sexta-feira, 17 de outubro de 2014

17.- ALGO DA HISTÓRIA DA MEDICINA


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL    em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2929

Nesta quinta, de muito granizo e de continuadas chuvaradas no Rio Grande do Sul, envolvi-me em leituras e escritos acerca do começo da modernidade, para compreender um pouco mais a Escola e a Universidade de então. Lateralmente buscava algo para a blogada de hoje. Lembrei-me que amanhã, dia 18 de outubro, dia de são Lucas é o dia do médico. São Lucas, o evangelista, deve ter sido um médico grego, contemporâneo dos apóstolos, sendo mencionado por Paulo em epistolas.
Essas evocações catalisaram a trazida de algo acerca da História da Medicina. Ajudou-me o Prof.Dr.HC João Bosco Botelho (Dr. HC significa doutor Honoris Causa). Ele é editor de um excelente blogue sobre o tema — www.historiadamedicina.med.br/ — dele ofereço um texto que traz uma visão panorâmica da Medicina. A ilustração não pertence à fonte citada. A publicação deste texto e, também, uma homenagem aos médicos, que cumprimento por antecipação.
TRATAMENTOS DA DOR: DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO 20 Os tratamentos oferecidos pela Medicina para vencer a dor, na Europa central, no medievo, estavam atados aos preceitos de Hipócrates, século 4 a.C., e Galeno, século 1 d.C.: o desequilíbrio dos humores levaria às doenças e, em consequência, alteraria os temperamentos, causando dores.
O famoso médico francês Guy de Chauliac, em 1363, na sua obra Grande Cirurgia, definiu a dor como sendo qualquer fator que determinasse o desequilíbrio dos humores. Como todos os tratamentos estavam baseados na intenção de equilibrar os humores por meio de retirada intencional de sangue e secreções do corpo, os tratamentos consistiam nas sangrias, vomitórios, cataplasmas e vegetais, como a salsaparrilha, para provocar a diarreia.
Novos entendimentos da dor atados ao sofrimento coletivo foram provocados quando os países europeus, além de suportarem as mortes provocadas nas guerras intestinas, foram dizimados pela peste negra.  As terríveis dores e sofrimentos antecedendo a morte inevitável nos pestilentos, mesmo sendo interpretados como sinais da cólera de Deus, empurraram a busca de respostas que pudessem cessar o desespero.
O Renascimento trouxe o desvendar dos corpos. Os estudos da anatomia são retomados e, em 1543, é publicado o extraordinário livro La fabrique du corps humain, de André Vesálio. Os corpos abertos e o afrouxamento das proibições pela Igreja impulsionam novos avanços.
As mudanças já iniciadas, o desvendar dos corpos pela anatomia e a posição dos filósofos, mesmo com a condenação de Galileu, em 1633, instigam novas leituras da dor, acompanhadas de inevitáveis rupturas com o cristianismo.
Destacam-se, no século 17, o médico inglês Harvey, em 1628, com a publicação do Exercitatio anatomica de motu cordis et sanguinis in anima, demonstrando os erros de Galeno sobre a circulação do sangue e Marcelo Malpighi, em 1666, com o livro De viscerum structura inaugurando micrologia. Esses livros determinaram o início do processo de enfraquecimento das teorias de Hipócrates e Galeno, até então, aceitas como dogmas, nas universidades cristãs.
Na segunda metade do século 18, os intelectuais, laicizaram a dor. Na França, as rápidas mudanças sociais provocadas pela revolução trouxeram à lembrança os horrores da peste negra e induziram a maior valorização da dor sob a compreensão laica. Entre essas mudanças, destacaram-se: proibição dos sepultamentos nas igrejas, construção dos esgotos e reservatórios de água potável, normas rígidas de higiene pública, desvinculação das universidades do poder eclesial e construção de hospitais sem laço administrativo com a Igreja.
As práticas médicas oitocentistas retomaram nova tentativa de ordenar a dor, adaptando-a às concepções da fisiologia e do pensamento micrológico: dor tensiva (redução da fratura); dor pulsátil (acompanha o ritmo das artérias); dor gradual (presença de líquido na cavidade, como da hidropisia; dor pruriginosa (no prurido intenso, como na sarna).
O século 19 colhendo os frutos da anatomia e da fisiologia amadurece a busca da dor no nível celular, em estreita consonância com a tendência de levar a doença à célula, iniciada no século 17 por Marcelo Malpighi.
No século 20, os progressos para os tratamentos das dores alcançaram dimensão nunca imaginada ser possível. Os estudos genéticos possibilitaram que os analgésicos conseguissem controlar a dor lancinante contínua, como as causadas por alguns tipos de câncer na fase terminal.
BOTELHO, João Bosco.  TRATAMENTOS DA DOR: DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO 20 www.historiadamedicina.med.br (Acesso no dia 16/10/2014).

3 comentários:

  1. Graças ao avanço da medicina, hoje, só não se tem, via medicina, a cura das dores do sentimento, da alma e da consciência. Mas, ainda, a pior dor é a dor da inconsequência da nossa ignorância refletida na desumanização. Isso dói...

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  2. Infelizmente a medicina ainda é de uma forma geral, profissão exercida pela elite, ou seja a maioria dos profissionais não experimenta os sofrimentos e dores afetos à uma vida dura. Basta observarmos a entrada dos estudantes nas grandes universidades públicas para constatarmos o nível financeiro tanto dos pais ao deixarem e buscarem seus filhos em bons carros, quando não os próprios estudantes chegam nos seus. Essa peculiaridade tem o seu reflexo no atendimento, pessoas de menor potencial financeiro, o que é a esmagadora maioria, encontra um profissional lacônico e desatento que pouco presta atenção à queixa do enfermo.

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  3. Louve-se Hipócrates!

    Medicina tem história comprida
    É do tempo de bruxos e magos
    Desde lá melhor torna a vida.
    Incute a esperança com afago.

    Contudo médicos somos todos
    Onde existe doença haverá cura
    Só porque não somos bobos
    Então achar o que se procura.

    Logo de bruxo temos um pouco
    Ou nos achamos curandeiros
    Uns tantos se tornam loucos.

    Coitados dos velhos pioneiros
    Ouviam com órgãos moucos
    Só contavam com açougueiros.

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