sexta-feira, 28 de junho de 2019

28.—Oriente <> Ocidente

ANO
 13
AGENDA 2 0 1 9
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3408

Depois de 33 dias (12 em Marabá +7 em Manaus + 10 no Rio de Janeiro + 4 em Marabá) retornei esta tarde à Porto Alegre. Nas três edições anteriores deste blogue se comentou os três primeiros segmentos. Hoje trago uma amostra de uma das produções do quarto segmento.
Durante nove semanas, com 2x4 horas em dois dias, a Profa. Alessandra Rezende e eu desenvolvemos no Programa de Pós Graduação de Educação em Ciências e Matemática da UNiFESSPA o componente Curricular: História e Filosofia da Ciência.
Na tarde de ontem, os mestrandos trouxeram uma análise crítica de um dos capítulos de livro {Decolonialidades na educação em ciências / Bruno A. P. Monteiro... [et al.]. – 1. ed. – São Paulo : Editora Livraria da Física} lançado nesta semana no ENPEC, em Natal, RN.
A trazida da análise crítica, no último encontro do seminário oportunizou um profícuo debate de encerramento do componente curricular. Como amostra se traz a seguir, devidamente autorizado por escrito pela autora, um dos 17 textos produzidos.
ANÁLISE CRÍTICA DO CAPÍTULO “O OCIDENTE ‘CONSTRÓI’ O ORIENTE PARA COLONIZÁ-LO”, Attico Chassot.
Eude Léia Gonçalves Ramos Mendes – Mestranda PPGECM/UNIFESSPA
RELATÓRIO DE LEITURA
O autor amplia a discussão acerca da colonização europeia abordando a relação entre o Ocidente e o Oriente, o que é inovador, pelo menos do ponto de vista latino americano. Para isso, parte do pressuposto de que o Oriente é uma ‘criação’ do Ocidente que delimita não apenas o espaço geográfico, mas também a noção de“externo”e, portanto, passível de dominação.
Com a intenção de responder à pergunta ‘por que não houve revoluções científicas no Oriente?’, o autor faz um apanhado na história da Ciência ocidental e cita as principais mudanças paradigmáticas ocorridas nos últimos cinco séculos. Ao longo do texto, constrói e desenvolve a hipótese de que a influência da ortodoxia das religiões monoteístas dominantes no Ocidente exigiram da Ciência uma postura também dogmática para garantir seu espaço. Por outro lado, “as filosofias orientais moldaram um pensamento que não necessitava buscar explicações (mecanicistas) para o mundo natural”, o que justificaria a ausência de revoluções científicas no Oriente.
CONSIDERAÇÕES
1. As auto-citações estão bastantes presentes no texto e, no Referencial Teórico, há mais títulos do próprio autor que de outros autores. Explica-se que as citações estão devidamente datadas e identificadas, o que não caracterizaria auto-plágio. No final do resumo está posto: “Este capítulo, por ser escrito quando seu autor inicia sua octogésima volta em redor do sol, se reveste de uma mirada crítica a uma parte da produção intelectual do mesmo”...Sugere-se reforçar essa afirmação no corpo do texto como forma de apresentar a utilização de referenciais já publicados pelo autor, demostrando o contínuo aprofundamento de ideias.
2. Embora não seja o foco principal da discussão o autor aponta a Reforma Luterana como um evento crucial para o surgimento da escola tal como conhecemos hoje e cita outros benefícios dela decorrentes: “Talvez outra dádiva da reforma foi fazer a igreja abandonar muito de suas posturas monacais e assumir-se mais inserta no mundo, preocupada com a realidade terrena, e não sonhar expectante com a futura vida celestial”. Diante da afirmação destacada, sugere-se considerar que tais mudanças talvez não tenham tido tamanha proporção, visto que o objetivo da educação proposta, em princípio, seria justamente possibilitar o acesso à vida eterna através do conhecimento das Escrituras.
3. O título sugere o processo pelo qual o Ocidente impôs sua dominação ao Oriente. Numa tentativa de responder a pergunta “Por que no Oriente não houve revoluções científicas?”, aponta-se a ausência dos textos sagrados que garantem a ortodoxia às religiões e a própria filosofia oriental que não busca explicações para os fenômenos naturais. O autor esclarece, inclusive, que esta pergunta “tem sido respondida, há cerca de um século”. Assim, a dominação do Ocidente parece não se evidenciar, pelo menos no que se refere à religiosidade oriental, o que configura a ideia como um paradoxo ao título.
4. O texto impressiona pela erudição da escrita, com destaque para o vocabulário que remete à ideia de uma composição musical. Além disso, a temática envolvente e instigante deve, sem dúvida, fazer parte dos processos formativos de quem se envolve com educação em Ciências. Observo a amplitude da discussão acerca dos processos de colonização que, para nós, latino-americanos, muitas vezes, restringe-se à relação Europa/Continente Americano. O texto também aborda, de forma bastante pertinente, as discussões sobre a “decolonialidade na Educação em Ciências”, por destacar as relações de poder presentes nos processos de aculturação, seja por meio da imposição da língua, da religião ou da ciência dominantes.
A ilustração de Joaquín Torres-García (1874-1949) pintor, desenhista, escultor, escritor e professor uruguaio, não está inserida no livro referido. Sua presença aqui é provisória. 

3 comentários:

  1. Ilustração e reflexões importantes para a educação em ciências. Meu abraço àquele que está na sua enésima volta ao redor deste país, suleando transformações na educação, e na octogésima volta ao redor do sol.

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    1. Conceição muito querida, obrigado pelo privilégio de tê-la como leitora no blogue.

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