ANO
12 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
|
EDIÇÃO
3314
|
Ontem à noite, terminei a leitura de um livro que catalisou significativas reflexões acerca do (meu)
fazer acadêmico. Pensava hoje fazer aqui uma resenha. Chega-me, então, um comentário
de um leitor que desbancou minha intenção.
Para não parecer por
demais vaidoso, pretextei que Tio Petros e a Conjectura de Goldbach (obrigado, pela sugestão, Luiz Rafael Santos, chefe do Departamento de
Matemática da UFSC Campus de Blumenau) precisava uma melhor
maturação.
Assim, a primeira
blogada desta adventícia primavera se faz —autorizado pelo autor — com um texto
de Mateus Lorenzon. A ele meus agradecimentos.
CHASSOT,
Attico. Das disciplinas à indisciplina.
Curitiba: Appris 239 p. 2016. ISBN 978-85-473-0297-9
“Das Disciplinas à
indisciplina”: Um anúncio de esperança As ideias de Attico
Chassot são basilares nas práticas pedagógicas que desenvolvo para e com as crianças. Quando eu havia recém ingressado na graduação,
foram as leituras de livros de autoria do Mestre, tais como Para Que(m) é Útil o Ensino? (Editora
Unijui, 1995) e Alfabetização Científica:
Questões e desafios para a educação (Editora Unijui, 2011), que me
instigaram a devanear acerca das possibilidades de constituir uma educação
comprometida com a transformação social e a dignificação da vida dos sujeitos
mais marginalizados.
Passado algum tempo, tive
oportunidade de ser avaliado pelo Professor Attico Chassot em minha
qualificação. O aceite do Mestre Chassot, em participar daquele momento,
despertou certa angústia, visto que falamos de um autor, que além de uma vasta
produção bibliográfica, possui larga experiência como docente e é dotado de uma
rigorosidade intelectual, que o fazem uma das principais referências para a
Educação Científica. Em ocasião de sua visita a nossa instituição, tive
oportunidade de assistir a palestra “Das
disciplinas à indisciplina” proferida pelo autor e que fazia referência ao
seu livro mais atual.
A necessidade de propor
um ensino que supere os limites da disciplinares é um tema recorrente nos
círculos educacionais. Todavia, parece haver um grande abismo entre o real e o
ideal, visto que as práticas escolares não correspondem ao esperado. Essa
dicotomia faz com que discursos ingênuos adotem uma postura de culpabilização
dos docentes, visto que parece ser somente sua responsabilidade propor mudanças
na educação. No livro “Das disciplinas à indisciplina”, Chassot (2016) propõe
um caminho inverso, demonstrando, por meio de uma revisão da história da
Ciência, que o otimismo científico e a rigidez das fronteiras entre as
diferentes ciências são construções históricas que estão arraigadas no modo de
pensar (e ser) dos sujeitos ocidentais.
O autor recorre, com
extraordinária capacidade de síntese e análise, aos grandes nomes da ciência -
Copérnico, Lavosier, Darwin e Freud - demonstrando o quão angustiante a mudança
paradigmática e as novas ideias podem ser a aqueles que a vivenciam. A fogueira
que consumiu Giordano Bruno ou a repulsa de muitos contemporâneos a Darwin, são
aparentes exemplos de predisposição existente ao conservadorismo, frente as
mudanças nos modos de pensar. Assim, a emergência do inaudito parece despertar
uma perigosa postura nostálgica. Nesse viés, o escrito de Chassot (2016) é,
concomitantemente, um anúncio de esperança, uma provocação e um convite. Um
chamamento para libertarmo-nos das posturas fatalistas da história, nas quais
os modos de pensar a escola e a produção do conhecimento são apresentadas como
transcendentais ao homem.
Mario Osório Marques afirmava que
quando escrevemos convidamos alguns amigos, interlocutores com os quais
conversamos. Os convidados de Chassot são de diferentes áreas, fazendo com que
o seu texto seja uma porta para novas leituras. Confesso, que causaria espanto
um leitor, concluir o estudo do texto, sem sentir a necessidade de ir com
urgência à biblioteca em busca de Prigogione, Chrétein e Skármeta. Assim, os
diálogos propostos pelo autor, além de terem uma beleza estética, acabam sendo
um convite a mergulhos mais aprofundados na história da ciência, na poesia e na
epistemologia.
A leveza da escrita deixa
transparecer a humildade do autor e a postura empática com professores da
Educação Básica. Poderíamos sintetizar a obra do como um convite a nos comprometermos
com a educação indisciplinar e sermos
sermos verdadeiros autores em uma revolução paradigmática que demonstra ser
necessária.
Por onde devemos começar?
Após a leitura “Das Disciplinas à indisciplina”, esboço
uma resposta de que ser indisciplinar implica, não apenas romper as
‘artificiais’ fronteiras que separam as áreas da ciência moderna ocidental, mas
sim restaurar o caráter humano ao conhecimento científico, apostar em uma
educação que conceba o indivíduo como sujeito integral - sem a separação
razão/emoção, corpo/mente, promover a aproximação entre racionalidade e
poesia/arte e, sobretudo, buscar um currículo que com olhe com atenção aos
saberes primevos, historicamente marginalizados e colonizados pela Ciência.
Mateus
Lorenzon
Professor da
Rede Pública de Ensino Arroio do Meio – RS
Mestrando da
UNIVATES, Lajeado RS
Assim como Mateus, pensando na produção de Chassot, um Mestre para todos os cantos, reflito se seria possível abalar as estruturas do pensar e do fazer sem que tais condições, já postas, sejam mantidas. Verdadeiramente, creio que nos enganamos, quando desejamos provocar e promover o novo que corresponda às necessidades, aqui, de ensino, já na educação básica, sem que façamos alguma desconstrução nos modelos que se absolutizam. Sinto que Chassot o faz, por questionamentos e por comprometimento, dizendo das ruínas escondidas graças à sua larga experiência, tão profunda quanto abrangente. Vejo-o, ainda, como oferecedor de possibilidades identificadas e promovidas, por isso suas incontáveis e incansáveis viagens pelas instituições de ensino, produzindo, onde o saber se concentra para descentralizá-lo na prática daqueles que por tais instituições são formados. Que se diga aqui, com clareza, uma formação para fora da forma, com identidade de liberdade para pensar, ensinar, aprender e viver. Meu abraço, querido Chassot! Meu abraço, Mateus! ÉLCIO e ADRIANA, de Sorocaba/SP, hoje, em Taperoá/PB.
ResponderExcluir