e isso deu azo a festejamentos.
    Obrigado por seres meu leitor
    attico chassot

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  6. Meu querido Paulo Marcelo,
    realmente essa nova cara do Brasil que o censo de 2010 está mostrando não dá margem para muito ufanismo,
    orgulho-me de ter como meu leitor
    attico chassot

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  7. Meu caro Jair,
    duas divergências: uma de forma e outra de conteúdo. Não vais poder te intitular de ‘verde’, pois o sistema só aceita aquelas cores que estão programadas. A de conteúdo: acho importante se perguntar a cor para vermos o quanto a tese do branqueamento se esboroa.
    Obrigado por teus preciosos comentários aqui.
    attico chassot

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  8. Muito estimado colega Carlos Augusto,
    adiro a tua tese. O que os militares estadunidenses fizeram foi um assassinado / massacre. Foi morto – ante crianças, como assinalas – um indefeso que não teve julgamento. O crime contras as crianças é inominável. A foto de Obama, Hilary et alii acompanhado a execução dá-me asco. O carnaval na Times Square e em outros lugares de NYC, se assemelha como escrevi na edição de ontem de meu blogue a uma festa que bandidos fazem para dividir o butim. .
    Com admiração attico chassot

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  9. Ola Mestre Chassot! Boa tematica a tarzida do Censo em teu Blog hoje. Estou salvando o arquivo entre os meus materiais didaticos. Muitos dados sao importantes para se pressupor mudanças significativas em nosso país. Mas tambem quero aderir à proposta do Jair, e no proximo censo vou me declarar VERDE. Abraço JB.

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  10. Meu caro Jairo,
    ~~ com cópia ao Jair, por que foi citado ~~
    louvo e me encanto com o protestantismo teu e do Jair em se autodeclararem verdes no Censo de 2020. Se até então no for alterado S.M. o Sistema (não sei com um bom anglicano estiveste no casamento na Abadia de Westminster no sábado, mas S.M. = Sua Majestade. Tu sabes que SM Sistema é que manda em tudo (e também a todos controla), logo a chance de vocês dois se declarem verde é remota.
    Fico feliz que esta blogada merece tua atenção e antecipo que amanheça o tema será o mesmo.
    Com estima
    attico chassot

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  11. Os agentes censitários poderiam sair munidos de uma tabela de gradação de tons... rsrsr Bom, como nunca fui consultada, me sinto alheia a estes resultados, rsrs
    Mas, como isto pode afetar a tese do branqueamento, se está relacinado aos insentivos, cotas, e etc?

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  12. Marília querida,
    houve, há um tempo, uma manifesta intenção de branquear o Brasil (trazida de colonos europeus brancos de olhos azuis / extermínio de índios). Quando se pergunta a cor e se observa que o Brasil não está branqueando (ao contrário), pode se avaliar quanto cada vez mais são importante as políticas compensatórias.
    Esta foi a defesa que fiz nos comentários ao do Jairo e do Jair.
    Obrigado por tua presença aqui e um afago do
    attico chassot

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  13. ah, professor, é que não tenho conseguido ler os demais comentários. Além da tv, me falta a internet.
    Sim, sei desta tentativa, mas... e se caissem os políticas compensatórias... continuariamos 'enegrecidos"?

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  14. Querida Marília,
    as políticas compensatórias ou reparatórias não são para influir no (não) ‘escurecimento’. Minha defesa a que no censo se pergunte acerca da cor – em oposição a comentários aqui expendidos – é para que tenhamos uma maior afirmação de um Brasil não apenas Branco.
    Desejo que possas abandonar definitivamente o MS@.
    Um afago do

    attico chassot

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