ANO
11 |
Breve, um novo livro
Das disciplinas à
indisciplina
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EDIÇÃO
3219
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Há um tempo assuntei aqui a
realização de noite de autógrafos. Referi que o Professor Guy Barros Barcellos
lançava Pædagogia Pharmacœpeia. Prometi que resenharia a obra aqui. Cumpro,
agora, o prometido então.
Dentre alguns anúncios que estão
na quarta capa, elegi um para título desta edição: “Este é um livro para desacomodar”. Ratifico
a informação. Adito mais: o livro desacomoda em conteúdo e em forma.
Neste novo do livro (em 2013, fôramos
brindados com Manual de implantação de museus
escolares) se faz em tessituras numa concepção muito
original. Isto está já na trazidas do título, que sabe ao medievo, quando apresenta
a contração das vogais a e o com a vogal e, para indicar que as duas vogais contraídas
com a vogal e são semiabertas. Assim é o Guy: um polímata do século 21, que
transita no tempo ao usar palavras ou expressões difíceis, arcaicas e pouco usuais,
que domina com erudição de um linguista como se fosse um iletrado aldeão.
Quando leio um livro, de maneira
usual pergunto-me. Gostaria (ou não) de ser autor desta obra? A maior parte das
vezes minha resposta é sim. Vejo-me, em geral, encantado com as obras dos
outros.
Acerca deste, minha resposta é
não. O Guy justifica meu convicto não. Quase na abertura ele escreve: “Aprendi
com minha mãe que o grande barato de uma tatuagem é arrepender-se, mais tarde,
de tê-la feito. Pois bem, este livro é minha tatuagem”.
Todos nós, de vez em vez, nos
arrependemos de algo que dizemos e, muito mais, do que escrevemos. Todos temos
nossos arrependimentos por tatuagens que, não raro, são irremovíveis. Se eu
tivesse escrito Pædagogia Pharmacœpeia estaria arrependido. O aval de Adriana
Barros-Woodward assegura-me que não perderei o amigo com esta resenha.
O texto é próprio para um jovem
professor que tem arroubos que a maturidade faz fenecer. A máxima que está no clássico Martin Fierro: “O diabo tem mais de diabo, por ser velho do
que por ser diabo!” permite inferir que os anos nos conferem a astúcia do
capeta. Nosso consciente é dado a vigílias; faz seleções. São os jovens que
fazem tatuagens.
O
audacioso professor e biólogo diz: “venenos
e remédios não curam a doce doença da utopia”. Se utopia for uma doença,
ela é como o amor: uma doença com laivos (ou melhor: com traços ou nódoas, para
não aderir ao empolado barcellar) de saudades do futuro. É uma doçura ter
saudades do futuro. Elas são catalisadores para embalarmos utopias. Mas no
livro, Guy anuncia os remédios e os venenos para ser anárquico e, não raro, obsceno
em seu livro: purgantes, cataplasmas, unguentos, infusões, pimenta, pólvora...
É uma farmacopeia de um ferrabrás ou de alguém dado a bravatas para justificar
sua adesão ao feyerabendianismo.
Eis como o autor diz sua Pædagogia
Pharmacœpeia: “Constitui-se num conjunto dos meus
pensamentos sobre o que eu faço, expressões temporárias, sínteses dentro de
garrafas. São páginas para quem deseja se impregnar e intoxicar - sem precisar
lambê-las - e lendo minhas ideias tenham suas próprias a partir das
discordâncias. É uma biblioteca (das poções) que eu uso para conduzir as
crianças, tendo como base de tudo o acolhimento, deixando a pessoa ser o que
ela é e o que ela quer ser. Minha modesta farmacopeia é inspirada também no meu
bisavô que era farmacêutico, humanista e autodidata.” À referência ao bisavô adito uma homenagem à
significativa presença do pai na formação do bisneto de um provável neo-alquimista,
a julgar pela parafernália que usava, parte da qual ilustra a capa. O professor
e oceanólogo Lauro Barcellos bem ensinou o colecionismo ao gerar um museólogo
com expertise.
Se alguém me perguntar como é o
gosto de uma laranja, a melhor sugestão é indicação de que é preciso saborear para
sabê-la. Como é a Pædagogia Pharmacœpeia? Saboreá-la, é preciso!
BARCELLOS, Guy Barros. Pædagogia Pharmacœpeia. 120 p.;
230 x 158 mm; ISBN 978-85-86466-56-4. Editor: Frederico Leal Manica. Porto
Alegre: Cinco Continentes, 2016.
A obra está disponível
em Cinco Continentes Editora Ltda. www.5continentes.com.br E-mail: 5continentes@5continentes.com.br
Fone 51 3264 1377.
Exemplares com dedicatória e autógrafo
rebuscados podem ser solicitado a guy@barcellos.pro.br
Mestre querido. Completaste hoje a trindade de presentes: Fronteiras, Ceia com Nabucco e Semirâmide e uma resenha para (des)arrepender-me do livro. Se houvesse chances de cair o texto no ostracismo, hoje fizeste serviço de estrela-do-mar. Obrigado pelo chassotiano "barcellar". Meu pai já é "Caelatura barcellosi" (um molusco gastrópode), agora também virei adjetivo. Hão de vir outros, mas sem o sfogatto nem o rompante de quem não perdeu os taninos ganhou as madeiras. Hão de vir com o encanecer, enquanto isso, entro pelo cano. Dante teve Virgílio. Eu tenho Chassot. Abraço carinhoso
ResponderExcluirguy
Barcellanismo com Chassotismo, uma fusão de constelações de elementos para ajudar na imprescindível alfabetização científica. Cumprimentos ao professor Guy pela obra, resultado de seu dispendioso apreço cuidadoso com o ensino da ciência. E que o mestre Chassot continue a nos provocar para a necessária "indisciplinarização" dos saberes científicos.
ResponderExcluirVanderlei.
"Alguns morrem na escuridão porque não tiveram um teatro onde se apresentar" (Diderot)