terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

03.- UM ADEUS A DUAS SEMANAS POLONESAS ou POLACAS

ANO
 9
Varsóvia / Paris / Guarulhos / Porto Alegre
EDIÇÃO
 3008

Nesta terça e quarta-feira faremos a longa viagem de volta. No começo da tarde deixamos Varsóvia rumo a Paris. Depois de algumas horas no Charles De Gaulle, voamos durante à noite, cerca de 12 hora de Paris rumo ao Brasil. Depois de alguma espera em Guarulhos, vamos a Porto Alegre, para chegar ao destino, na metade da manhã desta quarta.
Foi muito bom estar de novo em Varsóvia. Foram três dias que se fizeram saborosa sobremesa destas duas semanas polonesas. Chegamos aqui, a segunda vez, quando já era noite de sábado. Cracóvia nos despediu em alto estilo.
A manhã era muito fria. A visita ao Collegium Maius (Escola Maior), na parte antiga de Cracóvia, no prédio mais antigo da Universidade Jaguelônica (polonês: Uniwersytet Jagielloński) foi fantástica. Vimos salas (bibliotecas, refeitórios, sala de conselhos) do século 14. Foi emocionante ver a primeira edição de 1453 manuscrita por Copérnico obra De revolutionibus orbium coelestium (Sobre as revoluções das esferas celestes), dedicada ao papa Paulo III. O livro, publicado algumas horas antes morte de Copérnico, em 24 de maio de 1543, aos setenta anos, vítima de um acidente vascular cerebral, esteve quase 300 anos no index.
Quando quase 14h íamos para estação de trem, o sol, o grande ausente destes dias, surgiu esplendoroso espelhando-se na neve que caíra densa na noite. Foi tudo para ter vontade de um dia voltar.
Parece que quando estávamos no trem Cracóvia/Varsóvia, a viagem adquiria sabor de fim de férias. Lembramos Michel Onfray que em sua Teoria da viagem# estuda a viagem em três momentos: o Antes; o Durante; e o Depois. Para cada desses momentos ele traz oportunas teorizações. Na verdade a viagem começa muito antes de partirmos, nos rituais de programarmos e fazermos roteiros. Mas também começa terminar antes. Sentia como as nossa estão começando a terminar. Em muitos momentos, já anseio pelo meu cotidiano na Morada dos Afagos.
#ONFRAY, Michel. Teoria da viagem, poética da geografia. [Théorie Du Voyage (Libraire Générale Française, 2007)] Tradução Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2009. 112 p. 21 cm. ISBN 978-85-254-1918-7
Ainda na noite de sábado fomos aproveitar a gélida noite de sábado, buscando comida típica polonesa. Nesses dias, a Gelsa não deixou de evocar em nenhuma das refeições a sua avó materna.
O domingo se fez ensolarado com temperatura de zero grau. Fomos a dois museus. Nos encantamos antes com imponente Palácio da Cultura, que contrasta com modernos arranha-céus, com movimentados shoppings centers.

Primeiro fomos ao
Museu Fryderyk Chopin (em polonês: Muzeum Fryderyka Chopina). Abro uma explicação gramatical. O aeroporto de Varsóvia chama-se Aeroport Fryderyka Chopina. Por exemplo, uma avenida que homenageia o papa polonês se chama Aleja (avenida) Jana Pawla II. Ocorre que o polonês, como o latim, o grego e alguns outros idiomas, têm declinações. Assim o museu, o aeroporto ou a rua são de Chopin, logo deve ser colocada no genitivo, que termina com o sufixo –a. Muitas ruas terminam em —a. Isto não quer significar que mulheres sejam as homenageadas. São nomes de homens, escrito no genitivo, Jan Pawl II fica Jana Pawla II, Kopernica, Chopina...
A proposito de situações linguísticas, mais uma observação. Por aqui se vê, com frequência a palavra droga, muitas vezes seguida de uma seta. Não é indicação para compra de narcóticos, Droga, em polonês significa caminho.
Há uma outra palavra, agora em português, que temos dificuldade. ¿Qual o gentílico para ‘polish’ (habitante da Polônia)? Polonês ou polaco? Na Espanha, por exemplo, em catalão é polonês e nas outras parte é polaco. No Brasil, esta é uma questão delicada, marcada por preconceitos, com defensores radicais de uma e outra modalidade. Fica a promessa da volta ao assunto. Quem quiser antecipar-se na ilustração e conhecer alguma das vertentes: www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1082537
O moderno Muzeum Fryderyka Chopina, reinaugurado em março de 2010 para celebrar o bicentenário do compositor polonês Fryderyc Chopin (1810-1849), é hoje um dos maiores atrativos da capital polonesa. Uma interessante forma de imergir o visitante na história de Chopin. O museu apresenta uma concepção nova e audaciosa em termos de interatividade e permite que viajemos de maneira suave na história de um dos maiores compositores do século 19, tendo suas músicas a embalar uma inserção de quem mesmo tendo morrido aos 39 anos deixou um dos maiores legados à humanidade. Um exemplo de museu!
O segundo museu do domingo foi o Muzeum Powstania Warszawskiego, que quer contar a história do Estado Secreto Polonês, também conhecido como Estado de Resistência Polonesa (polonês: Polskie Państwo Podziemne), é um termo coletivo para organizações designadas resistência clandestina durante a Segunda Guerra Mundial na Polônia, militares e civis, que permaneceram leais ao governo no exílio-polonês em Londres. Os primeiros elementos do estado secreto surgiram nos últimos dias da invasão da Polônia, que começou em setembro de 1939. O Estado Secreto Polonês foi concebido por seus defensores como uma continuação jurídica da República da Polônia antes da guerra (e suas instituições) travada uma luta armada contra as forças de ocupação no país: a Alemanha nazista e a União Soviética. O estado subterrâneo englobava não só a resistência militar, um dos maiores do mundo, mas também civis, tais como estruturas de serviços educacionais, culturais e sociais.
Existem várias exposições que ocupam suas várias plantas em que você pode ver fotografias, reproduções de áudio, vídeos, imagens interativas, artefatos, escritas entre outros testemunhos que refletem o que era a vida durante a ocupação alemã de Varsóvia, a revolta e suas consequências de modo que a amostra abrange virtualmente todos os aspectos deste acontecimento histórico. Há apresentações dedicadas para cada distrito da cidade de Varsóvia e muitos panfletos e folhetos que os visitantes possam ter livre (atualmente os textos estão apenas em polonês e Inglês). Também estão disponíveis 63 páginas que cobrem as datas do calendário a partir de 1 de agosto de 1944 até 02 de outubro de 1944, cada uma contendo um resumo dos acontecimentos mais importantes que aconteceram naquele dia durante a revolta. Algumas das muitas seções e exposições incluem:
A sala de "insurgente pequeno" dedicado aos insurgentes mais jovens e as experiências das crianças durante a revolta. O quarto inclui uma réplica do monumento ao pouco rebelde e uma fotografia colorida Goździewska Róża Maria, uma jovem conhecida como "a pequena enfermeira".
Palladium cinema: uma pequena sala de projeção, onde você pode ver continuamente cenas tiradas por alguns dos insurgentes, em 1944, que foram usados para produzir cinejornais que foram exibidos no Palladium Cinema de Varsóvia durante a revolta.
Duas réplicas de esgoto: um localizado no mezanino e um no porão oferecem uma oportunidade para experimentar como era a movimentação subterrânea através do território ocupado pelos alemães (as réplicas são, obviamente, de higiene, sem sujeira em um rede de esgotos real).
O hospital dos insurgentes, que forneceu ajuda médica e de saúde para os feridos durante a revolta.
Hangar: uma sala contendo um Liberator tamanho real B-24.
Uma torre se observação: Varsóvia vistas panorâmicas a partir do topo do edifício.
Impressão: Uma sala que pode ser visto máquinas de escrever e impressoras usadas para produzir jornal durante a ocupação alemã.
O filme City of Ruins: Uma curta-metragem em D que representa uma vista aérea das ruínas de Varsóvia em 1945.
Seção sobre o nazismo: dedicado aos horrores e atrocidades cometidas pelos alemães e seus colaboradores durante a revolta.
Seção sobre o comunismo: dedica-se a ocupação da Polônia pela União Soviética; o governo de Stalin; levantando a resistência polonesa e revolta na Polônia do pós-guerra, sem a participação do período comunista.
Depois de banho de história e também de tecnologia museológica fomos em busca de algo para comer em direção ao Stare Miasto. Em espanhol diríamos ‘casco viejo’. Agora no Brasil estamos chamando a região central de ‘Centro Histórico’. Com duas diferenças para a situação. O centro histórico é de uma cidade milenar e outra que campeia uma moda presente ainda recente entre nós: demolirmos o velho, para fazer prédios novos, sem respeito à História.
Estávamos ávidos por aproveitar o ensolarado dia ensolarado de ontem, o último de viagem — mesmo que os pensamento fugava Porto Alegre. Fomos segurados: muitos museus de nossa lista estavam fechados por se segunda-feira. Fomos uma vez mais Stare Miasto. Admiramos as casas seculares. Ainda adornada com enfeites natalinos, pois aqui o período das festas de fim de ano é muito expandido. E vimos muitos monumentos. Aqui nestes abundam motivos bélicos pois é um país que sempre sofreu com guerras. Estivemos lojas, visitamos igrejas (estas abundam na Polônia).
À noite fomos fazer nossa despedida de Varsóvia. Voltamos ao Stare Miasto. Jantamos. No cardápio algo que comemos a cada dia nestas duas semanas: pierogue (também escrito perogi, pierogy, perogy, pierógi, pyrohy, pirogi, ou pyrogy; forma diminutiva: pierożki. A palavra polonesa pierogi está no plural; a forma singular pieróg é raramente utilizada, já que tipicamente a porção individual consiste em vários pieróg) são pasteis de farinha de trigo, tradicionalmente recheados de batata e ricota (mas atualmente existindo recheios que se estendem de carne a doces), que são cozidos em água fervente (como usualmente se cozinha massas) e servidos com "molho" de cebola frita. Proveniente do centro e do leste europeu, eles têm formato normalmente semicircular. A Gelsa realizou um de seus sonhos, comer pierogue todos os dias.
Nesta terça-feira, ao lado de arrumar malas, antes de irmos ao aeroporto vamos a um mercado muito singular que há próximo ao hotel. Depois começar uma longa viagem. Mais de vinte quatro horas em trânsito (Varsóvia/Paris/São Paulo/Porto Alegre) rumo a nossos mundos de verdade. Nestas três semanas vimos muitas coisas. Não cabe aqui e agora fazer retrospectos. Uma síntese: a palavra que não cessa de martelar em meus ouvidos: Auschwitz.
Releio a frase de Lin Yutang que encerra a primeira edição destas cinco blogadas especiais. "Bom viajante não é o que não sabe para onde vai, mas o que sabe de onde veio!" Acredito que tenhamos sido bons viajantes. Hoje sei mais sobre a Alemanha e a Polônia. Alguém há de perguntar: ¿para que? Para ser mais humano. Para entender mais a vida. Quando saímos de um museu, por exemplo, saímos diferentes que entramos. Isso é importante. Acredito que o fazer profissional de 2015, que me espera já nesta semana, será realizado com mais competência. Isso para mim é muito significativo. Também, por isso, viajo.
Obrigado, a cada uma e cada um que me acompanhou na leitura destas cinco edições, que se iniciaram com a postagem de 13 de janeiro. É bom escrever. É, ainda melhor, ter leitores. Agora, desde Porto Alegre, de novo.

6 comentários:

  1. Professor Attico Chassot,
    foi um prazer acompanhá-lo nesta viagem,aprendemos muito, e fazemos votos de que tenham feito uma boa viagem ao regressar.Abraços .Inez."

    ResponderExcluir
  2. Muto querida Inez,
    obrigado pela tua companhia. É bom escrever, é melhor ter leitores.
    A longa viagem de retorno correu bem.
    Ratifico: a Polônia e em particular Cracóvia merece estar nossos sonhos de viajores.
    Com estima e admiração espraiada,
    ac

    ResponderExcluir
  3. Muito estimado Mestre Chassot,
    muito obrigado por estas maravilhosas cinco últimas postagens.
    Viajei com o senhor. Quanto conhecimento amealhado. Quanta generosidade em dividir com outros suas experiências. Minha ancestral Polônia postChassot é outra para mim.
    Sou grata pelo seu compartilhar.
    MM

    ResponderExcluir
  4. Querido Mestre Chassot,
    muito obrigado por tamanha generosidade: dividir suas experiências de férias com cada uma e cada um de seus centenares é algo que não se vê. Cada relato seu vem marcado por pesquisas que o senhor fez antes e depois. Isso é no mínimo uma prova de um viajante não egoísta.
    A frase do Lin Yutang que o senhor cita lhe cabe como uma luva.
    Com um mol de agradecimentos
    Mirian

    ResponderExcluir
  5. Estimado Mestre, nos encanta a maneira como descreves cada momento vivido neste pedaço de mundo, distante pela língua e rico em história. Para quem conhece parte de um dos capítulos mais horrendos da história envolvendo o belicismo e a crueldade humana acredito que ao passar nestes locais é possível vivenciar tal memória de forma arrepiante. Algo para sentir sua descrição, mesmo que não seja possível transformá-la em palavras. Somos grato por partilhares suas experiências conosco. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  6. Bom dia Professor!
    Que lugares fantásticos!!
    Estou encantada!
    ..saudades.

    ResponderExcluir