terça-feira, 16 de março de 2010

16*TER* Acerca das emoções de mais uma estreia

Porto Alegre Ano 4 # 1321

Àqueles que seguem o cotidiano mais miúdo deste escriba não precisam elucubrar acerca do assunto de hoje. Claro que vou trazer algo de mais uma estreia. Como disse ontem, apoiado em Héraclito de Éfeso: “Nunca tomamos duas vezes banho no mesmo rio!”. Aliás, nestes meu tempo de Centro Universitário Metodista - IPA (estou começando o 6º semestre) tive muitas primeiras vezes: primeira vez que lecionei Políticas da Educação Brasileira, Didática, Práticas Pedagógicas. Primeira vez que dei aula nos cursos de Biologia, Educação Física, História, Inglês (licenciatura), Música, Filosofia... Pois ontem foi mais um debut, com a minha primeira aula na disciplina ‘Processo histórico e antropológico do envelhecimento’, na UAM - Universidade do Adulto Maior.

Esta disciplina busca ‘acompanhar e entender a dimensão do envelhecimento a partir dos eventos históricos e culturais ao longo dos tempos. Principais movimentos sociais artísticos, culturais. Compreensão do processo de envelhecimento como decorrente da interação deste contexto’. Essa ementa faz visível o meu significativo desafio.

Fui apresentado ao grupo pela professora Rosane Papaleo Freire, Coordenadora da UAM. Em uma reunião prévia ela me fez mais bem integrado na proposta. Assim sei, agora, que minha a disciplina, faz parte de um módulo obrigatório de seis disciplinas onde ao lado do enfoque Histórico e Sócio-Antropológico (ora sob minha responsabilidade) há os enfoques: Biológico, Psicológico, Político, Econômico e Social. Ao lado destas seis disciplinas, cursadas ao longo de três semestres os alunos podem cursar disciplinas eletiva de computação, ginástica, natação, dança, desenho ao lado de outras atividades como cinema, teatro, atividades de lazer como visitação conjunta de museus, exposições.

Hoje estavam 16 dos 29 matriculados, pois hoje era dia de ajustes administrativos. Há aqueles que foram professoras, médico, dentista. Há os que vêm de perto e os de longe (Viamão, Eldorado do Sul...). Há vários que já fizeram os módulos, mas apreciam tanto o convívio que instituição oferece que repetem o curso, pois a cada

edição encontram novidades. Há ainda um número significativo que pertencem ao MS@ (isto é, aqueles que não têm um endereço com arroba); e não é por condições econômicas, mas por falta de que os ajude em casa nos ‘galhos’ que nos resolvem filhos ou netos.

Usei como partida uma historieta, que me foi contada pelo meu colega Nélio Bizzo, quando, há um tempo, me levava para o aeroporto, após participar de uma banca de um orientado dele na USP e atribuída a uma cultura africana.

Em barco que soçobra, pois as águas o invadem devido a um rombo no casco, está um jovem pai, com seu filho de quase dez anos e seu pai, com mais 70 anos. Ele tem condições de a nado salvar apenas um: ou o filho com o qual tem uma ligação muito forte ou o pai, a quem admira incondicionalmente. Trágica opção.

Então propus ao grupo: Imaginemos um de nós frente essa escolha. As opiniões foram díspares. A maioria salvaria o filho; e tinham os melhores argumentos para tal, como o velho já ter fruído bastante da vida. Outros salvariam o pai, também com argumentação convincente, como ser detentor de muitos conhecimentos.

Antes de irmos a revelação, uma insistência. A não existência de uma verdade. E mais o quanto as ‘ditas respostas certas’ tem vieses culturais, e são relativas e mutáveis. Mostrei então essa postura contrastando com os dogmas religiosos. Mostrei então os diferentes óculos que podemos usar para ler o mundo. Se nós estávamos indecisos (e, estávamos) para aquele jovem pai não havia indecisão. Era natural para ele e para toda a comunidade que ele salvasse o seu pai, pois era ele que detinha o conhecimento que poderia ser útil à vida de todos e esse não poderia ser perdido.

Essa decisão conecta-se com a frase que faço capitular de “Fazendo de saberes primevos, saberes escolares” do “Sete escritos sobre Educação e Ciências” Quando morre um velho é como uma biblioteca que queima”. Tinha para esta citação ilustrações (que por problemas de equipamento só serão projetadas na próxima aula) da Biblioteca Anna Amalia, em Weimar. Esta foi reaberta outubro de 2007, três anos após o grave incêndio que danificou gravemente o seu prédio e destruiu 37 pinturas e cerca de 50 mil livros dos séculos 16 a 20. O incêndio, em setembro de 2004, foi causado por problemas elétricos.


Mas, faltou tempo, sobrou assunto. E aqui um detalhe, que comentava ainda ontem com a Gelsa: há quanto tempo eu não dava aula de apenas um período. Na graduação as aulas no IPA são 2 + 2. Na Unisinos são (eram) quatro períodos da mesma disciplina no mesmo turno. Devo dizer que me parece muito mais produtivo esta modalidade um período.

Isso foi um pouco da minha primeira aula na UAM, que teve até salva de palmas no final. Algo inédito também. O que me emocionou muito. Estou entusiasmado com a proposta. Sinto-me contribuindo com a produção de conhecimento.

Esta terça-feira agenda me reserva entre outras benesses almoço com o Jairo, meu ex-orientando, um dos leitores mais presentes neste blogue e por tal, permito fazê-lo hoje representante real desta comunidade virtual e à noite a segunda edição das aulas com a turma da Filosofia de memorável estreia na terça passada.

Como despedida o anúncio de uma provável pré-pauta para amanhã e quinta-feira: Acerta a Justiça de Timóteo (MG) ao condenar casal que tirou filhos da escola para educá-los em casa? A esta pergunta teremos respostas antagônicas – uma sim e outra não – de dois reconhecidos doutores (um em Ciências Sociais e outro em Educação). Aguardem!

10 comentários:

  1. Meu caro Mestre! Lidar com o envelhecimento é para muitos de nós uma habilidade dificil de se adquirir. Uma proposta como essa, oriunda de uma instituiçao como o IPA Metodista, é louvável e deve ter maior divulgação. Tomo aqui a liberdade de hora dessas me convidar como assistente em uma dessas suas aulas. Tenho a certeza de tua competência nesse fazer andragógico, e o sucesso da Universidade do Adulto maior. O abraço e a admiraçao do JB.

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  2. Meu caro Professor Jairo,
    realmente a UAM - Universidade do Adulto Maior é uma muito louvável iniciativa do Centro Universitário Metodista - IPA e tenho muita emoção e orgulho de fazer parte, agora, dessa realização vitoriosa há alguns anos.
    Espero, de vez em vez, ampliar as informações trazidas nas edições de ontem e de hoje.
    Tomo a liberdade de encaminhar copia de tua manifestação a Professora Rosane Papaleo, coordenadora da UAM.
    Com admiração
    attico chassot

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  3. Muy querido Profesor Chassot,
    Me ha llamado mucho la atención del concepto de una educación universitaria para adultos "mayores". Es algo totalmente novedoso, no creo que en Ecuador haya algo parecido.
    Me parece admirable la postura de la Universidad de desarrollar un área que aparentemente no resulta tan atractiva desde el punto de vista comercial, mas que da prioridad al desarrollo personal y más aún: le da valor. No sólo rescata el derecho a la educación en cualquier edad, sino que implícitamente reconoce que no terminamos nunca de construirnos y que cada fase de la vida merece ser vivida a plenitud y con dignidad.
    Que tenga un lindo día y felicitaciones por esta nueva estrella,

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  4. Muy amable Matilde,
    es muy grato recibir tu manifestación acerca de esta magnífica realización del Centro Universitario Metodista IPA que es la UAM. Planteas con oportunidad acerca de la importancia de estas preocupaciones. Me alegro que ese blogue pueda levar hasta el Ecuador esa experiencia y posamos compartir informaciones como aquellas que están en www.redadultosmayores.com.ar/
    que atenciosamente indicaste y que me permito indicar a coordinación de la UAM de IPA con copia de ese mensaje.
    Muchas gracias por te tener como una lectora de ese blogue y más, por recibir tan preciosas colaboraciones.
    attico chassot

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  5. Mestre Chassot, imagino como deve ter sido diferente e prazeroso o convívio de ontem com os educandos da UAM. Muito mais está por vir, acredito.

    Ótimo dia.

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  6. Meu caro Marcos Vinicius,
    realmente a UAM é uma realização excepcional do Centro Universitário Metodista – IPA.
    Passei ser ainda mais orgulhoso de ser professor no IPA.
    Com estima

    attico chassot

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  7. Caro amigo: A UAM não poderia ter escolhido ninguém melhor do que você para dar aula sobre assuntos de envelhecimento. Não conheço ninguém, da minha relação de amigos, que saiba melhor do que você, como não envelhecer. Gostaria de ter assistido essa primeira aula.
    Grande abraço do
    José Carneiro

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  8. Prof. Chassot: fiz um comentário mas me compliquei na remessa. Eu falava de que ninguém melhor do que você para falar de envelhecimento, isto, de como não envelhecer. O seu blog mostra idsso, diariamente. Eu gostaria de ter estado nessa primeira aula sobre assunto tão palpitante.
    Grande abraço

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  9. Meu caro José Carneiro,
    obrigado pelo teu comentário. Realmente o Centro Universitário Metodista - IPA é um exemplo de por em prática as suas propostas em relação a idade madura,
    Já trabalhei em Universidade que aos 65 anos jubilava seus professores. Aqui já setentinha me orgulho de poder estar nesse semestre começando mina carreira também na UAM.
    Com reconhecimentos,
    attico chassot

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  10. Meu caro José Carneiro,
    obrigado pelo teu segundo comentário, que me enseja reconhecer a gratidão das palavras vindas quase da Linha do Equador. Sei que as palavras de um belenita corajoso e arguto ganham dimensões. Tuas palavras sempre críticas nas crônicas que põem teus leitores em permanente atenção são valiosas aqui.
    Com saudades de Belém aproveito para contar-te que em junho farei um périplo entre os amazônida de Porto Velho e Ariquemes. Sei que as distâncias são imensas mas será bom estar um pouco mais perto de Belém.
    A gratidão e o reconhecimento do
    attico chassot

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