terça-feira, 24 de março de 2015

24.- POR QUE REFERIMOS UM CANTO DE CISNE?..


ANO
 9
EDIÇÃO
 3021

Há uma variedade de cisne que só canta antes de morrer? Lenda ou verdade?
Talvez haja muito poucas crenças que, mesmo há muito refutadas, persistem no imaginário popular como verdades durante séculos.
Refiro-me a uma antiga crença de que o cisne-branco (Cygnus olor) na foto extraída da Wikipédia, é completamente mudo durante toda a sua vida, mas pode cantar uma bela e triste canção momentos antes de morrer.
Entretanto, é sabido desde tempos remotos que esta crença é falsa; cisnes-brancos (também chamados de "cisnes-mudos") não são mudos durante a vida, produzindo grunhidos e assobios; e não cantam ao morrerem. Há registros que Plínio, o Velho# (23 — 79)## refutou esta crença no ano 77 d.C. Eis a afirmação em latim, que está livro 10, capítulo xxxii da Naturalis Historia###: olorum morte narratur flebilis cantus, falso, ut arbitror, aliquot experimentis. Isto quer significar: observações mostram que a história do canto dos cisnes ao morrerem é falsa".
#Escritor, historiador, gramático, administrador e oficial romano. Plínio estudou em Roma e ingressou na carreira militar, servindo primeiramente na África e depois assumindo como oficial o comando de uma tropa de cavalaria na Germânia, aos 23 anos. Retornou a Roma para dedicar-se a escrever e estudar Direito. Executou importantes cargos públicos sendo nomeado procurador na Espanha, logo após, no norte da África e na Gália. Para alguns o maior erudito da história imperial romana.
## Plínio, o Velho faleceu com 56 anos, ao tentar observar, como naturalista, a erupção do vulcão Vesúvio em Pompeia; também tentava salvar os habitantes da costa que fugiam.  Residindo a trinta quilômetros de Pompeia, foi surpreendido pela explosão do vulcão uma vez que, até aquela data, a única coisa que havia registrado sobre o assunto foram marcas de queimado no topo do Vesúvio. Enquanto Almirante mandou preparar um pequeno barco e convocou uma tripulação de nove homens e pôs-se a caminho de Pompeia. Então, os gases vulcânicos fizeram centenas de vítimas, entre elas Plínio, o Velho. O que se sabe de sua vida provém de referências de seu sobrinho Plínio, o Moço.
###Naturalis Historia (História Natural) vasto compêndio das ciências antigas, distribuído em trinta e sete volumes, O autor citou o conhecimento científico de então, com referências a cerca de 35.000 fatos úteis, classificado por áreas de conhecimento. A obra serviu de modelo para a produção de outras enciclopédias durante a idade antiga e média.
 Provavelmente, não conheçamos nenhuma outra refutação quase bimilenar a uma lenda literalmente negada por um historiador consagrado que ainda seja apresentada como fato observável.
Não obstante, a lenda, que foi bem antes de Plínio, consagrada por Sócrates§ no seu último discurso, permaneceu através dos séculos e aparece em vários trabalhos artísticos.
§ Uma possível primeira menção a essa expressão teria sido feita por Sócrates, antes de se suicidar com a ingestão de cicuta, em 399 a.C. Platão, no diálogo Fédon, apresenta uma última frase de Sócrates, na qual o grande filósofo grego havia feito referência aos cisnes: “Quando sentem a hora da morte se aproximar, essas aves, que durante a vida já cantavam, exibem então o canto mais esplêndido, mais belo; eles estão felizes de ir ao encontro do deus do qual são os servidores. (...) Eu, pessoalmente não acredito que eles cantem de tristeza; acredito, ao contrário, que, sendo as aves de Apolo, os cisnes possuam um dom divinatório e, como presentem as alegrias que gozariam no Hades, cantam, nesse dia, mais alegremente do que nunca.”
Por extensão, canção do cisne ou canto do cisne tornou-se uma metáfora, referindo-se a uma aparição final teatral e dramática, ou qualquer trabalho final ou conclusão. Por exemplo, a coleção de canções de Franz Schubert, publicada no ano de sua morte, 1828, é conhecida como a Schwanengesang (que em alemão significa "canção do cisne"). Isto traz a conotação de que o compositor estava prevendo sua morte iminente e usando suas últimas forças em um magnífico trabalho final.
Na edição deste blogue da próxima quinta-feira, vou me apossar da metáfora (e não do mito) e com ela tecer uma blogada. Apraz-me convidar cada uma e cada um de meus leitores para um reencontro cisneiro, então.

3 comentários:

  1. Querido Attico,

    Que jamais possas apropriar-te do canto do cisne e nos Prives de tuas palavras. Que, antes, possas transformar-te em Eolos, e que difundas teus saberes em todas as direções.

    Grande abraço,

    Paulo Marcelo

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    1. Meu querido amigo e sempre colega Paulo Marcelo,
      sabes também a pitonisa.
      Bonita a metáfora: fazer-se ventos e disseminar saberes.
      Nesta quinta-feira teremos mais um blogue cisneiro.
      Com admiração e saudades

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  2. Interessante a metáfora, não fosse seu significado subjetivo neste contexto.
    Com admiração,
    Família Farias.

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