Porto Alegre Ano 4 # 1372 |
Chegamos a uma sexta-feira, onde as quatro postagens anteriores foram distantes da Morada dos Afagos. Deste ontem, à noite, estou retornado. Talvez por primeiro devesse começar pela justificativa do título que encima essa edição: Peripatéticos pós modernos. Uma vez mais socorre-me a Wikipédia.
A Escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente seguia os ensinamentos de Aristóteles, o fundador. Fundada cerca de 2350 A.P., quando Aristóteles abriu a primeira escola filosófica no Liceu em Atenas, durou até o século IV.
"Peripatético" (em grego, περιπατητικός [assim grafada em cartaz da VII AFHIC na entrada do hitel]), é a palavra grega para 'ambulante' ou 'itinerante'. Peripatéticos (ou 'os que passeiam') eram discípulos de Aristóteles, em razão do hábito do filósofo de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava preleções, por sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como perípatoi, ou sob as árvores que o cercavam.
A escola sempre teve uma orientação empírica - em oposição à Academia platônica, muito mais especulativa. A Academia de Platão (também chamada de Academia Platônica, Academia de Atenas ou Academia Antiga) é uma academia fundada por Platão, aproximadamente em 387 a.C., nos jardins localizados no subúrbio de Atenas, consagrados à deusa Atena e que tradicionalmente haviam pertencido ao herói Academo. Caracterizou-se, inicialmente, pela continuidade dos trabalhos desenvolvidos pelos pitagóricos, com os quais Platão mantinha estreita relação: particularmente com seu mestre Teodoro de Cirene e Arquitas de Tarento. É considerada a primeira escola de filosofia. Nela ingressou Aristóteles, com 17 anos de idade. Mulheres eram admitidas na Academia, mas (se diz sem que haja fontes seguras) tinham que se vestir como homens.
O mais famoso membro da Escola peripatética depois de Aristóteles foi Estratão de Lampsaco, que incrementou os elementos naturais da filosofia de Aristóteles e adotou uma forma de ateísmo.
Mas por que tão longo preâmbulo? Ou talvez na avaliação de um leitor mais crítico: por que uma ‘aulinha’ envolvendo a trindade maior (Sócrates, Platão e Aristóteles) da filosofia ocidental? Já era quase 20h, quando chegávamos a Porto Alegre, tendo enfrentado um quilométrico engarrafamento na BR116, eu disse à Esther Dias: “A Gelsa, tu e eu devemos nos considerar, depois desta jornada [que começara às 9h da manhã em Canela], como paripatéticos pós-modernos!”. Ela respondeu: “Plenamente de acordo!”
Foi uma quinta feira emocionante. Ao encerrarmos nossa participação no VII Encontro de Filosofia e História da Ciência do Cone Sul, nós três ainda acompanhados da filósofa Silvia Rivera, professora titular da Universidade de Buenos Aires, fizemos lindos passeios na manhã ensolarada e céu muito azul. Primeiro fomos ao Parque do Caracol, onde passeamos entre as araucárias e nos encantamos com a linda cascata.
Em seguida fomos ao ce
centro da cidade de Canela, onde visitamos a imponente igreja de pedra (foto). Foi bom violar a lei do silêncio que se pede nos templos
e assistidos pelos vitrais multicoloridos, dialogar com a Esther sobre as leituras de mundo com religiões, que oferecem conforto aos seus fiéis – na esperança de uma vida futura – quando estes perdem uma pessoa querida.
Depois fomos a Gramado, onde caminhamos por mais de uma hora por suas
ruas mais centrais. A Gelsa e eu, que há um tempo tivemos ali local de passagem de férias, nos surpreendemos, negativamente, com o ‘forçamento de barra’ para travestir a cidade de cada vez mais turisticamente caricata. Almoçamos em Gramado, e voltamos à Canela, tendo as duas colegas argentinas se encantado com as maravilhas do Vale do Quilombo (foto) para deixar a Silvia no hotel, pois ela só a teremos como hóspede a partir de amanhã.
Então começamos o retorno a Porto Alegre, voltando a Gramado. Nossa opção então foi fazer o retorno por Nova Petrópolis. O denso triálogo que tecemos então
só era que interrompido por ou por para chamar a atenção das belezas da “rota romântica” margeada por árvores multicolorida (foto). Depois de percorrê-la, passando por Linha Imperial e Nova Petrópolis, tínhamos ainda 90 km de BR-116, também de paisagem muito linda.
É impossível descrever a intensa conversa. O atraso de mais de uma hora não foi sentido. Talvez pudesse traduzir em uma cena, a densidade do amealhar aprendizagem. Quando a Gelsa estacionou o carro na garagem do San Juan, dando por encerrada a viajada dos peripatéticos, ficamos, cerca de 10 minutos sentados no carro continuando a conversar, como não querendo encerrar a conversação. Se alguém quiser ter uma idéia do privilégio que a Gelsa e eu tivemos, visite www.estherdiaz.com.ar e veja a produtiva trajetória acadêmica dessa mulher que é hoje, talvez, uma das mais ousadas filósofas argentinas. Feito isso, será fácil verificar o quanto vivi privilégios ontem. Ao que se pode ver ali poderia aditar a simplicidade e generosidade da intelectual que iniciou a sua conferência na quarta-feira agradecendo seus dois anjos da guarda no Brasil: Gelsa e Attico.
Com o advento da sexta-feira se acena um fim de semana. Que aquela e este seja muito bons. Até amanhã.
Heim, Mestre, por acaso vocês foram presenteados com alguma publicação da Professora Esther? Pergunto por que, não faz muito tempo, li um texto sobre comunicação que fazia referencia a uma obra dela, se não me engano “A ciência e o imaginário social”, mas não encontrei nas bibliotecas....
ResponderExcluirAbraço e desejo de um final de semana... Maternal!
Querida Marília,
ResponderExcluirobrigado por tua visita aqui. Sei que Esther Dias trouxe livros para curso que dará na Unisinos nesta terça e quarta feira, Vou ver quais os títulos disponíveis. Já tenho alguns títulos dela, que posso te emprestar.
Um convite para assistires Ágora amanhã no Philo-Cine que será tema da blogada de amanhã
Com estima,
attico chassot
Puxa, aceito o empréstimo, sim.
ResponderExcluirQuanto ao Philo, neste final de semana irei, SEM PRESENTES, abraçar minhas mães amadas.
Mas o nome do filme é "Agora Amanhã"?
Marília querida,
ResponderExcluirÁgora é o título de um filme espanhol dirigido por Alejandro Amenábar, lançado na Espanha, em 9 de outubro de 2009. O filme é estrelado por Rachel Weisz e Max Minghela e relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. Durante o relato, a história apresenta uma licença romântica, incluindo uma ligação entre Hipátia e um de seus escravos.
Desejando o melhor fim de semana maternal
um afago do
attico chassot
Estimado Professor Chassot,
ResponderExcluirTive pouco tempo para ler suas postagens, mas já estou encantado. Parabéns mesmo!
Vou deixar aqui minha "interpretação" do seu maravilhoso passeio. Conquanto peripatético, é mais do gênero epicurista, no melhor sentido da palavra. É passear pelo "jardim", ao lado de amigos, conversar, fruir a vida; mas com a felicidade de o jardim ser o mundo aberto, aquela beleza vertiginosa das serras, os plátanos multicoloridos, as araucárias imponentes, e as cachoeiras que se pode segurar na mão.
Um grande abraço de um futuro leitor,
Renato Kinouchi.
Meu caro amigo e colega Renato,
ResponderExcluirpoderia dizer que com um crachá meu apresentou um parceiro no fazer alfabetização científica. Foi a tua curiosa interrogação acerca do metodismo que nos ensejou o encontro. É um privilégio saber-te provável leitor. Espero possamos ser mais uma vez um pouco paripatéticos na Serra ou no ABC.
Com estima
attico chassot
Querido Professor,
ResponderExcluirPermita-me dirigir-lhe mais algumas palavras.
Faz muito tempo que deixei de ser metodista, mas nunca deixei de admirar a John Wesley, que ia de cidade em cidade, em sua montaria, e após os sermões (muito sofisticados, por sinal, dada sua formação) arrecadava dinheiro no intuito de construir igrejas, hospitais e escolas. Bons tempos aqueles... Eu acabei supondo que você pudesse ser teólogo, mas descobri que se trata é de um sábio, que me honra ao chamar-me de amigo.
Vou fazer o que estiver ao meu alcance para que nos brinde com uma visita. A paisagem do ABC não rivaliza com as belas paragens do Rio Grande, mas posso garantir alguns passeios que você e Gelsa poderão apreciar. No que concerne ao trabalho, temos um grupo de mais ou menos 18 pesquisadores dedicados à área interdisciplinar de Filosofia, História e Ensino de Ciências e Matemáticas. Seu amigo Ubiratan D'Ambrosio já nos visitou algumas vezes, e é uma de nossas fontes de inspiração e apoio.
Já li mais alguns de seus posts e, pode ter certeza, passei de provável leitor a admirador.
Renato.
Muito estimado colega e amigo Renato,
ResponderExcluirMuito obrigado por teu novo comentário [deste me aditei te posso fazer cópia, pois uma desvantagem do blogspot, onde estou a quase meio ano é não fornecer o endereço dos comentaristas; o teu busquei no livro de resumos do VII AFHIC]. Obrigado pelo convite para que possa em um momento falar na UFABC. Certamente no segundo semestre teremos oportunidade de estarmos juntos. Quanto ao metodismo, recordo sempre o quanto ele é coerente com uma frase de John Wesley que uma vez vi em um monumento. “O mundo é minha Paróquia”. Encontro coerência na prática educativa.
Alegro-me seres leitor aqui
attico chassot