domingo, 28 de novembro de 2010

28. Nilson Pimenta, o mago do Pantanal mato-grossense.

Porto Alegre Ano 5 # 1578

Imaginava que começaria assim esta blogada dominical: Depois de viajar da capital mais meridional do Brasil posto esta blogada na capital mais setentrional. Ledo engano. Ainda estou, ainda em Porto Alegre. Ontem às 18h deixei a Morada dos Afagos, fui ao aeroporto e fiz check-in. Na sala de embarque tomo conhecimento que meu voo terá atraso superior a duas horas, o que tornava impossível tomar a conexão em São Paulo para Manaus e Boa Vista. Em imensas e demoradas filas remarco minha passagem para 24 horas depois, pois há, um único voo para Boa Vista, pela Tam. Depois de muitas dificuldades consigo apropriar-me de novo de minha bagagem e volto, depois de mais de duas horas para casa.

Na blogada da última quinta-feira contei aqui de minha visita ao atelier de Nilson Pimenta, no campus da UFMT em Cuiabá. Comentei que fora bom visitar, uma vez mais, o artista naïf inspirado no Pantanal, que conheço desde 1993, do qual tenho três obras em minha casa. Cumpro hoje uma promessa que fiz então: voltar a falar sobre este mago do Pantanal em outro momento.

Assim, trago mais dois ‘instantâneos’ (numa acepção de fotografia) da ultima quarta-feira numa das quais aparece também o artista plástico Valques Rodrigues, filho de Nilson Pimenta, que desde os seis anos está ao lado do pai no atelier e hoje com luz própria.


Nilson Pimenta pinta suas telas com base na espontaneidade que caracteriza os criadores talentosos e representantes da cultura popular contemporânea de uma nação. Seu principal foco de inspiração é, cada vez mais, o Brasil, independente de quantas outras terras diferentes tenha conhecido. Em suas telas, revela aspectos multifacetados de um país caracterizado pelo trabalho árduo, pela natureza frondosa e por um povo que, a seu modo, sempre celebra a vida. Suas obras retratam personagens do campo e da paisagem agreste de Mato Grosso e cenas típicas do Pantanal.

Aline Figueiredo em http://www.art-bonobo.com/catalogo/pimentadacosta/index.html faz um bonito desenho do artista que me encanta e sempre surpreende:

"Nilson Pimenta, tanto homem quanto artista, é pessoa singular. Pinta o que sabe, viu e experimentou, portanto traduz um conhecimento vivencial. Daí a sinceridade encantadora de suas telas narrativas da verdade de uma facção da sociedade brasileira: o trabalhador rural, o roceiro e o peão. Esse homem esquecido do interior, brabo e surdo, e suas duras lides. Homens cuja única riqueza são os seus braços que tiram do agreste da terra - que não é sua - o seu minguado sustento e cujo único bem a perder são as suas resignadas vidas. Valiosos construtores que nada sabem de suas valias.

Nilson foi desses homens e, se preciso for, o será novamente, pois diligências não lhe faltam. Baiano de nascimento, saiu de lá ainda nos braços rumo a Prata dos Baianos, no Espírito Santo, e com seis anos de idade dava com os costados no leste do Mato Grosso. Os campos de Barra do Garças, Brasilândia, Finca-Faca, Irenópolis e Jacira o viram crescer plantando arroz, feijão, milho, amendoim em terra de toco, isto é, apenas derrubada e não mecanizada, Um ou dois anos depois da mata derrubada e feita a primeira e precária colheita, essas terras arredondadas eram entregues para o dono, já beneficiava pelo seu suor. Mudanças. Outros municípios, novos ranchos. Taperas guardam mimos e abandonos, vestígios da breve morada do roceiro nômada que não consegue se enraizar.

Nessas andanças, à procura de novos alqueires para plantar e novas empreitadas a enfrentar, fossem matas para derrubar, campos para limpar, cercas para esticar ou cana para cotar, Nilson se fez homem e formou sua memória. Para retê-la, rabiscava num papel qualquer, carteira de cigarro vazia. Com pedaços de carvão desenhava numa cancela, com gravetos riscava o chão ou com os dedos deixava marcas na porta da lateral de algum automóvel. Os primeiros desenhos em papel fez com um lápis de cor, em 1979, já em Cuiabá, expulso do campo devido à má sorte com os roçados. Durante esse ano foi guarda do campo de vigilante (Cormat). Como o serviço era pouco, ficava só com aquele revolvão na cintura, ele rememorava visualizando no lápis e no papel o seu recente passado que colocara à margem dos seus afazeres.

Assim como presente deste domingo, para mim tão fora de agenda prevista para hoje em um pouco de Nilson Pimenta – “Cenas do garimpo” e “Mutirão na roça” e votos de excelente domingo. Talvez amanhã de Boa Vista.



2 comentários:

  1. Professor Chassot,
    realmente eu não conhecia a Obra de Nilson Pimenta. Estou encantado. Uma passagem do texto que emocionou: Em suas telas, revela aspectos multifacetados de um país caracterizado pelo trabalho árduo, pela natureza frondosa e por um povo que, a seu modo, sempre celebra a vida.

    Desejo de um domingo iluminado.

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  2. Meu muito apreciado colega Luís Dh,
    primeiro o registro gostoso de nesta manhã de domingo visitar tua ‘cabana’ e depois a alegria de poder repartir contigo um artista que já há quase uma dezena de anos enfeita minha casa. Cada vez que vou a UFMT visito-o, também para agradecer a sua arte.
    Um bom domingo que aqui em Porto Alegre é esplendoroso, mesmo que queiramos chuva também
    attico chassot

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