segunda-feira, 20 de setembro de 2010

20- A construção da Revolução Farroupilha

***********Porto Alegre Ano 5 # 1529***********

Uma segunda-feira que para os gaúchos é feriado. Muito provavelmente, estes sonham com uma reprise de um clima primoroso como foi o fim-de-semana. Com votos que os sonhos se concretizem, desejo, também, àqueles e aquelas que não têm feriado, uma gostosa segunda-feira, quando os dias de inverno, no Hemisfério Sul, se finam.

Antes de trazer algo acerca do dia farroupilha uma informação do diário de um viajor. No começo desta manhã estou viajando para Campo Grande. Devo cumprir dois compromissos acadêmicos (uma banca e uma palestra) na conceituada Universidade Católica Dom Bosco. É a segunda vez que vou a esta instituição salesiana. A primeira vez que estive na UCDB foi quando participei, em 2002, do I Seminário Internacional: Fronteiras Étnico-Culturais e Fronteiras da Exclusão, coincidentemente o evento que nestes dias está sua 4ª edição, por ter entre os convidados a Gelsa, enseja que ambos estejamos pela primeira vez juntos nesta cidade de Campo Grande. Na capital deste jovem, mas progressista Estado da federação a Educação Química brasileira, em 1996, escreveu no VIII ENEQ uma história significativa por realizarmos, pela primeira vez um evento nacional fora do sudeste e sul a esta sempre tão acolhedora cidade.

Sobre Campo Grande e Mato Grosso do Sul trago comentários nas edições de terça-feira, quarta-feira e quinta-feira, que são os dias que estaremos ausentes de Porto Alegre. Hoje é dia de falar do Rio Grande do Sul. Nesses dias, como é usual a cada ano na Semana Farroupilha, tem sido publicado muitos textos.

Elegi para brindar meus leitores o texto A construção da Revolução Farroupilha da autoria de meu colega Prof. Dr. Eder da Silva Silveira, já referido em outros momentos neste blogue. O excelente texto do Eder foi publicado na página de opinião da Zero Hora, deste sábado. Ele responde uma pergunta muito apropriada: que (derrota) os gaúchos festejam a cada setembro? Nestes festejamentos se engalanam os CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) inclusive fora do Rio Grande do Sul e se realizam muitas promoções se destacam os bailes típicos, acampamentos campeiros e desfiles gauchescos temático. Um jornal publicou ontem um suplemento acerca de fazer churrasco. Outro ensinou a fazer chimarrão. Não conheço ninguém mais ufanista que gaúchos. Um exemplo: Nesta manhã o diário mais importante do Rio Grande do Sul vem encintado com os dizeres: ‘Dia 20 de setembro: dia de comemorar no melhor lugar do mundo.’ Por tudo isso e mais vale ler A construção da Revolução Farroupilha

Vários fatores, especialmente de ordem política e econômica, contribuíram para a revolta. Dentre eles, poderíamos citar as dificuldades da elite latifundiária pecuarista sul-rio-grandense em lidar com a política econômica protecionista dos hermanos, vizinhos da região do Prata. Países como Argentina e Uruguai, por exemplo, aumentavam as tarifas de exportação do sal – produto fundamental para a produção do charque e que era importado pela maioria dos estancieiros gaúchos. A questão do sal, aliada ao baixo imposto de importação do charque argentino e uruguaio no Brasil, transformou-se no principal obstáculo econômico à obtenção dos lucros desejados pelos estancieiros gaúchos, que queriam que o governo imperial protegesse a pecuária do Rio Grande do Sul e dificultasse a entrada do charque estrangeiro.
Após a emancipação política de 1822, o governo brasileiro, então monárquico, localizado no Rio de Janeiro (capital do Brasil na época), gerenciava o país a partir de uma constante exploração às demais províncias. Aos sul-rio-grandenses, por exemplo, estava proibido escolher os seus comandantes de tropas do exército imperial na fronteira, bem como a escolha de seu presidente de Província – o que equivale a governador de Estado atualmente. Também era o Império (RJ) que determinava quanto do montante da renda arrecadada na província revertia para a Corte e qual a porcentagem que deveria ficar no Rio Grande do Sul. Além disso, o Rio Grande não podia ter uma Assembleia Legislativa. Até o Ato Adicional de 1834, existiam apenas as Câmaras Provinciais de caráter reivindicatório e não legislativo. Com o Ato de 1834, foi permitido ao RS organizar sua primeira Assembleia Legislativa. No entanto, esta ficava totalmente atrelada ao governo central do Império, ficando proibida de legislar sobre questões tributárias. A soma desses fatores trazia um grande descontentamento da elite gaúcha que, após a derrota político-militar na Guerra da Cisplatina (independência do Uruguai), passou a enfrentar desprestígio e diminuição das barganhas com o Império.
Sendo uma guerra de caráter elitista em sua gênese, a Revolução Farroupilha adotou um discurso republicano e abolicionista que garantiu que outros gaúchos do período, principalmente os que compunham a população escrava, abraçassem a causa. A população escrava do RS apoiou uma causa que não era sua em troca da tão prometida liberdade que, no final da guerra, não chegaria a concretizar-se. Interessante nessa história é pensar por que a Revolução Farroupilha é vista como “a Revolução dos gaúchos”, sendo que, no passado, nunca o foi. A maioria dos “gaúchos” do Estado do RS na época da Revolução era contra, e não a favor da guerra. Não apoiavam a causa farroupilha. Porto Alegre, Rio Pardo, Rio Grande, São José do Norte e Pelotas não eram cidades farroupilhas. Nem Caçapava, que foi capital dos rebeldes, era farroupilha. Quando tomavam uma cidade, os farroupilhas também usavam da força e da violência e subjugavam a população local à sua causa, desarmando-a e obrigando-a ao pagamento de tributos em prol de seu exército.
Enfim, mais uma vez aproximam-se as comemorações em torno das efemérides do movimento farroupilha. Como diria Paul Ricoeur, comemorar, diferentemente de rememorar, é um conceito vinculado à construção de uma memória coletiva. Neste sentido, uma das questões atraentes na história da Revolução Farroupilha está em observar como a Revolução, que era de uma minoria, através das comemorações foi deslocada a “Revolução dos gaúchos”.

Depois destes preciosos ensinamentos do estimado professor Eder, votos aos gaúchos de macunuda rememoração de feitos histórico. A todos meus leitores, a alegria de poder trazer esta aula de História. A isto adito um chimarrão bem cevado, símbolo da fraternidade, inscrita no pavilhão tricolor rio-grandense.

Acrescento ainda votos de que esta segunda-feira seja um dia muito bom. Amanhã nos leremos,

provavelmente de Campo Grande. Mas, cabe ainda uma recordação: depois de amanhã, dia 22, quarta-feira, um dia sem carro. Em consonância ao chamado orgulho gaúcho vale recordar que no Rio Grande do Sul, a cada 10 residências cinco já contam com pelo menos um automóvel na garagem, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2009 (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no começo do mês.

6 comentários:

  1. Bom dia, Mestre! Ainda sobre a "revolução" de 20 de setembro, vale ler este Manifesto de 2007:


    http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=6506

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  2. Muito querida Marília:
    Leio aqui em Campo Grande. Surpreendo-me, que mesmo assinante do IHU, tenha me passado este manifesto de 2007 que, com oportunidade diz que esses ‘Movimento tradicionalista” merece nosso repudio, especialmente porque, em sua cruzada unificadora, construiu uma idéia vitoriosa de "rio-grandense autêntico", pilchado e tradicionalista, criando uma espécie de discriminação, como se a maioria da população tivesse uma cidadania de segunda ordem, como "estrangeira" no "estado templário" produzido fantasiosamente pela ideologia tradicionalista.
    Amanhã vou trazer tua colaboração.
    Um afago com quase 40ºC

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  3. ontem assisti ao desfile "cívico" daqui do municipio. Bom, o mestre imagine o gauchismo alhiado ao bairrismo germânico. Quase vomitei ao ver passar uma "ala" representando a contribuição escrava na "revolução": jovens com rostos PINTADOS de preto, sorrindo ao som da banda.

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  4. Estimada Marília,
    não é difícil imaginar o ‘carnaval’ de exaltação ao gauchismo.
    Uma vez mais obrigado pelo manifesto de 2007.
    Um afago de Campo Grande

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  5. Olá Profº, aqui quem lhe escreve é o Jeferson Carneiro, estava trabalhando esta madrugada e pude olhar o seu blog. Vou manda um e-mail para o senhor outro dia com uma surpresa, espero que o senhor goste. Tchau e um forte abraço da galera de Bragança-Pa.

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  6. Muito caro Jeferson,
    fico feliz poder ser companhia no teu vigiar a madrugada bragantina,
    Um abraço para ti e para a galera do Prof. Passarinho.
    Com estima,
    attico chassot

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