02.- (In)Mobilidade urbana

Porto Alegre * Ano 5 # 1644

Inicio com votos de uma gostosa quarta-feira. Estes são especiais aos queridos leitores de minha Porto Alegre e outros 36 municípios gaúchos, que hoje vivem um feriado na celebração da mí(s)tica da festa dos Navegantes, que em outras locais é a festa da Purificação (término da quarentena natalina) ou da Candelária. Também hoje religiões afro, em admirável sincretismo celebram Iemamjá, a protetora deusa das águas.

Trago hoje o prometido tema a(In)mobilidade urbana. Já pautada para segunda-feira.

Antes anuncio a meus leitores que nesta tarde, a Gelsa e eu viajaremos por oito dias à Nova York. Estaremos bisando um pouco o que fizemos no recesso natalino de 2005. Mesmo já tendo estado em 30 países, minha estada em solo estadunidense, até então se resumia a menos de 48 horas em San Francisco, em 1997, retornando da Ásia. Assim no ocaso de 2005, viajava pela primeira vez aos Estados Unidos. Agora, 6 anos depois, inicio minha 26ª viagem internacional e aos 30 países mencionados antes se aditaram outros oito [Bulgária, Croácia, Eslovênia, Colômbia, Dinamarca, Suécia, Equador e Venezuela (estes dois últimos apenas bordejos fronteiriço)].

Não há como deixar de lembrar o livro de Michel Onfray “Geografia da Viagem” que já resenhei aqui em 26DEZ2009 26*Teoria da Viagem - Uma poética da Geografia. Há alguns dias comecei a viajar, mesmo que a partida só seja esta tarde.

Assim, a partir de amanhã – quando a postagem será somente no final da tarde, pelo horário brasileiro – e nas possíveis próximas oito edições este blogue se transmuta em um “diário de um viajor”. Agradeço a companhia e, talvez, nos leiamos amanhã de Nova York.

Como preâmbulo desta edição, adito um convite. Ele é tem o aval de meu ex-orientando Antonio Valmor de Campos, hoje professor da Universidade Federal da Fronteira Sul.

V Festa Nacional das Sementes Crioulas

Anchieta – SC – 19 e 20 de Março de 2011

Exposição e intercâmbio com cerca de 40 bancas de sementes, mudas, biodiversidade... e, experiências agroecológicas locais, regionais e de outros estados. Apresentações culturais, muita comida típica (com muito ingrediente orgânico), feira do artesanato, feira das pequenas agroindústrias, feira do peixe. E, muito especialmente, um grande intercâmbio de conhecimentos.

Informações: 49-36530304 – Sintraf/MMC – 49-36530149 – Epagri

Não é preciso antropólogo ou ter expertise em engenharia urbana para detectar qual o grande caos que se avizinha: a imobilidade urbana. O trânsito ruma ao colapso, no Rio Grande do Sul já se tem um carro para cada dois gaúchos.

As autoridades do trânsito informam que a frota do Estado chegou aos 4,7 milhões de carrro em 2010 e este valor pode dobrar até 2020. A cada dia, 794 veículos estreiam nas ruas do Estado. Porto Alegre já registra a taxa de 48,7 veículos para cada grupo de cem moradores – é quase um carro para duas pessoas.

As cidades e as rodovias estão se abarrotando de carros, motocicletas, ônibus e caminhões, num ritmo que aumenta, em média, 6,4% ao ano. O crescimento acelerado, descontados os carros que saíram de circulação, fez com que a frota gaúcha atingisse os 4,7 milhões de veículos, ano passado. Se a tendência se mantiver, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) avisa que serão 8,8 milhões em 2020, o dobro da frota atual.

A informação de que a frota cresceu 6,6% em 2010, na relação com 2009, preocupa especialistas. Jaime Waisman, professor da Universidade de São Paulo (USP), compara que as cidades são como o corpo humano. Veias e artérias equiparam-se a ruas e avenidas. Se ocorre um congestionamento, é o caos. “A curto prazo, o trânsito não mata uma cidade, mas ela vai ficando doente” alerta Waisman, do Departamento de Engenharia de Transportes da USP.

Especialista cogita de implantação de rodízio: O professor exemplifica que motoristas, quando deparam com uma avenida engarrafada, optam por outras vias menores, de bairros residenciais. Isso espalha o congestionamento, compromete a qualidade de vida dos moradores e deteriora a cidade.

“Como evitar isso? O que se pode fazer é domesticar o uso do automóvel. Use o carro com moderação. Mas isso só vai se realizar com um bom transporte público” observa Waisman.

No balanço divulgado recentemente, o Detran informa que foram emplacados, em 2010, 291 mil veículos no Estado – mais de 50% são automóveis. Diretor-presidente da autarquia, Alessandro Barcellos diz que o crescimento indica a necessidade de planejamento e mais segurança.

Para o professor João Fortini Albano, do Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a solução seria limitar o uso do carro e melhorar o transporte coletivo. Cogita que o Estado possa adotar medidas restritivas, como em Nova York e Londres. São pedágios para circular em determinadas áreas, rodízio de placas, parquímetros e proibição de estacionar em certos lugares. ”A vida nas cidades pode ficar impraticável” prevê João Fortini Albano.

Um dos equívocos do governo Lula foi ter reduzido imposto para aquisição de carros para

‘aquecer’ a indústria automobilística. Este dinheiro deveria ter sido usado para melhoria dos transportes público ou para desenvolver modelos menores de carros, para duas pessoas. Quem ainda se lembra do Romiseta?

Há dois pontos a acrescentar. O carro é um meio de transporte burro e egoísta. Aliás, na evolução da carruagem para o automóvel, pouco mudou. O design é quase o mesmo. Um volume para um, às vezes dois passageiros. O segundo ponto: o automóvel mata cada vez mais. No último fim de semana no Rio Grande do Sul morreram 18 pessoas em acidentes de trânsito (sem contar os muitos feridos). Isto é mais que nos últimos feriadões. Eis algo doloroso: No ano passado os gaúchos cometeram cinco mil infrações de trânsito por dia. A propósito de infrações de trânsito eis uma historieta:

A primeira lei de trânsito do mundo foi promulgada em 1836, na Inglaterra. Chamava-se Lei da Bandeira vermelha, e estabelecia o limite de velocidade em 10km/h. Além disso, determinava que o carro fosse precedido por um homem portando uma bandeira vermelha, que servia para alertar os pedestres, a no mínimo 60 metros de distância.

Usar automóvel de mais faz mal à saúde. Logo, use com moderação.