domingo, 3 de setembro de 2017

03.— “Das Disciplinas à indisciplina”: Um anúncio de esperança


 

ANO
 12
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3314

Ontem à noite, terminei a leitura de um livro que catalisou significativas reflexões acerca do (meu) fazer acadêmico. Pensava hoje fazer aqui uma resenha. Chega-me, então, um comentário de um leitor que desbancou minha intenção.
Para não parecer por demais vaidoso, pretextei que Tio Petros e a Conjectura de Goldbach (obrigado, pela sugestão, Luiz Rafael Santos, chefe do Departamento de Matemática da UFSC Campus de Blumenau) precisava uma melhor maturação.
Assim, a primeira blogada desta adventícia primavera se faz —autorizado pelo autor — com um texto de Mateus Lorenzon. A ele meus agradecimentos.
CHASSOT, Attico. Das disciplinas à indisciplina. Curitiba: Appris 239 p. 2016. ISBN 978-85-473-0297-9
“Das Disciplinas à indisciplina”: Um anúncio de esperança  As ideias de Attico Chassot são basilares nas práticas pedagógicas que desenvolvo para e com as crianças. Quando eu havia recém ingressado na graduação, foram as leituras de livros de autoria do Mestre, tais como Para Que(m) é Útil o Ensino? (Editora Unijui, 1995) e Alfabetização Científica: Questões e desafios para a educação (Editora Unijui, 2011), que me instigaram a devanear acerca das possibilidades de constituir uma educação comprometida com a transformação social e a dignificação da vida dos sujeitos mais marginalizados.
Passado algum tempo, tive oportunidade de ser avaliado pelo Professor Attico Chassot em minha qualificação. O aceite do Mestre Chassot, em participar daquele momento, despertou certa angústia, visto que falamos de um autor, que além de uma vasta produção bibliográfica, possui larga experiência como docente e é dotado de uma rigorosidade intelectual, que o fazem uma das principais referências para a Educação Científica. Em ocasião de sua visita a nossa instituição, tive oportunidade de assistir a palestra “Das disciplinas à indisciplina” proferida pelo autor e que fazia referência ao seu livro mais atual.
A necessidade de propor um ensino que supere os limites da disciplinares é um tema recorrente nos círculos educacionais. Todavia, parece haver um grande abismo entre o real e o ideal, visto que as práticas escolares não correspondem ao esperado. Essa dicotomia faz com que discursos ingênuos adotem uma postura de culpabilização dos docentes, visto que parece ser somente sua responsabilidade propor mudanças na educação. No livro “Das disciplinas à indisciplina”, Chassot (2016) propõe um caminho inverso, demonstrando, por meio de uma revisão da história da Ciência, que o otimismo científico e a rigidez das fronteiras entre as diferentes ciências são construções históricas que estão arraigadas no modo de pensar (e ser) dos sujeitos ocidentais.
O autor recorre, com extraordinária capacidade de síntese e análise, aos grandes nomes da ciência - Copérnico, Lavosier, Darwin e Freud - demonstrando o quão angustiante a mudança paradigmática e as novas ideias podem ser a aqueles que a vivenciam. A fogueira que consumiu Giordano Bruno ou a repulsa de muitos contemporâneos a Darwin, são aparentes exemplos de predisposição existente ao conservadorismo, frente as mudanças nos modos de pensar. Assim, a emergência do inaudito parece despertar uma perigosa postura nostálgica. Nesse viés, o escrito de Chassot (2016) é, concomitantemente, um anúncio de esperança, uma provocação e um convite. Um chamamento para libertarmo-nos das posturas fatalistas da história, nas quais os modos de pensar a escola e a produção do conhecimento são apresentadas como transcendentais ao homem.
Mario Osório Marques afirmava que quando escrevemos convidamos alguns amigos, interlocutores com os quais conversamos. Os convidados de Chassot são de diferentes áreas, fazendo com que o seu texto seja uma porta para novas leituras. Confesso, que causaria espanto um leitor, concluir o estudo do texto, sem sentir a necessidade de ir com urgência à biblioteca em busca de Prigogione, Chrétein e Skármeta. Assim, os diálogos propostos pelo autor, além de terem uma beleza estética, acabam sendo um convite a mergulhos mais aprofundados na história da ciência, na poesia e na epistemologia.
A leveza da escrita deixa transparecer a humildade do autor e a postura empática com professores da Educação Básica. Poderíamos sintetizar a obra do como um convite a nos comprometermos com a educação indisciplinar e sermos sermos verdadeiros autores em uma revolução paradigmática que demonstra ser necessária.
Por onde devemos começar?
Após a leitura “Das Disciplinas à indisciplina”, esboço uma resposta de que ser indisciplinar implica, não apenas romper as ‘artificiais’ fronteiras que separam as áreas da ciência moderna ocidental, mas sim restaurar o caráter humano ao conhecimento científico, apostar em uma educação que conceba o indivíduo como sujeito integral - sem a separação razão/emoção, corpo/mente, promover a aproximação entre racionalidade e poesia/arte e, sobretudo, buscar um currículo que com olhe com atenção aos saberes primevos, historicamente marginalizados e colonizados pela Ciência.
Mateus Lorenzon
Professor da Rede Pública de Ensino Arroio do Meio – RS
Mestrando da UNIVATES, Lajeado RS

Um comentário:

  1. Assim como Mateus, pensando na produção de Chassot, um Mestre para todos os cantos, reflito se seria possível abalar as estruturas do pensar e do fazer sem que tais condições, já postas, sejam mantidas. Verdadeiramente, creio que nos enganamos, quando desejamos provocar e promover o novo que corresponda às necessidades, aqui, de ensino, já na educação básica, sem que façamos alguma desconstrução nos modelos que se absolutizam. Sinto que Chassot o faz, por questionamentos e por comprometimento, dizendo das ruínas escondidas graças à sua larga experiência, tão profunda quanto abrangente. Vejo-o, ainda, como oferecedor de possibilidades identificadas e promovidas, por isso suas incontáveis e incansáveis viagens pelas instituições de ensino, produzindo, onde o saber se concentra para descentralizá-lo na prática daqueles que por tais instituições são formados. Que se diga aqui, com clareza, uma formação para fora da forma, com identidade de liberdade para pensar, ensinar, aprender e viver. Meu abraço, querido Chassot! Meu abraço, Mateus! ÉLCIO e ADRIANA, de Sorocaba/SP, hoje, em Taperoá/PB.

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