segunda-feira, 16 de agosto de 2010

16- Religião/Ciência = Fé/Razão

Porto Alegre Ano 5 # 1474

E já inauguramos hoje a segunda metade de agosto. A temperatura tem sido a usual nestes dias (em torno de 10ºC). Já começamos a terceira semana letiva de 2010/2. Esta tarde, tenho o meu momento acadêmico semanal privilegiado com aulas na UAM - Universidade do Adulto Maior.

Mais uma vez trago numa blogada a parceria de Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "Criação Imperfeita". Edito aqui seu texto publicado na Folha de S. Paulo de ontem. Quando o li com a Gelsa, ela teve a avaliação que eu me fizera: é algo muito semelhante ao que tens dito em algumas de tuas falas. Após comparar religião e ciência – dois dos diferentes mentefatos culturais para vermos o mundo – com exigências da para crer e da razão para entender, trago o que qualifico como:

Talvez uma utopia... pois, não se prognostica um choque entre o racionalismo científico e a autoridade da fé.

Ao contrário:

à Ciência estaria reservado o papel de explicar e transformar o mundo

às religiões estaria destinado garantir que essas transformações sejam para melhor.

Isto está mais detalhes no A Ciência é Masculina? É, sim senhora! (2003). Usualmente o apelo de Sir James Lovelock (*1919) na ratificação de meus apelos pelo zelo à saúde do Planeta: "Temos que ter em mente o assustador ritmo da mudança e nos darmos conta de quão pouco tempo resta para agir, e então cada comunidade e nação deve achar o melhor uso dos recursos que possui para sustentar a civilização o máximo de tempo que puderem". http://www.ecolo.org/lovelock

Confiram, assim, o bem posto Uma ecologia espiritual de Marcelo Gleiser

Está na hora de irmos em frente e deixar para trás o desgastado embate entre a ciência e a religião, que já não rende nada. É preciso encontrarmos um novo rumo, ir além da polarização linear que vem caracterizando as discussões do papel da fé e da razão na vida das pessoas por mais de cem anos. A ciência não se propõe a roubar Deus das pessoas, e nem toda prática religiosa é anticientífica. Existe uma outra dimensão a ser explorada, ortogonal a esse eixo em torno do qual giram os argumentos mais comuns.
Um caminho possível é explorar valores morais de caráter universal que desafiem a linearidade do cabo de guerra entre a ciência e a religião.
Bem sei que, para muita gente, a proposta de encontrar valores morais universais representa já um beco sem saída. Relativistas culturais, por exemplo, argumentarão que esses valores universais não existem, que o que é certo para um pode ser errado para outro. Por exemplo, culturas nas quais a poligamia é aceita.
Para encontrar valores morais universais, precisamos ir mais fundo. Não podem ser valores que variem de cultura para cultura ou em épocas diferentes, como a ideia do casamento. Sugiro que o valor mais efetivo que podemos explorar vem da única certeza universal que temos: a morte.
A morte não é recebida com prazer em nenhuma cultura. Claro, alguns veem a morte como uma transição para uma nova vida, ou um mero aspecto de uma existência sem fim. Outros podem até vê-la como um ato heroico de martírio. Mas, tirando fundamentalistas radicais, ninguém em boa saúde física e mental escolhe morrer. Portanto, de todos os valores morais que podemos imaginar, proponho que o mais universal seja a preservação da vida.
Não me refiro apenas à vida humana. Quando percebemos o quanto nossas vidas dependem do planeta que habitamos, damos-nos conta de que precisamos agir para preservar todas as formas de vida. É óbvio que temos que garantir nossa existência, e que isso requer que consumamos alimentos. Mas esse consumo não precisa ser predatório. Pode ser planejado para que mantenha um equilíbrio saudável entre o que é produzido e o que é consumido.
Quanto mais saudável o planeta, mais saudável a economia. Isso pode não ser óbvio a curto prazo, mas em intervalos de décadas é. Este é o século em que finalmente iremos entender que precisamos estabelecer uma relação simbiótica com a Terra. Talvez essa seja a lição mais importante que a ciência moderna tem a ensinar.
O respeito à vida como moral universal leva a uma ecologia espiritual na qual nós, como espécie dominante do planeta, agimos como guardiões da vida. Com isso, a dimensão espiritual que nos é tão importante ganha expressão na devoção ao planeta e às suas formas de vida.

O respeito à vida como verdade universal leva a um estado em que agimos como os guardiões dela

Esse senso de conexão espiritual com a natureza é celebrado tanto na ciência quanto na religião. De Einstein a Santa Teresa de Ávila (grato a Frei Betto, por me chamar atenção para esta obra), o mundo é festejado como sacro. As palavras variam, mesmo a motivação pode variar; mas, em sua essência, a mensagem é a mesma. Acho difícil encontrar uma moral universal mais básica do que o respeito à vida e ao planeta que a abriga de forma tão generosa. Ao menos, é um começo.

Uma muito boa segunda-feira. Uma excelente semana, uma frutuosa segunda quinzena de agosto, este mês do bom gosto. Até amanhã.

7 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    O friozinho aí do sul tem se aproximado daqui de Goiás, hehehe!Desde ontem o dia tem amanhecido mais frio e ameno.
    =]
    Hummm...quanto a postagem do dia do senhor, acho que,'a Ciência é a religião dos dias de hoje', se é que o senhor me entende.Digamos que para as pessoas atualmente, se foi provado cientificamente, então é verdade.
    Não é exatamente o que eu acredito, mas é o que vejo.
    =/
    Um convite aos 5 anos do QUIMILOKOS:
    http://quimilokos.blogspot.com/2010/08/5-anos-de-quimilokos-concurso.html
    Abraços, e um ótimo início de semana!

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  2. Querido mestre,
    execelente postem hoje! Sou fa tambem do Marcelo.
    Abracos Carla

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  3. Muito querida colega Thaiza,
    talvez valesse em uma mais harmônica convivência entre religião e ciência como a blogada de hoje utopicamente propõem. Vou visitar o QUIMILOKOS e deixar uma mensagem pelo 5º aniversario de um dos sítios de Alfabetização científica que tenho como mais importante.
    Curta o frizinho.
    Um afago do
    attico chassot

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  4. Carla muito querida,
    Que bom que te agradou a postagem de hoje.
    Tenho muita identificação com este texto do Marcel Gleiser que trouxe.
    Um afago do

    attico chassot

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  5. Querido Prof. Chassot!
    Que linda mensagem a de hoje. Amei! Penso exatamente assim, que devemos lutar para viver e viver sempre melhor.
    Que frio em Curitiba!!!
    Só debaixo do edredon... rsrsrsrs.....Affffff!
    Abraço gordo!

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  6. Estimada colega Neusa,
    realmente as discussões entre Religião e Ciência têm histórias memoráveis e cruentas. A proposta trazida hoje pode ser utópica mas não é inviável.
    Desejo-te uma curtida do frio curitibano.
    Um afago carinhoso,
    attico chassot

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  7. POR UM PROBLEMA TÉCNICO O CAMENTÁRIO QUE SEGUE NÃO FOI PUBLICADO:
    ...Mar... deixou um novo comentário sobre a sua postagem "16- Religião/Ciência = Fé/Razão":

    oh, Prof, ontem-hoje foi-é (escrevendo hoje sobre o de ontem!)o dia do Filósofo... Escreve uma linha para seus queridos eternos alunos ai... ^^

    A Vida como bem maior as vezes é tão grrrande que alguns não a conseguem carregar.

    abraço e agora vou ao post de hoje

    EIS MINHA RESPOSTA

    Muito querida filósofa Marília,
    ontem soube pelo serviço de Relações Públicas do Centro Universitário Metodista - IPA que era dia do Filósofo. ¿Por que ontem?
    Pensei que a instituição que me avisava, pelo que fizera com seu curso de Filosofia, devia era prantear a data.
    A teu pedido, redimo-me e conto uma historieta, que narrei na minha aula de sexta-feira.
    Quando construíram a grande represa de Assuam, reuniram os expertos das mais diversas áreas, Então alguém (não recordo agora quem) reclamou que faltava um egiptólogo e um filósofo comissão. Ao ser perguntado acerca do porque da necessidade do filósofo respondeu: Para ele dizer que faltava um egiptólogo.
    Penso que a trazida desta passagem se faz em minha homenagem;
    e adito um afago para querida filósofa Marília

    attico chassot

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