sexta-feira, 24 de abril de 2020

24ABR2020 E o barco está afundando.



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3476

Esta é a última edição aprilina. Há muito não vivi na minha vida um mês que não houvesse ministrado uma aula, feito alguma palestra ou realizado alguma viagem.
Em março fiz duas viagens à Amazônia.
Primeiro fui à Marabá. Retomei ações que marcaram o início de meu segundo ano enquanto Professor Visitante Sênior do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática da Unifesspa, Isto me enseja estar uma semana a cada mês em Marabá.
Na estada de março, fiz a fala da recepção aos mestrandos da terceira turma do PPGECM. Foi muito significativo também me reunir coletiva e individualmente com meus quatro mestrandos da Unifesspa. O Daniel, meu orientando de pós-doutorado, e eu planejamos o seminário A arte de escrever Ciência com Arte de três dias de dois turnos cada para começar em março. Logo transferido para abril, agora tememos que não ocorra em maio.
Voltei à Porto Alegre.
Então, fui à Manaus. Proferi quatro aulas inaugurais na Universidade Federal do Amazonas: duas para alunos da Faculdade Medicina e outras duas para alunos do Instituto de Ciências Biológicas. Também participei do lançamento de um livro do qual sou coautor.
Com esse fazeres na primeira quinzena de março, não imaginaria que na blogada 20/MAR2020: E ... o março de 2020 terminou dia 17 escreveria: minha agenda está derruída. A minha e a de meio mundo. Dia 17 de março, talvez passe para história como dia mundial de tentar refazer agendas. Março está vazio e (oh paradoxo!) nele nada mais é passível de agendamento.
A partir de então todos os compromissos passaram a portar observações TRANSFERIDO e/ou CANCELADO. E, hoje, quando já completo o 32º dia de confinamento, não sei quando mais uma deleitar-me-ei (esta mesóclise não é em homenagem ao Temer que profanou a localização do pronome possessivo) em dar uma aula ou fazer uma palestra, enfim deixar a minha Morada dos Afagos.
A propósito, desde quarta-feira, participo de uma corrente (algo que há tempo era muito comuns em pirâmides do tipo mande para o primeiro da lista e retire-o da lista e ponha seu no último posto) chamada TROCAS AQUARENTADAS onde se é convidado mandar um texto / verso / meditação/etc. favorito que o tenha influenciado em momentos difíceis ou reflexão acerca dos momentos que se está vivendo. Tenho recebido textos sumarentos.
Eu escrevi à minha destinatária:
Quando, de vez em vez, nos queixamos — o plural não é majestático! — de termos que ficar confinados, por algumas semanas, em uma casa (com uma horta-jardim, uma biblioteca de quase 4 mil volumes e internet para viajar pelo Planeta virótico, sem perigo de contaminação), há que nos lembrar das prisões políticas injustas, como a do Lula, por exemplo, em celas incomunicáveis. Isto sim é difícil e nada comparável com o que nós estamos experimentando agora, mesmo que vivamos em país governado pelo presidente Messias Bolsonero que é um homem mau (A. Chassot 22/04/2020).
Teria tanto a comentar. Sobre os desmandos do presidente, depois que no domingo subiu ao palanque para clamar pela ditadura, mais cabe amargar vergonha.
Vale registrar que na última sexta-feira de abril, não esperávamos nos fosse oferecido uma prova tão convincente de que o barco realmente está afundado. E assistimos esta catástrofe insertos em um país no qual a cada hora morrem mais de duas dezenas de seres humanos em consequência da pandemia que faz o Planeta estar em transe.
Trago apenas dois comentários muito pessoais, acerca destes tempos que vivemos uma quarentena (quase) inarrável:
1) Não raro aflora, com muita convicção a máxima socrática "só sei que nada sei!" A toda hora desses dias vejo quanto é distante poder dizer que sei alguma coisa... Há, cada vez mais, temas que preciso estudar.
2) Eu tenho consciência que ao terminar a quarentena eu não terei lido um cagagésimo do que eu me propunha... E mais, temos que aprender que há novos artefatos culturais que estão suplantando o livro — as lives, por exemplo — que nos fazem conhecer maravilhas.
E agora uma despedida amarga deste abril estéril. Leiamo-nos, uma vez mais, no dia primeiro de maio. E, seria importante lembrar: agora é cada vez mais importante FICAR EM CASA também porque amamos aos outros.
Recomendo uma vez mais a leitura a cada sexta-feira de PONTO WWW.brasildefato.com.br — excelente newsletter semanal do Brasil de fato. Ponto é uma newsletter semanal que pode ser solicitada gratuitamente para newsletter@ponto.jor.br


sexta-feira, 17 de abril de 2020

17ABR2020 De repente todos temos expertise em EaD



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E abril já passou da metade. Nos últimos 30 dias, lavamos as mãos com sabão mais de 3627 vezes. E um fenômeno nacional: Eis que de repente alunos, pais, avós, empregadas domésticas e professores brasileiros foram declarados com expertise em Ensino à Distância.
 Dentre mais de uma dezenas plataformas o WhatsApp se tornou salva-vidas para perguntar para avó como resolver problema proposto a alunos do 5º ano do Ensino Fundamental: Há 3 companheiros que pesam 50kg, 80kg e 100kg e precisam chegar a outra margem de um rio, dispondo de um barco que tem a capacidade máxima de transportar 140kg. Qual o mínimo de viagens necessárias?
As discussões se estenderam e foi esquecido que cerca de um terço dos lares brasileiros não tem acesso à internet. Parece que imagem, da qual não localizei a autoria, traduz um pouco a dificuldade de fazer os três amigos para chegar a outra margem.
Li comentários tão dispares entre si quanto as posições do Presidente e do ex-Ministro da Saúde. Uns de dar dó, outros muito bem postos, marcados por muito bom senso. Destes, trago o do Prof. Dr. Hélio Messeder Neto, da UFBA, publicado no Facebook em 01/04/2020. Agradeço ao meu colega e amigo Márlon Soares da UFGO, que me alertou ao texto, que transcrevo na íntegra, autorizado pelo autor.
Acredito que as sábias considerações de Messeder Neto possam contemplar o abrandamento de tensões de reclusos domiciliares não tão expertos em EaD nestes tempos viróticos.
Eu trabalhei numa especialização EaD em que levamos em média 6 meses para montar um ambiente virtual com auxílio de um técnico especializado, uma especialista em EaD, dialogo com professor formador, escrita de material de ambientação na plataforma e apoio institucional do ambiente virtual da universidade. A especialização durou um ano e meio com inúmeros e infindáveis ajustes técnicos e de condução pedagógica.
Destaco alguns detalhes:
1- Era uma especialização. As pessoas já tinham passado pelo menos por uma graduação.
2- Tínhamos todo o apoio técnico necessário. E pelas nossas milhões de ressalvas com EaD, tentamos, com uma equipe gigante, transformar o espaço distante o mais próximo possível.
Depois de tudo isso, estávamos exaustos e com a certeza que por mais potente que tivesse sido o curso, ele, em formato EaD, tem um limite esvaziador estrutural, principalmente dentro da realidade massacrante que vivemos.
Escrevo isso para dizer que o que estamos fazendo com os professores da escola básica nesse período é DESUMANO. Diante da impossibilidade técnica e dos sucessivos improvisos, o professor precisa se virar, sem nenhum apoio na maioria dos casos, para enviar arremedos de atividades para reproduzir a escola. De uma hora para outra obrigam os professores a fazerem milagres, cantar, dançar, ler historias, fazer experimento, editar vídeo, pensar roteiro fazendo com que ele trabalhe, algumas vezes, mais do que antes, com condições precárias e, claro, excluindo os estudantes que não tem acesso à internet.
Se com todas as condições que tivemos a experiência EaD foi angustiante, uma experiência que é arremedo de EaD me deixa DESESPERADO.
De novo, se exige do professor que ele se vire. E, de novo, por compaixão e responsabilidade por seus alunos e, em alguns casos, para manter seus empregos, os professores estão se virando. E estão exaustos
Lembrem-se disso na hora da greve da Educação. Máximo respeito aos professores.
Expectantes de que continuemos, se possível, a ficar em casa. Só a troca de um ministro não tem a magia de terminar com uma pandemia. Apenas invocar os deuses não basta.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

10ABR2020 Trabalhos domésticos masculinos na Quarentena



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3475

Se atento fosse à data —   SEXTA-FEIRA SANTA —não blogaria hoje. Não há data em minha história que amealhe mais evocações que esta. Sou grávido de saudades. Por tal, dedico esta edição à Danila
Mas se presidente Messias pode ir à padaria comer sonho quando se pede, com muita pertinência, para que se fique em casa, autorizo-me a blogar.
Aliás, entre as muitas transgressões cometidas por bolsonero, há mais uma: exercício ilegal da medicina, por prescrever, já pela quinta vez, em rede nacional a perigosa hidroxicloroquina. Ilegal e interesseiro pois um dos fabricantes do Reuquinol, nome comercial da panaceia, é um fervoroso empresário bolsonarista. “No Brasil só os comunistas são contra a hidroxicloroquina!”
Vou respeitar a data. Não vou, uma vez mais, me insurgir contra o presidente que é mau. Complemento esta blogada com excerto de meu diário de um dia do passado março.
Resisto e não narro a adesão de minhas 4 netas e meus 4 netos em trocar o ovo pascal que receberiam de seu avô por cestas básicas que minimizaram a fome de duas meninas e sua família.
31MAR2020 Meu muito querido diário! Hoje, Tu e Eu, completamos duas semanas de quarentena. Hoje é o nosso primeiro dia da terceira semana, portanto 15º dia confinamento. Já escrevi em outros momentos que há duas dimensões que nesta quarentena me fazem sentir de maneira muito significativa.
 A primeira é a perda de noção do dia da semana (a não existência de um milenar Sétimo Dia definido) ou seja sempre parece que estamos em domingo ou sempre parece estarmos em segunda-feira, é muito clara para mim até por que eu seja alguém muito marcado pelos fazeres ou não fazeres em fim de semana. Dificilmente mando uma mensagem profissional durante o fim de semana, e também não me apetece recebê-las.
 A segunda coisa que eu perdi foi a noção do tempo gerido por Cronos: eu não sei quando são 10 horas ou são 9 horas ou são 11 horas.... eu, de maneira muito usual estou perdido no tempo horário de Cronos! Parece que durante a quarentena só deveria haver o tempo de Kairós!
Agora ainda algo muito singular: é o ter que fazer trabalhos domésticos que eu nunca fiz e nem sequer sei usar as tecnologias disponíveis na minha própria casa: por exemplo, encontrei uma vassoura que tem uns fios eu não sabia usar e precisei muito dela. Vejam o que me aconteceu no sábado: por engano deixei momentaneamente uma fresta no freezer aberta... tempos depois quando me dei conta do ocorrido, havia vários alimentos descongelados.
Adicionar legenda
Resgatei um. Mas no dia seguinte não houve como eu pudesse abrir qualquer gaveta! estava tudo coberto de gelo e eu precisei fazer nesta manhã de terça-feira um grande descongelamento do freezer... secar tudo por dentro de repor os alimentos que estão momentaneamente no refrigerador.... alguém dirá isso é a coisa mais fácil.. minha resposta é sim mas eu nunca fiz antes como já   disse não sabia para que ter aquela vassoura tão útil agora...
E ainda me ofereceu um plus: o piso da cozinha e da área de serviço limpos como antes não fizera!
Então, estas são algumas reminiscências deste período tão exótico... tão díspare!
 É também muito bom que estarmos vivendo, eu e o meu diário... achassot, agora com especialização em degelo e regelo de freezers e com saudades de Ceni, que cuida de minha casa!
Deste fragmento do diário antes descrito, fiz pré-leitoras duas colegas minhas, por coincidência doutoras na área de Ciências Biológicas. Uma e outra trouxeram comentários que transcrevo:    Sílvia Chaves, da UFPA, em Belém: “Ontem foi dia de faxina aqui em casa. Difícil coordenar uma equipe de homens desacostumados a tarefas domésticas.   Tem-se que explicar o mais básico. Tipo, se passa pano com desinfetante na casa depois de aspirar o chão e não antes... Falta espírito prático, tão requisitado como atributo masculino.”
 Alessandra Rezende Ramos da Unifesspa, em Marabá: “Eu tenho uma teoria. Acredito que o cromossomo Y carrega genes únicos da falta de atenção doméstica.”
Abstenho-me de contar que esta semana tive que telefonar para minha filha Clarissa para saber como se liga um liquidificador.
Aos que creem e aos que não creem desejo uma abençoada Sexta-feira Santa e uma alegre comemoração da Ressurreição! Aleluia!

sexta-feira, 3 de abril de 2020

03ABR2020 Em tempos aprilinos incógnitos



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AGENDA 2 0 2 0
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3474
R I P *  A abertura desta blogada quer ser uma reconhecida homenagem de gratidão ao Prof. Dr. LAETUS MARIO VEIT, ontem falecido, aos 91 anos. Recordo enternecido o meu orientador de doutorado que, provavelmente, instilou em mim a curiosidade teológica! Hoje estou muito no cemitério de Bom Princípio, no seu sepultamento, não muito distante de onde repousam meus avós maternos. R I P *
A discussão se o março de 2020 terminou no seu 17º dia ou teve uma semana com cem dias está abortada. Vivemos dias aprilinos. Assim como não se discute a frequência que o Presidente Messias Bolsonero é tomado de diarreias mentais e quanto o conjunto de suas baboseiras determinam envergonhamentos no Brasil e além fronteiras.
Já vivemos dias aprilinos e a adjetivação válida é apenas a primeira trazida pelo Priberam [1. Relativo ao mês de abril. 2. Fresco, jovem ou viçoso]. Prognostico prováveis dias aprilinos ignotos.
Em dias recém vividos, a Educação a Distância (EaD), alternativa de maneira usual exercidas por docentes preparados para tal e alicerçada em tecnologias digitais destinadas mormente a cursos de graduação ou pós graduação, se faz panaceia na Educação Básica. Pretendo discutir, em outra blogada: computador não é aluno e também não é professor.
 Hoje, trago uma vivência que reconheço bem sucedida. Pertence à minha rotina, quando estou em Porto Alegre, de segunda à sexta, frequentar a academia de ginástica, Já faço isso há quase 15 anos. Quando se reconheceu que a sábia opção da Organização Mundial da Saúde recomendando o isolamento social em tempos de coronavírus se estenderia por semanas, a bacharel em Educação Física Marcia Honesko, minha muito competente Personal Trainer, há mais de 10 anos, ofertou-me a possibilidade de termos alguns ‘treinos’ a distância. Depois de nosso quarto ‘encontro’, ela escreveu sobre as vídeo aulas:
Logo nós que éramos tão críticos com as pessoas que não largavam o celular na academia... Hoje o vilão tornou-se herói!
Herói pois ele nos salvou de não deixar a rotina de exercícios físicos de lado, muito pelo contrário, nos deu a possibilidade de nos reinventar como professores e também como alunos! Acredito que tenha surpreendido a todos positivamente!
Estou achando a experiência incrível e o feedback dos alunos têm sido extremamente positivo!
Ratifico as percepções da Marcia. Os treinos se fazem muito positivos e confortáveis. Como as vídeo aulas são em tempo real, inserimos nas mesmas comentários laterais que são presentes em nossas aulas presenciais. Os cenários são diferentes, pois estamos, uma e outro em nossas casas.
Na expectativa que cada uma e cada um de meus leitores vivam esta (ex)tensa quarentena mui frutuosamente. Espero lermo-nos na sexta-feira próxima.