quinta-feira, 23 de setembro de 2010

23- Feliz Primavera/Outono

Campo Grande Ano 5 # 1512

Esta é última postagem de meu tríduo campo-grandense. Hoje no começo da noite fizemos a viagem de volta Campo Grande/Curitiba/Porto Alegre. Se tudo ocorrer como o previsto em um voo que parte de Manaus e escala antes em Porto Velho e Cuiabá, estaremos chegando ao destino quase meia-noite, assumindo de novo o horário de Brasília.

É natural que minhas primeiras palavras sejam de feliz Primavera/Outono para cada uma e cada um dos leitores dos Hemisférios Sul/Norte. Aqui a chamada estação das flores. Lá as árvores se vestem de um amarelo dourado. Lá e aqui período de climas mais agradáveis, se confirmarem o previsível. Não como este

que vivemos nestes três dias aqui, com temperaturas que oferecem sensação térmica de mais de 40ºC, muito seco, quando parece vermos plantas sedentas esperando chuva. Ainda em separado augúrios para aqueles e aquelas que vivem na linha do Equador (leitores de Belém, Bragança, Guayaquil...) que não têm diferenças significativa nas quatro estações, desejo ventos suaves e frescos para abrandar o sol que faz clima mormacento.

Pela manhã participamos das atividades do I Seminário Internacional: Fronteiras Étnico-Culturais e Fronteiras da Exclusão. A programação envolveu uma conferência: Currículo e Escola: tensões e negociações pela Elizabeth Macedo (UERJ) que recebeu muito apreciado comentários do José Licínio Backes (UCDB) segundo de debates pela plateia.

Almoçamos em restaurante especializado em peixes com a as colegas Leny e Maria Aparecida, com as quais nos entretemos em apetitosa aprendizagem.

À tarde visitamos a Casa do Artesão e perambulamos pela zona central da capital. Nada nos permitiu inferir que houvesse modificação por ser o dia mundial sem carro. À noite junto com vários colegas participantes do IV Fronteiras, a Gelsa e eu estivemos na grande feira que nas noites de quarta para quinta-feira, se desenrola em muito bem recuperadas de antigas instalações da ferrovia que liga Bauru a Corumbá, na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Há dezenas de restaurantes japoneses e uma quantidade de tendas onde se comercia de tudo: alimentos, frutas, doces típicos, artesanatos, roupas eletrodomésticos. Uma grande parte são produtos originados das zonas francas dos dois países limítrofes. Percorremos a feira, jantamos. Nesta noite tivemos também a querida companhia dos colegas do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências da UFMS: Dario e Maria Celina. Esta coordenadora do Programa foi aluna da Gelsa e minha nos 1976 quando fez Licenciatura em Química na UFRGS. A Celina também foi minha monitora, e tivemos muitos recordares.

Na feira recebi uma linda peça do artesanato terena da Professora Leny. A artística cerâmica que recordará na Morada dos Afagos esta estada em Campo Grande.

A propósito de presentes e cultural pantaneira, na terça-feira, após o encerramento da defesa da de Smenia Aparecida da Silva Moura ela presenteou-me com três lindos livros – Arranjos para assobio / O guardador de águas / O livro das ignorãnças – de Manoel de Barros, o mais renomado poeta da região. Ele está muito presente em uma frase em um cartazete, que tenho junto a uma rede em minha biblioteca: a rede, a vasilha de dormir que se assemelha ao útero. Esta saborosa definição de rede recolhi no aeroporto de Cuiabá.

O presente da Smênia levou-me a conhecer mais Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) poeta brasileiro do século 20. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros.

Nascido à beira do rio Cuiabá, um ano depois sua família foi viver em uma propriedade rural em Corumbá, mudou ainda quando criança para Campo Grande e, mais tarde, para o Rio de Janeiro, a fim de completar os estudos, então, se formou bacharel em direito em 1941.

Tendo estado 10 anos em um internato, rebelou-se contra a escrita do Padre Antônio Vieira, por lhe parecer que para aquele a frase era mais importante que a verdade. Através da leitura da poesia em prosa de Arthur Rimbaud, Manoel de Barros descobre que "pode misturar todos os sentidos".

Seu primeiro livro não era de poesia, e teria se perdido em razão de uma confusão com a polícia. Quando vivia no Rio de Janeiro, aos 18 anos, tendo entrado para a Juventude Comunista, pichou as palavras "Viva o Comunismo" em uma estátua. Quando a polícia foi buscá-lo na pensão onde vivia, a dona do estabelecimento pediu para "não prender o menino, tão bom que até teria escrito um livro, chamado 'Nossa Senhora de Minha Escuridão'". Tendo o policial que comandava a operação se sensibilizado, o poeta não foi preso, mas o livro foi perdido, pois o policial levou-o consigo.

Embora a poesia tenha estado presente em sua vida desde os 13 anos de idade, teria escrito o primeiro poema somente aos 19 anos. Seu primeiro livro publicado foi "Poemas concebidos sem pecado" (1937), feito artesanalmente por amigos numa tiragem de 20 exemplares mais um, que ficou com ele.

Após decepção com o Partido Comunista, vive na Bolívia, no Peru e também, durante um ano, em Nova Iorque, onde faz um curso de cinema e pintura no Museu de Arte Moderna. Na década de 1960 voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado, sem nunca deixar de trabalhar incansavelmente em seu ofício de poeta.

Apesar de ter escrito muitos livros durante toda a sua vida e de ter ganho vários prêmios literários desde 1960, durante muito tempo sua obra ficou desconhecida do grande público. Possivelmente porque o poeta não frequentava os meios literários e editoriais e, deduzindo-se das palavras do poeta (ele diz "por orgulho"), por não bajular ninguém.

Atualmente, é considerado o maior ou um dos maiores poetas vivos do Brasil, sendo o mais aclamado atualmente nos círculos literários do seu país. Seu trabalho tem sido publicado em Portugal, onde é um dos poetas contemporâneos brasileiros mais conhecidos, na Espanha e na França.

Como se pode ver levo do Mato Grosso do Sul livros para deleitar-me em uma a rede, a vasilha de dormir que se assemelha ao útero. Embalando estes sonhos renovo meus votos de frutuosa Primavera/Outono. Adito ainda o desejo de uma muito boa quarta-feira. Amanhã, provavelmente, nos lemos de Porto Alegre.

3 comentários:

  1. Pudera eu estar ai, lá, acolá! Onde moro é muito quente, muito mesmo. Não temos oportunidades nem de ver o colorido da primavera, ou o frio melancólico do inverno, mas ainda sim, sonho com um paraíso! Quero ler um livro do senhor. Até logo.

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  2. Muito querida Gabriella,
    obrigado por como colega bloguista prestigiares esse blogue.
    Na minha página há algo de meus livros. Posso imaginar que A Ciência é Masculina? É, sim senhora! te encantará.
    Uma muito boa primavera em Governador Valadares. Que não conheças aí o clima destes dias em Campo Grande
    Afagos com admiração,
    attico chassot

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  3. Pode me ajudar me informando em que página se encontra esta citação:

    “o nome que por mais tempo, em todo o mundo, influiu no fazer ciência da humanidade [...]. Entre os muitos escritos aristotélicos está a Physis ( ou Física), composta por quatorze livros, na qual são discutidos os assuntos relativos à matéria, á forma, às leis do universo, o movimento, o tempo e o espaço”

    CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: ed. Moderna, 1995

    marfonsecas@hotmail.com

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