sexta-feira, 28 de outubro de 2022

ANO 17*** 28/10/2022***EDIÇÃO 2058

 De um outubro histórico


No meu imaginário, outubro sempre é um mês muito especial. Ele precede a novembro onde a partir de minha DN já há um sabor de Natal, fim de ano… Outubro parece ser o mês mais prenhe de comemorações: Dia do Professor, do Médico, do Dentista, do Funcionário Público,  do Ferroviário… e a lista poderia se ampliar. Há ainda o Halloween que os anticolonialistas transformam, timidamente, em Dia do Saci. 

Outubro termina com um feriado que é, por ora, celebrado apenas em comunidades com predominância de luteranos. O dia 31 de outubro é feriado em alguns municípios brasileiros: exemplo Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Não sei acerca de outros estados. Isto ocorre em municípios onde há um número expressivo de fiéis da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB, sínodo alemão) e da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB, sínodo missouriano). São municípios onde há significativa presença de descendentes de colonos alemães que chegaram ao Brasil na primeira metade do Século 19.

Qual o significado da data? Em 31 de outubro de 1517, o então padre católico alemão Martinho Lutero afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha as suas 95 teses denunciando a cobrança de indulgências pela igreja de Roma. Esta data, que extrapola em significados sua consequência: um dos mais extensos cismas na igreja cristã é de tamanha importância que por muitos pode ser considerada como o fim da Idade Média e início dos tempos modernos. 

Neste outubro de 2022 os brasileiros (quase) obliteram todas as celebrações antes referidas e vivem este mês marcados pela ansiedade. Esta, vez ou outra, se transmuta em violência pois tudo -- não apenas os dias de votação 02 e 30 --  se bi-polarisa: bem e mal / céu e inferno / católico e evangélico / amor e ódio / paz e guerra / …... Grêmio e Internacional. Esta ansiedade, em algumas situações, se vandaliza gerando agressões e até mortes.

Parece que há três momentos marcadamente bipolares. Há que fazer posicionamentos: mesmo que sonhe que no entardecer do próximo domingo todos brasileiros -- vençam bolsonaristas ou vençam lulistas -- confraternizem pelo encerramento de uma eleição presidencial democrática e republicana este texto tem autoria e esta tem posição.

Entre os três momentos anunciados não vou considerar os prós e os contras vacinas. Há quase 120 anos dois grupos já se digladiavam na recém nascida República. Hoje o Presidente não apenas fez campanha contra a vacina, mas obstaculizou a sua importação. No Rio Grande do Sul, um dos candidatos a governador na eleição deste domingo faz do não se vacinar um apanágio. As primeiras tentativas de melar (= fazer fracassar; anular; interromper) a eleição presidencial de 2022 são bastante remotas e muito recorrentes: Estas tentativas podem ser marcadas pelo descrédito nas urnas eletrônicas. O Presidente não precisa de gatilho para detonar a possibilidade do processo eleitoral, já usual desde o século passado, ser passível de fraudar. Os militares acompanharam com óculos privilegiados as eleições de 02 de outubro; ainda não opinaram. 

A segunda etapa foi desacreditar os institutos de pesquisa, fazendo deles bodes expiatórios com frustrações de resultados nas urnas. Talvez valha lembrar minha resposta quando mestrandos ou doutorandos me informam: “Isso eu tenho certeza!” Respondo: “Ótimo. Isto não precisamos mais estudar!” Se as pesquisas eleitorais laborassem com certezas não precisaria haver eleições. Veja o quanto se economizaria! Os institutos escolheriam os ungidos.

No terceiro momento, à indicação de uma provável derrota, a não publicização de propagandas obrigatórias por algumas emissoras radiofônicas (parece ser seis inexpressivas emissoras do Norte e Nordeste) surge como o último quebra-galho [(= Pessoa ou recurso que permite a resolução rápida e improvisada de um problema ou de uma situação difícil) para trampear (este verbo pode ser lido na acepção dicionarizada pelo Priberam: Fazer tramoias ou trampolinas;  enganar; trapacear ou com o neologismo: agir autoritariamente como Donald Trump)] à eleição prevista para o esperado domingo. A qualquer pessoa de bom senso deve parecer uma  inconsequência adiar as eleições deste domingo. Sem parecer que laboro em preconceito: se a rádio Chão de estrelas FM de Itapinguaçu da Bahia deixar de apresentar algumas inserções é diferente se isso ocorrer durante uma transmissão da CBN, presente em quase todo território nacional. Haja ansiedade para viver este outubro esperando trocar a folhinha logo. Que o saboroso Novembro embale os melhores sabores! 

      


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Milagres existem

ANO 17*** 21/10/2022***EDIÇÃO 2056

Era a última segunda-feira (17/10/2020) que se fazia cansada. O fim-de fim de semana fora árduo. Era um pouco depois do meio-dia. Viera à Goethe assinar um documento na Caixa Econômica (razão de trocar uma sesta por uma caminhada ao sol que já fora de manhã com chuviscos. Estava no Mercado 43, na Goethe. Cheguei ao caixa com um pão com sementes e um mamão (Fruta que pelo preço nestes tempos parece ter, em meio a suas sementes, pepitas de platina). Cerca de 35,00 reais os dois itens. Ofereço meu cartão à funcionária. Pergunta: Débito ou crédito? Respondo: crédito. Recebo a maquininha e digito a senha. A máquina não a aceita. Tento de novo. Incorreto. Preciso, então, de uma última chance. Se esboroaram oportunidades. Penso que não mostrei dissabores. Busquei alternativas. Voltar para casa em busca de cartão válido.

Eis que milagres existem e acontecem: uma linda jovem entrega à funcionária o seu cartão e diz que assume minha despesa. Sou surpreso. Protesto. Sugeri que eu fizesse um Pix para sua conta. Não aceita. Peço justificativas. Diz ela que eu considere uma gentileza dela para comigo. Desaparecera como chegara. Eu atrapalhado deixo mercadinho com um mamão e um pão abençoados com generosidade. Procurei a fada generosa. Nem sinal. Não recebesse da Caixa minhas compras sem pagá-las, diria que delirava.

Me ouvi cantando o aleluia de Handel. Dava-me conta que acreditava em Humanidade: uma história otimista do Homem. A referência é ao excelente livro do holandês Rutger Bregman. Yuval Noah Harari, historiador e autor de Sapiens afirma “Este livro me está me fazendo ver a humanidade sob uma nova perspectiva” (BREGMAN Rutger. São Paulo: Planeta, 2021, 464 p. ISBN 978-65-5535-276-4).

Lembro, de vez em vez, que domingo, ao voltar de Pelotas, esperava um uber na Rodoviária. Uma senhora famélica me pediu uma moeda para comprar algo para poder comer. Menti, dizendo que não tinha moeda. Justifiquei-me por estar em meio a sem-tetos e por tal não queria me expor. Já fora de maneira fraudulenta pilhado, quando no último junho, minha conta no WhatsApp foi invadida. Agora estava com 35,00 reais que considerava 'emprestados' e que devo transferir a quem de direito. Repasso à Acnur (Agência da ONU para refugiados) para alimentar crianças vítimas de guerras e de maus tratos em migrações populacionais. Lembro daquelas crianças que fazem do Mar Mediterrâneo seu cemitério, na dolorosa metáfora do Papa Francisco.

Há dois momentos jubilosos vividos depois da última postagem. Serei breve pois minha fabulosa narrativa acerca do milagre no Mercado 43 ocupou mais espaço que imaginara. Faço-me breve no texto que relatam dois eventos. Esta anunciada brevidade não desmerece meus comentários acerca do 41º EDEQ e do retorno ao Colégio Israelita Brasileiro.

Na última edição fiz um breve relato do EDEQ em 10 de dezembro de 1980. Participei nos recém vividos 14 e 15 deste nervoso outubro de 2022 do 41º EDEQ. Refiro dois comentários deste 41º EDEQ. Um muito pessoal. Minha presença em Pelotas no  41º EDEQ: foi a minha primeira viagem desde a primeira semana de Março de 2020, quando viajei: POA/Marabá/POA e POA/Manaus/POA. Agora fui e voltei à Pelotas, sozinho, após 37 dias de hospitalização. Nos dois dias que participei, no campus da UFPel, de inúmeras atividades, não lembro de ter dado meia dúzia de passos sem ser queridamente cuidado. Os momentos mais difíceis foram os tempos privados.

Depois deste narrar muito pessoal há que referir o significativo êxito do  4 EDEQ. Sucesso de público (cerca de 200 participantes) e qualidade das palestras e dos trabalhos, apresentados na modalidade híbrida). Há muito o EDEQ deixou de ser apenas gaúcho. Havia participantes de vários estados com destaque para CE e SC. Relato um pedido que muito recebi: Posso tirar uma foto com o senhor? O atendimento a este pedido foi mais de uma centena de fotos. Outra afirmação que ouvi muito: Estou contente por estar conhecendo alguém muito presente em minhas bibliografias! Aqui podemos inferir a presença de neófitos em EDEQs. Há também muitos que são daqueles que estiveram presentes em quase todas as edições. Há um grupo de participantes  que se vê apenas a cada outubro. Um detalhe: parece haver ‘uma química’ entre os participantes. Já estamos esperando as convivências que deverão ocorrer no 42º EDEQ, no Campus do Vale da UFRGS, em outubro de 2023!  

Na noite de ontem, acompanhado de minha filha Clarissa, vivi no Colégio Israelita Brasileiro, momentos  emocionantes. Desde 21 de setembro, quando recebi convite (narrado na edição de 23/09/2022) para em 20 de outubro participar de solenidade incluída na celebração do centenário do CIB, fiz imaginações sobre o que seria, depois de 30 anos, retornar à escola na qual, nos anos 1965/1966, fora professor de química e em 1993 fora diretor. O convite era pertinente ao 2º segmento. Vez ou outra, dizia que se deste período um dia se fizer referência ao meu nome  a menção seria “Chassot, o breve, não durou seis meses!”* Ontem reescrevi a minha leitura da única experiência enquanto ser Diretor de Escola. 

Os 30 dias, entre o convite e a noite de ontem, oferecem memória para páginas de relatos. Todavia, narrar o foram os reencontros da noite de 20/10/2022 poderiam produzir um livro. Não evoco nomes pois correria riscos de omissões. Resumo com a mais afetuosa síntese: foi uma noite inefável! Encerro este blogar com o texto que está no mimo que me foi obsequiado.  No ano de seu Centenário o Colégio Israelita Brasileiro homenageia Attico Chassot por sua inestimável contribuição na Direção da Escola, você fez toda a diferença! Outubro 2022

*CHASSOT, Attico. Uma tentativa (mais uma vez não bem sucedida) de migrar da utopia para realidade. Relato do período que o autor foi Diretor do Colégio Israelita Brasileiro. Cadernos UNIJUÍ, Série Educação 03. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 1995.

 

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Ciência =/= Ciências

  


ANO 17*** 14/10/2022***EDIÇÃO 2054


Ciência =/= Ciências



Há uma antecipação desta edição. Desde que as edições se tornaram hebdomadárias, passaram a ser as sextas-feiras (antes do surgimento do simpático e popular verbo sextar). Aliás, de maneira mais ortodoxa, a postagem deveria ser ao pôr-do-sol, numa inspiração do shabat judaico. Quando contemplo o meu fazer/ser blogueiro admiro a minha ousadia, em tempos que este blogue era diário (2009/2014). Por ora, produzir um semanário já se faz árduo.

Talvez, devesse dizer: edições semanais ao invés de edições hebdomadárias. Há que reconhecer que bora se faz distópico com o adjetivo hebdomadário. Bora, sextar com a gente, cara! conta pra quê essa tal de antecipação. Sim! Respondo aqui mais adiante! Antes uma 

***** NOTA DE ESCLARECIMENTO***** 

Aquelas e aqueles que leem meus escritos ou conhecem minhas palestras sabem minhas posturas teóricas. Uma síntese de algumas ações é até título de um dos meus livros: Das disciplinas à indisciplina. No nosso cotidiano, uma pergunta recorrente: qual a sua profissão? À minha resposta: Professor! Meu interlocutor pergunta: Professor de que? Minha resposta: … de Ciência! {não digo de Ciências}. Eis uma diferença: Ciência =/= Ciências. Esta sutileza não é da alçada de meu interlocutor. Fica agradado se digo que fui professor de Química, por exemplo. Até narra o quanto teve dificuldades com Química no Ensino Médio. O que está a seguir é um texto disciplinar. Não vou mostrar, por exemplo, que não existe um fenômeno somente químico. Assim, Química e Biologia são ciências. Estas, junto com dezenas de outras Ciências (Geologia, Astronomia, Botânica e muitas outras) fazem parte da Ciência. O texto a seguir se refere a uma disciplina, que é uma pequena parte -- mas muito importante -- da Ciência. Não mudei minha leitura acerca da epistemologia da ciência. Mas vale lembrar que a narrativa que vem a seguir começou há mais de quarenta anos. Vale conhecer uma significativa história. O convite está feito. Obrigado pela parceria.

Nesta sexta-feira e sábado, 14 e 15 de outubro, ocorre na UFPel, em Pelotas, o 41o EDEQ. O Prof. Dr. Bruno Pastoriza, em nome da Comissão Organizadora, me convidou, enquanto co-fundador, do primeiro EDEQ, em 06 de dezembro de 1980. Este ocorreu no Instituto de Química da PUC RS,  foi desencadeado pela então emergente regional gaúcha da Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Reunimos uma centena de professores de Química, dos três graus de ensino, para  discutir: “As inter-relações do ensino da Química nas diferentes etapas da escolarização, bem como as interações dos pesquisadores com o ensino”. 

Este foi o encontro seminal dos quarenta EDEQs posteriores, que vêm se realizando ininterruptamente, com apenas uma lacuna em 1991. Apreciaria evocar cada um dos outros 39. Seria um rememorar que em muitos catalisarão saudosismos. Eu só não estive em um. Participei da organização de pelo menos da primeira metade. Em homenagem àqueles que comigo lançaram sementes em terra fértil, comento os cinco que se sucedem ao primeiro EDEQ em 1980.

O II EDEQ foi realizado em 1981, no Instituto de Química da UFRGS, nos dias 5 e 6 de dezembro. O tema central do encontro buscava respostas para a pergunta: “Como tornar o ensino de Química mais criativo? O encontro, uma realização estadual, já na sua segunda edição, teve participação de professores de SC, PR, SP, RJ, MG e CE. A bandeira da educação química era desfraldada pelos professores de Química do RS e era assumida também por professores de vários outros estados.

O III EDEQ ocorreu em 15 e 16 de outubro de 1982, no campus da UFSM, em Santa Maria, tendo como tema central: “Química: uma ciência experimental”. Neste encontro houve palestrantes de outros estados e se continuou a privilegiar a presença de conferencistas de fora da área da Educação Química. Começava a interiorização dos encontros e se inaugurou a tradição, ainda mantida, de fazê-los em uma sexta-feira e sábado, da segunda quinzena de outubro. 

O IV EDEQ integrou a programação de 10 anos da Universidade de Passo Fundo e no dia 27 de outubro de 1983, seu reitor o instalava solenemente e por dois dias se tentou responder: “Por que ensinar Química?” Foi neste encontro que se iniciou a apresentação de trabalhos, e estes já foram em número de catorze.

O V EDEQ que ocorreu nos dias 26 e 27 de outubro de 1984, na Universidade de Rio Grande teve um tema audacioso como proposta de discussão: “Ensinar ou educar em Química”. Esta distinção passa a ser uma exigência dos envolvidos mais próximos na organização dos encontros. Ao lado de duas centenas de participantes gaúchos, houve participantes de vários estados do  Brasil e de professores e alunos uruguaios.  

O VI EDEQ foi na Universidade de Caxias do Sul (UCS) que acolheu quase 300 participantes do Rio Grande do Sul e de outros estados e do Uruguai para discutir o tema: “Pesquisa: resposta de como educar através da Química”, nos dias 25 e 26 de outubro de 1985. Houve a apresentação de 31 trabalhos e a presença de conferencistas expoentes do ensino e da pesquisa da Química no Brasil.

Depois deste sexto EDEQ na UCS em 1985 houve 34 EDEQs para chegarmos a este XLI EDEQ, hoje em Pelotas. Destaco o XX EDEQ que ocorreu de 12 a 15 de julho de 2000, na Pontifícia Universidade Católica RS em Porto Alegre (lócus do 1º e do 10º EDEQs) em conjunto com três eventos : XX Encontro de Debates de Ensino de Química (EDEQ) – X Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) e II Encontro Latino-americano Ensino de Química (ELEQ) tendo como tema: A Educação em Química pela pesquisa: um desafio para a sala de aula. Estes eventos reuniram mais de 700 participantes do Rio Grande do Sul e de vários estados brasileiros e também de alguns países latino americanos. A propósito: a realização destes EDEQs já envolveram quase duas dezenas de Universidades e Institutos Federais no sediar os eventos,   

A semente gaúcha germinou em outras plagas. Os EDEQs frutificaram. Há outras séries de encontros regionais, estruturadas à semelhança dos EDEQs: ECODEQs (Encontro Centro-oeste de Debates sobre Ensino de Química) desde 1989; os ENNEQs (Encontro Norte-nordeste de Ensino de Química) a partir de 1990 e os ESEQs (Encontro Sudeste de Ensino de Química). Em 2017, ocorre também o Encontro da Rede Rio de Ensino de Química, que é uma iniciativa das universidades do estado do Rio de Janeiro no sentido de congregar os pesquisadores em educação química das universidades participantes. 

Obviamente, pode ser que existam outros eventos não listados aqui, seja de caráter regional, local ou nacional, não sendo possível abarcar a todos em um país continental como o nosso.

A partir da iniciativa do Rio Grande do Sul, surgiram, em 1982, os Encontros Nacionais de Ensino de Química: ENEQs. Assim realizamos em 1982, na UNICAMP, o primeiro ENEQ, definindo-se seu caráter bianual. O segundo foi em 1984 na USP, o terceiro em 1986 na UFPR; e o quarto, mais uma vez USP; o quinto foi 1990, na UFRGS e o sexto, em 1992, novamente na USP. Os mineiros foram os primeiros que organizaram um encontro sem ter a infra estrutura da SBQ e SBPC. O sétimo ENEQs foi na UFMG. Deste VII ENEQ ficou aquela que é nossa realização maior: Química Nova na Escola. A revista -- em agosto deste 2022 circulou o número 3 do volume 44 -– quer ser a materialização de ações de educadores que sonham em fazer transformações na Educação para que consigamos homens e mulheres que construam a sonhada nação-cidadã. O XXI ENEQ está previsto para ser realizado na UFU, em Uberlândia, de 01 a 03 de março de 2023.

A proposta de criação da Sociedade Brasileira de Ensino de Química – SBEnQ foi aprovada em julho de 2016, no XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ), realizado na UFSC. Pode-se afirmar que a gênese da formação desta Sociedade se relaciona às ações do movimento de participação em encontros dos educadores nas Ciências.

Estes eventos são fóruns privilegiados de várias propostas alternativas, como as que buscam valorizar a ligação da Química com o cotidiano do aluno, tornando esta ciência uma facilitadora da leitura do mundo. São também o momento onde as professoras e os professores apresentam resultados de suas pesquisas em sala de aula e tomam conhecimento dos desenvolvimentos na área de Educação Química em termos internacionais e, também, nacionais. Acredita-se que estes encontros já tenham gerado significativos avanços no conhecimento e inúmeras contribuições potenciais para a melhoria do trabalho docente em Química.  Por isso é que estamos nesta sexta-feira e neste sábado na hospitaleira Pelotas e também para mais de uma vez poder nos abraçar depois da abstinência de alguns afetos nesses pandêmicos.

 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

ANO 17*** 07/10/2022***EDIÇÃO 2054 ANO 17***

    Recordo, não raro, aquele último domingo de outubro de 2018. Então, por duas horas, esperamos terminar a votação no Acre para serem divulgados os resultados do resto do Brasil, então já apurados. Recebemos uma cacetada: o Presidente eleito do Brasil era um capitão quase ignoto que derrotara o Haddad. Neste domingo, 02 de outubro de 2022, o golpe foi muito mais doloroso. O capitão não era mais um desconhecido. Era muito pior do que se imaginava. Não preciso narrar o que estão sendo estes quatro anos que estamos vivendo. O presidente evoca a cada fala o fascismo: regime (como o estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922), que faz prevalecer os conceitos de nação sobre os valores individuais; é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um dono absoluto de sua verdade.

Não sou politólogo para trazer análises daquilo que nos reservam os resultados do universo dos eleitos e dos eleitores. Os brasileiros, em sua maioria, professam o bolsofascismo. Não é apenas o Brasil vulnerável ou atacado pelos mais ricos que aderiu às posturas do messias. Pobres e ricos -- talvez mais ricos que pobres -- se transvestem com os símbolos pátrios e os conspurcam. Há muito me incomoda uma autoproclamação: o Rio Grande do Sul é o Estado mais politizado do Brasil. Não! Aqui o bolsofascismo é maioria e já tem aura de religião.

Uma máxima laudada: “Ninguém é dono do voto de outrem!" Não vale para a religião que anunciou: quem votar de maneira diferente daquilo que foi definido pelos pastores deve ser julgado (e, se for caso, castigado pela igreja).

Àqueles que ao meu confranger, fraternalmente, me consolam: Lula vai, ganhar no segundo turno! respondo: o Presidente da República não é a única peça e nem sempre a mais importante de um intrincado xadrez chamado República Federativa do Brasil.

Troquemos de canal: Há alguns que, a cada quatro anos, vivem a Copa do Mundo. Estes têm tanta alegria quanto a editora do álbum quase milionário. Há outros que a cada outubro acompanham os anúncios dos laureados com os Prêmios Nobeis. Assim, de maneira muito provável, ainda, podemos ratificar o livro que já por nove edições responde a pergunta que está na capa: A ciência é masculina? é, sim senhora! Por ora, faremos uma mera contabilização de números. Vale recordar que cada um dos seis prêmios pode ser distribuído para 1 ou 2 ou 3 laureados. Eis os nove laureados dos três prêmios Ciência de 2022: Física: 3 homens / Química: 2 homens + 1 mulher / Medicina: 3 homens. Assim, em 2022 nos três prêmios de Ciências: 8 homens + 1 mulher. Atualizando a nona edição do livro, eis os totais de premiados e os totais de mulheres desde 1901:  Física 4 mulheres dentre 226 premiados / Química 8 mulheres dentre 197 / Medicina 12 mulheres dentre 237 laureados. 

Dentre 660 láureas conferidas desde 1901, 24 (= menos de 4%) foram recebidas por mulheres.

Como curiosidade algo dos três outros prêmios: Literatura 15 mulheres (este ano, Annie Emaux, uma francesa com 82 anos) dentre 114 premiados. Paz (este prêmio pode ser concedido, também, a organizações) 16 mulheres dentre 99 pessoas e 34 organizações; Este ano o laureado é homem.. Economia (concedido desde 1968): das 67 premiações houve apenas uma mulher laureada. O premiado de 2022 será conhecido dia 10. 

Como sobremesa: Steven Shapin, em seu sumarento tratado acerca de estudos históricos da Ciência:  Nunca  pura (ISBN 978-85-8054-110-6) traz narrativas excepcionais, mostrando o quanto e como os que fizeram/fazem a Ciência são seres humanos, logo esta não é uma produção incólume. Por tal, eu me atreveria rebatizar a obra como “Maculada concepção”. Um dos destaques dentre muitos homens e de algumas poucas mulheres presentes na obra do professor da cátedra de História da Ciência da Universidade de Harvard é René Descartes (1596-1654).  Lateralmente, recomendo o livro O caderno secreto de Descartes resenhado na edição deste blogue de 27 de maio deste ano. 

As narrativas do Século 17 de Shapin são saborosas. Há um capítulo que descreve uma singular História da Medicina. Talvez, devêssemos dizer: História de uma não Medicina. Aquele que referimos como o mentor do método da Ciência é narrado como Descartes, o Médico. Este afirma que chegados aos 30 anos não precisamos mais de médicos, pois então já nos conhecemos de tal maneira que sabemos qual o regime alimentar devemos seguir. O filósofo da Ciência Moderna faz o seu tratamento marcado por rigorosos e estudado regimes alimentares. Além de seu tratamento, Descartes tem clientes, inclusive dentre a aristocracia. Prescrições são preparadas, por exemplo, para as diferentes estações do ano, pois estas se diferenciam no tamanho dos poros.

Não cabe aqui e agora detalhar as concepções cartesianas de medicina produzidas para que se vivesse mais e melhor. Trouxe o tema como contra exemplo da medicina que ‘nos cuida’ hoje. No meu recente périplo por três hospitais ratifiquei o quanto somos cada vez mais tratados por especialistas que diagnosticam o ouvido direito, mas não são capazes de fazer um prognóstico do ouvido esquerdo. Parece -- e a observação é muito pessoal -- que sabemos muito pouco acerca dos diferenciados metabolismos de nosso corpo. Trago um exemplo: uma tarde, no terceiro hospital (portanto, já mais de 37 dias de meu medicalizado inverno 2022).  Entra um médico e afirma vamos tirar líquido da pleura. Pergunto (por não saber o que dizer): quando? Resposta: agora. A aparelhagem do médico é ínfima. Um anestésico faz a punção de uma agulha ser indolor. Por sucção um recipiente vai coletando um líquido quase transparente. 1,5 litro informa o médico do lado esquerdo; em outro dia retiraremos do outro lado. Convoco minha leitora ou meu leitor a imaginar uma garrafa de água mineral de 1,5 litro alojada no lado esquerdo. Eu não sabia onde se localizava a pleura. Mais! Eu nem sabia o que era pleura; muito menos que eu tinha pleura. Aliás, devo reconhecer que meus conhecimentos anatômicos são sofríveis. Sou um contra exemplo das concepções cartesianas acerca do autoconhecimento de meu corpo.

Votos de um bom fim de semana a cada uma e a cada um. Oxalá leiamo-nos na próxima sexta-feira.


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