segunda-feira, 24 de maio de 2010

24*Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação: notícia

Porto Alegre Ano 4 # 1390

Uma blogada de segunda-feira é usualmente diferente. Como, há um tempo venho postando as edições nas primeiras horas do dia (ou de madrugada como esta), parece natural que deixe os textos pré-pronto na véspera. Devo confessar que o grau desse pré-pronto me obsequia com a qualidade de conciliação do sono. Assim as blogadas de segunda sabem a domingueiras.

Anuncio na manchete uma notícia. Logo, na esteira do memorialismo de ontem, lembro que ainda nos 60 do século passado (século 20, por supuesto!) os jornais matutinos não circulavam às segundas-feiras em Porto Alegre (não tenho informações de outras cidades, mas como tenho leitores jornalistas certamente seremos aqui esclarecidos). As razões disso eram óbvias: aos domingos devíamos nos abster de trabalhos servis, logo era natural, que as redações não trabalhassem. Pode-se imaginar o grau de sedução que tinham os jornais vespertinos (hoje, por aqui eles não existem mais!) na tarde de segunda-feira. Lembro que o bar Caçula onde eu trabalhava vendia a Folha da Tarde e minha torcida era para que no encalhe ficasse algum exemplar nas segundas-feiras, para poder ler depois; poucas vezes era bem sucedido meu torcer.

À época, diferentemente de hoje, os jornais aos domingos não circulavam, como hoje, na meia tarde de sábado (quando dizemos que lemos hoje um jornal de amanhã com notícias de ontem). Recordo, que era algo festejado sairmos do cinema nas noites de sábado, já quase meia noite, e conseguirmos já comprar um jornal de domingo.

Evoquei jornais de um passado (não tão remoto, mas diferente). Agora algo deste domingo. Circulou pela primeira vez a nova Folha de S. Paulo. Poucas vezes aguardei um jornal com tanta expectativa. Cheguei a telefonar para meu entregador sabendo da previsão de entrega. Por mais de uma semana fomos excitados com notícias de revoluções que nos levariam a outro patamar de jornalismo. Os estudos foram extensos e custosos. Mandei ao painel do leitor a seguinte mensagem (que certamente não será publicada): À ‘nova’ Folha/Bolha, decepção. Exemplo, Ilustríssima p. 10 e Mercado ~~ novo deus da nova Folha ~~ p. 12 e 13 ~~. “Obrigado” por infantilizar leitor, com muito papel e pouco conteúdo, achassot. Claro que me sinto pretensioso ao fazer tão radical avaliação. Analisei-me e pareci-me conservador. Sou incapaz de aceitar uma mudança objeto de tão intensos estudos. Talvez, esteja laborando em preconceitos ou resistindo ao novo. Incomodou-me a preferência para o chargismo e gráficos em detrimento do texto escrito. Por exemplo, a p. 10 da ‘ilustríssima’ é gasta com um poema (O cachorro) de 11 linhas. O caderno Dinheiro, adequadamente, passa se chamar ‘Mercado’; Neste há duas páginas inteiras gastas com gráficos e desenhos para mostrar o destino dos impostos. Penso que com estas transformações se começa dar adeus ao jornalismo papel. Preparemo-nos para pagar o acesso às edições internéticas, como já ocorre em países centrais. Mas, não sou do ramo, não me cabe palpitar.

Mas depois desse preâmbulo saudosista eis detalhes da notícia-título: Há um tempo meus leitores não estão encontrando Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação. A 1ª edição foi lançada no ENEQ de 2000. Já em 2001, saiu a 2ª edição e em 2003 a 3ª. A 4ª edição, em 2008, que teve mais uma reimpressão em 2008, esgotou-se em março. Na última sexta-feira encaminhei uma proposta de uma nova edição, atendendo a novas ‘exigências de mercado’.

O leitor que conheceu algum exemplar de uma das quatro edições anteriores quando tiver em mãos algum exemplar da provável 5ª edição talvez tenha uma surpresa. Haverá um significativo emagrecimento físico do livro. Esse parece ser um dos sinais desses tempos pós-modernos que a nova edição precisou, não sem dificuldades, considerar.

Hoje um livro de 438 páginas, como foram as quatro edições anteriores, não é mais palatável. Houve pelo menos duas determinações para uma tão radical ablação de capítulos inteiros e de parte de outros: a primeira, hoje se lê menos em suporte papel – parece que os comentários acerca da Folha de S. Paulo, acima estão nessa direção; outra, razões econômicas exigem que os livros, pelo menos dessa área, sejam de menor custo ou fisicamente menos volumosos.

Assim, está anunciada uma nova a edição adelgaçada. Não vou detalhar cortes que determinaram uma redução de mais de 90 páginas (cerca de 20% em volume). Também não fiz isso na apresentação que fiz à nova edição. As operações de poda de vegetais sempre me são dolorosas. Muitas vezes procuro dar destino especial aos ramos excluídos ou explico à árvore as razões de minha cirurgia. Imagine-se, então, o que fazer exclusões de um livro que por dez anos foram presenças na obra.

É nesta dimensão anuncio, aqui, mais uma edição de Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação, que como nas quatro anteriores, terá seus direitos autorais destinados ao Departamento de Educação do Movimento dos Trabalhares Rurais Sem Terra. Talvez isso explique porque dentre os meus livros é esse que mais me emociona.

Trazida essa notícia, votos de uma muito boa segunda-feira, abertura de semana muito promissora. Amanhã nos poderemos reencontrar aqui, uma vez mais.

5 comentários:

  1. QUERIDO CHASSOT,

    Fiquei feliz pela nova edição do seu livro. Só estou um pouco curiosa para saber o que você "retirou" da nova edição. Pois já li a outra edição "volumosa" e tudo é tão importante, tão científico. Lembro , que trabalhei todos os capítulos com meus alunos e eles adoraram.
    Saudades!

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  2. Meu caro José,
    não sei se andas por Belém, mas na blogada de hoje há uma interrogação que dirigida: é a respeito da não circulação de jornais nas manhãs de segundas feiras.
    Meus leitores e eu agradecemos
    achassot
    ******************************
    Caro amigo prof. Chassot:

    Acabei de ler o blog, com as últimas blogadas. Eu estava desde quinta feira para Brasilia, retornei nesta madrugada. Sobre o que você pede, você mesmo respondeu e, como sempre, percucientemente. Quando eu comecei a trabalhar em jornal - "Folha do Norte", janeiro de 1968 - a edição de segunda era registrada no cabeçalho de domingo, ou seja, a edição de domingo valia para dois dias. As razões são as que você mencionou, o domingo de folga, "santificado" etc, etc.
    Não tenho certeza mas penso que foi o "Globo" que iniciou a salutar prática (mereciam aspas as duas palavras) de fazer a edição de segunda feira. Minha experiencias dessas edições é que seriam dispensáveis, tal a mediocridade e má vontade com que são feitas. Os repórteres saem "brigando" com a noticia,embromando ao máximo. Por isso, sabiamente, a Folha do Norte (extinta em 1973) criou um semanário chamado "O Imparcial", para destacar o esporte e, de quebra, as notas policiais, que são, em verdade, o chamariz para vender jornal, aqui e em qualquer lugar. É o que todos deveriam fazer, evirtando assim os simulacros das modorrentas segunda feira. Eu nunca comprei jornal que sai à segunda feira. Parafraseando alguém que esqueci agora, se soubessemos como são feitos os embutidos e os jornais de segunda feira, não comeriamos aqueles e nem leriamos estes.

    Grande abraço, José Carneiro
    *******************
    Meu caro José Carneiro,
    muito grato por tão elucidativa resposta. Abstenhamo-nos desta produção dominical, pois como feita em dia santificado, desobedecendo a lei divina, certamente tem a colher do Tinhoso em sua elaboração.
    Com agradecimentos.
    achassot

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  3. Muito querida colega Joélia,
    não sabes quanto foram difíceis algumas ablações.
    Penso que conservei o melhor.
    Muito obrigado pelo teu atencioso comentário
    attico chassot

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  4. Prezado mestre,
    saboreei página por página, capítulo por capítulo da quinta edição de seu livro que, em nova edição, ficará menor. Não entendo estas regras de mercado, particularmente não entendo nada de economia, considero uma agressão ao escritor mas penso que a nova edição será muito boa devido a sua grande habilidade como escritor.
    Abraços,
    Maria Lucia.

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  5. Muito querida colega Maria Lúcia,
    muito obrigado por tão caloroso comentário. Não é fácil podar.
    Mas resisti. Penso que a reescrita adelgaçada será melhor que não ter o livro em circulação.
    É muito bom saber-te parceira no fazer alfabetização científica.
    Mais uma vez obrigado,

    attico chassot

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