ANO
9 |
EDIÇÃO
3023
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Logo na abertura do texto soa um alerta,
ou melhor, dois. Diferentemente do usual, primeiro dei o título e depois me
propus a escrever. O normal é nascer o rebento e depois batizá-lo. Talvez,
porque — aqui e agora — tenha claro o propósito texto. Não é um divagar acerca
do (quase) nada, como alguns de meus blogares. Não sei se conseguirem fugir ao
divagar.
Mas por que soar alertas (tipo daqueles
irritantes que ouvimos nos smartphones alheios avisando que chegou mensagem) ante,
apenas, um despretensioso título?
Voltei ao Priberam. Primeiro descubro que
guisa pode ser da
conjugação do verbo guisar que eu não conhecia. Eu guiso, tu guisas, ele
guisa...
Guisar: 1. Preparar com refogado. 2. [Antigo, Figurado] 3. Ajeitar; dar azo a; ajudar.
Mas, no título posto, usei como
substantivo feminino Guisa que tem três
acepções, das quais conhecia apenas a primeira:
1. Modo, maneira, feitio.
2. [Ornitologia] O mesmo que abibe.
3. Comemoração de falecimento, ao cabo de mês ou ano em Cabo Verde.
Agora sei que guisa ou abibe é uma ave pernalta de arribação, do tamanho do pombo e se um dia
for Cabo Verde talvez vá a uma guisa homenagear um amigo falecido e depois
guisar um abibe ou uma guisa.
O meu ‘à guisa’ do
título está dicionarizado com o significado que escolhera: Completamente armado, sem nada lhe faltar.
Mas, falei de dois
alertas. O segundo é para o substantivo balanço.
Um dos mais gostosos
fazeres, no brincar com as palavras é viajar em nossa história pessoal e ver
quando/como determinada palavra entrou em nossa vivência. Se perguntarmos a uma
criança de hoje o que é um balanço ela certamente referirá com facilidade aquela
que parece ser a acepção mais trivial: 2. [Brasil] Brinquedo composto por um assento suspenso de alto, com cordas ou correntes, em que alguém se senta, oscilando com o impulso do corpo
Mas, eu aprendi
primeiro esta palavra naquela versão que Priberam coloca como a sétima acepção.
7. [Contabilidade] Operação de contabilidade tendente a conhecer
a receita e a despesa de uma casa comercial.
Sou filho de ferroviário. Antes da opção
do transporte rodoviário no Brasil (governo Juscelino: 1956-1961) a VFRGS
(Viação Férrea do Rio Grande do Sul) era uma empresa muito importante. E para
os ferroviários e suas famílias a ‘Cooperativa
dos empregados da VFRGS’ era uma instituição que abrangia armazém de secos
e molhados, loja de tecidos, armarinhos, farmácia e financiava inclusive
escolas particulares. Só comprávamos na ‘Cooperativa’. Lembro por exemplo que
no dia 19 de cada mês na cooperativa havia longas filas para compras, pois então
as aquisições ‘corriam para o outro
mês’. Isso na economia familiar era significativo.
Lembro que um dia, meu irmão e eu fomos a
compras e a Cooperativa estava fechada. Havia um cartaz na porta: “Fechado para balanço”. Voltamos intrigados.
Por que a cooperativa estava fechada? Então a minha mãe explicou como acontecia
a contagem do que havia em estoque para saberem o quanto fora vendido. Então
entendemos porque ouvíramos, vindo de dentro da loja fechada, uma cantata de listagem de mercadorias
seguida de números: vassouras 23; enxadas, 18; ancinhos, 42... Faziam o balanço.
Mas, e o que tem esta blogada à guisa de balanço?
Meu balanço é singelo. Completa-se hoje o
primeiro trimestre que, optei, depois de 8,5 anos por não mais fazer edições
diárias deste blogue. Esse anúncio foi feito no dia 27 de dezembro, quando
chegava à edição 3000. Esta edição é a 23ª depois de 91 dias (treze semanas) da
alteração da periodicidade. Isto significa que houve, em média, uma postagem a
cada 4 dias ou menos de duas postagens por semana.
Estas 23 postagem, que estão tendo entre
200 a 300 acessos a cada dia (quando o blogue era diário os acessos eram mais
de 400) cobrem um período atípico. Assim 5 (mais de 20%) são relato de férias.
Mais da metade podem ser considerados excertos do diário de um professor e
algumas são de variedades. Apenas uma (a do dia 17 de março) contém uma análise
política (com significativa repercussão).
Há, além deste balanço classificatório,
duas avaliações a contemplar com o aperiodismo atual: uma objetiva e outra
subjetiva.
A primeira:
estou cumprindo o pretexto que invoquei para diminuição da frequência:
precisava de mais tempo para dedicar a um livro que estou escrevendo. Ele se
consolida, mesmo sem o crescimento sonhado. Estou vibrando com a produção que
realmente se torna possível pela diminuição de cerca de cinco blogadas
semanais. Breve trago mais detalhes da obra gestada.
A segunda:
mesmo que tenha crises de abstinência, ou melhor, saudades da parição diária de
um texto, parece que tenho conseguido me superar. Às vezes, não é fácil.
Todavia, há que reconhecer que eu não sei como conseguia manter a frequência
diária. Duas vezes por semana já me parece, hoje, muito exigente.
Agradeço comovido ao poeta Jair Lopes, a homenagem que se faz ilustração
deste texto e tem a ver que esta edição que se faz à guisa de balanço.