sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

28.- Um patinho feio se transmuta em cisne real



ANO
 13
AGENDA 2 0 1 9
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3389
Esta edição já circulava quando soube, envolto em tristeza, o anúncio da morte escritor israelense Amós Oz (1939-2018), meu eterno candidato ao prêmio Nobel de literatura. Éramos coetâneos. Isto foi muito significativo quando li o seu livro de memórias: De amor e de trevas. Evoco a emoção que tive, no ano passado, ao assistir o memorável pacifista, na Reitoria da UFRGS, no Fronteiras do Pensamento.  Obrigado, Amós Oz, pelas lições de PAZ.
Esta é a última edição de 2018. Sendo ela a 56ª do ano foi assegurada a periodicidade de uma edição semanal que circula ao entardecer das sextas-feiras. Quando faço esta afirmação sempre me surpreendo que por cerca de oito anos a periodicidade deste blogue era diária; hoje a periodicidade semanal parece árdua.
Esta edição é a última da intragável era Temer. Só sabê-lo encagaçado pela possibilidade ser preso, logo após transferir a faixa presidencial, já se configura como parte do castigo que é merecedor. Aceito a crítica ao meu sentimento não caridoso, de uma maneira muito especial se me dou conta estarmos vivendo dias de loas a fraternidade.
Esta edição não é apenas a última do ano. Também é aquela que determinará o início do recesso de férias do blogue até o dia 25 de janeiro. Assim votos que tenhamos todos um 2019 pleno de (des)esperanças e aos que por ora fazem férias desejo que as mesmas sejam energizantes.
Confiro a esta edição o status de comemorativa, pois amanhã se celebra dez anos da instituição no Brasil da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia — IFs —. Esta é uma celebração significativa na Educação brasileira. Assim, este é mote desta edição. Parece natural reconhecer que efeméride deste sábado mereça espaço mais amplo e mais qualificado que este blogue, até porque não sou historiador.
Mesmo não sendo professor de um IF, não sou um alienígena na Rede, pois já estive, enquanto professor, em mais de um terço dos 38 IFs e em dezenas de campi e por tal ouso significar três momentos da trajetória do ensino técnico no Brasil.
23 de setembro de1909: presidente Nilo Peçanha (1867-1924) assina o decreto 7.566, considerado o marco inicial do ensino profissional, científico e tecnológico de abrangência nacional no Brasil. O ato criou 19 Escolas de Aprendizes Artífices, que tinham o objetivo de oferecer ensino profissional primário e gratuito para pessoas que o governo chamava de “desafortunadas”. Vale destacar que “a inclusão está na genética da educação profissional no Brasil.”
Assim, estas escolas pioneiras tinham uma função mais voltada para a inclusão social de jovens carentes ratificando preconceito milenar no mundo ocidental onde o pensar supera o fazer, basta que examinemos o nosso DNA grego.
O trabalho manual não era valorizado pelos gregos. Se atribui a Platão esta afirmação: “É próprio de um homem bem-nascido desprezar o trabalho” e valorizar atividades intelectuais (a filosofia, a religião...), artísticas e políticas. Os afazeres domésticos, as lides do campo, a construção e outros eram executados por escravos.
A Presidente Dilma Rousseff sancionou, em 9 de junho de 2011, a Lei n° 12.417 que torna o ex-presidente Nilo Peçanha o patrono da Educação Profissional e Tecnológica Brasileira em uma homenagem ao ex-presidente, que assinou a Lei antes referida.
29 de dezembro de 2009 o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona a Lei 11.892 que institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia Federal ao transformar em um só organismo as estruturas de 31 centros federais de educação tecnológica (Cefets); 75 unidades descentralizadas de ensino (Uneds); 39 escolas agrotécnicas; sete escolas técnicas federais; oito escolas vinculadas a universidades.
A análise desta Lei oferece múltiplas questões; destaco uma: por que, por exemplo, o estado de São Paulo com significativa extensão territorial e populacional tem apenas um IF e Minas Gerais tem cinco? Valeria uma discussão a imposição pbrigatória aos IFs de licenciaturas.
Com a expansão dos IFs (referida no momento seguinte) a postura elitista, ferreteada na dicotomização entre o pensar e o fazer, herança cometida ao nosso DNA grego, tentou mais recentemente pôr-se em evidência. O discriminar pareceu aflorar nas relações Universidades x Institutos federais, mesmo que estes se envolvam com Educação Básica (Ensino médio técnico e a Educação de Jovens e Adultos), um amplo espectro de cursos de graduações (nas quais 20% das vagas devem ser para licenciaturas) e pós-graduação (especializações, mestrados e doutorados).
A ressureição do dualismo da proposta de Nilo Peçanha: de um lado, as Escolas de Aprendizes Artífices preocupada com a formação para o mercado de trabalho e com o recrutamento de crianças e de pessoas “desocupadas” que viviam a margem da sociedade e de outro, uma escola direcionada à classe dominante, uma escola elitista que formava os filhos dos ricos preparando-os para no futuro controlar o poder econômico e político afortunadamente parece não ter vingado. Talvez, as associações sindicais, quando acolheram sob a mesma guarda docentes das universidades e dos institutos federais tenham contribuído para uma não discriminação. Também as ações do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) tem contribuído para uma visão não dicotômica.
29 de dezembro de 2018 simbolicamente se coloca a data de amanhã como um marco em uma mirada acerca dos 10 anos dos Institutos Federais no conturbado cenário da Educação brasileira, quando os prognósticos para 2019 são muito sombrios (para não dizer tsunâmicos). Os IFs e as Universidades públicas estão na alça de mira dos que querem ver dizimação da escola pública brasileira.
Hoje os 38 IFs estão presentes nos 26 estados federados e no Distrito Federal com 650 campi, 80 mil servidores, 11 mil cursos, 6 mil projetos de extensão e 1 milhão de matrículas. Estes dados têm eloquência... Mas há outro que parece significativo. Neste dezembro foi publicado matéria*** com manchete que pode até ser rotulada de ufanista, mas cumpre destacar:
Uma Coreia do Sul dentro do ensino público brasileiro: Segundo os resultados mais recentes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), de 2015, se a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica fosse um país, ele estaria na 11ª colocação, nas áreas analisadas — matemática, leitura e ciências — e à frente de países como Estados Unidos, Alemanha e do próprio Brasil.
Para o presidente do Conif Roberto Gil Rodrigues de Almeida, o desempenho dos Institutos nos indicadores internacionais mostra que seus dez anos de funcionamento devem ser celebrados. “Considerando que nossas instituições promovem a inclusão, isso comprova que pessoas anteriormente privadas de um ensino de qualidade agora têm acesso a um modelo de educação profissional e tecnológica socialmente referenciado”, declara.
Na mesma matéria referida, Anália Ribeiro, reitora do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), sublinha: “os números da extensão e da pesquisa são expressivos. Em 2008, o IFPE possuía apenas 12 estudantes de iniciação científica, enquanto o número atual é de 352 alunos. Já o número de projetos de extensão cresceu de 31 projetos com 52 bolsistas, em 2010, para 191 projetos com 315 bolsistas. “A força do nosso programa de iniciação deriva do forte investimento que fazemos em formação de professores, que contam com grande facilidade de liberação para mestrado e doutorado, posteriormente orientando estudantes de nível médio. No mais, como atendemos o substrato mais pobre da sociedade, sabemos da importância das bolsas”, conclui a Reitora.
No caso do IFPE, a maior parte dos cerca de 24 mil alunos matriculados é oriunda de famílias cuja renda não ultrapassa um salário e meio per capita. “Isso significa uma mudança social significativa, porque a partir da educação nossos alunos não só conseguem mudar suas vidas, como a de suas famílias”, completa a Reitora. Pernambuco, aliás, entre os IF’s, é o que estado do país que possui o maior número de estudantes indígenas. “Só no campus Pesqueira, nós temos mais cem alunos do povo Xucuru. Também atuamos junto a outros grupos vulneráveis, como campesinos, quilombolas e assentados e trabalhamos com cursos de formação continuada para menores em processo de ressocialização”, conclui a reitora.
***http://www.leiaja.com/carreiras/2018/12/04/dez-anos-dos-ifs-uma-coreia-dentro-do-ensino-brasileiro
Assim,
aqui e agora,
Só nos cabe cantar loas aos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
 Parabéns aos IFs pelos primeiros 10 anos.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

21.- Uma mirada a uma imperial escola



ANO
 13
A G E N D A 2019
Www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3388
As edições deste blogue em 2018 chegam quase ao ocaso. Já antecipo que a próxima edição que circulará dia 27 não será apenas a última e 56ª do ano, mas também aquela que decretará o recesso de férias do blogue até o dia 25 de janeiro.
 Tinha dois assuntos pautados para hoje. No primeiro desejava simplesmente reproduzir o excelente texto ‘O antiministério’ do médico Manoel Olavo, que circula a rodo na rede.
 Na busca de uma certificação do texto, o encontrei no formativo blogue Cidadania e Cultura do Professor Fernando Nogueira Costa, da UNICAMP. Aos meus leitores que não conhecem o texto, vale a pena conhece-lo em: https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2018/12/17/o-antiministerio-pelo-medico-e-professor-manoel-olavo/ Recomendações entusiasmadas .
Opto, assim, pela segunda alternativa. [Sempre me lembro quando há muito aprendi que não posso dizer ‘outra alternativa’ porque a palavra latina alter em português significa outro].
Em vários dias desta semana, por estar colaborando em capítulo do livro Ascensão Conservadora e os desafios da educação pública precisei revisitar minha tese de doutorado*. Há alguns anos não a relia. Podem me chamar de narciso: foi uma sumarenta releitura.
Trago, em seguida, excertos (em verde) que extrai das quase uma centena de páginas do capítulo 3: ... sobre ensinar química. Para eleição do texto certamente contribuiu o convite que recebi em 24 de novembro de professores do Colégio Pedro II para uma palestra em 2019.
O período dos 9 anos de regência (1831-1840), que se seguiu a renúncia de D. Pedro I, foi marcado por muitas agitações intestinas e evidentemente, mais uma vez, a educação foi a grande prejudicada. No período foi criada uma escola para meninos indígenas em Minas Gerais. A maior realização educacional ocorreu em 1837 (Segunda Regência) com a transformação do Seminário São Joaquim, no Rio de Janeiro, em Colégio Dom Pedro II, transformado em colégio-padrão brasileiro, título que ainda mantém.
No artigo 3º do Decreto de criação dizia: “que neste colégio serão ensinadas as Línguas latina, grega, francesa e inglesa, Retórica e princípios elementares de Geografia, História, Filosofia, Zoologia, Mineralogia, Botânica, Química, Física, Aritmética, Álgebra, Geometria e Astronomia.” A menção de tão extensa lista de disciplinas demonstra o caráter enciclopédico e a tendência humanista do ensino, podendo por outro lado inferir-se que o seu endereço era para as elites, que depois completariam seus estudos em Coimbra ou Évora ou em outras Universidades europeias. Mesmo no estabelecimento padrão houve muitos problemas, principalmente relacionados com a falta de livros adequados e de professores preparados para cumprir a proposta curricular contida no Decreto Imperial.
Uma tabela de estudos do Imperial Colégio Pedro II — o Liceu Nacional — organizada para 6 anos de estudos que se seguiam a cinco anos de curso primário, mostra a seguinte grade curricular com o número de lições semanais:
1º ano: Latim (10), Francês (5) Aritmética (4), Geografia (3), Desenho (3).
2ºano: Latim (5), Francês (5), Inglês (5), Geografia (3), Álgebra (3), Desenho (3).
3º ano: Latim (5), Francês (2), Inglês (5), Alemão (3), Grego (5), Geografia (3), Geometria (2), Desenho (1).
4º ano: Latim (5), Grego (3), Inglês (2), Alemão (3), História (3), Ciência Naturais (3), Trigonometria (3) , Geografia(3), Desenho (2).
5º ano: Latim (4), Grego (4), Alemão (2), História (3), Física (2), Filosofia (5) Retórica (5).
6º ano: Latim (1), Grego (1), Alemão (2), História (3), Química e Mineralogia (4), Astronomia (2), Filosofia (5), Retórica (5).
 Uma simples olhada nesta grade curricular permite inferir o caráter humanista antes referido. Parece ser também um ensino desatualizado a nova realidade, onde por exemplo, o Latim tem cerca de 24% da carga horária total do curso, enquanto que a Química tem menos de 2%, ou a Filosofia ou a Retórica tem cargas didáticas quase iguais que o conjunto das disciplinas matemáticas. Em uma reforma de 1878, se propunha que em Química, no Pedro II, se ensinasse “nomenclatura e notação química, equivalente, caracteres e preparação dos corpos simples e compostos mais importantes para o uso da vida, análises e experiências.”
 O extenso regimento inicial do colégio, tanto do internato quanto do externato, mostra, por exemplo, quanto a Igreja Católica, estava associada ao Império: o capelão é igual em dignidade ao vice-reitor, habitará no interior do Colégio o mais perto que for possível da enfermaria, sendo que havia a celebração da missa para os alunos nas quintas-feiras, além dos domingos e dias festivos; a preparação para primeira comunhão e confirmação era feita no colégio. Este regimento destaca a necessidade de aval do Ministro na escolha feita pelo Reitor dos livros para biblioteca.
Num rasgo de generosidade do governo brasileiro para com a juventude da pátria, (da qual em 1840 frequentou o Colégio, 42 alunos internos e 28 externos), segue-se a informação de que “muito desejaria o governo franquear a instrução gratuita no Colégio Dom Pedro II a maior número de meninos pobres, do que aqueles que os estatutos atualmente admitem, porém seus desejos serão baldados, se a benevolência do corpo legislativo, não ocorrer com algum auxílio para a sustentação do estabelecimento.”
Em tempos de então parecia não haver a polêmica da escola sem partido. As escolas — especialmente a escola modelo a todos as outros era com partido (monarquista). Adito votos de um bem temperado verão que está se iniciando.
·       * CHASSOT, Attico. Para que(m) é útil o nosso ensino de Química? Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRGS, 316 p. (tese de doutorado; orientador: Prof. Dr Lætus Mario Veit). 1994.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

14.- Mesmo sem subir no pé de goiaba ouvi um passarinho verde



ANO
 13
A G E N D A  2019
Www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3387
O fim de ano, diferentemente dos anos anteriores, parece vagaroso. O sestroso 2019 parece ferreteado por (D)esperanças. Leio pesquisas que dizem que 75% dos brasileiros acreditam que Bolsonaro está no caminho certo. Posso inferir que muitos que mesmo não tenham votado nele ouviram a recomendação de já ir se acostumando.
Claro que mesmo reconhecendo que foi a pior escolha que a maioria de eleitores pudesse ter feito, agora torcemos que o Brasil dê certo. Já vituperei aqui dois ministros que parecem assegurar insucessos. Refiro-me ao militar colombiano que será ministro de Educação e ao destrambelhado que comandará o Itamaraty sendo o chancelar do Brasil.
Uma outra perigosa surpresa. Nesta semana foi anunciada a titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: Demares Alves, assessora parlamentar, advogada e pastora evangélica. A futura ministra já anunciou ‘a bolsa estupro’ um auxilio em dinheiro a mulheres grávidas para que não abortem quando vítimas de estupro. Este ministério também terá a gestão da Funai.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, a futura ministra Damares Alves, diz durante um culto evangélico que viu Jesus Cristo em cima de um pé de goiaba, aos 10 anos, quando pensou em se matar. A revelação aconteceu nos fundos da casa de seu pai. Damares conta que subiu na árvore e se preparava para tomar a substância quando avistou Jesus caminhando em sua direção.
O vídeo: https://youtu.be/mAgeb3M3H_c se não fosse de culto evangélico — por tal merecedor de meu maior respeito — diria tratar-se uma antológica comédia do teatro do absurdo. O anedótico texto do vídeo pode ser lido em https://extra.globo.com/noticias/brasil/futura-ministra-damares-alves-diz-ter-visto-jesus-em-cima-de-pe-de-goiaba-23300585.html
Mudemos o compasso. Abstraio ter tido subas em pés de goiabeiras. Não preciso nem subir para já ser inebriado pelos aromas de goiabas. Esta semana ouvi o cantar de um passarinho verde no meu jardim/horta. E fez ele um anúncio maiúsculo.
Em janeiro inauguro meu 59º ano letivo como professor visitante sênior da UNIFESSPA Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará — uma jovem Universidade que completa, neste 2018, cinco anos — presente por meio de uma dezena de campi numa extensa região geoeducacional, na qual o polo central é Marabá.
Na tarde desta quarta-feira a Prof. Dra. Cindy Stella Fernandes, Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica ratificou, em diálogo telefônico, minha contratação envolvendo projetos conjuntos de ensino e pesquisa que aprimorem a formação pós-graduada visando à melhoria da qualidade dos PPGs da região. Isso me vincula mais intensamente pela liderança do Prof. Dr. Ronaldo Barros Ripardo ao PPGECM /Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática não excluídas atividades em graduação e em extensão.
Tenho tudo para estar muito contente e celebrar ações possíveis nesses próximos dois anos. Assim, que venha então 2019!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

07.- Depois de ter falado de flores, vale falar de amores...



ANO
 13
Livraria virtual
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EDIÇÃO
3386
Há uma semana vivemos o festeiro dezembro. Não vou voltar aqui com narrativas de priscas eras com os meus (des)gostos e com ‘minhas ambiguidades dezembrinas’. Este ano é tudo muito diferente. Há tantas ameaças ao novo ano que parece que não sabemos se queremos que termine este 2018, que a uns trouxe tantas desilusões. O paradoxo pode ser evidenciado com o transmutar dos tão sonhados ‘fora temer!’ em doloridos ‘fica temer!’
0 bode — que conhecemos na blogada de 16 de novembro — continua entrando e saindo da sala. Eis uma recém trazida: o serviço de inteligência da marinha está mapeando grupos e indivíduos são contra o novo governo. Talvez seja uma fake News. Não há muito a temer, pois se quisessem prender a estes não haveria presídios para encarcerar quase a metade dos brasileiros  
Posso afiançar que não é por isto que mudei o tom. Já que ao invés de falar que é esdrúxulo um terço dos ministros vir da caserna ou que me parece no mínimo de mau tom um militar colombiano ser o ministro da Educação ou um destemperado mental ser o Chanceler falei de flores. Hoje falo de amores.
Meu falar de amores tem duas dimensões: uma pessoal e outra planetária. Explicito uma e outra.
A pessoal: A postagem desta blogada é feita em São Paulo, onde esta tarde fiz 66ª e última fala (incluo palestras, minicursos, bancas...) de 2018. A fala de hoje foi a única que não se destinou a meus pares da academia ou a alunos desde a Educação Infantil até o doutorado. Pretendo em outro momento comentar a palestra de hoje em uma empresa. A dimensão amorável do estar em São Paulo se faz com celebração neste domingo do cinquentenário de meu filho Bernardo. Estas emoções são inenarráveis.
A planetária: Nosso Planeta, tantas vezes cenário de guerras, de injustiças sociais e outras misérias de vez em vez nos surpreende com ações amorosas comoventes.
Cinco semanas depois de um pastor holandês ter iniciado o que parecia ser um serviço religioso completamente comum, o culto continua, como uma espécie de maratona de orações que envolve centenas de pessoas e não mostra indicações de esmorecimento. A igreja Bethel, em Haia, está tentando impedir a deportação de uma família armênia que teve negado seu pedido de asilo depois de viver quase nove anos na Holanda, apesar de eles terem afirmado que estariam em perigo caso retornassem a seu país.
A Bethel e a Igreja Protestante da Holanda, da qual a família faz parte, estão tirando vantagem de uma lei holandesa que, na maioria das circunstâncias, impede que as autoridades conduzam operações em um local no qual serviços religiosos estejam sendo realizados.
"Já existem mais de 450 pastores, sacerdotes, diáconos e líderes religiosos de todo o país, e de toda denominação, que pediram para fazer parte da escala de serviços religiosos", disse Axel Wicke, o pastor da Bethel, em entrevista na quinta-feira (29)."Tivemos ajuda até do exterior, houve sermões em inglês, francês e alemão", ele disse. "Isso nos comoveu muito. Muitas vezes vejo um pastor entregar o púlpito a outro, de denominação diferente, com a qual o primeiro nada teria a ver em termos litúrgicos".
A família Tamrazyan, formada por pai, mãe e três filhos com 21, 19 e 14 anos, disse ter saído da Armênia depois de receber ameaças de morte por conta do ativismo político do pai. As pessoas que estão trabalhando com a família se recusaram a dizer em que causas políticas ele estava envolvido, ou quem poderia desejar atacá-lo.
Realmente é melhor falar em flores e em amores. Já estou pensando em que poderia falar na sexta-feira., dia 14. Acolho sugestões.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

30.- Para não dizer que não falei de flores...



ANO
 13
Livraria virtual
Www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3386
Novembro se esvai. Se esvai lânguido. Novembro não era assim lúbrico. Ao contrário. Ele se fazia com garbo o predecessor do festeiro dezembro. Este ano parece que ele não termina.
Seu antecessor ofereceu para muitos de nós dois domingos (7 e 28) que ainda sabem a fel. E por isto novembro não poderia ser diferente.
Novembro foi de continuados pesadelos que – lamentavelmente – não foram pesadelos... Era bode entrando e saindo da sala a toda hora.
Pensei muito acerca do que iria blogar nesta sexta-feira. A muitas propostas um censor mágico vetava meu intento. Não me cabia achar no mínimo de mau tom um militar colombiano ser o ministro da Educação ou um destemperado mental ser o Chanceler. Não adianta a minha opinião.
De repente me dei conta que tinha um lindo assunto inédito para a blogada do dia que despede novembro. O ciclo das flores de Porto Alegre.
Não sou botânico, mas me encanta ver a sazonalidade de florações que enfeitam a cidade, que uma vez se dizia a cidade sorriso. A violência semeada pela droga fê-la perder o título. Mas as diferentes florações que embelezam a cidade, por enquanto, se mostram impunes a violência.
Detectei quatro ciclos muito bem marcados na cidade. Há outros, e talvez algum leitor expanda minha contagem. Eis a minha relação.
 Em abril dezenas de paineiras primeiro fazem a cidade rosácea e depois as flores se transformam em painas que brisas outonais espalham pela cidade.
No inverno as árvores se aquietam. Não há floradas. Mas, a seguir a natureza se tinta à primavera.
Mas quando começa setembro os ipês de diferentes cores, mais especialmente os rosas e os amarelos avisam que a Semana da Pátria (que os coxinhas, agora, acham que é só deles) está por começar. Os ipês brancos são mais raros por estas bandas. Na minha rua tem minguado ipê branco que eu acredito que seja só meu.
Outubro são os imponentes jacarandás que tintam de roxo muitas ruas anunciando que é tempo de feira do livro na Praça da Alfândega. Sei que há mais de 100 espécies de jacarandás, mas os nossos que a esta época estão ‘frutificando’ são os mais bonitos.
Agora, nos tempos em que novembro se transmuta em dezembro, há dezenas de flamboaiã (se os chamo de flamboyant eles parecem mais elegantes) lindamente floridos ornamentando a cidade com floradas magníficas. As duas fotos que ornamentam este texto foram feitas esta semana pelo meu filho André. Ratifica-se a tese: uma boa foto vale mais 1001 palavras.
Sei que deixei de referir algumas árvores ornamentais da cidade. Mas, se há de dizer que falei de flores neste novembro custoso.