quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

27.- Ouçamos a Natureza

Porto Alegre * Ano 5 # 1638

Madrugada com temperatura de 25ºC com perspectiva de ascensão de mais 10º como ontem, Na manhã desta quinta-feira estou fazendo uma ruptura em minhas hemi-férias. Talvez melhor, estou aditando algo diferente como férias. Vou a Recife. Amanhã pela manhã tenho uma palestra no Colégio Santa Emília em Olinda. Viajo patrocinado pela Editora Moderna, enquanto autor de Ciências através dos tempos. Volto no começo da tarde, com chegada prevista em Porto Alegre, às 20h30min.

Registros da correspondência: Recebo um mimo de Itabuna, Bahia com esta dedicatória: Mestre, obrigado pelos ensinamentos. “O ‘teu’ blogue é nossa página inicial do navegador. Abraços carinhosos, Jorge Hamilton e Alana e filhas Lorena e Larissa”.

O Professor Guy, biólogo e alma-mater do Museu da Natureza de Cachoeirinha, RS escreve de Atlanta USA: Pois teu blogue é minha página de abertura”. É um estímulo e aumentam as exigências do editor.

A propósito da edição de ontem recebi esta mensagem de Aracajú: Estimado Chassot: É com imenso prazer que li seus comentários em seu blog a cerca do conhecimento científico e de sua surpresa de encontrar um projeto de pesquisa elaborado a partir de suas reflexões. Gostaria de deixar registrado que as reflexões dentro da Universidade Federal de Sergipe sobre o ensino de química ainda é uma novidade. Temos, desde 2010, a nossa primeira professora doutora em ensino de ciências. Neste sentido, é com muita estima que lhe comunico que durante os dias 25 a 28 de janeiro/2011 está acontecendo a Escola de Verão em Ensino de Química. E para minha surpresa, e acredito que será a sua também, desde a palestra de abertura, oficinas e mini-cursos o senhor está sendo referência expressiva. Gostaria muito que fizesse, dentro de suas possibilidades e julgamento, comentar isto em seu Blog. Nós aqui do estado de Sergipe, nós que pensamos sobre a prática docente, ficaremos imensamente felizes em ler seus comentários falando sobre nós. Será motivo de orgulho, acredite será um grande incentivo. Um forte abraço, Ana Lícia de Melo Silva. Obrigado Ana Lícia. Na torcida pelo êxito da Escola de Verão. Recordo quando estive aí no último setembro e fiz duas palestras em Itabaiana, participei de banca e ministrei seminário no Programa de Pós-Graduação em Educação de Ensino de Ciências. Há um grupo de jovens estudantes que me entusiasmou pela garra que vi nos que estavam então comigo.

Certamente, lembraremos por muito tempo este 2011 como o ano no qual o prelúdio de ano novo se toldou de luto para uma multidão devido a morte de mais um milhar de pessoas nas tragédias na região serrana do Rio de Janeiro. Janeiro se vai e com ele a tragédia parece que vai sendo esquecida. Vale ler, a propósito o sempre sábio eco-teólogo Leonardo Boff. O texto está em www.amaivos.com.br Com ela meus votos de uma muito boa quinta-feira e a expectativa de nos lermos amanhã desde Recife.

O cataclisma ambiental, social e humano que se abateu sobre as três cidades serranas do Estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, na segunda semana de janeiro, com centenas de mortos, destruição de regiões inteiras e um incomensurável sofrimento dos que perderam familiares, casas e todos os haveres tem como causa mais imediata as chuvas torrenciais, próprias do verão, a configuração geofísica das montanhas, com pouca capa de solo sobre o qual cresce exuberante floresta subtropical, assentada sobre imensas rochas lisas que por causa da infiltração das águas e o peso da vegetação provocam frequentemente deslizamentos fatais.

Culpam-se pessoas que ocuparam áreas de risco, incriminam-se políticos corruptos que distribuíram terrenos perigosos a pobres, critica-se o poder público que se mostrou leniente e não fez obras de prevenção, por não serem visíveis e não angariarem votos. Nisso tudo há muita verdade. Mas nisso não reside a causa principal desta tragédia avassaladora.

A causa principal deriva do modo como costumamos tratar a natureza. Ela é generosa para conosco pois nos oferece tudo o que precisamos para viver. Mas nós, em contrapartida, a consideramos como um objeto qualquer, entregue ao nosso bel-prazer, sem nenhum sentido de responsabilidade pela sua preservação nem lhe damos alguma retribuição. Ao contrario, tratamo-la com violência, depredamo-la, arrancando tudo o que podemos dela para nosso benefício. E ainda a transformamos numa imensa lixeira de nossos dejetos.

Pior ainda: nós não conhecemos sua natureza e sua história. Somos analfabetos e ignorantes da história que se realizou nos nossos lugares no percurso de milhares e milhares de anos. Não nos preocupamos em conhecer a flora e a fauna, as montanhas, os rios, as paisagens, as pessoas significativas que ai viveram, artistas, poetas, governantes, sábios e construtores.

Somos, em grande parte, ainda devedores do espírito científico moderno que identifica a realidade com seus aspectos meramente materiais e mecanicistas sem incluir nela, a vida, a consciência e a comunhão íntima com as coisas que os poetas, músicos e artistas nos evocam em suas magníficas obras. O universo e a natureza possuem história. Ela está sendo contada pelas estrelas, pela Terra, pelo afloramento e elevação das montanhas, pelos animais, pelas florestas e pelos rios. Nossa tarefa é saber escutar e interpretar as mensagens que eles nos mandam. Os povos originários sabiam captar cada movimento das nuvens, o sentido dos ventos e sabiam quando vinham ou não trombas d’água. Chico Mendes com quem participei de longas penetrações na floresta amazônica do Acre sabia interpretar cada ruído da selva, ler sinais da passagem de onças nas folhas do chão e, com o ouvido colado ao chão, sabia a direção em que ia a manada de perigosos porcos selvagens. Nós desaprendemos tudo isso. Com o recurso das ciências lemos a história inscrita nas camadas de cada ser. Mas esse conhecimento não entrou nos currículos escolares nem se transformou em cultura geral. Antes, virou técnica para dominar a natureza e acumular.

No caso das cidades serranas: é natural que haja chuvas torrenciais no verão. Sempre podem ocorrer desmoronamentos de encostas. Sabemos que já se instalou o aquecimento global que torna os eventos extremos mais freqüentes e mais densos. Conhecemos os vales profundos e os riachos que correm neles. Mas não escutamos a mensagem que eles nos enviam que é: não construir casas nas encostas; não morar perto do rio e preservar zelosamente a mata ciliar. O rio possui dois leitos: um normal, menor, pelo qual fluem as águas correntes e outro maior que dá vazão às grandes águas das chuvas torrenciais. Nesta parte não se pode construir e morar.

Estamos pagando alto preço pelo nosso descaso e pela dizimação da mata atlântica que equilibrava o regime das chuvas. O que se impõe agora é escutar a natureza e fazer obras preventivas que respeitem o modo de ser de cada encosta, de cada vale e de cada rio.

Só controlamos a natureza na medida em que lhe obedecemos e soubermos escutar suas mensagens e ler seus sinais. Caso contrário, teremos que contar com tragédias fatais evitáveis.

8 comentários:

  1. Mestre Chassot!
    Parabens pela jornada nordestina, para onde levas tua experiencia e teus ensinamentos da "Ciencia através dos tempos". Os parabéns a Universidade Federal de Sergipe pela primeira doutoura em ensino de ciências, demonstrando o potencial dessa instituiçao e a competencia daqueles que por lá são sujeitos da educação. Gostei muito do texto que trazes do amaivos.com, com a marca e o timbre desse autor que admiro - Leonardo Boff. Abraços do JB

    ResponderExcluir
  2. Meu colega e amigo Jairo,
    obrigado pelo teus comentários e nesses especialmente tua abalizada opinião acerca do muito denso texto de Leonardo Boff. Os culpados somos todos nós, é hora de ouvir a Pacha Mama.
    Com estima e admiração
    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. Mestre , mas uma vez ,voltei meus olhos para o teu blog ,
    TÃO BEM POSTO NAS QUESTÕES !

    Agora nossa terra precisa ,que olhemos para ela ...

    Temos que no minimo ,retribuir ,tudo que a terra nos dá ,em forma de cuidado !

    Parabens pelo post !
    Fica bem , e até a próxima visita .

    ResponderExcluir
  4. Ave Chassot,

    agradeço a citação, senti-me homenageado.
    Também aproveito para congratular-te pela excelente e inpirada crônica de hoje. Ao lê-la lembrei de um aforismo de meu amado Ludwig van Beethoven: "Somente a Arte e a Ciência elevam o homem ao nível dos deuses". E é a mais pura verdade, enquanto não educarmos o humanidade a natureza padecerá.

    Forte abraço,
    Guy

    ResponderExcluir
  5. Querido Attico,

    Que maravilha de texto! Sem dúvida Leonardo Boff escreve brilhantemente. E você sabe nos brindar com maravilhas como esta.

    Boa viagem até Recife, aguardamos notícias de lá!
    Abraços,

    ResponderExcluir
  6. Bruna querida,
    Obrigado por teu comentário.
    Realmente temos que cuidar do Planeta.
    Lamento não ter teu endereço eletrônico.
    Um afago desde Recife
    attico chassot

    ResponderExcluir
  7. Anna querida,
    obrigado por teus votos Olinda é realmente linda.
    O texto do L. Boff nos chama a atenção de nossas responsabilidades para com o Planeta.
    Um afago com saudade desde Recife
    attico chassot

    ResponderExcluir
  8. Meu caro Guy,
    que bom que musicalizado por Beethoven ascendamos a deuses.
    Um afago desde Olinda, dizendo que tua referência a minha página me comoveu,
    attico chassot

    ResponderExcluir