quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

18.- GALINHAS E CERVEJA: UMA RECEITA PARA O CRESCIMENTO


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2991

De maneira muito frequente divago na busca de explicações, para entender como livros invadem nosso sequenciamento de leitura. Há uma fila sempre sujeita a furo. Tenho em lugar estratégico, com mais de meia dúzia de livros que esperam vez. Está fila não tem o respeito democrático da ordem de chegada. Há sempre há os que ‘se intrometem’.
Sou um privilegiado, pois ganho muitos livros e muitas sugestões: Ainda ontem, um ex-aluno querido escreveu: Oi Chassot, recentemente li um livro que pudesse te interessar, se é que já não leste, li-o em papel, mas vasculhando a internet, o encontrei no endereço abaixo... As pessoas sabem fazer agrados. E o livro chega e seduz. Termina postergando outros.
Já há um tempo, dois amigos londrinos enviaram: “Galinhas e Cerveja: Uma receita para o crescimento”. Há cerca de quatro anos, recebera deles Há mais bicicletas, mas há Desenvolvimento?”. Títulos que convidam a leitura;
Teresa Smart e Joseph Hanlon são dois pesquisadores que tem expertise em Moçambique. Uma e outro, de maneira continuada, já desenvolvem trabalhos na África há mais de um quarto de século. Teresa e Joe já me acolheram, em mais de uma oportunidade em sua casa, localizada de maneira privilegiada próxima ao British Museum; já tive também a honra de tê-los em minha morada. Os dois livros aqui referidos são sobre este país, hoje uma sociedade estrutura com a marca capitalista, que antes de ter vivido uma era socialista com Samora Machel, foi uma vez foi colônia portuguesa.
Galinhas e cerveja mostra que Moçambique importa alimentos e ao mesmo tempo aqueles que os produzem continuam pobres porque a produção agrícola é muito baixa. A maioria das pessoas continua a cultivar a terra como faziam os seus avós, com enxadas de cabo curto. Há, na descrição de Joe e Teresa, todavia algo novo: desde o fim da guerra, há duas décadas, surgiram agricultores mais dinâmicos, que, segundo estimativas, são cerca de 68 mil pequenos e médios agricultores comerciais.
Se, há não muito tempo, os agricultores tinham apenas um hectare de terra e usavam a enxada como ferramenta agrícola. Hoje, cultivam entre três e vinte hectares e produzem principalmente para comercializar. Porém os dois pesquisadores acentuam que o apoio para estes agricultores emergentes vem quase inteiramente de fora de Moçambique. As companhias estrangeiras, que produzem sob contrato, promovem o plantio de tabaco e de algodão. As organizações não-governamentais e agências internacionais, em programas de ajuda a comunidades emergente, orientam a produção de soja e de mandioca.
Para os pesquisadores, manter as famílias na sua machamba (termo moçambicano para propriedade agrícola, segundo o Priberam), de um hectare e a desbravar a enxada, é mantê-las permanentemente na pobreza, porque a maioria desses pequenos agricultores não tem dinheiro para comprar sementes e adubos.
O livro destaca que os próprios produtores agrícolas moçambicanos podem tomar a dianteira se tiverem apoio para expandir a sua área cultivada e tornarem-se agricultores profissionais (= viverem da agricultura), pois, assim seriam criados empregos rurais, seria estimulada a economia rural, e no fim, seria reduzida a pobreza rural.
Contudo, estes camponeses teriam de ter ao seu dispor toda a terra e nenhuma seria colocada nas mãos do investimento estrangeiro. É urgente uma escolha política.
E por que Galinhas e cerveja? Este é o titulo do capítulo sete. Neste se relata a produção de galinhas pelo sistema de contrato, com grandes empresas estrangeiras. Pelo relato pareceu-me algo assemelhado entre nós nos chamados “sistemas integrados” para a produção de fumo, frangos, suínos. Isto sempre me pareceu um sistema de iludir — e explorar, é claro — os agricultores que emprestam a terra e a mão de obra para se achar grandes produtores. Mas não tenho maiores dados da situação moçambicana. Já vi no Rio Grande do Sul, agricultores ditos ‘integrados ou cooperados’ explorados. Sobre a cerveja aprende-se que o milho e mandioca são matéria prima para a produção de fermentados.
Quem quiser conhecer mais acerca do assunto, pode encontrar algumas transcrições do livro na rede. Há muito mais além de meu breve comentário.

3 comentários:

  1. Sobre o "sistema integrado" meu pai já o usou. O agricultor visualiza possibilidade de ganhos com culturas alternativas. Em tese é muito interessante. No entanto fica-se dependente das empresas detentoras do "empreendimento", diga-se capital, custeio e destino do produto. E, principalmente do conhecimento que as empresas detém. Enquanto se está possibilitando lucros à empresa empreendedora todos ganham. Mas, se a referida resolve parar, os agricultores é que perdem muito mais, pois são dependentes de tudo.
    Penso que se precisa ter conhecimento para não depender das poucas empresas que dominam. Um exemplo são as sementes selecionadas (geneticamente modificadas) que se encontram, em sua grande maioria, nas mão da poderosa Monsanto.
    Coisas da voracidade do capital: Controlar o conhecimento para explorar sem concorrentes. Resultando em concentração, concentração, concentração, muitos lucros e poder para dominar.
    Estou delirando???

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  2. Inclusive há o questionamento sobre as sementes híbridas das quais não se produziriam sementes ficando assim os agricultores eternamente dependentes das grandes empresas. É um quadro apocaliptico. O capital é a desgraça do mundo.

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  3. Mestre Chassot,
    este esquema dos ‘integrados’ é a maior burla nos colonos. Eles pensam que são grandes produtores, mas na verdade emprestam suas terras e sua mão de obra a grupos que os mantêm cativos. Isso se assemelha quase a trabalho escravo.
    O prof. Vanderlei também trouxe informações nesta direção. Em Moçambique deve ser a mesma praga.
    Michaela

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