terça-feira, 25 de maio de 2010

25* Qualificação à distância


Porto Alegre Ano 4 # 1391

Abro essa blogada deste 25 de maio, fazendo uma homenagem aos ‘hermanos’ argentinos, que no dia de hoje não apenas celebram o Dia da Independência, mas o fazem na celebração do bicentenário de 25 de maio de 1810, quando se separaram da Espanha. Tenho amigos argentinos, alguns eventuais leitores desse blogue e também por isso essa homenagem. Aqui a madrugada se faz com relâmpagos que anuncia a chuva que se avizinha.

Aula na UAM - Universidade do Adulto Maior na tarde de ontem

– meu momento de auge acadêmico semanal – merece contemplar um registro nesse diário de um mestre-escola. Além de na ‘hora da rodinha’ o assunto unânime ter sido ‘a criação de vida ‘artificial’, ontem discutimos a revolução freudiana. Mostrar por exemplo que Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas, foi significativo. Evidenciar o quanto essa teorização foi/é alvo de preconceitos foi muito significativo. Foi destacado, por exemplo, que trazer charges como a que ilustra esse parágrafo já traduz uma quebra de paradigma, pois isso não seria admissível fazê-lo, há não muitos anos, em uma sala de aula.

Ainda um comentário acerca da nova ‘Folha, o jornal do futuro’: minha carta não foi publicada. Mesmo que reconheçam que a maioria da correspondência dos leitores fosse acerca do tema, só estão publicadas mensagens laudatórias, algumas tendo o feito como estupendo. Hoje o jornal me pareceu ainda mais impalatável. Sobre jornais de ‘segundas feiras’ vale ler nos comentários da edição de ontem a resposta ao meu questionamento dado pelo jornalista e historiador belenense José Carneiro. Eis uma suma preciosa do mesmo: Parafraseando alguém [...], se soubéssemos como são feitos os embutidos e os jornais de segunda-feira, não cometeríamos aqueles e nem leríamos estes.

Tinha planejado na última sexta-feira algo do meu cotidiano da véspera, mas a notícia da descoberta de um provável caminho da vida artificial me fez, subitamente mudar a pauta. Assim conto, aqui e agora, o então protelado: minha quinta-feira foi, quase exclusivamente, gasta (ação verbal refinadamente escolhida) com uma dissertação de mestrado da qual devo dar parecer para uma sessão de qualificação.

Vou transcrever excertos da abertura de meu parecer. Retomo no me meu prelúdio dois temas que meus leitores que me acompanha há mais tempo já viram referir. Permito-me, como a sessão de qualificação só ocorrerá em 02 de junho próximo, suprimir detalhes que possam identificar a instituição.

Primeiro começo com uma manifestação de descontentamento que não é endereçada à mestranda. A Universidade XPTO, como muitas outras Universidades públicas e privadas, adere de uma maneira simplista à solução do problema de falta verba para as sessões , de qualificação de Projetos de Dissertação e Tese. É fantástica a criatividade na solvência de problemas desta natureza: corta-se, e tudo se resolve. Pede-se um parecer por escrito e se economiza deslocamento do avaliador externo (o que para mim parece muito confortável nesses tempos em que nossas agendas parecem não comportar viagens! Não poderia estar aqui, ao vivo, antes de julho. Não seriam poucas as horas de aeroporto e de voos que essa opção, que antes critiquei, poupou-me!). Mas, ninguém de nós discute o quanto as sessões de qualificação são academicamente mais importantes que a defesa propriamente dita. Nestas, pouco podemos influir; enquanto naquelas, deveria se esperar que, com uma interação entre examinadores e a autora ou o autor da proposta, se estabelecesse construtivo diálogo buscando aperfeiçoar o projeto. Tenho dito que não há atividade acadêmica que tenha o nome mais posto que a ‘qualificação’ pois nesta aquilo que se faz é tentar qualificar o trabalho do mestrando ou do doutorando. Logo, não vamos acreditar que com um parecer enviado, às vezes de uma maneira anódina, ou produzido no reduzido espaço de menos de duas semanas (foi apenas esse o tempo que tive na proposta em tela), nos intervalos dos muitos fazeres que nos assoberbam em um semestre a pleno, se tenha a mesma produtividade se comparada com uma discussão presencial, olho no olho. Quem sabe estamos já ensaiando a pós-graduação à distância, que parece até estimulada pela CAPES. Meu descontentamento a esta alternativa aumenta, por já ter participado de situações como a de agora da qual sequer recebi um retorno da sessão. Repito essa crítica nada tem a ver com a Maria e não é exclusiva à Universidade XPTO. Uma e outra também são vítimas da realidade de aligeiramento e barateamento que estão submetidas pós-graduação brasileira. Para diminuir custos temos que convir que um parecer por escrito; este caberia muito mais na sessão de defesa final do que na qualificação, pois esta a meu juízo é quase o ápice dos atos de alguém fazer-se mestre ou doutor.

Adito a esse descontentamento uma manifestação, agora, endereçada à Maria ou talvez às normas do Programa de Pós Graduação em Educação da UXPTO. Quando se faz uma proposta de dissertação crítica como esta, onde se vê a sensibilidade da mestranda na contextualização de suas ações em problemas que são relevantes, não se pode esbanjar papel como foi feito nessa proposta. Economizar papel é, além de protegermos o Planeta, também uma maneira de protestarmos contra sanha voraz das papeleras – indústrias predadoras, que com a plantação extensiva de eucaliptos, transformam em desertos extensas áreas do Brasil. Poderia haver, diminuição dos espaços nas indentações e entre parágrafos (uma boa maneira de nos insurgirmos contra a ditadura da ABNT) e, especialmente, a proposta poderia ter sido impressa em frente e verso. Teria sido economizado nas prováveis cinco cópias produzidas para esta sessão, 5 vezes cerca de 1000 páginas e não ficaria tão flagrante alguns desperdícios de folhas com menos de meia página de texto. Poderiam ter sido economizadas mais de 500 folhas (=2,5 calhamaços como este que temos em mãos para avaliar): o bolso da mestranda e o Planeta agradeceriam. Vale serem esquecidas algumas normas da ABNT que parecem que feitas para alimentar o bolso de revisores que cobram por página. Com essas desobediências ganha a natureza e ganham, também, mestrandos e doutorandos.

Minhas manifestações destes dois tópicos – parecer a distância na qualificação e economia de papel – não são originais aqui. Alguns Programas de Pós Graduação já estão exigindo de seus alunos proposta e mesmo trabalhos finais em frente e verso.

Isso posto, quero ainda acrescentar o privilégio de estar na companhia – mesmo que virtual – de minhas colegas ABC, que orienta a Maria, e DEF. Essa defesa me faz evocar ter estado nesta UXPTO, em 2002, participando de um evento acerca de Etnicidade no contexto de uma sociedade multicultural, guardando de sua Biblioteca saborosa recordação. Em 2003 publiquei um artigo na revista Totius. Assim, estar neste Programa de Pós Graduação em Educação desta Universidade me traz satisfação. Por tal sou grato também à ABC e à Maria pelo convite.

Termino esses comentários preambulares. Vou dividir meus comentários de fundo em duas dimensões. Primeiro falo quanto à forma e depois discorro quanto ao conteúdo. Permito-me considerar que a partir de agora esteja fazendo um monólogo com a Maria. Com pedido que os meus colegas de banca relevem, o texto que se segue pode ser pensado como uma missiva à Maria. Que saudade dos tempos em que havia diálogos, quando das qualificações!

E então prossigo no que anunciei: comentários em duas dimensões. Agora desejo uma muito boa terça-feira.

5 comentários:

  1. Prezado Attico, tentanto retornar ao que chamam vida urbana, entro no teu 'cantinho' da rede para matar saudades.Teus artigos iluminados me encantam e também me mantém informada de muitos acontecimentos e sobre diversos assuntos.Fico admirando os amigos que tem por hábito escrever, ou seria hobby, segundo meu amigo Vicente Rubino.
    Abraços.

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  2. Muito querida Juscelita,
    que bom que voltaste, Estava com saudades! te imaginava em peregrinação educadora pelo Brasil falando acerca dos cuidados que temos que ter para que aqueles que aqui estiverem depois de nós tenham uma terra habitável.
    Aliás, fui brindado com uma dupla volta tua. Recebi também tua mensagem com fotos dolorosas que mostram como os humanos (des)cuidam do Planeta.
    Obrigado por teus comentários. Concordo com o Vicente Rubino. Escrever é um hobby ou quase uma obsessão.
    Mas é muito bom.
    É bom ter de vez em vez um comentário teu.
    Um afago de bom retorno
    attico chassot

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  3. Gracias querido Maestro!!

    Aprovecho para contarte que el viernes regresé de Italia, donde entre otras cosas estuve en Campo di Fiori brindando con nuestro amigo Bruno, cuyas llamaradas iluminan cada vez con más fuerza!!!

    Un abrazo bicentenario,

    Enrique

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  4. Gracias querido Maestro!!!!

    Aprovecho para contarte que el viernes regresé de Italia donde, entre otras cosas, estuve en Campo di Fiori brindando con nuestro amigo Bruno, cuyas llamaradas iluminan cada vez con más claridad!!

    Un abrazo bicentenario,

    Enrique

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  5. Muy querido amigo Enrique,
    primero la manifestación de agradecimiento por tu presencia en este blog. Que emoción fuerte saber que has estado en Campi di Fiori. Imagino le fuerte sensación de la presencia de Bruno como aquel de 17 de febrero de 1600.
    Un abrazo bicentenario muy fraterno
    attico chassot

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