segunda-feira, 30 de março de 2015

30.- À GUISA DE BALANÇO.


ANO
 9
EDIÇÃO
 3023

Logo na abertura do texto soa um alerta, ou melhor, dois. Diferentemente do usual, primeiro dei o título e depois me propus a escrever. O normal é nascer o rebento e depois batizá-lo. Talvez, porque — aqui e agora — tenha claro o propósito texto. Não é um divagar acerca do (quase) nada, como alguns de meus blogares. Não sei se conseguirem fugir ao divagar.
Mas por que soar alertas (tipo daqueles irritantes que ouvimos nos smartphones alheios avisando que chegou mensagem) ante, apenas, um despretensioso título?
Voltei ao Priberam. Primeiro descubro que guisa pode ser da conjugação do verbo guisar que eu não conhecia. Eu guiso, tu guisas, ele guisa...
Guisar: 1. Preparar com refogado. 2. [Antigo, Figurado] 3.  Ajeitar; dar azo a; ajudar.
Mas, no título posto, usei como substantivo feminino Guisa que tem três acepções, das quais conhecia apenas a primeira:
1. Modo, maneira, feitio.
2. [Ornitologia] O mesmo que abibe.
3. Comemoração de falecimento, ao cabo de mês ou ano em Cabo Verde.
Agora sei que guisa ou abibe é uma ave pernalta de arribação, do tamanho do pombo e se um dia for Cabo Verde talvez vá a uma guisa homenagear um amigo falecido e depois guisar um abibe ou uma guisa.
O meu ‘à guisa’ do título está dicionarizado com o significado que escolhera: Completamente armado, sem nada lhe faltar.
Mas, falei de dois alertas. O segundo é para o substantivo balanço.
Um dos mais gostosos fazeres, no brincar com as palavras é viajar em nossa história pessoal e ver quando/como determinada palavra entrou em nossa vivência. Se perguntarmos a uma criança de hoje o que é um balanço ela certamente referirá com facilidade aquela que parece ser a acepção mais trivial: 2. [Brasil] Brinquedo composto por um assento suspenso de alto, com cordas ou correntes, em que alguém se senta, oscilando com o impulso do corpo
Mas, eu aprendi primeiro esta palavra naquela versão que Priberam coloca como a sétima acepção.
7. [Contabilidade] Operação de contabilidade tendente a conhecer 
a receita e a despesa de uma casa comercial.
Sou filho de ferroviário. Antes da opção do transporte rodoviário no Brasil (governo Juscelino: 1956-1961) a VFRGS (Viação Férrea do Rio Grande do Sul) era uma empresa muito importante. E para os ferroviários e suas famílias a ‘Cooperativa dos empregados da VFRGS’ era uma instituição que abrangia armazém de secos e molhados, loja de tecidos, armarinhos, farmácia e financiava inclusive escolas particulares. Só comprávamos na ‘Cooperativa’. Lembro por exemplo que no dia 19 de cada mês na cooperativa havia longas filas para compras, pois então as aquisições ‘corriam para o outro mês’. Isso na economia familiar era significativo.
Lembro que um dia, meu irmão e eu fomos a compras e a Cooperativa estava fechada. Havia um cartaz na porta: “Fechado para balanço”. Voltamos intrigados. Por que a cooperativa estava fechada? Então a minha mãe explicou como acontecia a contagem do que havia em estoque para saberem o quanto fora vendido. Então entendemos porque ouvíramos, vindo de dentro da loja fechada, uma cantata de listagem de mercadorias seguida de números: vassouras 23; enxadas, 18; ancinhos, 42... Faziam o balanço.
Mas, e o que tem esta blogada à guisa de balanço?
Meu balanço é singelo. Completa-se hoje o primeiro trimestre que, optei, depois de 8,5 anos por não mais fazer edições diárias deste blogue. Esse anúncio foi feito no dia 27 de dezembro, quando chegava à edição 3000. Esta edição é a 23ª depois de 91 dias (treze semanas) da alteração da periodicidade. Isto significa que houve, em média, uma postagem a cada 4 dias ou menos de duas postagens por semana.
Estas 23 postagem, que estão tendo entre 200 a 300 acessos a cada dia (quando o blogue era diário os acessos eram mais de 400) cobrem um período atípico. Assim 5 (mais de 20%) são relato de férias. Mais da metade podem ser considerados excertos do diário de um professor e algumas são de variedades. Apenas uma (a do dia 17 de março) contém uma análise política (com significativa repercussão).
Há, além deste balanço classificatório, duas avaliações a contemplar com o aperiodismo atual: uma objetiva e outra subjetiva.
A primeira: estou cumprindo o pretexto que invoquei para diminuição da frequência: precisava de mais tempo para dedicar a um livro que estou escrevendo. Ele se consolida, mesmo sem o crescimento sonhado. Estou vibrando com a produção que realmente se torna possível pela diminuição de cerca de cinco blogadas semanais. Breve trago mais detalhes da obra gestada.
A segunda: mesmo que tenha crises de abstinência, ou melhor, saudades da parição diária de um texto, parece que tenho conseguido me superar. Às vezes, não é fácil. Todavia, há que reconhecer que eu não sei como conseguia manter a frequência diária. Duas vezes por semana já me parece, hoje, muito exigente.
    Agradeço comovido ao poeta Jair Lopes, a homenagem que se faz ilustração deste texto e tem a ver que esta edição que se faz à guisa de balanço.

3 comentários:

  1. Acróstico

    Como leitor presente que as vezes comenta
    Ouço minha razão: você é leitor, não inventa
    Meio assim constrangido eu então confesso
    Eu não desejo jamais parecer leitor obsesso.

    Nesta que é um blogada na qual eu apareço
    Tenho dúvidas se comentário terá seu preço
    Apenas pois faço para não perder o costume
    Revolvendo essa confissão que veio a lume.

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  2. Embora o sentimento de órfão das blogadas diárias, reconforta-nos saber que o mestre ainda nos brinda com suas preciosas postagens repletas de saberes. Grande abraço.

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  3. Muito estimado Vanderlei e aditado ao querido trio que com ele coabita as gostosuras de um recanto na hospitaleira Frederico Westphalen.
    Obrigado pela passagem pelo blogue marcada por atencioso comentário nesta postagem.
    Sabem quando é, ainda, árdua a renuncia a blogadas diária. Tento fazê-lo — como mostrei — cerca de duas postagens por semana.
    Permito-me anunciar para esta sexta-feira santa uma edição que traz pensares, supostamente, iluminados pelo plenilúnio aditados de votos de um bom recesso pascoalino.
    Aos que creem e aos que não creem, férteis dias de reflexão. Curtir um plenilúnio também é gostoso. Ainda há oportunidade. “Poetas, seresteiros, namorados, correi… é Lua muito cheia!”
    Quero tê-los, como leitores amanhã,
    attico chassot

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