segunda-feira, 6 de abril de 2015

06.- QUASE UM CONTO DE FADAS


ANO
 9
EDIÇÃO
 3025

Nesta pascoela (segunda-feira depois da Páscoa e por extensão toda a semana) sempre me dá um pitéu de inveja daqueles (países europeus...) que fazem dia festivo na segunda-feira depois da Pascoa. Lembro que aprendi a sonora palavra pascoela nas aulas de História do Brasil. Está na carta de Pero Vaz de Caminha: “Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu”. Devia ser 26 de abril, pois antes há referido “E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha...”
Neste clima, ainda de celebrações, trago uma versão pós-moderna da conhecida historieta na qual ‘a Cinderela conheceu um príncipe, casou e foi morar num palácio’. Eis um emocionante relato trazido com a ajuda do www.ig.com.br/
Mariam Topeshashvili tinha quatro anos quando precisou sair às pressas com os pais de Tbilisi, capital da Geórgia, em meio a uma guerra civil que assolou a antiga república da União Soviética na década de 90 e início dos anos 2000. Mariam e os pais seguiram para a Turquia e, de lá, vieram para o Brasil como refugiados políticos.
Chegaram ao Rio de Janeiro sem saber falar uma palavra em português e foram morar na comunidade Tabajaras#, na Zona Sul. Mariam viu o pai, formado em ciência política e economia, ter o diploma recusado no Brasil e ser obrigado a vender cerveja na praia de Copacabana, tendo de se virar com o português. A mãe, enfermeira, levou dois anos para conseguir um emprego como guia de turismo.
Mariam, por sua vez, estudou, estudou, estudou, e na noite desta terça-feira (31) recebeu a notícia de sua aprovação na renomada Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com bolsa integral. Mariam Topeshashvili, de 18 anos, veio ainda criança da Georgia para o Rio (Foto: Gabriel Barreira/G1))
A jovem de 18 anos quer estudar ciências políticas em Harvard. Mariam é apaixonada por assuntos relacionados à política e economia, faz uma série de trabalhos voluntários e espera no futuro exercer um papel importante na área humanitária.
Por ter chegado ao Brasil com menos de 5 anos de idade, Mariam conseguiu naturalizar-se brasileira. Além de falar um português perfeito, com legítimo sotaque carioca, Mariam domina ainda outros cinco idiomas. Tudo graças aos pais, que lhe ensinaram a importância de aprender e o amor pela leitura.
A estudante lamenta não poder dividir esta conquista com seu pai, Avitandil, que morreu de câncer em 2008. "A gente tinha acabado de conseguir uma situação financeira estável", explica Mariam.
Ela conta que a família foi muito bem recebida na comunidade Tabajaras, em 2001. A família teve o apoio inicial do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) para deixar a Geórgia e vir ao Brasil. Os moradores ensinaram os Topeshashvili como funciona a burocracia e a sociedade brasileira e ajudaram o pai a se tornar um vendedor ambulante.
“A gente recebia uma pequena ajuda da ONU, mas meus pais precisavam se virar porque os diplomas deles não foram aceitos aqui. Meu pai fez muito sacrifício para que eu pudesse estudar. Meu pai deixou de fazer o que ele gosta para investir nos meus estudos. Foi ele quem me ensinou tudo o que eu sei de política", orgulha-se Mariam.
Ela estudou no Colégio Pedro II, uma escola pública federal de prestígio no Rio. Participou de olimpíadas de matemática, química e história. No ensino médio, criou o projeto SER Voluntário, com três amigas, para fazer a ponte entre jovens que, como ela, querem fazer trabalhos sociais, mas não sabem como começar, e as instituições que precisam dessa ajuda.
"Faço leitura de livros para deficientes visuais. Aprendi também com meu pai, que adorava ler para mim", conta.
No ano passado, Mariam foi uma das estudantes escolhidas no projeto Jovens Embaixadores, do governo dos Estados Unidos. Viajou para a América do Norte, visitou universidades e foi até a Finlândia.
A jovem ganhou o auxílio da Fundação Estudar e da EducationUSA para fazer o "application", o formulário de inscrição para concorrer a vagas nas universidades estadunidenses. Passou em Yale (nos campus dos EUA e de Cingapura), Duke e mais duas universidades até receber a resposta positiva de Harvard.
Mariam quer fazer da sua experiência de vida uma ferramenta para ajudar outras pessoas que vierem a passar pelo que ela e seus pais passaram. "Meu objetivo agora é, depois de me formar, criar uma ONG para ajudar refugiados que chegam a um país", diz.
#A favela da Ladeira dos Tabajaras é uma comunidade da zona sul do Rio de Janeiro, com data de ocupação em 1926, que conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Fica em Copacabana e têm cerca de 1200 moradores e quase 400 domicílios. Sofreu com o tráfico de drogas e a atuação da facção criminosa Comando Vermelho (CV) por quase 30 anos

8 comentários:

  1. A história dessa moça é uma das que dão fôlego à nossa esperança na Humanidade. Feliz Páscoa, 23 minutos atrasado, Mestre!

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  2. Muito querido amigo Juliano,
    primeiro não há atraso: estamos na Pascoela.
    Mas o mais importante: a tua avaliação, por estares no Itamaraty se faz muito significativa. É muito bom renovarmos nossos credos na Humanidade em tempos conflituosos.
    Com continuados agradecimentos

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    1. Caro professor Chassot, bom dia!
      Me chamo Mauro, sou professor de quimica no Rio de Janeiro, e com frequência sigo seu blog. Ja tive a oportunidade de assistir duas ou três palestras suas, e delas saí renovado!
      E de alguma forma essa renovação chegou às minhas salas de aula no Colegio Pedro II. Em uma dessas salas esteve a jovem Mariam por dois anos consecutivos. Sagaz, alegre, olhos grandes e atentos que devoravam cada exemplo, cada tópico, cada palavra! Mas o que impressionava era sua obstinação por esse sonho agora realizado. Me lembro que conversamos inúmeras vezes sobre esse sonho, sobre alegrias e decepções. Fiquei imensamente feliz ao receber a noticia, e mais ainda agora ao vê-la estampada aqui! Realmente vale a pena continuar acreditando na Humanidade e na Educação como agente de transformação social!
      um grande abraço!

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    2. Estimado colega Mauro,
      num intervalo das aulas desta manhã li comentário. Obrigado por partilhares aqui tua participação na história da Mariam. Aumentaste ainda mais as emoções do relato desta blogada.
      Tua síntese é magnífica: “Realmente vale a pena continuar acreditando na Humanidade e na Educação como agente de transformação social!” Que bom que acreditamos que possamos colaborar com as Mariam que se fazem presente a cada dia em nossas histórias. Obrigado pela tua importante participação e orgulho-me em te saber leitor deste blogue e que já tenha contribuído no teu fazer Educação.

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  3. Querido mestre! Você sempre nos trazendo histórias de renovação! Além de cinderela,essa é também uma história de Páscoa, onde a passagem ganha ares atuais!!!

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    1. Querida Cris Flor,
      tua leitura é muito mais adequada que minha. O fabuloso ritual de passagem da Mariam é muito mais que uma história de cinderela. Ela atravessou muito mais que o Mar Vermelho;
      Obrigado por partilhares experiências aqui,

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  4. Professor!
    Li a história que publicou em seu blog e lerei hoje na disciplina de estágio com meus estudantes... é inspiradora. guardadas as proporções, é claro, sinto que reflete um pouco da minha própria história, de pais que tinham como única coisa a dar aos filhos o amor pelos estudos. E também se aproxima das histórias de muitos estudantes das licenciaturas noturnas, que seguem trabalhando o dia inteiro e estudando à noite em busca de mundos mais amplos!!!
    Margarida Rosa

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  5. Uma pequena (?) prova de que quando se quer a realização de algo, se consegue, não sem certo esforço. Uma lição a ser ensinada a certo número de indivíduos que vivem sob inspiração do mundo das estrelas...globais, mesmo que locais.

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