terça-feira, 23 de novembro de 2010

23. Ainda falando em modelos

Cuiabá Ano 5 # 1573

Do diário de Bordo: Uma postagem desde a cálida Cuiabá. Cheguei a Várzea Grande – município onde está o aeroporto – já quase meia-noite pelo horário de Brasília. Aqui estamos com uma hora menos. No aeroporto fui, de maneira muito atenciosa, acolhido pelo Sassa e pelo Eduardo, professores mato-grossenses que fazem mestrado no Programa de Pós Graduação em Educação na UFMT. No hotel recebi as boas vindas das Profªs. Drªs Filomena Maria de Arruda Monteiro Coordenadora do 18º SEMIEDU) e Andréia Dalcin ( Vice-Coordenadora e minha ex-aluna na ULBRA);

O voo saiu de Porto Alegre com um atraso de 1,5 hora, mesmo que houvesse me tencionado em um engarrafamento para chegar ao aeroporto. No primeiro voo tive a direita e a esquerda as excelentes companhias o empresário Gerson e do engenheiro Harrison. Aprendi muito com um e outro e quando chego ao hotel encontro este comentário: Mestre Chassot, seu blog é genial, pessoas como o senhor é que mantém as luzes do mundo acessas. Forte Abraço, Harrison. Um belo presente de quem também aprendi como se acessa a área de trabalho no Windows 7.

Não sei quantas vezes já estive em Cuiabá. A primeira foi em 6 de janeiro de 1975. Quando rumo ao Campus Avançado da UFRGS em Porto Velho partimos da Base aérea de Canoas, em um DC-3 da FAB. A viagem era uma operação militar. Viemos a Cuiabá, de onde partimos, como previsto, só no dia seguinte. Não recordo onde dormimos (hotel ou quartel), mas lembro que a janta foi num quartel. Depois, já nos anos 80s vim dar um curso de Educação Química na UFMT. Em 1994/95 vim algumas vezes pois era professor do Mestrado em Educação da UFMT. Aliás, dos 21 mestrandos que formei, a primeira foi neste curso: Irene Cristina de Mello: Contribuições ao ensino da Tabela Periódica privilegiando a História da Ciência. A hoje doutora defendeu a dissertação em 13 de dezembro de 1996. Depois ainda estive em um evento de ensino de Ciências, com a Gelsa, quando daqui fomos ao Pantanal. Mais recentemente vim duas vezes para palestras em escolas salesianas.

A partir de agora, assisto atividades do 18º Seminário de Educação No final da manhã vou ao Instituto de Química e, a convite da Irene e da Elane Soares, minha ex-aluna no Mestrado e que se faz de minha biógrafa em uma atividade enquanto doutoranda da PUCRS esta manhã faço uma fala A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da Natureza.

Na semana passada – na quinta e sexta feira – trouxe algumas reflexões acerca da necessidade de fazermos modelos da realidade. Trata-se do texto Sobre los probables modelos de átomos que publiquei em Annales de La Real Sociedad Española de Química, Madrid, v. 98, n. 1, p. 50-51, 2002. Trago hoje a terceira e última parte.

Uma preocupação que deve permear toda tentativa de entender as Ciências, e isso vale para a Biologia, para a Física ou para a Química, é a que as fórmulas e as leis, elaboradas a partir de modelos, procuram fazer aproximações da realidade, dentro das duas limitações antes referidas. Talvez valesse sublinhar que se tenta fazer aproximações da realidade e dificilmente se tem dados precisos da realidade, mas apenas aproximações. Com a Matemática talvez pudéssemos dizer que ocorre o contrário: aproximamos as realidades dos modelos matemáticos.

A propósito, quando considero que na Química fazemos modelos de realidades e na matemática trazemos realidades para modelos vale, mesmo que lateralmente uma consideração em uma dimensão contrária àquela que até aqui foi apresentada. Todos os comentários foram sobre o quanto os modelos nos ajudam a entender a realidade.

Agora queria trazer situação diferente. O mundo cibernético nos impõe uma outra maneira de pensar. Refiro-me a situação de quando se cria através de modelos realidades que passarão existir somente a partir dos modelos. Por exemplo, projetistas de automóveis constroem protótipos virtuais – e poderíamos questionar se esse protótipo é real ou virtualcapaz de evidenciar, numa quase realidade, propriedades como resistências aerodinâmicas ao atrito, consumo de combustível, abrasão em diferentes situações climáticas etc. depois da submissão a diferentes testes é que o protótipo poderá se tornar real, se é que se possa dizer que antes fosse (apenas) virtual. Temos que convir que, por exemplo, programas como o autocad não apenas quase desterraram a prancheta, mas estão a exigir que reformulemos as bases epistemológicas de nossos conceitos de modelos.

Tenho procurado destacar que é difícil, às vezes, fazer bons modelos, até porque conhecemos pouco a respeito do modelado. Isso é difícil também por ser complexa a interação com o modelado. Vale recordar o quanto é mais fácil fazer um modelo da parte externa de um aparelho de televisão de que de seus complexos circuitos internos.

Não obstante, é preciso insistir que uma simplificação não significa que o modelo esteja errado. O modelo é, apenas, menos sofisticado, porém, em determinadas circunstâncias, pode ser o mais adequado para tratar certos conhecimentos. Recordemos, uma vez mais, como um banhista precisa conhecer sobre ondas (diferentemente de um surfista) para prevenir-se de um repuxo. Assim, o modelo de gás ideal é adequado para a maior parte das situações em que tratamos de moléculas de gases; nessas situações, damos um tratamento de gás ideal para um gás real.

Aqui foram introduzidas duas adjetivações para gás que são decisivas para entender muitas situações. Um gás ideal é apenas um modelo, porém não é um gás, que exista na natureza, mesmo que acerca do mesmo façamos a maior parte das teorizações da Física e da Química. Uma planta de uma casa, por mais detalhada que seja, não é uma casa real. Somente podemos morar nela em sonhos. Nenhuma pessoa, quando compra ingresso para um teatro, escolhendo o local em uma planta da sala de espetáculos do teatro, aceita sentar-se no lugar escolhido no modelo. Queremos um assento real e para escolhê-lo é que recorremos ao modelo. A sofisticação não significa, necessariamente, precisão. Um modelo simples pode ser até mais correto e mais útil que o mais sofisticado. Permita-me retornar à planta do teatro. Se nesta tiver os circuitos elétricos, a localização dos condutos de ar condicionado e os detalhes da rede hidráulica, o modelo seria mais completo (mais sofisticado e mais útil para um técnico que precisasse detectar um defeito, por exemplo, no sistema de iluminação), porém, muito provavelmente menos útil para a seleção das melhores localidades para assistir a um espetáculo.

É importante recordar, sempre, que a simplificação de um modelo traz facilidades e adequações que, muitas vezes, um modelo mais elaborado não apresenta. Encerro este texto, na expectativa que um pouco de história recente nos currículos de Ciências tenha instigado envolvimentos com questões atuais de propostas que busquem uma mais eficiente alfabetização científica. Trago, de novo, a resposta dada à questão de abertura deste segmento: Qual o modelo de átomo que devo usar para entender algo relacionado ao mundo atômico? Uma adequada resposta é: Depende para quê os átomos modelados vão ser usados depois...

Com votos de uma boa terça-feira um convite para nos encontrarmos aqui amanhã. Até então.

2 comentários:

  1. Nossa!!!
    Alguns contratempos apareceram e por isso, tenho visitado o blog. Mas, a cada visita confesso que devo sempre parabenizar-lhe pelas palavras que estão sempre me acrescentando.
    Gostei muito das postagens sobre modelos!!!

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  2. Muito estimada Verenna,
    tua visitação a este blogue em blogadas anteriores, confirma a tese que uma blogada antiga, não é como jornal velho que só serve para embrulhar peixe.
    Vibro por teres gostado das blogadas sobre modelos.
    Um afago agradecido
    attico chassot

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