sábado, 10 de outubro de 2015

10.—UMA VIDA SEMPRE EM MOVIMENTO


ANO
 10
EDIÇÃO
 3090
É no esteirar de dois fatos que se faz esta edição. No dia 30 de agosto, fiz uma blogada na qual entristecido narrava a morte de Olivier Sacks. No dia seguinte, por várias razões, a morte ecoou na aula da Universidade do Adulto Maior (UAM). A notícia, mesmo esperada, comoveu a muitos. Este evento catalisa trazer algo que há muito merece registro.
Minhas alunas e meus alunos, dos diferentes níveis: UAM, mestrado e graduação têm uma característica que me encanta. De maneira usual trazem livros, revistas, recortes de jornais, DVDs etc. que julgam que eu mereça conhecer e oferecem-me por empréstimo. Claro que, muitas vezes, constranjo-me, pois não tenho a disponibilidade para fruir o material em tempo hábil para a devolução e também dizer do significado da oferta. Na semana passada, Maria Rita Bortolon, aluna da UAM, trouxe-me uma preciosidade: o livro de memórias de Sacks. Li o denso livro no último fim de semana. Encantei–me. Comovi-me. Aprendi muito.
Assim a repercussão de uma morte de alguém que nos assemelhava muito próximo e a generosidade de alunos pensando em obsequiar oportunidades de ilustração a seu professor, fazem a tessitura desta blogada que inaugura um feriadão. Talvez, possa até estar fazendo uma sugestão de leitura para estes dias.
SACKS, Olivier. Sempre em movimento: uma vida. [On the movies: a life. (Tradução: Denise Bottmann)] São Paulo: Companhia das Letras, 2015. ISBN 978-85-359-2613-2

Não tenho listado quantos eu li, da mais de uma dúzia de livros de Olivier Sacks que a Companhia das Letras publicou. Mas, fiquei muito desejoso de ler aqueles que não li e, inclusive, reler alguns que a leitura de suas memórias me instigou. Um dos mais emocionantes foi Tempo de despertar, do qual o filme homônimo é dos mais emocionantes. Também destaco A ilha dos daltônicos, O homem que confundiu sua mulher com um chapéu e Tio Tungstênio, este narração de sua infância química.
Livros de memórias com este que comento aqui, ou Tio tungstênio, se constituem em um dos gêneros literários que mais me encanta. Biografias, e especialmente autobiografias, é um gênero literário me encanta. Quando estas são de coetâneos há sabores especiais, pois podemos acompanhar com nossas histórias paralelas. Recordo o sabor de ler as memórias de Amós Oz (De amor e trevas) que nasceu no mesmo ano que eu. Quando ele contava algo imaginava que o narrado acontecia quando eu tinha a mesma idade do escritor.
Complemento este comentário, que deseja ser um entusiasmado convite à leitura das memórias de um neurocientista e escritor mais prolífico contemporâneo com a transcrição das orelhas do livro.
“Quando Oliver Sacks tinha doze anos, um professor bastante sagaz escreveu numa avaliação: "Sacks vai longe, se não for longe demais". Hoje está absolutamente claro que Sacks jamais parou de ir. Desde as primeiras páginas, onde ele relata sua paixão de juventude pelas motos e pela velocidade, Sempre em movimento parece estar carregado dessa energia. Conforme fala de sua experiência como jovem neurologista no início dos anos 1960 - primeiro na Califórnia, onde lutou contra o vício em drogas, e depois em Nova York, onde descobriu uma doença esquecida nos fundos de um hospital -, vemos como sua relação com os pacientes veio a definir sua vida.
Com a honestidade e humor que lhe são característicos, Sacks nos mostra como a mesma energia que motiva suas paixões "físicas" - levantamento de peso e natação - alimenta suas paixões cerebrais. Sacks escreve sobre seus casos de amor, tanto os românticos quanto os intelectuais, sobre a culpa de abandonar a família para vir aos Estados Unidos, sua ligação com o irmão esquizofrênico e sobre os escritores e cientistas - Thom Gunn, A. R. Luria, W. H. Auden, Gerald M. Edelman, Francis Crick - que o influenciaram. Sempre em movimento é a história de um pensador brilhante e nada convencional, o homem que iluminou as muitas formas com que o cérebro nos faz humanos”.  

Um comentário:

  1. Não conheço nada do referido autor. No entanto fiquei pensando no título da obra. Quão intensa é a vida para, muitas vezes, restringir-la ao consumo de coisas, ou não? Penso no mestre e a intensidade do seu cotidiano com suas viagens, palestras e caminhadas...Isto é viver em movimento. Que exemplo!

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