quinta-feira, 12 de agosto de 2010

12- Cai exigência por crianças brancas na hora da adoção

Porto Alegre Ano 5 # 1470

Ainda é noite. Mas a temperatura – 16ºC com previsão de chegar a mais de 20ºC – parece de primavera nesse inverno que já passou da metade. Uma massa de ar quente chega sobre a região.

Encerrava a blogada de ontem celebrando o aniversário da Tile e do Paulo, meus

irmãos gêmeos. [Errei, ontem ao dizer da festa de despedida de Jacuí: era o terceiro aniversário dos gêmeos, e não o primeiro, como escrevi]. Esse período agustino era celebrações em nossa casa. Hoje é o aniversário de minha mãe: Maria Clara Wolkweiss Chassot. Há um ano fizemos a comemoração de seu centenário. Reeditamos, então, uma festa que fizéramos três anos antes celebrando o centenário de meu pai.

Há datas na história da humanidade que todos lembramos onde estávamos. Quem não será capaz dar detalhes de onde estava em 11 de setembro de 2001. Justamente quando as duas torres do WTC eram esboroadas eu enterrava minha mãe no bucólico cemitério do Faxinal, na zona Rural de Montenegro. No Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação há um capítulo que conta da cozinha de minha mãe.

Minha mãe tem esse nome porque nasceu no dia de Santa Clara, que era em 12 de agosto. Não sei por que mais recentemente a festa foi antecipada de um dia. Clara de Assis, enfrentando a oposição da família, que pretendia arranjar-lhe um casamento vantajoso, seguiu a São Francisco de Assis e fundou o ramo feminino da Ordem franciscana, também conhecidas como Damas Pobres ou Clarissas. Na vida desta santa, que faleceu em Assis em 11 de agosto de 1253, com 59 anos. Mesmo sendo do século 13, Santa Clara é reconhecida como padroeira da televisão, algo do século 20, pois um ano antes de sua morte Santa Clara assistiu a Celebração da Missa, sem precisar sair do seu leito.

Deixemos milagres e passemos para cotidiano. Na realidade de cada dia não há milagres. Há ao contrário muita notícia de tragédias. Mas também há heroísmos. Nesta segunda-feira, por não mais de 20 minutos assisti um tele-jornal. Todas (sim todas!) as notícias estava relacionadas com crimes e/ou tragédias. Quanto se encontra uma notícia boa vale trazê-la aqui.

Cai exigência por crianças brancas na hora da adoção. Percentual dos que fazem questão da cor passou de 70%, em 2008, para 38% Dados são de cadastro do Conselho Nacional de Justiça, que aponta "conscientização do instituto da adoção"

Eis uma notícia do Caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo do último domingo:

Quando a funcionária pública Reginalva Valente, 44, desistiu dos tratamentos para engravidar e partiu para a adoção, apontou a cor branca como característica da criança que queria a seu lado. Ilson e Reginalva Valente com seus três filhos adotivos

Ao visitar o abrigo de Sertãozinho, cidade do interior paulista onde mora, porém, mudou de ideia. Ela conheceu Tiago, um garotinho negro então com dois anos.
"Logo que o vi me apaixonei", diz Reginalva. Depois de Tiago, hoje com 5 anos, adotou Laiz, 3, e Paola, 8.
Reginalva integra um grupo cada vez maior: o de pessoas que abrem mão de adotar apenas crianças brancas.
A exigência caiu quase pela metade em um ano e meio.
Em 2008, na primeira análise dos dados do Cadastro Nacional de Adoção, 70% dos quase 13 mil pretendentes só aceitavam filho branco.
Neste ano, entre os 28 mil que estão na fila, a percentagem é de 38% -29,6% são indiferentes à cor e 1,93% aceitam apenas crianças negras.
Os dados do Conselho Nacional de Justiça, responsável pelo cadastro, mostram uma aproximação da expectativa dos futuros pais com a realidade: 65% das crianças para adoção são negras, pardas, indígenas ou asiáticas.
"Houve uma maior conscientização do instituto da adoção. Se você vai adotar está exercendo um ato sublime de amor. Então por que adotar só uma criança branca?", diz o juiz Nicolau Neto, responsável pelo cadastro.
Para ele, a diminuição se explica também pela percepção de que, com menos exigências, o tempo de espera por uma criança diminui.
Neto cita ainda uma eventual mudança no perfil de quem adota: há mais pardos e negros. O CNJ não registra a cor dos pretendentes.
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, da UFRJ, a mudança num curto espaço de tempo é explicada pela imitação que as pessoas fazem, mesmo inconscientemente, do comportamento daquelas com prestígio na sociedade.
"Quem os famosos estão adotando? Crianças brancas ou negras?", afirma, citando Angelina Jolie e Madonna.
Ela cita ainda a maior discussão sobre racismo e a mudança no conceito de adoção. Antes, diz, era normal adotar e não contar aos filhos e à sociedade. Hoje, contar é considerado adequado, afirma.
O número de pessoas na fila da adoção ainda é cinco vezes maior do que o de crianças à espera de um lar.
Isso se explica, em parte, pelo fato de algumas exigências dos pretendentes continuarem praticamente inalteradas, como a preferência por crianças de até três anos e sem irmãos.

A adoção não pode nunca ser uma tentativa de simulação do que biologia negou". Bárbara Toledo, presidente da Associação dos Grupos de Apoio à Adoção, mãe de três filhos biológicos, brancos, e dois adotados, negros

Com os votos de uma excelente quinta-feira o convite para nos lermos aqui, amanhã.

10 comentários:

  1. "oi Sor"!!!
    Que saudades de nossas aulas, sempre que posso dou um "pulo" pelo seu blog para saber as novidades e por onde anda o sr. Adoro quando o sr viaja pois relata tão bem os lugares no blog que quase me vejo lá no lugar em que esta também! (risos).
    Abraços
    Janice Pacheco

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  2. Finalmente consegui ser a primeira a postar um comentario!!!
    e justamente hoje!!! que coincidencia maravilhosa! não é mesmo?

    MUito bacana ler seus comentarios a respeito da Santa Clara....
    é muito interessante para mim, ler sobre a vida da pessoa que instigou minha mãe a dar a mim o nome que tenho....
    Obrigada pelos recados que me enviou em virtude do dia de hoje...fico muito feliz pela lembrança!

    Não obstante, é muito enriquecedor ler reportagens de cunho social tal como a que postastes....é muito bom constatar que o país está modificando alguns paradigmas, seja por consciencia verdadeira ou por "estar na moda"...
    pelo menos algumas barreiras contra o preconceito estão caindo....

    Deixo aqui um super beijo no teu coração...
    De quem muito te gosta e admira...
    Chiara Francesca Corsatto
    ou...
    CLARA FRANCISCA CORSATTO...não é? rsrs

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  3. Muito querida Janice,
    que surpresa querida. Na expectativa de me chegar minha resposta a teu comentário, busquei três endereços que tenho, pois este que está indicado não o possuo.
    Tenho lembrado muito de ti e de teus colegas da Filosofia do Centro Universitário Metodista - IPA, enquanto meus queridos ex-alunos. Este semestre vocês me fazem particularmente muita falta. Tu sabes por quê!
    Que bom que de vez em vez apareces aqui,
    Um afago com saudades,

    attico chassot

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  4. Muito querida Chiara Francesca,
    fico muito contente que te sentiste homenageada nas evocações de tua celeste padroeira.
    Realmente esta notícia da ‘não preferência por crianças brancas, de olhos azuis e cabelos loiros’ é por demais auspiciosa e animadora.
    Um muito bom dia, onde foste a primeira querida comentarista,

    attico chassot

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  5. E pais negros, será comum adotarem crianças brancas?

    Sabe, fico com aquele nó da dúvida quanto a motivação: se for pela moda, bom, a moda passa e ficam os filhos. E ai? A ausência da consciencia verdadeira, como escreveu a Clara, é periférica, logo substituível, neste caso, se não houver o amor.
    mas... como canta aquela música:
    santa Clara clareoou, e aqui vai clarear quando chegar, os meus caminhos ^^

    abraço!

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  6. Muito querida Marília
    ~~ com cópia para Chiara, por ter sido referida ~~
    sempre sábios e reflexivo teus comentários. Trazes dois questionamentos relevantes: está na moda adotar afros, ¿e depois? E outro: os afros adotam brancos?
    Que santa Clara e são Francisco clareiem caminhos.
    Um afago com saudade
    attico chassot

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  7. Que boa notícia.O preconceito tem que acabar por partes do negro e do branco.Amemos o ser humano, pelos valores morais( em todos os sentidos)

    Com carinho
    Isa

    Aguardo sua visita

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  8. Muito querida Isa,
    realmente a notícia é de causar emoções, especialmente de deixar de haver discriminações entre as diferentes etnia.
    Um afago do
    attico chassot

    attico chassot

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  9. Professor,
    Apesar do atraso do "post" não poderia deixar de mencionar um sonho que tive....
    Eu sonhei que tinha saído de casa para adotar UMA criança e cheguei em casa com SETE crianças adotadas... A minha esposa (no sonho, que na verdade até hoje tenho apenas rolos) começou a me xingar, dizendo que eu fiz a coisa mais errada do mundo, pois todos nós passaríamos fome. Ela, eu e as SETE crianças chorando.... E eu disse: "Eles não são animais. Eu peguei um no colo e o outro começou a chorar e assim sucessivamente... Eles não são gatinhos para eu escolher um e deixar os outros".... No meio do choro eu acordei.
    Eu acho que tive este sonho porque tem uma coisa que me incomoda muito: A data de validade das crianças que estão para serem adotadas. Negros com mais de 2 anos, as possibilidades de adoçao são diminutas...
    Ainda bem que o quadro começa, aos poucos, ser pintado de outra(s) cor(es). Há esperança e espero que ela não venha a morrer....
    Abraços

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  10. Meu muito estimado Edmar,
    primeiro dizer que não há comentários atrasados. Já disse que um blogada é diferente de jornal velho, que só serve para enrolar peixe. Recebo, às vezes, comentários meses depois.
    Não sou psicanalista interpretar sonhos. Mas este é mais fácil do que aqueles que José interpretou para o Faraó.
    Traduz, por primeiro e acima de tudo a tua generosidade. Há outrss interpretações laterais que abstenho de fazer aqui.
    Sonhamos com novos horizontes para a adoção.
    Uma boa segunda quinzena agustina.
    Com estima e crescente admiração,
    attico chassot

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