domingo, 15 de fevereiro de 2015

15.- PINGOS e RESPINGOS NUM TRÍDUO MOMESCO

ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3010

Abro esta edição, inserida no tríduo momesco, anunciando que não vou falar em carnaval. Mesmo que não adira ao senso comum de que ‘nestes dias 200 milhões de brasileiros são súditos do rei momo’ as folias não precisam espaço aqui. Comento apenas três tópicos.
A jornada em São Valentim, que anunciei na última edição deste blogue, foi muito boa. Cheguei à Erechim, 01h10min, depois de mais de cinco horas de viagem desde Porto Alegre. Esperava-me o Arnaldo Roberto Putrick, jovem secretário de Educação de São Valentim, que também é agricultor. Os 30 km foram curtos para ouvir sua história e o quanto ele me acompanha desde 2006 quando estive na URI de Erexim falando sobre Darwin e por tal fez uma pós graduação em História da Ciência na UFFS. De seu relato o mais significativo é como os pequenos municípios da região diminuem em população. Escrevera no blogue que São Valentim tem 4 mil; são já 3,6 mil. Claro que isso faz diminuir o número de alunos e como consequência o número de escolas.
Falei a mais de uma centena de professoras e professores das redes municipais de Erval Grande, Faxinalzinho e São Valentim. Avalio as atividades da manhã como muito boas. À tarde, apiedei-me de meus ouvintes (e de mim): estávamos como de manhã, em desconfortável galpão de CTG, onde os participantes sentavam em cadeiras de palha trançada, como aquelas da casa de minha avó. Ocorre que a tarde foi muito quente e não havia forro no galpão. Não fiz uma boa fala.
Mais importante não foi o que falei e sim os aprendizados que amealhei. Realmente tive muitas aprendizagens laterais nessa estada em um pequeno município. O professor Arnaldo, secretário de Educação, me impressionou não porque estava me esperando à 1h da madrugada, em Erechim, a 30 km de São Valentim. Não porque após o evento, à tardinha, retornou comigo à Erechim e ficou ‘me fazendo sala na rodoviária’ conversando produtivamente até o ônibus partir. Mas vi o Secretário de Educação carregando mesas, arrumando cadeiras, fazendo conexões de aparelhos, resolvendo problemas de almoço... e vi, muitas vezes, professoras e professores se referir carinhosamente ao trabalho de seu líder. Isso foi maior aprendizado de são Valentim
A cultura gaúcha enlutou-se. Morreu na manhã desta sexta-feira, dia 13, aos 67 anos, o jornalista e escritor gaúcho Carlos Urbim. Ele se encontrava no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, onde se recuperava de um aneurisma. Autor de clássicos da literatura infantil, Urbim buscava na própria infância a inspiração para suas histórias. Como cresceu em Santana do Livramento, elas vinham com um sotaque próprio da fronteira, o mesmo que ele manteve depois de deixar a cidade e se mudar para Porto Alegre.
Duas lembranças pessoais. Uma: lembro-me muito de ler a meus filhos os livros do Urbim. O Menino daltônico, muito autobiográfico, pois Urbim era daltônico, encantava. Era um dos mais apreciados entre muitos. A outra, em 23 de agosto de 2006, no ônibus que ia para Ijuí, éramos três passageiros que íamos palestrar em quatro cidades (Ijuí, Santo Ângelo, Cruz Alta e Horizontina) em um mesmo evento (O Circão da cultura): um era o escritor Carlos Urbin e outro o físico e romancista Carlos Alberto dos Santos, autor do premiado “O plágio de Einstein". O terceiro era eu. Foram horas de agradável conversação. Também por isso me emocionei, quando li nos jornais neste sábado acerca da morte prematura de Carlos Urbim.
Por diferentes razões, usualmente esse período oscarizado vamos mais ao cinema. Já assistimos nesta semana ao excelente filme polonês, IDA; ao discutível francês, A FAMÍLIA BÉLIER, neste sábado chegou a vez do esperado britânico /estadunidense O JOGO DA IMITAÇÃO. Há dias meu amigo e cinéfilo de Belém do Pará, Geziel Moura, postou algo acerca deste filme e acrescentou que conhecera Alan Turing em uma de minhas dala. Neste blogue e em palestras, várias vezes, rendi merecidas e comovidas homenagens ao excepcional matemático inglês.
Com o colega Guy Barros Barcellos, a Gelsa e eu assistimos: O Jogo da Imitação (no original em inglês The Imitation Game), um filme de suspense histórico lançado em 2014. A companhia foi preciosa e a satisfação de espraiou na janta que os três compartilhamos após o cinema.
O filme é a cinebiografia de Alan Turing, um pioneiro na computação que levou um grupo de estudiosos no projeto Ultra, a fim quebrar os códigos de guerra da Alemanha Nazista, ajudando a salvar milhões de vidas e diminuir a guerra em pelo menos dois anos para mais tarde ser condenado por sua homossexualidade.
Ajuda-me nos comentários Público de Lisboa: O criptoanalista, matemático e filósofo britânico Alan Mathison Turing (1912-1954) é hoje considerado um dos precursores da computação moderna. Durante a Segunda Grande Guerra, ele e a sua equipe garantiram uma ajuda fundamental aos Aliados na descodificação do código Enigma, que os nazis utilizavam para comunicar secretamente os planos de ataque. Já durante o pós-guerra, Turing projetou um dos primeiros computadores programáveis no laboratório nacional de física do Reino Unido. Entre muitas outras coisas, os seus estudos serviram ainda para abrir portas a uma das questões mais pertinentes da tecnologia da atualidade: a possibilidade teórica da inteligência artificial.
Apesar de todo o reconhecimento, a sua carreira terminou abruptamente em 1952, depois de ter sido processado por atentado ao pudor, acusação que culminou numa condenação por homossexualidade, à época ilegal no Reino Unido. A 8 de Junho de 1954, dois anos depois de iniciar um tratamento com injeções de hormônios femininos que provocam castração química (que ele preferiu à prisão), Turing foi encontrado morto na sua própria casa. A morte foi classificada como suicídio, embora muitos, começando pela sua mãe, refutem a conclusão.
Em Setembro de 2009, depois de uma campanha liderada por John Graham-Cumming, o primeiro-ministro Gordon Brown fez um pedido oficial de desculpas público em nome do Governo britânico, devido à maneira pela qual Turing foi tratado. Finalmente, a 24 de Dezembro de 2013, o matemático recebeu o perdão da rainha Elizabeth II.
Realizado pelo norueguês Morten Tyldum ("Headhunters - Caçadores de Cabeças"), um filme dramático sobre a vida de Alan Turing, o lendário gênio da matemática que decifrou códigos nazis e que acabou perseguido pela sua orientação sexual. O elenco conta com os atores Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode e Mark Strong, entre outros. Escolhido pelo público como o melhor filme em competição no prestigiado Festival de Cinema de Toronto (Canadá), "O Jogo da Imitação" recebeu ainda cinco nomeações para os Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Cumberbatch), Melhor Atriz Secundária (Knightley), Melhor Argumento (Graham Moore) e Melhor Banda Sonora Original (Alexandre Desplat). 

4 comentários:

  1. É verdade Chassot não é novidade que fui subjetivado a pensar em Turing, a partir de uma fala sua em POA no ano de 2012...aliás o mesmo se deu com Curie e Giordano Bruno.Na medida em que, venho trabalhando com a história e os discursos emergentes num recorte histórico, na perspectiva foucaultiana foi possível "assestar" meus óculos e flagrar diversas práticas discursivas durante a segunda guerra, tais como: sexualidade, gênero, docência, ciência, cientista e poder. Obrigado pela dica, lá atrás, antes do filme.

    Geziel Moura

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  2. Sinto o cheiro de blogadas diárias...para alegria dos(eu) que admiram seu trabalho, regado de saberes e sabores. Grande abraço, mestre!!!

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  3. Chassot,
    filme digno de oscar em companhia digna de Nobel. A companhia de vocês no jantar foi um lenitivo para o choque e a tristeza do filme. Inspira reflexões profundas sobre o quanto o conhecimento desprendido de ética é monstruoso e uma ameaça ao ser humano. O mergulho de Turing nas profundezas de sua mente ajudou que a humanidade não mergulhasse mais fundo nas trevas do nazismo.
    Obrigado pelo convite e pela maravilhosa companhia. Abraço muito afetuoso em ti e na Gelsa

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  4. Mestre Chassot,
    como o professor Geziel eu também fui aproveitado a Alan Turing. Lembro a emoção como senhor, em uma palestra aqui na Bahia, prestou uma homenagem reverente a alguém que mesmo tendo prestado um fabuloso serviço a humanidade sofreu uma fantástica discriminação e doloroso castigo por sua opção sexual;
    Nosso século 20 também foi um século de barbáries com o senhor mostrou a dias falando de Auschwitz.
    Gostaria que previsão do Vanderlei estivesse certa e o blogue voltasse a ser diário.

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