segunda-feira, 23 de agosto de 2010

23- Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo

Porto Alegre Ano 5 # 1481

Manhã que anuncia em termo de temperaturas primaveris. Agora em torno de 20ºC com previsão como ontem, que se chegue quase a 30ºC, com continuada nebulosidade, que se atribui a queimadas em regiões mais ao Norte. As azaléias floridas anunciam o ocaso de agosto.

Na blogada de ontem, cabia muito bem trazer algo leve. Por tal elegi falar do filme que Gelsa e eu assistimos. Ocorre que termos quebrado um jejum de mais de meio ano – o último filme fora Avatar em 01FEV10 – das salas de cinema, nos reavivou um hábito que desejamos voltar a cultivar. Assim, no final da tarde fomos, mais uma vez ao cinema.

Mesmo que pareça exótico, começar a última semana completa de fevereiro, falando de cinema, acredito que vale contar aqui daquilo que nos maravilhou ontem. Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo mistura a linguagem do documentário com a linguagem da ficção. Um título muito lindo! Quando, contei a minha filha Ana Lúcia que assistiríamos a esse filme, ela disse: “Este poderia ser o mote de vocês dois que estão sempre viajando, mas estão sempre voltando...por que se amam”.

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo [I Travel Because I

Have to, I Come Back Because I Love You ] Brasil, 75 minutos, 2009 Dir.: Karim Aïnouz e Marcelo Gomes. Drama. Censura: 14 anos

Apaixonado pela esposa uma botânica, o geólogo José Renato precisa fazer sozinho uma longa viagem pelo sertão nordestino. Com uma relação amorosa recém terminada, ele curte apenas saudades. Até as flores que encontra evocam a (ex/sempre) amada. As constatações geológicas trazidas são primorosas.

Longe dela, ele terá que realizar uma pesquisa de campo para definir o possível percurso de um canal, que irá amenizar o problema da seca na região. Apesar de a construção ser um alívio para muitas populações, pode ser um grande problema para aqueles com quem Renato cruza, já que provavelmente a região será alagada.

Avaliando o terreno, ele percebe na seca e na pobreza daquelas pessoas uma sensação parecida com a que está tendo. Apesar de não ter dificuldades com a falta de recursos, José Renato sente um grande vazio, pela distância da mulher que ama. À medida que a viagem avança, as saudades ficam cada vez maiores, e a distância física dela parece ser o menor dos problemas entre os dois.

Vale ler Fred Burle: Os relatos são ilustrados com imagens que imitam o poético formato de Super 8, que traz consigo a atmosfera de filme caseiro ou de registros documentais que se fazia na década de 60. O protagonista sequer aparece em tela. A leitura dos escritos é feita por Irandhir Santos (de Besouro) com tanta emoção que a impressão que ficou foi a de que conhecemos o personagem, sem nunca tê-lo visto. Em momentos emocionantes, ele entrevista moradores da região, perguntando-lhes qual o ideal de vida deles. Os sonhos almejados são medíocres, mas demonstra a humildade daqueles moradores e o quanto eles pedem pouco para se considerarem felizes. A definição de “uma vida de lazer” é tocante.

[...] Numa sequência, o geólogo relata uma de suas aventuras amorosas, oriundas de enorme carência e solidão, na qual só há fotos e sons de lugares. Nem ele ou a prostituta aparecem, mas eu podia jurar que vi toda a situação acontecer.

Os diretores mesclaram ficção e realidade com tamanha maestria e sutileza que não se sabe onde termina um e começa o outro. Ousaram na experimentação de linguagem, na montagem de sequências justapostas, no jogo de composição de sons e sensações, no tratamento arriscado das imagens e na confiança de que tinham um roteiro maravilhoso em mãos. Fizeram um filme que traduz em som e imagens tudo o que o cinema é capaz de fazer, com poesia e inventividade. In www.fredburlenocinema.com

Selecionado para o Festival de Veneza, onde fez sua premiére mundial, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo é uma obra experimental realizada pelos cineastas Marcelo Gomes, de Cinema, Aspirinas e Urubus, e Karim Aïnouz, de Madame Satã e O Céu de Suely. Para o longa, os diretores usaram imagens não utilizadas em seus filmes anteriores, incluindo o documentário Sertão Acrílico Azul Piscina, que também filmaram em conjunto.

Com a absolvição de meus queridos leitores pela trazida, numa segunda-feira que abre uma semana de muitos fazeres, algo tido como de lazer. Parece que até nos temas do blogue se faz aflorar as culpas judaicas. Adito meus votos de um muito bom dia. Por ora, arquemos um encontro aqui, amanhã. Até então.

4 comentários:

  1. Mestre, hoje de manhã, após um noite mal dormida, viajei ao lado de uma senhora que sorria mesmo com os solavancos da estrada de chão, e derepente me olhou, apontou para a janelinha e disse: "menina, repara como a natureza fica mais linda com estes raios do sol!" Foi como uma sacudida, um chamado a vida.

    boa noite e muitas outras sessões a vcs dois

    (aguardo ^^)

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  2. Muito querida Marília,
    que fortuna ter uma companheira de viagem que encontra poesias no solavancos da estrada esburacada.
    Obrigado por teu comentário. Ontem a noite, quando via que provavelmente está blogada bateria o recorde de leitores (88 leitores) via que não havia nenhum comentário. Tu já nesta terça-feira dás a alegria de um. Obrigado.
    Uma boa terça-feira.
    attico chassot

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  3. Querido Prof!
    Li seu texto de hoje e fiquei pensativa... Sempre pensei que agosto não é um mês muito agradável e por coincidência faço níver neste, porém no penúltimo dia - 30/08/1965.
    Precisava lhe dizer que hoje, mais que nunca, não penso mais nesse mês desta forma, olho a beleza de cada dia e hoje, especialmente hoje a lua aqui está um esplendor. E como dizia a meu filho, digo ao senhor: VALE A PENA VIVER SÓ PRÁ VER O ESPLENDOR DA LUA!
    Abraço enorme,
    Neusa

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  4. Muito querida Neusa,
    há agostos trágicos como há de janeiros a dezembros trágicos.
    Pena que as queimadas por nos vedem olhar a lua.
    Uma muito boa noite,
    Um afago

    attico chassot

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