ANO
9 |
J U I Z D E F O R A - MG
|
EDIÇÃO
2943
|
Hoje encerro minha atividade
na ‘Manchester Mineira’ com a segunda sessão da Oficina História e Filosofia da Ciência catalisando
propostas transdisciplinares. À tarde,
viajo a Sorocaba, em São Paulo, para participar do 16º
Seminário Internacional de Educação promovido pela Prefeitura Municipal de Sorocaba
(SP).
Hoje — Dia
da Reforma — é feriado em alguns municípios do Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina
e, provavelmente, em outros estados. Vibro quando religiões não hegemônicas conseguem
algum feriado. Feriados religiosos nacionais, estaduais e municipais são em sua
maioria católicos.
Um carinho especial à Elzira, leitora diária
de uma das cidades onde hoje é feriado: a simpática Maravilha, no Oeste
catarinense.
Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero (Eisleben, norte da Alemanha, 1483-1546), um sacerdote católico agostiniano e
professor de teologia afixa nas portas da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, as
95 teses contra a venda de indulgências. Na pintura cena da afixação com
uma das teses.
Há — no período mais fértil
do Renascimento — uma meia dúzia de propostas de eventos, que decretaram modificações
significativas na Europa, para marcar o fim da Idade Média. Assim, para o seu término
são propostos os seguintes eventos (aqui citados em ordem cronológica): 1439: invenção
da imprensa // 1453: queda de Constantinopla // 1453: fim da Guerra dos 100 anos
// 1492: descoberta da América // 1517: Reforma Luterana // 1534: Reforma Anglicana.
Não há sentido de fazermos
um plebiscito entre estes eventos e eleger o lapidar. A escolha daquele que foi
mais relevante ou mais revolucionário vai muito de opiniões.
Mesmo que eu não seja historiador,
se tivesse eleger um, a minha escolha seria, em primeiro lugar, a Reforma Luterana,
desencadeada por Martinho Lutero. Se fosse
eleger outro, seria a invenção da imprensa, reconhecendo-a tão importante, quanto
o invento da Internet, talvez, a criação mais revolucionária do Século 20.
Talvez um dos feitos mais
significativos de Lutero foi traduzir toda Bíblia para o alemão, em uma edição de
1534. Antes houve outras traduções parciais (especialmente dos evangelhos) em diferentes
idiomas.
A Bíblia de Lutero se torna
referência na manutenção da ortodoxia nas igrejas reformada. Ela confere ao alemão
o status de língua culta e com isso fortalece o emergente conceito de ‘Estado nação’.
Há que mostre que a língua alemã e mesmo a Alemanha seja gerados pela existência
da Bíblia traduzida por Lutero.
Importância mais significativa
desta tradução foi que agora a Bíblia estava acessível a todos (que soubessem ler).
Aqui, vale destacar uma ação muito significativa: para ajudá-lo na tradução Lutero
fez incursões nas cidades próximas e nos mercados para ouvir as pessoas falando.
Ele queria garantir que sua tradução fosse a mais próxima possível da linguagem
contemporânea. A tradução de toda a Bíblia em outras línguas (nos anos seguintes
surgiram edições em francês, espanhol, tcheco, inglês, neerlandês) foi considerada
um divisor de águas na história intelectual da Humanidade.
Os cultos nas igrejas reformadas
passaram a ser no vernáculo (nome dado à língua nativa de um país ou de uma localidade),
pois além da Bíblia os hinos foram traduzidos (ou produzidos) na língua local. Ocorre
que essa inovação não pode ser fruída pela população, que era em sua maioria analfabeta.
Criaram-se, então, escolas junto a cada igreja reformada para se ensinar a leitura,
assim o povo poderia ler a Bíblia e ler os hinos nos cultos. Assim, ao lado de ser hoje o Dia Reforma, poderíamos celebrar, nesta
data, o ‘Dia da
Escola’
o grande presente do Renascimento ao mundo Ocidental.
Na educação, o pensamento
de Lutero produziu uma reforma global do sistema de ensino alemão, que inaugurou
a escola moderna. Seus reflexos se estenderam pelo Ocidente e chegam aos dias de
hoje.
A ideia da escola pública
e para todos, organizada em três grandes ciclos (fundamental, médio e superior)
e voltada para o saber útil nasce do projeto educacional de Lutero. “A distinção
clara entre a esfera espiritual e as coisas do mundo propiciou um avanço para o
conhecimento e o exercício funcional das coisas práticas”.