sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

10.- OS JARDINS SUSPENSOS DE ATLANTA: O DESABROCHAR DAS ORQUÍDEAS



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2018
Hoje este blogue oferece pela sétima sexta-feira consecutiva uma crônica de viagem do Prof. Guy Barros Barcellos. Desde 30 de dezembro, passando pelas quatro sextas-feiras de janeiro chegamos já à segunda de fevereiro.
Lamentavelmente para nós leitores — e certamente para nosso cronista também —, esta é última destas férias. Como em julho as crônicas vieram do oceano Índico, mais precisamente das Ilhas Mauritius, já conjecturamos de onde virão as próximas, depois destas sete de Nova Iorque e Atlanta. Mergulharmos em aquários para conhecermos belugas, estivemos em museus, fomos a catedrais para ouvirmos música sacra, a teatros para assistir óperas. Hoje temos perfumado encerramento com visita aos jardins suspensos de Atlanta e sabermos do desabrochar das orquídeas." Assim, com palavra nosso cronista polímata.
Os jardins suspensos de Atlanta: o desabrochar das orquídeas
A thing of beauty is a joy forever”.
 Keats
Depois de conhecer os jardins suspensos de Atticodonosor em Porto Alegre tive a oportunidade conhecer os de Atlanta. Como biólogo e esteta nada poderia ter sido mais delicioso que visitar as orquídeas em sua plenitude. O Atlanta Botanical Garden foi fundado na década de 70, ocupa 10 hectares no centro da cidade, hoje é um centro de pesquisa em botânica sistemática, anatomia e fisiologia vegetal, é também um espaço de lazer e educação. Quem desejar mais informações sobre a instituição poderá encontrá-las no site: http://www.atlantabotanicalgarden.org/.
Antes de viajarmos nas cores e no perfume das orquídeas vale uma parada na estufa tropical (foto 1), uma floresta tropical indoor. Com uma umidade relativa de quase 100% e uma temperatura de 28o C o adentrar na estufa causa um grande impacto a quem estava na rua onde ocorre um inverno de quase 0o C. Grandes árvores de folhas largas, musgos, xaxins, samambaias, riachinhos me remeteram à floresta tropical chuvosa de Ilha Maurício (foto 2).
Para completar a aventura silvícola o fantasmagórico canto dos dendrobatídeos (foto 3), estes anuros coloridos extremamente venenosos (alimentam-se de ácaros que contêm alcaloides, estas moléculas se depositam na pele destes anfíbios, fazendo deles letais a quem os come) que se espalham pela mini floresta e muitas vezes deixam-se aparecer aos olhos mais atentos. 
Para que as plantas se sintam em casa literalmente chove dentro da estufa a cada cinco minutos. Chama a atenção as raízes aéreas de uma epífita do gênero Cissus que habita o teto da estufa. Chamaram-me a atenção as excêntricas e ardilosas Nepenthes, plantas insetívoras (carnívoras) da Ásia (foto 4). Detentoras de um engenhoso e pérfido mecanismo de atrair insetos desavisados para dentro de suas folhas modificadas, prontas para digerir seus corpos... Há quem pense que na natureza há moral ou ética...
  Saindo da estufa entramos no Fuqcua Orchids Center onde foram montados os jardins suspensos (fotos 5a e 5b). Sabe-se pouco da fascinação de Charles Darwin pelas orquídeas, extraordinário botânico, cultivou-as e estudou-as por muitos anos. Publicou o livro “Fertilização das orquídeas: as várias invenções pelas quais orquídeas são polinizadas por insetos”, demonstra a relação íntima destes vegetais e os insetos, bem como explica quais processos geraram formas tão variadas (fotos 6a-6b-6c e 7a-7b-7c). Darwin se impressionava – e com razão – pela diversidade de estruturas destas flores.
Fico imaginando o que havia de passar pela mente de quem descobria algo tão novo sobre a natureza ao deparar-se com evidências tão sólidas para sua teoria. Na exposição também pudemos ver a “Estrela-de-Madagascar” (Angraecum sesquipedale) (foto 8), uma orquídea cujo nectário possui quase 40cm. Darwin ao receber um espécime exclamou: : “Céus! Qual inseto poderá sugar esta coisa?!”. Anos depois foi descoberta a polinizadora da Estrela, a trombuda mariposa Xanthopan morgani (foto 9). Mais um caso que corroborava com elegante proposição de Darwin. Sobrevive quem se adapta. Quer adaptação mais flagrante que esta?
Ao sentir o intenso aroma das orquídeas e encher minha visão com suas cores lembrei-me muito do meu pai (que é botânico nas horas vagas), me mostrando os narcisos de seu jardim desabrochando e dizendo: “Que alegria me dá o mundo vegetal!”. Enfim, terminando esta viagem considero ter saboreado um grand finale.
Agradeço ao meu querido amigo e mestre Attico Chassot, à minha mãe e fotógrafa Adriana Barros Woodward e a todos os leitores deste blogue pela apreciação semanal dos meus diários de viagem. Hoje embarco de volta para Porto Alegre, onde reencontrarei meus amigos, familiares, alunos e trabalho. Estou com saudades.
Nota do Editor: Por problemas técnicos a diagramação deixou de corresponder à proposta do autor. Peço escusas ao Guy e aos leitores.
Encerro com um convite muito especial. Amanhã, como no último sábado, terá outra blogada com sabor chileno. Mas, desta vez, antípoda daquela última. Será um dia de poetar.

4 comentários:

  1. Caro Chassot,
    gostei muito do diário de viagem do Prof. Guy. As crônicas estavam bem elaboradas e abordando o essencial de cada visita.
    Gostei dos Jardins Suspensos de Atticodonosor: ele tem toda a razão.

    Um abraço, Garin

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  2. Caro Chassot,
    Muito delicioso o texto, por tratar daqueles que são os seres vivos mais interessantes do Planeta: as orquídeas. Parabéns para o Guy e para você pela postagem, JAIR.

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  3. Caro Attico e Guy,

    o registro imagético desta viagem do Guy me encantou bastante. Como recifense apaixonado pelo mar, o registro referente ao aquário foi o que mais me seduziu.
    Também gostei bastante da menção aos Jardins Supensos de Atticodonosor.

    Abraços,

    PAULO MARCELO

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  4. Attico amigo,

    Belo botânico texto que elucida sobre as características interessantes dessa flor!

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