terça-feira, 24 de agosto de 2010

24- De agostos trágicos

Porto Alegre Ano 5 # 1482

Madrugada que pelos prognósticos anunciam dia quente. Agora mais de 25ºC. Ontem houve superação de 35ºC, com a continuada fumaça das queimadas de Tocantins. Não é primavera no inverno. Parece já estarmos no verão.

Ainda na última quinta-feira evoquei aqui que desde o final da primeira metade do Século 20, em agosto há uma usual tétrica comemoração. Referia-me então que a cada ano se evoca trágico agosto de 1945: os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Tinha menos de seis anos e não me recordo do fato. Mas de um momento seguinte tenho um registro: Como éramos das poucas famílias que tinham rádio recordo que os vizinhos vinham ‘ouvir rádio’ em nossa casa. A transmissão radiofônica que tenho mais remota lembrança é aquela do retorno dos Pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, retornando da Guerra em 1945. Lembro do repórter narrando que ‘agora já se vê a sombra da bandeira nacional em águas brasileiras’. Talvez esteja fantasiando.

Mas este 24 de agosto é trágico na história da humanidade e também na história do Brasil.

Massacre de São Bartolomeu, de François Dubois Hoje é dia de são Bartolomeu. O massacre da noite de São Bartolomeu foi um episódio sangrento na repressão dos protestantes na França pelos reis franceses, católicos. As matanças, organizadas pela casa real francesa, começaram em 24 de agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 30 mil e 100 mil protestantes franceses (chamados huguenotes). Nas primeiras horas da madrugada , dezenas de líderes huguenotes foram assassinados em Paris, numa série coordenada de ataques planejados pela família real.

Este foi o sinal inicial para um massacre mais vasto. Começando em 24 de agosto e durando até outubro, houve uma onda organizada de assassínios de huguenotes em cidades como Toulouse, Bordéus, Lyon, Bourges, Rouen, e Orléans.

Relatos da quantidade de cadáveres arremessados nos rios afirmam uma visível contaminação, de modo que ninguém comia peixe, pelas condições insalubres do local. Não foi o primeiro nem o último ataque massivo aos protestantes franceses.

No Brasil, em 24 de agosto de 1954 tivemos a morte trágica de Getúlio Vargas. Getúlio Dorneles Vargas (São Borja, 19 de abril de 1882 - Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954) foi presidente da república do Brasil em dois períodos. O primeiro teve duração de 15 anos ininterruptos, de 1930 a 1945.

No segundo período, em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se matou. Suicidou-se em 1954 com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Getúlio Vargas foi um dos mais controvertidos políticos brasileiros do século XX. Sua influência se estende até hoje. A sua herança política é invocada por pelo menos dois partidos políticos atuais: o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Em 25 de agosto de 1961, no meu primeiro ano de magistério, houve outra convulsão agustina na política brasileira. A renúncia do presidente Janio Quadros, com menos de sete meses de governo.

Jânio da Silva Quadros (Campo Grande, 25 de janeiro de 1917 — São Paulo, 16 de fevereiro de 1992) foi um político e o vigésimo segundo presidente do Brasil, entre 31 de janeiro de 1961 e 25 de agosto de 1961 — data em que renunciou, alegando que "forças terríveis" o obrigavam a esse ato. Em 1985 elegeu-se prefeito de São Paulo pelo PTB. Foi o único sul-mato-grossense presidente do Brasil.

Jânio chegou à presidência da República de forma muito veloz. Em São Paulo, exerceu sucessivamente os cargos de vereador, deputado, prefeito da capital e governador do estado. Tinha um estilo político exibicionista, dramático e demagógico. Conquistou grande parte do eleitorado prometendo combater a corrupção e usando uma expressão por ele cunhada: varrer toda a sujeira da administração pública. Por isso o seu símbolo de campanha era uma vassoura.

Foi eleito presidente em 3 de outubro de 1960, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961 a 1966, com 5,6 milhões de votos - a maior votação até então obtida no Brasil - vencendo o marechal Henrique Lott de forma arrasadora, por mais de dois milhões de votos. Porém não conseguiu eleger o candidato a vice-presidente de sua chapa, Milton Campos (naquela época votava-se separadamente para presidente e vice). Quem se elegeu para vice-presidente foi João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro. Os eleitos formaram a chapa conhecida como chapa Jan-Jan.

Animados pelo pensamento mágico temos razões para apelarmos aos anjos e as bruxas pedindo tranquilidade ao Brasil e ao mundo nesses dias de agosto que nos faltam. Mas, vamos com calma: por hora os votos são de uma boa terça-feira e o desejo de nos encontramos amanhã, uma vez mais, aqui.

Um comentário:

  1. JOSÉ CARNEIRO de Belém escreveu
    Agosto, mês de lembrar Getúlio e Jânio, duas figuras emblemáticas - e problemáticas - na política brasileira. Meu pai contava uma piada sobre o Jânio: após a renúncia ele viajou para Londres e lá consultou um famoso psiquiatra. E perguntou ao final da consulta: é verdade, doutor, que sou mesmo louco como dizem no Brasil? Resposta do Médico: Não, dr. Janio, de jeito nenhum. Loucos são os milhões de eleitores que votaram no senhor.
    ************************************************
    ACHASSOT escreveu
    Jose pediu-me para aditar como comentário a blogada de ontem. Gostei da anedota, pois devo ter sido um dos milhões de louco.
    Tendo aditado, escrevi-lhe uma frase de Jânio: ‘Fi-lo, por qui-lo!” que vi autografada por ele em um dicionário (Janio fora professor de Português) na Biblioteca da Universidade de Brasília.

    ResponderExcluir