sexta-feira, 30 de junho de 2023

30/06/2023 … Os estatutos do Homem

 

    ANO

 16

LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br

EDIÇÃO

 3110

Esta é a última edição junina deste 2023. Encerramos o despedir do primeiro semestre de 2023 ou primeiro dos oito semestres do terceiro mandato do Presidente Lula. Volto a primeira das cinco blogadas juninas. Gostaria despedir junho e iniciar julho estando, uma vez mais, em Parintins AM e reencontrar os bois Garantido e Caprichoso prenhes de míticas narrativas, marcadamente presente nas celebrações deste fim de semana amazônico. 

Inaugurei o primeiro blogar junino convidando Jacques Maritain (*1882 †1973) — filósofo católico, autor de mais de sessenta obras e um dos pilares da renovação do pensamento tomista no século 20 —, que me ensinou, quando ele fala de como conheceu sua futura esposa — Raissa Maritain (*1883 †1960) russa e judia de nascimento, escritora, poeta convertida à Igreja Católica Romana —, que ‘Deus rege o mistério dos encontros’.

A celebração de minha (quase) ressureição quando na edição pretérita comemorei um ano do acidente que mudou radicalmente minha vida. Houve uma colega que opinou: Comemoro contigo essa ressurreição. Concordo que a velhice não é lá essas maravilhas, mas entre duas é a melhor opção. Tenho pensado muito na frase de Maritain. Por coerência, a parafraseei, numa leitura politeísta e agnóstica: os anjos que cuidam de nossas agendas, de vez em vez, nos brindam com encontros sumarentos. Nas 3,5 horas de voo Manaus/Guarulhos (ainda, antes da decolagem e depois do desembarque em S. Paulo) frui de uma companhia sumarenta: ‘sou Thiago de Mello’ e eu perguntei ‘és aquele de Os Estatutos do Homem’? Sílvia Chaves, minha colega de partilhar aulas na UFPA em Belém vibrou com meu privilégio. Encontro maravilhoso esse teu com Thiago de Mello. Quisera eu ter presenciado essa congregação de pensamentos luminares. Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem, onde o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana. A preservação da Amazônia era tema presente em sua obra.

 Duas edições juninas (Primeira & Quarta) sã aqui trazidas para a tessitura desta quinta. E esta se faz prelúdio a um ofertório que vem a seguir: Estou oferecendo Os Estatutos do Homem a cada uma e a cada um dos meus leitores: certamente não trago novidades a maioria. Mas também surpresas podem estar esquecidas. Vale reler! Parece que cada artigo está sendo lido a primeira vez. Leia! Releia! Surpreenda-se!

Os Estatutos do Homem

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.


Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.


Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.


Artigo IV

Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.


Artigo V

Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.


Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.


Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.


Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.


Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.


Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.


Artigo XI

Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.


Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.


Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.


Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello

Santiago do Chile, abril de 1964


sexta-feira, 23 de junho de 2023

23/06/2023 … RECÉM FAZ UM ANO..../ JÁ FAZ UM ANO.....

 

    ANO

 16

LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br

EDIÇÃO

 3109

Este ano marcarmos o dia 20JUN como o inicio do inverno, no hemisfério Sul, parece ter sido um evento apenas simbólico. Por exemplo, os gaúchos amargam ainda um tétrico Ciclone extratropical que matou e feriu  humanos, animais e vegetais, na inauguração do inverno2023 (pelo calendário astronômico), depois de um verão/outono inclementemente seco. Ao lado de diversos calendários que compartilhamos comunitariamente todos nas temos diferentes calendários exclusivos, não raro secretos. Estes, em diferentes situações, têm coparticipes.  

Eu vivo uma celebração muito especial. Há um ano (no exato 21/06/2022) quando vivia-se o início do inverno 2022 eu vivi, talvez, o dia mais significativo de toda minha octogenária jornada terrena. Permito-me um autoplágio. Uso um excerto do blogue de 23/09/2022, omde narro três messes de sofrida ausência aqui: O blogar desta sexta-feira é muito especial. Termina o inverno. Começa a primavera. Não me relaciono bem com o dito inferno astral. Quando da última edição deste blogue, em 17 de junho, parece que prognosticava um inverno baixo astral. Escrevia então: esta é a penúltima edição deste lento primeiro semestre 2022. Mesmo que a primavera começasse ontem às 20h04min, a despedida do inverno foi/é com aquele frio gélido dito como os ventos de finados. Houve uma penúltima edição… mas, não houve (e não haverá!) uma última edição no já passado primeiro semestre de 2022. Durante os 16 anos deste blogue nunca deixei de postar pelo menos uma edição semanal. Houve períodos em que as edições eram {!pasmem!} diárias. Mesmo em férias, não esquecia meus leitores. Houve quem dissesse viajar comigo. Neste inverno não apenas deixei de publicar qualquer edição, como não signifiquei explicações para o meu silêncio. Retorno a 21 de junho, terça-feira -- primeiro dia do inverno no Hemisfério Sul -- este parecia não oferecer mais do que um dia chuviscoso e muito frio. Na minha agenda dois compromissos: pela manhã uma fala acerca de uma alfabetização digital como uma necessidade moral na UFMT no campus de Sinop MT. Era, então, acolhido pela Patrícia Rosinke que fora minha orientanda no doutorado na Reamec. Estudamos as miscibilidades entre o sagrado e o profano nos Quatro Elementos Alquímicos. Isso gerou um livro. Atribuí nota 5 (de 10) à minha fala matinal. Fiquei devendo algo melhor. Na parte da tarde a situação foi diferente. Tinha, compartilhado com minha colega Alessandra Rezende, dois de três tópicos da penúltima de 15 aulas de História e Filosofia da Ciência na graduação da Unifesspa. Ocorreu um imprevisto, talvez catalisado pela atividade da manhã: adormeci no breve intervalo que fora proposto. No segundo tempo, a Alessandra acolheu minhas explicações e disse que já reorganizara a aula. Eu fiquei muito atrapalhado. Em 62 anos como professor não tivera antes esse impasse. Lembro (aceito que muitos de meus relatos sejam ‘viajadas’!) que procurava acessar uma tomada para carregar a bateria do celular. Adormeci. Acordei. Três episódios eram visíveis: 4 ou 5 gotas de sangue no chão onde estava deitado; um dedo quebrado (para recordar a infância: Minguinho, Seu Vizinho, Pai de Todos, Furabolo, Mata Piolho). Depois soube de fraturas de duas costelas e mais 3 ou 4 fraturas nasais. Ainda uma dolorosa consequência: não podia levantar para caminhar. Isso impedia de chegar ao telefone para pedir ajuda. Um trecho que fazia em 10 segundos, levei mais de uma hora, me arrastando no chão. Não podia abrir a porta. A tarde se fez noite gelada. Depois de cerca de seis horas chegaram Zelma e João Paulo (= os dois anjos que me salvaram), que tinham a chave de entrada de minha morada. Estavam preocupados com minhas não respostas na minha longa ausência. Não tive forças para cantar o Aleluia de Handel, para celebrar uma renovada VIDA. Só queria um banho quente e ir para minha cama. Saboreava aquele que passaria ser o melhor iogurte do mundo. Chegam 2 paramédicos: devo ser levado ao Hospital Moinhos de Vento! Não previra isso. Na ambulância, sou informado que o HMV não tinha plantão de traumatologia naquela hora. Levam-me para o Hospital Pronto Socorro. Fico em uma movimentada Emergência. Durante a noite e pela manhã, sou entrevistado por especialistas de diferentes áreas médicas. Primeira pergunta que não sabia responder: como o senhor se machucou? Inventei. Fantasiei. Pelas 10h da manhã, depois de prometidas e esperadas altas, fui informado que familiares estavam na recepção aguardando minha alta. Vibrei por voltar para casa, sem nada grave a curar. Ledo engano. Meu destino era o HMV. Fico na Emergência lotada. Fantasiava. À noite, no segundo dia, sou transferido para UTI. Novas fantasias, como estar numa unidade do HMV em Capão da Canoa. Muitos exames sofisticados em diferentes áreas. Na sexta-feira -- quarto dia de investigações, sem respostas à pergunta: por que na tarde de terça-feira o senhor caiu? -- fui transferido para um quarto privativo. Fiz exames sofisticados: tomografia do crânio e tomografia do coração e muitos outros. Quando do meio-dia do 8⁰ dia de hospitalização aguardo a realização de um estudo eletro fisiológico. No dia 14 de julho (24⁰ dia de internação) tenho alta do segundo hospital. Parto com um anunciado ‘impulsos para uma vida longa’ ou um CDI = Cardioversor Desfibrilador Implantável. ♤♡◇♡ NOTA IMPORTANTE: As informações médicas deste texto não estão avalizadas por médicos.♤♤♤♤ Alerto ao meu leitor que não vou trazer mais narrativas destes dois primeiros hospitais; nem dos 12 dias no Hospital Mãe de Deus, um mês depois do HMV. Mesmo que de maneira continuada recebesse recomendações do tipo ‘aproveite para descansar’ as rotinas (= os protocolos) são tão intensas que eu não amealhei substantivas narrativas. Tentei entender algo da imigração alemã católica e alemã luterana no Rio Grande do Sul e as relações hospitalares (como as escolares). Tenho alguns relatos que podem se converter em blogares. As próximas edições não serão hospitalares. Já prometo sumarentas resenhas. Encerro partilhando a cereja do bolo: dentre várias palestras e bancas já agendadas para este último trimestre tão sonhado deste 2022 não raro tétrico, ontem recebi uma notícia completamente imprevisível, mas muito querida: o Professor Janio Alves, diretor do Colégio Israelita Brasileiro, me convidou para receber homenagem, ex-diretoras e ex-diretores, no próximo 20 de outubro, por ter sido diretor do Israelita há 30 anos (há 60 anos fora professor do Israelita). Vivo emocionado este convite inenarrável. Trago uma informação pessoal na última edição de quando o ano 2022 se esvai: o número de dias (41) em três hospitais em 2022 é maior que o total como hospitalizado nos meus anteriores 82 anos. Vale lembrar a causa e as consequências do ocorrido na primeira tarde de inverno no Hemisfério Sul, quando buscava chegar a uma tomada para ligar um smarthphone. As consequências do ocorrido são lembradas a quase cada mo momento (especialmente quando preciso levantar-me estando sentado em assentos muito fofos).  Passado um ano do meu dito acidente doméstico! Não posso sair sozinho. Tenho dificuldades com equilíbrio que ocasiona quedas (proprio do Parkinson). Estas quedas ocorrem também pelas calçadas de Porto Alegre. 

Não cabe aqui e agora detalhar as concepções cartesianas de medicina produzidas para que se viva mais e melhor. Trouxe o tema como contra exemplo da medicina que ‘nos cuida’ hoje. No meu recente périplo por três hospitais ratifiquei o quanto somos cada vez mais tratados por especialistas que diagnosticam o ouvido direito, mas não são capazes de fazer um prognóstico do ouvido esquerdo. Parece -- e a observação é muito pessoal -- que sabemos muito pouco acerca dos diferenciados metabolismos de nosso corpo. Trago um exemplo: uma tarde, no terceiro hospital (portanto, já há mais de 37 dias de meu medicalizado inverno 2022), entra um médico e afirma: vamos tirar líquido da pleura. Pergunto (por não saber o que dizer): quando? Resposta: agora. A aparelhagem do médico é ínfima. Um anestésico faz a punção de uma agulha ser indolor. Por sucção um recipiente vai coletando um líquido quase transparente. 1,5 litro informa o médico do lado esquerdo; em outro dia retiraremos do lado direito. Convoco minha leitora ou meu leitor a imaginar uma garrafa de água mineral de 1,5 litro alojada no lado esquerdo. Eu não sabia onde se localizava a pleura. Mais! Eu nem sabia o que era pleura; muito menos que eu tinha pleura. Aliás, devo reconhecer que meus conhecimentos anatômicos são sofríveis. Sou um contra exemplo das concepções cartesianas acerca do autoconhecimento de meu corpo. 


Vale ler o bloque de 05/05/2023:
que as panturrilhas são consideradas corações periféricos, e merecem tantos cuidados e atenções quanto o nobre órgão. Para sair do coração e irrigar os dedos dos pés ou o couro cabeludo, o sangue arterial é bombeado com uma força intensa para todo o corpo” (Professor Google).

Como clausura desta blogada: Discordo radicalmente de um senso comum: A velhice é a melhor idade. MENTIRA!

sexta-feira, 16 de junho de 2023

De um ciclone extratropical salva-me The intercept Brasil

  

    ANO

 16

LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br

EDIÇÃO

 3108



         O alerta anunciado nesta tarde de quinta-feira Ciclone extratropical deve causar chuva volumosa e vento de mais 100 km/h no RS nesta sexta-feira, foi mais trágico que o previsto e por tal não poi possível editar a blogada semanal das sextas. 

Salvou-me o Intercept. 

Veja como:

The Intercept Brasil procura saber qual plano do Edir

Macedo para os PMs do Brasil. 

Veja as duas fotos e tente alguma explicação:

Parece o início de uma operação policial de larga escala. Ou talvez apenas o estacionamento de uma delegacia, certo? Errado. Trata-se de um encontro de policiais militares, durante o expediente de trabalho, em um dos templos da Igreja Universal em São Paulo.

Muito mais detalhes pergunte ao Professor Google 

quem é THE INTERCEPT BRASIL


sexta-feira, 9 de junho de 2023

GALILEU GALILEI E O DIA DE CORPUS CHRISTI


Interrompo a leitura do instigante ‘O crime do bom nazista’ neste feriado (ou deveria dizer: dia santo) para tecer o Blogue de amanhã (segunda sexta-feira de Junho2023). Quando pensei nesta edição imaginei abri-la afirmando: Vou laborar em um senso comum. A maioria das pessoas não sabe em sua essência do significado da data de hoje: Corpus Christi ou Corpo de Deus..

Minha afirmação parece ser um senso comum, pois acho que a maioria não sabe qual o significado deste dia santo, essencialmente católico. Os calendários, num ranço medievo, anunciam em latim: Corpus Christi. Mas, não sei se existe alguma pesquisa que corrobore minha hipótese. A celebração de hoje é um evento baseado em tradições católicas do final da Idade Média (Século 13). Celebra-se na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes ou 60 dias após a Páscoa (= A Páscoa é celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre depois do equinócio da Primavera (no hemisfério norte, outono no hemisfério sul), O dia da Páscoa pode variar desde 22 de Março até 25 de Abril).

Corpus Christi é uma "Festa de Guarda", isto é, para os católicos, há a obrigação de participar da Santa Missa. Há no Código de Direito Canônico uma determinação que ocorra procissão pelas vias públicas para testemunhar publicamente a adoração e a veneração do Corpo e Sangue de Cristo; por tal, também nominada como dia do Corpo de Deus. 

A Igreja Católica sentiu necessidade de realçar a presença real do "Cristo todo" no pão e vinho consagrados. A medieva festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano 4º em 1264. Em muitas cidades, ainda hoje, há costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa. Os tapetes de rua são uma tradição e manifestação artística popular realizada por fiéis da Igreja Católica, confeccionados para a passagem da procissão de Corpus Christi. A tradição da confecção do tapete surgiu em Portugal e veio para o Brasil com os colonizadores. Os desenhos utilizados são variados, mas enfocam principalmente o tema Eucaristia. Para confeccionar os tapetes são utilizados toneladas de diversos tipos de materiais, tais como serragem colorida, borra de café, farinha, areia, flores e outros acessórios. Nos parágrafos acima, é possível estranhar que tenha em se comentando a celebração de Corpus Christi, tenha me referindo exclusivamente a Igreja Católica Romana. Tem porque.

                                                              [Galileu frente ao tribunal da inquisição romana, pintura de Cristiano Banti (fonte Wikipédia)

.Mas qual a relação desta festa com Galileu Galilei? O grande rompimento entre Ciência e Religião, parece acontecer em 1543, quando Nicolau Copérnico propõe um novo modelo para o sistema solar que contraria o modelo bíblico. “Não é mais o sol que gira em torno da Terra, mas a Terra é que gira em torno do sol”, diferente do que está no livro de Josué (10, 12-14). A proposta copernicana é ratificada por Galileu em várias obras, especialmente em “Diálogo sobre os dois principais sistemas de mundo” (1623). A adesão ao heliocentrismo já havia concorrido para Giordano Bruno terminar na fogueira, em 1600. Apesar de, aparentemente, estas revelações terem gerado a cisão entre os dois pontos de vista, a questão central de toda a discussão, ocorre quando Galileu foi julgado aparentemente por sua ratificação do heliocentrismo.

Parece oportuno ler uma pungente confissão pública: "Eu, Galileu, filho de Vicente Galilei de Florença, com a idade de setenta anos, juro que sempre acreditei, acredito agora e com a ajuda de Deus acreditarei no futuro em tudo o que sustenta, ensina e prega a Santa Igreja Católica e Apostólica. Mas por ter eu — após ter sido com preceito intimado juridicamente por este Santo Ofício a que deixasse completamente a falsa opinião de que o Sol seja o centro do mundo e que não se mova, e de que a Terra não esteja no centro e que se mova; e a que não tivesse, defendesse, nem ensinasse de qualquer modo, nem por voz, nem por escrito, a falsa doutrina referida; e por ter sido notificado de que esta doutrina é contrária às Sagradas Escrituras — escrito e imprimido um livro no qual trato da mesma doutrina já condenada e apresento razões com muita eficácia em seu favor, fui julgado veemente suspeito de heresia, isto é, de ter tido e acreditado que o Sol seja o centro do mundo e esteja imóvel e que a Terra não seja o centro e que se mova. Portanto, querendo retirar da mente de Vs. Eminências e de todo fiel cristão esta veemente suspeita (...) com o coração sincero e fé não fingida abjuro, e amaldiçoo e detesto os erros e heresias acima (...)".

Rigorosamente o julgamento que conduziu a esta confissão fora um simulacro (A ciência através dos tempos, p. 149). Era fácil aceitar o senso comum marcado pelas propostas de Aristóteles há mais de 20 séculos. Havia um impasse muito maior que fora subtraído das discussões. Galileu ensinava mais de um século antes que Lavoisier ‘que uma substância só se transforma em outra substância, se houver alteração de sua natureza’. Ocorre que isso fere frontalmente o dogma da transubstanciação, ou seja, quando o Pão e o Vinho se transformam em corpo e sangue de Cristo. Por tal era importante silenciar Galileu, que até morrer aos 78 anos não pode mais ensinar ou escrever livros.

Essa ‘leitura’ católica da Última Ceia é diferente — leia-se, mais fácil —, no luteranismo e na maioria das igrejas surgidas após  a Reforma (1517) — para o qual o Pão e o Vinho representam (e não são!  o Corpo e Sangue de Cristo. Na Igreja Metodista se diz que Pão e o Vinho recordam a Última Ceia. Assim o dia santo católico desta quinta feira é a celebração de uma das mais significativas dissemelhanças do catolicismo e as demais denominações cristãs.

Neste feriado, os ‘evangélicos’ que se diz serem um terço dos eleitores brasileiro celebraram a “31o marcha com Jesus”, Os Evangélicos souberam, já há mais de 30 anos se apossar de um feriado nacional ‘dado’ à Igreja Católica, deixando de fora uma signifitiva parcela de brasileiros. Lamentavelmente foram intolerantes quando o Presidente da República, não comparecendo nem a manifestação de Católicos nem de Evangélicos, cortesmente enviou como um dos seus representantes com uma mensagem de Paz. O Dr. Jorge Messias, chefe Advocacia Geral da União (a outra representante do Presidente fora a Deputada Federal evangélica por São Paulo Luiza Erundina),  foi acintosamente vaiado quando ofereceu votos de Paz em nome do Presidente Lula.

Já escrevi aqui, em mais de uma oportunidade, que dentre nossas ações, enquanto humanos, uma das mais esplêndidas e, também, intricadas, e por tal das mais difíceis, é tentar entender as coisas. Isso dá viço à vida.

Hoje, muitos dentre meus leitores celebram um dos maiores dogmas que é fulcral em sua religiosidade: a transubstanciação — o pão e vinho, pelas palavras da consagração de um sacerdote, se convertem em corpo e sangue de Cristo. E, isto é mistério que exige para crê-lo fé.

Aqueles temas rotulados como mistérios perdem a graça, pois trazem uma premissa: não somos capazes de entender. Acho que cometi um equívoco. Não posso dizer perdem a graça, pois numa dimensão religiosa — da qual me abstenho trazer detalhes — são estes que têm graças. Um crente e um não crente têm a mesma postura diante de um mistério como o da transubstanciação ou como o da trindade (um só Deus que são três): trata-se de algo que não se pode explicar. Mas um acredita e o outro não.

Encerro meu comentário acerca da data de hoje afirmando que “Se acreditamos que fogo esquenta e a água refresca, é somente porque nos causa imensa angústia pensar diferente”. Essa frase atribuída, a David Hume (1711-1776), filósofo e historiador escocês, tem contribuído muito para meu entendimento do papel das religiões nos dias atuais, mostra um pouco de minhas pretensões nesta singela blogada de um dia festivo para ajudar a pensar diferente.